O Grande Prêmio do Canadá foi uma corrida chata? Sebastian Vettel não achou nada disso, mas claro, ele venceu a corrida, porque iria dizer que a prova foi ruim? |
Definitivamente, a
Fórmula 1 precisa de certos ajustes, mais do que nunca. Isso não é novidade
para ninguém, e a categoria máxima do automobilismo mundial há anos ostenta
regras imbecis e completamente idiotas que precisam ser revistas, assim como os
custos de competição e as gigantescas estruturas que fizeram os times reféns
hoje em nome do mínimo exigido para se participar de forma decente na
competição.
O campeonato de 2018
até vem se desenvolvendo de forma interessante, pelo menos no que tange à
disputa pelo campeonato, mas as corridas em si, que até vinham sendo temperadas
com alguma emoção inesperada, caíram de produção, e com a etapa de Montreal, no
domingo passado, tivemos a terceira corrida consecutiva onde o público
praticamente sentiu vontade de dormir durante a competição, tamanha foi a falta
de emoção e de disputa relevante durante a prova. Se para as etapas da Espanha,
em Barcelona; e de Mônaco, em Monte Carlo, isso já era esperado, foi completamente
ridículo assistirmos a uma corrida completamente sem sal no Canadá, e isso
certamente não era nem um pouco esperado.
O circuito Gilles
Villeneuve, montado nas ruas de um parque numa ilha artificial no meio do Rio
São Lourenço, sempre foi uma corrida das mais agitadas da temporada. Os
guard-rails muito mais próximos à pista do que em outros circuitos mistos,
nunca perdoaram os erros dos pilotos, fossem eles apenas coadjuvantes na
história da F-1, ou seus grandes campeões, como atesta o “Muro dos Campeões”,
na entrada da reta dos boxes, por já ter vitimado inúmeros pilotos vencedores
da categoria, e vários deles campeões mundiais. Some-se a isso bons trechos de
retas, e uma forte freada na curva do Hairpin, onde muitos pilotos conseguiam
fazer suas ultrapassagens, surpreendendo os rivais, e tínhamos sempre corridas
pra lá de disputadas aqui, ou pelo menos, interessantes. E, depois de uma
corrida sem atrativos como foi em Monte Carlo, era a chance de a F-1 mostrar um
pouco mais de agitação, e dar mais graça a um campeonato que, ao menos na
classificação, ainda vem sendo atraente.
Havia outro motivo
para esperar por uma corrida mais disputada: tirando a Mercedes, que de última
hora decidiu não estrear suas novidades na pista canadense, todos os demais
fornecedores de motores estrearam evoluções significativas em Montreal.
Ferrari, Renault, e principalmente Honda, forneceram a seus times as versões
mais evoluídas de suas unidades motrizes, dentro do cronograma de apenas 3
unidades por piloto pela temporada. E isso, por si só, já era um indício de que
poderíamos ver algumas surpresas nos times. Infelizmente, nem isso conseguiu
dar um tempero adicional à corrida, o que só torna a situação ainda mais
preocupante. E uma entrada do Safety Car? Normalmente, por causa dos muros
próximos, um acidente no circuito costuma exigir a entrada do carro de
segurança, o que poderia embaralhar as estratégias dos times. E ele veio,sim,
mas logo na primeira volta, onde Lance Stroll e Brendon Hartley se estranharam,
e colidiram um com o outro, resultando na eliminação de ambos da prova, e da
entrada do Safety Car, ainda na primeira volta. Em outras palavras, assim como
ocorreu na Espanha, onde também tivemos um acidente logo após as primeiras
curvas na primeira volta, esse percalço em nada conseguiu ajudar a corrida
canadense a ser mais empolgante. E, como nada mais houve até a bandeirada
final, acabamos por ver uma situação inédita em Montreal, com praticamente
quase nenhuma ultrapassagem ou disputa entre os pilotos.
Lance Stroll e Brendon Hartley se estranharam, bateram, e fim de prova para os dois, obrigando a entrada do Safety Car ainda na primeira volta, e sem consequências para o restante da corrida. |
O treino de classificação
foi muito disputado, com Mercedes, Ferrari e Red Bull batalhando pelas
primeiras colocações no grid, e dando a sensação de que na corrida, poderíamos
ver um duelo renhido entre os pilotos destes três times. Depois de três provas
onde as coisas não correram exatamente como esperavam, os ferraristas ficaram
eufóricos com a pole-position de Sebastian Vettel, mas sem esquecer que largar
na frente não seria garantia de vitória, como costuma ocorrer em Mônaco. Quem
poderia garantir que os rivais não conseguissem dar o troco no domingo, afinal,
ponto de ultrapassagem nunca foi problema no circuito canadense, ainda mais
porque haveria três zonas de uso do DRS este ano, como forma de incrementar a
disputa, e fazer a corrida ganhar mais emoção. Lamentavelmente, não vimos nada
disso. Não fosse Daniel Ricciardo ter conseguido ganhar a posição de Kimi
Raikkonem logo na primeira volta, e superar Lewis Hamilton no pit stop, e todos
os seis primeiros colocados teriam terminado exatamente na mesma posição em que
largaram. Até mesmo Max Verstappen, tradicionalmente um piloto que nunca se
intimida e sempre parte para cima dos rivais, acabou não ameaçando Valtteri
Bottas, que terminou em 2º lugar, à frente do arrojado holandês, que fechou o
pódio. Talvez por causa das barbeiragens cometidas nas últimas corridas, Max
tenha preferido não arriscar demasiado, e apenas fez pressão esperando por um
erro do finlandês, que nunca veio. Raikkonem foi praticamente insosso durante
toda a prova, e Hamilton, alegando problemas de aquecimento do seu motor, nunca
esteve ao mesmo nível do parceiro de time. Indiferente a tudo isso, Sebastian
largou na frente, e lá se manteve até a bandeirada final, averbando sua 50ª
vitória na carreira.
O resultado ficou
interessante no campeonato: Vettel reassumiu a dianteira na pontuação, com 121
pontos, contra 120 de Hamilton. Uma disputa pra lá de equilibrada, e que deve
se manter por toda a competição, esperemos. Um pouco mais atrás, Bottas e
Ricciardo também trocaram de posição, enquanto Verstappen ainda tem muito chão
para recuperar na pontuação. Mas isso não serviu para compensar completamente o
anormal andamento da corrida em Montreal, onde não vimos os tradicionais duelos
e disputas que tanto caracterizaram aquela prova em muitos anos. E não vimos
disputas praticamente em toda a corrida: as poucas mudanças de posição no
pelotão intermediário foram se dando pelas estratégias de pit stops, e muito
pouco se viu na pista. E olhe que normalmente o pelotão intermediário é muito
mais disputado que as posições no primeiro escalão, mas nem isso conseguiu ser
algo que merecesse maior atenção este ano.
Sem arrumar nenhuma encrenca na pista pela primeira vez no ano, Max Verstappen subiu ao pódio, em 3º lugar. |
O Liberty Media mais
do que acerta ao impor novas regras para 2019 que tornem mais fáceis as
ultrapassagens entre os carros. O ar “sujo” gerado pelo monoposto que vai à
frente tem sido um grande empecilho para as tentativas de ultrapassagens, uma
vez que o carro que vai atrás fica “solto” aerodinamicamente, sendo necessário
reforçar sua estabilidade ”mecânica”, de modo a tornar os bólidos menos
dependentes do fluxo de ar. Mas talvez seja necessário também repensar a
política dos pneus, e sua forma de construção. Se no ano passado a Pirelli, em
virtude do downforce muito maior dos carros, foi conservadora na concepção dos
compostos fornecidos para o campeonato, por uma questão óbvia de segurança,
este ano, em tese, a fabricante já deveria ter dados suficientes para
proporcionar performances diferentes aos compostos, tendo até um novo sido
criado, que em teoria deveria durar muito pouco, mas proporcionar muito mais
velocidade aos carros. Mas está acontecendo o oposto: todos os compostos estão
durando mais do que se imaginava, e até mesmo o novo composto hipermacio, usado
em Mônaco, apresentou uma durabilidade impressionante, jogando por terra as
possibilidades de os times terem de fazer obrigatoriamente mais de uma parada,
o que virou algo excepcional, e não a regra geral. E isso vem acontecendo em
todas as corridas, como foi o caso de Montreal, onde os pilotos, salvo
problemas eventuais, fizeram a corrida toda com apenas uma parada. Aliás, não
fosse a exigência do regulamento que obriga os pilotos a terem de utilizar dois
compostos durante a corrida, me atrevo a dizer que muitos deles fariam a
corrida sem nenhum pit stop. Antigamente, havia corridas onde alguns pilotos
usavam do artifício para conseguirem resultados mais significativos, em que
pese isso obrigar a ter de conseguir conservar os pneus por toda a corrida.
Uma opção para tentar
contornar esse problema seria liberar o uso de todos os compostos disponíveis
para os times e pilotos, e não apenas aqueles três compostos obrigatórios que a
Pirelli escolhe para cada corrida. Melhorar a disponibilidade de pneus para que
os pilotos possam andar mais – que tal passarmos de 7 para 10 jogos por carro
no final de semana? Poderia ser uma boa incrementada. Mas, juntamente a isso,
precisaria ser abolido o limite ridículo de apenas 3 motores por carro ao ano.
Já falei disso em outras ocasiões, e a concordância é unânime em apontar que
esse limite é completamente insano e só joga contra a F-1, e não ajuda nem um
pouco na contenção de gastos. Perto disso, o limite de 8 propulsores que
vigorou até 2013, nos últimos anos das unidades aspiradas, parece até um
paraíso, de onde a F-1 desceu direto para o inferno que vemos atualmente, pois
pilotos e equipes tentam andar o mínimo possível nos treinos, justamente para
não forçar suas unidades motrizes, e com isso, agravando a situação, com a
disputa sendo feita aquém do que poderia render efetivamente.
Um limite que, na
minha opinião, não precisa ser mexido, é no limite do combustível para a
corrida. Bottas alegou que não pôde discutir a vitória com Vettel porque estava
ficando sem combustível, e que se forçasse, poderia ter uma pane seca. Bem, o
limite de combustível é igual para todos, e se o finlandês da Mercedes estava
enfrentando esse risco, era um problema inerente ao seu propulsor. A F-1 sempre
teve limitação de combustível em muitas temporadas, e os times, gostassem ou
não, tinham que conseguir equacionar esse problema junto ao seu fornecedor de
motor. Não se trata de contenção de custos exatamente, mas de um limite que
todo fabricante precisa encarar: a relação performance/consumo. Se está
consumindo muito, que trabalhe para tornar a sua unidade de potência mais
econômica, sem perda de sua performance. Nada impede o fabricante de tornar seu
equipamento mais eficiente, e convenhamos: um motor que consome menos, e
entrega a mesma potência, torna-se um trunfo na competição, permitindo ao
bólido necessitar de menos combustível para disputar a corrida, e em teoria, um
pouco mais leve, levar vantagem sobre os rivais. Quem não fosse competente para
resolver esse problema, bem... Não era incomum vários pilotos sofrerem pane
seca em corridas até os anos 1980, geralmente por consumo excessivo de seus
propulsores, erro na configuração dos motores, ou simplesmente o time errava
feio no cálculo de consumo. Pelo sim, pelo não, as novas regras para 2019
preveem um incremento de 5 kg a mais na carga de combustível que cada carro
poderá utilizar durante a corrida.
Mesmo com três zonas do DRS, e pontos de ultrapassagem favoráveis, as disputas por posições em Montreal foram pífias como há muito não se imaginava... |
É complicado tentar
mudar as coisas na F-1. Todos querem que a categoria seja mais atrativa, mas ao
mesmo tempo, ninguém quer perder sua posição de destaque, ou algo que o
favoreça. Para a imensa maioria dos torcedores, o GP do Canadá foi a pior prova
do ano até aqui, e isso leva em conta justamente as opções que o traçado da
corrida canadense teoricamente oferecia de atrativo para uma corrida que
poderia ser muito disputada, mas Vettel criticou quem reclamou da falta de
emoção na prova, alegando que aF-1 nunca terá 100% de boas corridas. A
afirmação do alemão não está errada, mas uma vez que ele largou na pole e
venceu sem ser ameaçado durante todo o GP, apesar da proximidade de Bottas em
2º, é fácil para ele afirmar isso, já que foi o vencedor. Se ele tivesse
largado lá atrás, e ficado “preso” em uma disputa de posição toda a corrida,
certamente diria outra coisa, como foi o caso de Fernando Alonso, que enquanto
esteve na corrida, ficou em uma disputa com Charles LeClerc, da Sauber, tendo muito
trabalho para conseguir se livrar do piloto monegasco.
E isso é apenas um dos
exemplos. A FIA quer tornar as unidades motrizes menos complicadas para 2021,
com vistas não apenas abaixar custos, mas também a tentar atrair outros
fabricantes, oferecendo regras técnicas mais simples e ainda assim
interessantes para desenvolvimento da tecnologia híbrida. Só que os fabricantes
atuais, como Mercedes, Ferrari, e até mesmo a Honda, são contra. E são
fabricantes com muito poder de fogo, e com dois deles tendo equipes próprias, e
com influência em pelo menos mais 4 times, ou pouco mais da metade do grid
atual. E nem menciono quando as próprias escuderias não se entendem, o que
daria ainda mais pano para a manga neste texto.
Semana que vem, a F-1
volta a um circuito clássico do qual sempre gostei muito: Paul Ricard. Mais do
que o retorno de uma pista das antigas, todos esperemos ver uma corrida melhor
do que as últimas disputadas este ano. E, com a Copa do Mundo da Rússia
rolando, é bom que a corrida em Le Castellet consiga ser interessante, porque o
grosso das atenções do mundo dos esportes estará voltado para a Rússia, e
portanto, qualquer interesse na F-1 será ainda menor do que já é atualmente,
raciocínio que pode valer para o interesse dos torcedores de muitos outros
países que porventura ainda ficam mais ligados na categoria. A F-1 que se cuide
neste momento...
No treino de classificação para a
86ª edição das 24 Horas de Le Mans, deu o óbvio: a Toyota largará na frente em
Le Sarthe, com o trio Sébastien Buemi/Kazuki Nakajima/Fernando Alonso saindo na
pole-position, com o tempo de 3min15s377, à frente dos colegas Mike
Conway/Kamui Kobayashi/José Maria López, com 3min17s377. Para os torcedores
brasileiros, teremos Bruno Senna, ao lado de Andre Lotterer e Neel Jani, com a
Rebellion, largando em 3º, com o tempo de 3min19s449, ainda na LMP1. André
Negrão largará em 12º, com a Signatech Alpine, já na classe LMP2, ao lado de
Nicolas Lapierre e Pierre Thiriet. Felipe Nasr é o 22º no grid, pela equipe
Cetilar Villorba, ainda na LMP2. Daniel Serra é o 34º, com a AF Corse, na
classe LMGTE-Pro; Tony Kanaan o 41º com a Ford Chip Ganassi, também na
LMGTE-Pro; Augusto Farfus o 42º, com a BMW; e Pipo Derani o 46º, também com a
equipe AF Corse, na classe LMGTE-Pro. Boa competição a todos!
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