sexta-feira, 15 de junho de 2018

BALANÇO DO CANADÁ

O Grande Prêmio do Canadá foi uma corrida chata? Sebastian Vettel não achou nada disso, mas claro, ele venceu a corrida, porque iria dizer que a prova foi ruim?

            Definitivamente, a Fórmula 1 precisa de certos ajustes, mais do que nunca. Isso não é novidade para ninguém, e a categoria máxima do automobilismo mundial há anos ostenta regras imbecis e completamente idiotas que precisam ser revistas, assim como os custos de competição e as gigantescas estruturas que fizeram os times reféns hoje em nome do mínimo exigido para se participar de forma decente na competição.
            O campeonato de 2018 até vem se desenvolvendo de forma interessante, pelo menos no que tange à disputa pelo campeonato, mas as corridas em si, que até vinham sendo temperadas com alguma emoção inesperada, caíram de produção, e com a etapa de Montreal, no domingo passado, tivemos a terceira corrida consecutiva onde o público praticamente sentiu vontade de dormir durante a competição, tamanha foi a falta de emoção e de disputa relevante durante a prova. Se para as etapas da Espanha, em Barcelona; e de Mônaco, em Monte Carlo, isso já era esperado, foi completamente ridículo assistirmos a uma corrida completamente sem sal no Canadá, e isso certamente não era nem um pouco esperado.
            O circuito Gilles Villeneuve, montado nas ruas de um parque numa ilha artificial no meio do Rio São Lourenço, sempre foi uma corrida das mais agitadas da temporada. Os guard-rails muito mais próximos à pista do que em outros circuitos mistos, nunca perdoaram os erros dos pilotos, fossem eles apenas coadjuvantes na história da F-1, ou seus grandes campeões, como atesta o “Muro dos Campeões”, na entrada da reta dos boxes, por já ter vitimado inúmeros pilotos vencedores da categoria, e vários deles campeões mundiais. Some-se a isso bons trechos de retas, e uma forte freada na curva do Hairpin, onde muitos pilotos conseguiam fazer suas ultrapassagens, surpreendendo os rivais, e tínhamos sempre corridas pra lá de disputadas aqui, ou pelo menos, interessantes. E, depois de uma corrida sem atrativos como foi em Monte Carlo, era a chance de a F-1 mostrar um pouco mais de agitação, e dar mais graça a um campeonato que, ao menos na classificação, ainda vem sendo atraente.
            Havia outro motivo para esperar por uma corrida mais disputada: tirando a Mercedes, que de última hora decidiu não estrear suas novidades na pista canadense, todos os demais fornecedores de motores estrearam evoluções significativas em Montreal. Ferrari, Renault, e principalmente Honda, forneceram a seus times as versões mais evoluídas de suas unidades motrizes, dentro do cronograma de apenas 3 unidades por piloto pela temporada. E isso, por si só, já era um indício de que poderíamos ver algumas surpresas nos times. Infelizmente, nem isso conseguiu dar um tempero adicional à corrida, o que só torna a situação ainda mais preocupante. E uma entrada do Safety Car? Normalmente, por causa dos muros próximos, um acidente no circuito costuma exigir a entrada do carro de segurança, o que poderia embaralhar as estratégias dos times. E ele veio,sim, mas logo na primeira volta, onde Lance Stroll e Brendon Hartley se estranharam, e colidiram um com o outro, resultando na eliminação de ambos da prova, e da entrada do Safety Car, ainda na primeira volta. Em outras palavras, assim como ocorreu na Espanha, onde também tivemos um acidente logo após as primeiras curvas na primeira volta, esse percalço em nada conseguiu ajudar a corrida canadense a ser mais empolgante. E, como nada mais houve até a bandeirada final, acabamos por ver uma situação inédita em Montreal, com praticamente quase nenhuma ultrapassagem ou disputa entre os pilotos.
Lance Stroll e Brendon Hartley se estranharam, bateram, e fim de prova para os dois, obrigando a entrada do Safety Car ainda na primeira volta, e sem consequências para o restante da corrida.
            O treino de classificação foi muito disputado, com Mercedes, Ferrari e Red Bull batalhando pelas primeiras colocações no grid, e dando a sensação de que na corrida, poderíamos ver um duelo renhido entre os pilotos destes três times. Depois de três provas onde as coisas não correram exatamente como esperavam, os ferraristas ficaram eufóricos com a pole-position de Sebastian Vettel, mas sem esquecer que largar na frente não seria garantia de vitória, como costuma ocorrer em Mônaco. Quem poderia garantir que os rivais não conseguissem dar o troco no domingo, afinal, ponto de ultrapassagem nunca foi problema no circuito canadense, ainda mais porque haveria três zonas de uso do DRS este ano, como forma de incrementar a disputa, e fazer a corrida ganhar mais emoção. Lamentavelmente, não vimos nada disso. Não fosse Daniel Ricciardo ter conseguido ganhar a posição de Kimi Raikkonem logo na primeira volta, e superar Lewis Hamilton no pit stop, e todos os seis primeiros colocados teriam terminado exatamente na mesma posição em que largaram. Até mesmo Max Verstappen, tradicionalmente um piloto que nunca se intimida e sempre parte para cima dos rivais, acabou não ameaçando Valtteri Bottas, que terminou em 2º lugar, à frente do arrojado holandês, que fechou o pódio. Talvez por causa das barbeiragens cometidas nas últimas corridas, Max tenha preferido não arriscar demasiado, e apenas fez pressão esperando por um erro do finlandês, que nunca veio. Raikkonem foi praticamente insosso durante toda a prova, e Hamilton, alegando problemas de aquecimento do seu motor, nunca esteve ao mesmo nível do parceiro de time. Indiferente a tudo isso, Sebastian largou na frente, e lá se manteve até a bandeirada final, averbando sua 50ª vitória na carreira.
            O resultado ficou interessante no campeonato: Vettel reassumiu a dianteira na pontuação, com 121 pontos, contra 120 de Hamilton. Uma disputa pra lá de equilibrada, e que deve se manter por toda a competição, esperemos. Um pouco mais atrás, Bottas e Ricciardo também trocaram de posição, enquanto Verstappen ainda tem muito chão para recuperar na pontuação. Mas isso não serviu para compensar completamente o anormal andamento da corrida em Montreal, onde não vimos os tradicionais duelos e disputas que tanto caracterizaram aquela prova em muitos anos. E não vimos disputas praticamente em toda a corrida: as poucas mudanças de posição no pelotão intermediário foram se dando pelas estratégias de pit stops, e muito pouco se viu na pista. E olhe que normalmente o pelotão intermediário é muito mais disputado que as posições no primeiro escalão, mas nem isso conseguiu ser algo que merecesse maior atenção este ano.
Sem arrumar nenhuma encrenca na pista pela primeira vez no ano, Max Verstappen subiu ao pódio, em 3º lugar.
            O Liberty Media mais do que acerta ao impor novas regras para 2019 que tornem mais fáceis as ultrapassagens entre os carros. O ar “sujo” gerado pelo monoposto que vai à frente tem sido um grande empecilho para as tentativas de ultrapassagens, uma vez que o carro que vai atrás fica “solto” aerodinamicamente, sendo necessário reforçar sua estabilidade ”mecânica”, de modo a tornar os bólidos menos dependentes do fluxo de ar. Mas talvez seja necessário também repensar a política dos pneus, e sua forma de construção. Se no ano passado a Pirelli, em virtude do downforce muito maior dos carros, foi conservadora na concepção dos compostos fornecidos para o campeonato, por uma questão óbvia de segurança, este ano, em tese, a fabricante já deveria ter dados suficientes para proporcionar performances diferentes aos compostos, tendo até um novo sido criado, que em teoria deveria durar muito pouco, mas proporcionar muito mais velocidade aos carros. Mas está acontecendo o oposto: todos os compostos estão durando mais do que se imaginava, e até mesmo o novo composto hipermacio, usado em Mônaco, apresentou uma durabilidade impressionante, jogando por terra as possibilidades de os times terem de fazer obrigatoriamente mais de uma parada, o que virou algo excepcional, e não a regra geral. E isso vem acontecendo em todas as corridas, como foi o caso de Montreal, onde os pilotos, salvo problemas eventuais, fizeram a corrida toda com apenas uma parada. Aliás, não fosse a exigência do regulamento que obriga os pilotos a terem de utilizar dois compostos durante a corrida, me atrevo a dizer que muitos deles fariam a corrida sem nenhum pit stop. Antigamente, havia corridas onde alguns pilotos usavam do artifício para conseguirem resultados mais significativos, em que pese isso obrigar a ter de conseguir conservar os pneus por toda a corrida.
            Uma opção para tentar contornar esse problema seria liberar o uso de todos os compostos disponíveis para os times e pilotos, e não apenas aqueles três compostos obrigatórios que a Pirelli escolhe para cada corrida. Melhorar a disponibilidade de pneus para que os pilotos possam andar mais – que tal passarmos de 7 para 10 jogos por carro no final de semana? Poderia ser uma boa incrementada. Mas, juntamente a isso, precisaria ser abolido o limite ridículo de apenas 3 motores por carro ao ano. Já falei disso em outras ocasiões, e a concordância é unânime em apontar que esse limite é completamente insano e só joga contra a F-1, e não ajuda nem um pouco na contenção de gastos. Perto disso, o limite de 8 propulsores que vigorou até 2013, nos últimos anos das unidades aspiradas, parece até um paraíso, de onde a F-1 desceu direto para o inferno que vemos atualmente, pois pilotos e equipes tentam andar o mínimo possível nos treinos, justamente para não forçar suas unidades motrizes, e com isso, agravando a situação, com a disputa sendo feita aquém do que poderia render efetivamente.
Fernando Alonso sofreu seu segundo abandono consecutivo na temporada, e os ânimos por melhores resultados já não são os mesmos... McLaren ainda está devendo muito para os outros times equipados com os motores Renault.
            Um limite que, na minha opinião, não precisa ser mexido, é no limite do combustível para a corrida. Bottas alegou que não pôde discutir a vitória com Vettel porque estava ficando sem combustível, e que se forçasse, poderia ter uma pane seca. Bem, o limite de combustível é igual para todos, e se o finlandês da Mercedes estava enfrentando esse risco, era um problema inerente ao seu propulsor. A F-1 sempre teve limitação de combustível em muitas temporadas, e os times, gostassem ou não, tinham que conseguir equacionar esse problema junto ao seu fornecedor de motor. Não se trata de contenção de custos exatamente, mas de um limite que todo fabricante precisa encarar: a relação performance/consumo. Se está consumindo muito, que trabalhe para tornar a sua unidade de potência mais econômica, sem perda de sua performance. Nada impede o fabricante de tornar seu equipamento mais eficiente, e convenhamos: um motor que consome menos, e entrega a mesma potência, torna-se um trunfo na competição, permitindo ao bólido necessitar de menos combustível para disputar a corrida, e em teoria, um pouco mais leve, levar vantagem sobre os rivais. Quem não fosse competente para resolver esse problema, bem... Não era incomum vários pilotos sofrerem pane seca em corridas até os anos 1980, geralmente por consumo excessivo de seus propulsores, erro na configuração dos motores, ou simplesmente o time errava feio no cálculo de consumo. Pelo sim, pelo não, as novas regras para 2019 preveem um incremento de 5 kg a mais na carga de combustível que cada carro poderá utilizar durante a corrida.
Mesmo com três zonas do DRS, e pontos de ultrapassagem favoráveis, as disputas por posições em Montreal foram pífias como há muito não se imaginava...
            É complicado tentar mudar as coisas na F-1. Todos querem que a categoria seja mais atrativa, mas ao mesmo tempo, ninguém quer perder sua posição de destaque, ou algo que o favoreça. Para a imensa maioria dos torcedores, o GP do Canadá foi a pior prova do ano até aqui, e isso leva em conta justamente as opções que o traçado da corrida canadense teoricamente oferecia de atrativo para uma corrida que poderia ser muito disputada, mas Vettel criticou quem reclamou da falta de emoção na prova, alegando que aF-1 nunca terá 100% de boas corridas. A afirmação do alemão não está errada, mas uma vez que ele largou na pole e venceu sem ser ameaçado durante todo o GP, apesar da proximidade de Bottas em 2º, é fácil para ele afirmar isso, já que foi o vencedor. Se ele tivesse largado lá atrás, e ficado “preso” em uma disputa de posição toda a corrida, certamente diria outra coisa, como foi o caso de Fernando Alonso, que enquanto esteve na corrida, ficou em uma disputa com Charles LeClerc, da Sauber, tendo muito trabalho para conseguir se livrar do piloto monegasco.
            E isso é apenas um dos exemplos. A FIA quer tornar as unidades motrizes menos complicadas para 2021, com vistas não apenas abaixar custos, mas também a tentar atrair outros fabricantes, oferecendo regras técnicas mais simples e ainda assim interessantes para desenvolvimento da tecnologia híbrida. Só que os fabricantes atuais, como Mercedes, Ferrari, e até mesmo a Honda, são contra. E são fabricantes com muito poder de fogo, e com dois deles tendo equipes próprias, e com influência em pelo menos mais 4 times, ou pouco mais da metade do grid atual. E nem menciono quando as próprias escuderias não se entendem, o que daria ainda mais pano para a manga neste texto.
            Semana que vem, a F-1 volta a um circuito clássico do qual sempre gostei muito: Paul Ricard. Mais do que o retorno de uma pista das antigas, todos esperemos ver uma corrida melhor do que as últimas disputadas este ano. E, com a Copa do Mundo da Rússia rolando, é bom que a corrida em Le Castellet consiga ser interessante, porque o grosso das atenções do mundo dos esportes estará voltado para a Rússia, e portanto, qualquer interesse na F-1 será ainda menor do que já é atualmente, raciocínio que pode valer para o interesse dos torcedores de muitos outros países que porventura ainda ficam mais ligados na categoria. A F-1 que se cuide neste momento...


No treino de classificação para a 86ª edição das 24 Horas de Le Mans, deu o óbvio: a Toyota largará na frente em Le Sarthe, com o trio Sébastien Buemi/Kazuki Nakajima/Fernando Alonso saindo na pole-position, com o tempo de 3min15s377, à frente dos colegas Mike Conway/Kamui Kobayashi/José Maria López, com 3min17s377. Para os torcedores brasileiros, teremos Bruno Senna, ao lado de Andre Lotterer e Neel Jani, com a Rebellion, largando em 3º, com o tempo de 3min19s449, ainda na LMP1. André Negrão largará em 12º, com a Signatech Alpine, já na classe LMP2, ao lado de Nicolas Lapierre e Pierre Thiriet. Felipe Nasr é o 22º no grid, pela equipe Cetilar Villorba, ainda na LMP2. Daniel Serra é o 34º, com a AF Corse, na classe LMGTE-Pro; Tony Kanaan o 41º com a Ford Chip Ganassi, também na LMGTE-Pro; Augusto Farfus o 42º, com a BMW; e Pipo Derani o 46º, também com a equipe AF Corse, na classe LMGTE-Pro. Boa competição a todos!

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