Em tempos de Copa do
Mundo, a Fórmula 1 resolveu acelerar fundo, e teremos corridas em três finais
de semana consecutivos. Estivemos em Paul Ricard no último final de semana, e
todo mundo já botou o pé na estrada segunda-feira (alguns ainda no domingo,
mesmo) para a próxima parada da competição, aqui na região da Estíria, Áustria,
onde fica a pista de Zeltweg, atualmente chamada de Red Bull Ring, mas que no
presente momento ainda é uma sombra do que foi um dia. Estão prometendo
recuperar o traçado completo desta pista, que tem um trecho que passa atrás do
morro, e que ainda está lá, o qual fazia este circuito ser de altíssima
velocidade nos seus bons tempos, até 1987, mas até agora, nada. Por isso, esta
versão reduzida do circuito é meio lastimável, e os carros dali a pouco podem
ser capazes de virar abaixo de um minuto, o que seria ridículo. Já que
trouxeram a pista de Paul Ricard de volta em sua extensão total, utilizada atéentão
pela última vez em 1985, bem que poderiam parar com a enrolação e devolver
Zeltweg à sua glória original como pista...
Mas, antes dos carros
entrarem no circuito hoje para os primeiros treinos oficiais, algumas palavras
a respeito do retorno da França ao calendário da F-1. Foi realmente muito legal
voltar àquela pista, cujo charme e carisma dão de goleada em Magny Cours. Para
não mencionar das atrações e belezas das imediações. Já a corrida em si não foi
nada espetacular, como muitos temiam, mas também não foi exatamente um desastre
em termos de emoções. Tivemos algumas boas disputas, mas a briga pela vitória
acabou arruinada pela baianada de Sebastian Vettel na largada, quando o alemão
da Ferrari acabou acertando a Mercedes de Valtteri Bottas, furando um dos pneus
do finlandês, e comprometendo sua corrida. Safety Car de novo logo no início de
uma corrida, que não promoveu nenhuma revolução no curso da prova, afetando
mais mesmo Vettel e Bottas. E, claro, desilusão para os torcedores franceses ao
verem dois de seus pilotos, Esteban Ocon, da Force India, e Pierre Gasly, da
Toro Rosso, se enroscarem logo na primeira volta e darem au revoir ali mesmo.
Os dois franceses certamente não falaram a mesma língua naquele final de
semana.
Sem Bottas para tentar
alguma coisa, Lewis Hamilton passeou pela pista de Le Castellet, acelerando
apenas o necessário para vencer a corrida. Utilizando a versão atualizada da
unidade motriz da Mercedes, Lewis venceu sem ser ameaçado, e ainda viu Vettel
chegar apenas em 5º lugar na corrida, onde deu muita sorte de só ter quebrado o
bico de seu carro, e contando com a performance muito superior de seu carro
para superar quase todos na pista. Não há como negar que, desde a prova de
Barcelona, a F-1 viu escancarar a diferença de ritmo de Mercedes, Ferrari e Red
Bull para o resto do pelotão, que começa a ficar bem para trás, chegando a
tomar até volta do vencedor. Mas, recuperação por recuperação, Vettel foi mais
eficiente do que Bottas, que conseguiu voltar à corrida, e foi apenas o 7º,
chegando atrás de Kevin Magnussen, da Hass, que voltou a ser o melhor time do
“resto” do grid.
Na frente, quase
nenhuma ação. Hamilton, mesmo sendo conservador, para não forçar o carro, foi
aumentando paulatinamente sua vantagem sobre Max Verstappen, que conseguiu
passar mais uma corrida sem se envolver em confusão, e escapando do rolo da
largada, andou praticamente sozinho em 2º lugar a corrida inteira, sem ameaçar,
mas também sem ser ameaçado. Daniel Ricciardo deu azar de ter sua asa dianteira
danificada, e foi perdendo performance na parte final da corrida, sendo
superado por um Kimi Raikkonen muito mais eficiente do que nas últimas corridas.
Mesmo assim, para o carro que tem, Kimi poderia ter tentado dar um pouco de
pressão em Verstappen, o que não ocorreu, com o holandês terminando a corrida
quase 20s à frente do finlandês. No resto do grid, a Renault não conseguiu
chegar perto das principais equipes no seu GP caseiro, e só não levou um baile
da Hass porque Romain Grosjean continua lastimável na temporada atual, sem
conseguir marcar um mísero ponto. E, se a Sauber tivesse um pouco mais de
performance, o monegasco Charles LeClerc teria sido uma pedra nas sapatilhas de
Carlos Sainz Jr. e Nico Hulkenberg, que estão se vendo muito mais distantes das
equipes de ponta do que gostariam, depois de um início de temporada até
encorajador. LeClerc, aliás, andou forte o quanto pôde na corrida, antes que
seus pneus perdessem a eficiência, e ainda salvou um pontinho que vai
credenciando-o a revelação da temporada, e provável candidato a piloto titular
da Ferrari na próxima temporada, se confirmarem a aposentadoria de Raikkonen,
assunto que sempre entra na “rádio paddock” a meio da temporada, pelas
performances apresentadas pelo finlandês. Será que dessa vez vai mesmo? Pelo
histórico, a Ferrari nunca foi de colocar pilotos jovens como titulares,
achando que eles ainda são “verdes” e “imaturos” para pilotarem um carro de
ponta. Mas eis Max Verstappen para desmentir esse raciocínio. Mas os italianos
também sempre foram famosos por sua teimosia em alguns aspectos, portanto, não
se pode esperar que eles mudem de uma hora para a outra. LeClerc pode passar
mais uma temporada na Sauber que pode ser muito positiva para ele continuar
crescendo como piloto, e quem sabe em 2020, assumir o carro vermelho, já bem mais
calejado e preparado? Até porque Vettel continua a ser o maior defensor de Kimi
como companheiro de equipe, pelos motivos que todo mundo conhece... Não arruma
encrenca na pista e fora dela com o companheiro de equipe, e Sebastian sabe que
pode dar conta do finlandês.
Fernando Alonso: do paraíso da vitória em Le Mans ao inferno em Paul Ricard com mais um abandono, e o pior desempenho da McLaren na temporada atual. |
O que não seria o caso
de Daniel Ricciardo. O time italiano refutou a contratação do australiano sob a
alegação de que não poderia ter dois pilotos com salários “TOP” na escuderia,
que já tem Vettel ganhando uma fortuna por lá. Mas é apenas a desculpa oficial
que dão para não trazerem Daniel, porque o motivo real é mais do que conhecido:
Vettel não o quer por lá, afinal, o alemão levou uma verdadeira sova de
Ricciardo em 2014 quando correram juntos na Red Bull, e a Ferrari o contratasse
ele certamente pediria as contas, com receio de levar outra lavada que poderia
colocar em xeque sua fama como piloto campeão. Ricciardo quer um carro que
possa levá-lo ao título, e a Red Bull agora terá o desafio de fazer sua nova
parceria com a Honda dar certo para os próximos dois anos. Atitude ousada e
corajosa, mas necessária para ver se consegue dar o salto necessário para
conseguir bater Mercedes e Ferrari, que continuam à frente de todos os times no
grid da F-1 atual.
Não se pode dizer o
mesmo da Williams, que continua empacada em último lugar, e parece que não vai
sair de lá este ano. Melhor a escuderia inglesa começar a se preparar para um
ano ainda mais difícil em 2019, quando terá um orçamento muito menor para poder
utilizar, com a diminuição brutal da premiação do Mundial de Construtores, onde
receberá a menor fatia do bolo, e terá de se virar para cobrir a perda do
patrocínio da Martini, que já deu seu aviso de despedida há tempos. É hora de
Pady Lowe tentar sua redenção no time, ou afundar de vez. E ainda fica a ameaça
de Lance Stroll se cansar da brincadeira de guiar a draga de carro do time e
pular fora, e levando junto a imensa grana que seu pai investe na escuderia de
Grove. O time vai tentar corrigir seu rumo semana que vem, em Silverstone, onde
promete estrear uma versão completamente revisada do seu FW41, a fim de
conseguir tentar salvar o ano do desastre completo de terminar a competição em
último lugar. Mas, não dá para sentir muita empolgação com isso. Como ninguém
quer ver um nome icônico como o da Williams, o terceiro time mais antigo do
grid, na situação em que se encontra, portanto, todos torcem por uma
reviravolta que lhes permita voltar a andar melhor. Mas, se essa revisão não
funcionar, melhor esquecer mesmo o resto de 2018, e pensar no ano que vem de
uma vez por todas...
A pista do Red Bull Ring (abaixo) marcou a última pole-position conquistada pela Williams (acima), com Felipe Massa. Hoje o time se arrasta nas últimas posições do grid na F-1. |
Decepção mesmo está
sentindo Fernando Alonso, e os torcedores da McLaren. O asturiano, depois de
viver um sonho do paraíso na semana retrasada ao vencer as 24 Horas de Le Mans
pela Toyota no Mundial de Endurance, viveu o inferno de se arrastar
literalmente pela pista na pior apresentação do time de Woking no ano. E o pior
de tudo foi não haver um problema específico no carro, que ainda por cima,
quebrou na penúltima volta da corrida, configurando o terceiro abandono consecutivo
de Alonso na temporada. Como desgraça pouca é bobagem, a McLaren ainda afirmou
que o modelo MCL33 padece de um problema aerodinâmico que não estão conseguindo
analisar no túnel de vento, e que só podem tentar solucionar testando na pista,
algo que só dá para fazer nos treinos livres das sextas-feiras de GP, onde o
tempo para tentar descobrir o que está acontecendo não é lá muito abundante.
Se até o ano passado
boa parte da culpa pela falta de competitividade podia ser atribuída à pífia
performance das unidades motrizes da Honda, que quebravam mais que macarrão
seco e tinham uma falta de potência absurda, este ano não está dando para
apresentarem desculpas que não sejam decorrentes de um projeto que certamente
não é o que eles imaginavam apresentar. Por mais problemas que as unidades
motrizes da Renault tenham tido, é só tomarem como parâmetro o desempenho da
Red Bull, que já venceu duas corridas e marcou uma pole, e ocupam a 3ª posição
no Mundial de Construtores com mais que o dobro de pontos do próprio time
oficial da Renault. Se o modelo MCL32 de 2017 era um carro relativamente bom
com um propulsor ruim, este ano a situação se inverteu: o MCL33 está decaindo a
olhos vistos, enquanto o motor é bem satisfatório. Tanto é que a McLaren está
perdendo de lavada até para o time oficial da Renault, que no início do ano
parecia estar emparelhado com a escuderia de Woking. E agora, o que fazer? O
time teria feito contato para possível contratação de Daniel Ricciardo,
possível indício de que Alonso deve pular fora não apenas da escuderia, mas
também da F-1, e ir ser feliz em outros ares e categorias. Mas o australiano
toparia essa parada? Acho que seria um retrocesso na sua carreira, e com
chances de comprometer o seu futuro na F-1.
A Force India tenta
reagir na competição, mas o orçamento curto impede que o time consiga avançar
como gostaria de fazer. Continuam correndo boatos de que a escuderia pode ser
vendida, e até o nome de Michael Andretti teria sido mencionado como um
possível comprador, o que acho muito improvável, ainda mais em um momento onde
o ex-piloto pode estar em vias de formar uma parceria para uma entrada da
McLaren na Indycar no próximo ano. Cuidando de seu time no certame de
monopostos dos Estados Unidos, e ainda tendo de gerenciar uma possível
parceria, não creio que Michael resolveria se arriscar numa empreitada na F-1.
E ele já tem também um time na Formula-E, onde os custos de competição são
muito mais acessíveis e com menos riscos.
Conversas de
bastidores à parte, o que podemos esperar para a corrida deste domingo?
Zeltweg, apesar de curto, ainda é uma pista onde o motor fala alto, e portanto,
podemos esperar um novo duelo entre Mercedes e Ferrari. O time prateado pode
estar liderando a competição de construtores, e recuperado a liderança da
tabela de pilotos com Lewis Hamilton domingo passado em Paul Ricard, mas não é
por isso que eles irão ficar menos ocupados em procurar manter a dianteira na
disputa. Para tanto, a escuderia prateada chegou aqui à Áustria com um carro
completamente revisado e com várias modificações, algumas claramente inspiradas
no design do SF71H, para tentar deixar o carro mais à vontade com os diversos
compostos de pneus da Pirelli. Portanto, podemos esperar uma atividade mais
intensa de pista hoje com Hamilton e Bottas, procurando colocar o novo carro à
prova, e verificar se ele ajudará a manter a Ferrari e a Red Bull bem atrás na
disputa, que até o presente momento, vem se mostrando razoavelmente equilibrada
em termos de resultados e pontuação no campeonato.
Só esperemos que a
corrida pelo menos seja mais animada que as últimas etapas. O público quer
disputas na pista, não corridas monótonas e sem brigas...
A MotoGp inicia hoje os treinos
para uma das provas mais icônicas da temporada: o Grande Prêmio da Holanda, no
circuito de Assen. A corrida tem um significado especial para a Yamaha, e para
Valentino Rossi. Para o “Doutor”, é o fato de ele ser o maior vencedor da
prova, com 3 triunfos. Para a Yamaha, é a conclusão de um ano sem vitórias na
classe rainha do motociclismo. O último triunfo da marca dos três diapasões foi
nessa pista, no ano passado, com Rossi, quando o time japonês ainda tinha
esperanças de lutar pelo título da temporada. Só que, dali em diante, a
performance do equipamento de Rossi e Maverick Viñales decaiu, e arrastou a
dupla de pilotos junto, que acabou relegada a papel secundário no restante do
ano, vendo o duelo pelo título ficar restrito entre os times oficiais da Honda,
com Marc Márquez, e o da Ducati, com Andrea Dovizioso. O italiano conseguiu
estender a disputa até a corrida final, em Valência, mas perdeu para Márquez.
Foi a primeira vez em muitos anos que a Yamaha não conseguiu discutir o título
da temporada, e infelizmente, o jejum de vitórias continuou neste ano, onde até
agora a escuderia não conseguiu vencer. Graças à constância de sua dupla de
pilotos, e aos azares de alguns concorrentes, a Yamaha até aparece bem colocada
no campeonato, assim como Rossi (vice-líder) e Viñales (3º colocado). Mas
conquistar novas vitórias tem sido mais difícil do que se imaginava, e a Honda
continua a grande favorita ao título, enquanto a Ducati só não está dando o
mesmo trabalho que no ano passado porque Dovizioso e Jorge Lorenzo tiveram
muitos problemas até agora no ano, mas parecem estar prestes a acertar os
ponteiros a qualquer momento. Será que a Yamaha vai conseguir encerrar o seu
jejum no aniversário de um ano de sua última vitória, ou a seca irá perdurar
mais um pouco? A conferir no domingo, com transmissão ao vivo no canal pago
SporTV 2, a partir das 9 da manhã.
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