Hoje começam os
treinos oficiais para o Grande Prêmio do Canadá, e uma das novidades aqui no
circuito Gilles Villeneuve são as novas versões atualizadas dos propulsores
Renault e Honda, que não por acaso estão no centro da grande dúvida que cerca o
destino de uma das principais escuderias da F-1 para a próxima temporada:
Afinal, com qual motor a Red Bull irá correr em 2019?
Quando o acordo que
permitiu à McLaren romper seu acordo com a Honda no ano passado, para poder
utilizar os propulsores franceses este ano, e repassar as unidades de potência
nipônicas para a Toro Rosso, todo mundo já antevia que um dos motivos, fora
permitir que a Honda continuasse na categoria máxima do automobilismo, e não
perdessem outro fabricante de motores, era que a Red Bull iria avaliar a
evolução das unidades japonesas, visando a possibilidade de substituir os
motores Renault que utiliza há uma década, e com os quais foram campeões nas
temporadas de 2010 a 2013. Trabalhar com um time pequeno como a Toro Rosso
permitiria aos japoneses da Honda terem tranquilidade e sem pressões para
poderem desenvolver sua unidade de potência, que até o ano passado, depois de
três temporadas equipando a McLaren, viraram motivo de piada na categoria, não conseguindo
entregar nem confiabilidade, e muito menos performance. E sofrendo cobranças
por vezes bem explícitas por parte do time inglês, que não teve mais a
paciência para esperar os japoneses melhorarem seu equipamento.
Os motores japoneses
melhoraram para este ano, especialmente em confiabilidade, deixando de quebrar
a torto e a direito. É verdade também que a escuderia de Faenza deu mais
atenção às solicitações dos nipônicos quanto às necessidades de seu propulsor,
que por vezes eram negligenciadas pela escuderia de Woking. Com a acessoria da
Ilmor, a Honda já conseguiu fazer bons aperfeiçoamentos, e se a performance
ainda está devendo, a marca prepara-se agora para tentar ir em busca desse
objetivo. A nova versão que Brendon Hartley e Pierre Gasly terão à sua
disposição aqui em Montreal terá, segundo a Honda, 40 HPs a mais de potência,
sem comprometimento da confiabilidade. A se cumprir essa promessa, será uma boa
evolução da unidade. Mas, será o bastante para fazer a diferença entre os
propulsores japoneses e os demais motores diminuir significativamente?
A Red Bull se queixa
de que os propulsores da Renault não conseguem diminuir o déficit de
performance para as unidades da Mercedes e da Ferrari, mas neste momento, o
motor francês ainda é melhor do que o japonês. Seria, para alguns, uma troca do
seis pelo meia dúzia, uma vez que com a Honda, o time dos energéticos
continuaria refém de um equipamento com performance inferior. Mas será que com
a evolução, a Honda pode passar a Renault? Não podemos esquecer que os
franceses também estão trazendo uma nova unidade para uso neste circuito, e a
meta dos franceses é diminuir significativamente seu déficit para os rivais.
Fica a dúvida sobre qual equipamento pode ter o maior potencial de evolução, e
é esse o ponto que deixa a Red Bull indecisa: permanecer com a Renault, que vem
tentando desde o início da era híbrida alcançar Mercedes e Ferrari, o que não
conseguiu fazer efetivamente até agora, ou apostar na Honda, que no atual
momento, ainda está atrás dos franceses?
A Renault já possui um
time de fábrica, e vem investindo pesado para melhorar tanto o seu propulsor,
quanto seu time. Apesar da melhor condição de competitividade da Red Bull, o
time austríaco é uma equipe “cliente”. No caso da Honda, o time dos energéticos
se tornaria o time de fábrica dos japoneses, que mesmo se permanecerem
fornecendo suas unidades de potência para a Toro Rosso, farão do time austríaco
sua prioridade máxima, o que significa que não apenas receberão os propulsores
de graça, mas também receberão um aporte financeiro significativo, igual eles
faziam quando estavam associados à McLaren, recursos muito bem-vindos, mesmo
que, em termos orçamentários, a Red Bull não precise disso. No caso da Renault,
a prioridade do desenvolvimento de suas unidades atende às necessidades de seu
time de fábrica, com atenção também para seus times clientes, dividindo sua
atenção entre estes times. A Honda daria dedicação integral à Red Bull, e a
Toro Rosso, por sua vez, ficaria completamente em segundo plano. Uma diferença
de tratamento que também seria muito tentadora para Christian Horner & Cia.
O que complica a
situação é o futuro das duas marcas, e o passado de ambas. A Red Bull já
mostrou impaciência com os franceses, fazendo críticas públicas tão constrangedoras
quanto as que a McLaren fez à Honda, a ponto de quase o time austríaco ter
ficado sem fornecedor de motores. Somente depois de receber negativas veementes
de Mercedes e Ferrari em fornecer seus propulsores ao time dos energéticos que
seus dirigentes engoliram as críticas a seco e tiveram que ficar quietos, pois
não havia outras opções de fornecedores. A relação nunca mais foi a mesma, e o
passado de glórias do time austríaco junto com os motores franceses foi
claramente esquecido, mesmo que parte das críticas com relação à performance
dos propulsores fosse justificada. E, diante do fato de que a Renault ainda não
conseguiu eliminar seu déficit de performance, permanece a insatisfação dos
dirigentes do time austríaco, que agora tem uma opção para trocar de propulsor.
Para isso, portanto, a
Red Bull quer ver como se comportarão as novas e atualizadas unidades motrizes
tanto da Renault quando da Honda. Tanto que já afirmou que tomará a decisão de
escolher a unidade que utilizará em 2019 apenas em julho, o que desagradou à
Renault, que já queria uma decisão no fim de maio, mas aceitou prorrogar o
prazo, porque, afinal, apesar dos problemas enfrentados na relação, não quer
perder um time como o dos energéticos no seu portfólio de clientes, e acabou novamente
surpreendido pela decisão da escuderia austríaca. Para a Honda, claro, seria um
lucro imenso trabalhar com um dos melhores times do grid, o que motivaria os
japoneses a redobrarem seus esforços para prover uma unidade motriz mais
competitiva no próximo ano. E eles estão claramente dando passos à frente,
finalmente.
Mas, será que
conseguirão dar conta disso? A Honda, desde o final de sua primeira temporada
com a McLaren, em 2015, sempre prometeu evolução. Em 2016, de fato, as coisas
melhoraram, mas ainda longe do que se esperava. E, em 2017, com evolução
“liberada”, ocorreu um forte retrocesso por parte dos japoneses, que acabou
sendo a gota d’água na relação dos ingleses com os nipônicos. Será que o erro
pode se repetir? Teoricamente, não, até porque se espera que a Honda tenha
aprendido com os erros cometidos, mas quem garante que tudo dê certo como a Red
Bull espera que ocorra? Por outro lado, a Renault também promete tirar a
diferença de seu equipamento para as rivais Mercedes e Ferrari, e embora tenha
feito grandes progressos, como as rivais não ficaram paradas, deu na mesma: a
Renault continua até hoje atrás das duas marcas. Será que agora a Renault
consegue cumprir a promessa, ou ficará devendo novamente?
E, se a Red Bull,
mesmo conseguindo agora, com a Renault, incomodar Ferrari e Mercedes na pista,
tendo até conseguido vencer já duas corridas no ano, onde seu carro claramente
dá sinais da excelência do projeto de Adrian Newey, ainda está insatisfeita com
a Renault, vai precisar, em teoria, estar preparada para um possível período de
vacas magras com a Honda, caso firme a parceria, e ela se mostre complicada no
início. As chances de a unidade motriz nipônica agora ser muito mais eficiente
é infinitamente maior do que quando eles forneciam para a McLaren, mas se
continuarem atrás de todos os outros, Christian Horner, Helmut Marko, e
Dietrich Mateschitz vão ser compreensivos, ou começarão com as críticas? Já
vimos esse filme antes, e a situação quase terminou mal para a Red Bull,
portanto, eles que fiquem de sobreaviso. Não é querer ser pessimista, ou cantar
que a Honda novamente vai fracassar, mas é preciso levar em consideração que a
chance de contarem com uma unidade motriz menos eficiente que as demais em 2019
não pode ser ignorada.
A Renault, claro, é
quem tem a perder nessa história, pois ficaria sem o seu principal time na F-1
em termos de resultados, enquanto a Honda teria a chance de ouro para enfim
conseguir brilhar na categoria máxima do automobilismo, como nos velhos tempos.
Tanto que uma das condições dos franceses é renovar o contrato por pelo menos 3
anos, e nesse prazo, há outro ponto interessante a se considerar: ele
englobaria a temporada de 2021, onde passarão a valer novas regras técnicas
para os motores, com apenas um sistema de recuperação de energia. A intenção da
marca francesa é manter todos os seus times de modo a conseguir ter o fluxo de
informações de performance em pista inalterado, e assim, ter maior e melhor
feedback no desenvolvimento a ser aplicado no projeto das novas unidades
motrizes. Este prazo “prenderia” a Red Bull à Renault até o fim de 2021, e em
tese, poderia ter a vantagem de, com as novas regras técnicas, novos
fornecedores entrarem na F-1, oferecendo maiores possibilidades de escolha.
Daria também à Honda um prazo maior para desenvolver seu equipamento, o que
poderia lhes ser benéfico também, já que na Red Bull voltarão a sofrer as
pressões por resultados de forma muito mais implacável do que na Toro Rosso,
onde poderiam continuar a evolução de seus projetos com mais calma,
possibilitando-os alcançar o grau de excelência que caracterizou seus motores
nos tempos de Williams e McLaren nos anos 1980.
Por isso, observar o
desempenho das novas unidades motrizes aqui em Montreal ganha grande
importância. A pista canadense tem bons trechos de aceleração, e conta com uma
das maiores retas dos circuitos do calendário, impondo aos motores uma
aceleração total em aproximadamente 70% do traçado, um desafio contundente para
servir de avaliação da performance das unidades. A Renault está confiante de
ter dado um passo à frente na evolução de suas unidades motrizes. Mas a Honda
garante ter feito um trabalho muito mais substancial. Mas não podemos esquecer
também que a Ferrari também está trazendo aqui importantes evoluções em suas
unidades motrizes, que em tese pode deixar tudo na mesma. A Mercedes também
trouxe inovações, mas optou por cancelar a utilização das novas unidades, após
descobrir alguns problemas nos novos componentes, que passarão por nova
verificação e avaliação na fábrica, antes de serem efetivamente utilizados. Com
isso, as unidades de potência alemãs estarão indo para a disputa de sua 7ª
corrida na atual temporada, mas o time prateado garante que isso não será um
problema. De fato, se teve uma unidade motriz que até agora não apresentou
problemas de confiabilidade, foi justamente a alemã, onde o mais próximo de um
enguiço foi uma queda da pressão do óleo que levou Esteban Ocon, da Force
Índia, ao abandono no GP da Espanha.
Se o desempenho obtido
com as novas atualizações feitas pela Honda confirmarem a evolução da
performance do propulsor, a Red Bull terá muito mais segurança de promover a
troca das unidades de potência para 2019 e dar um belo pontapé nos fundilhos
dos franceses, o que vem querendo há tempos. Espera-se também que o carro da
Toro Rosso corresponda, como aconteceu com o brilhante 4º lugar de Pierre Gasly
no GP do Bahrein deste ano, dando ao piloto e à Honda seus melhores resultados
na categoria, desde que os japoneses retornaram. Infelizmente, até o presente
momento, aquele foi um resultado isolado, que a equipe B dos energéticos não
conseguiu repetir, mostrando que os japoneses ainda tem muito chão pela frente
para percorrerem, mas um indício muito promissor de que o potencial começa a
ser exposto. Se com a nova evolução da unidade motriz, e ainda mais numa pista
exigente como Montreal, e que possa ser repetida nas provas seguintes, a Honda
mostrar serviço, os franceses que se preparem para ficar com um time a menos, e
que poderá fazer muita falta na ajuda da coleta de dados para o desenvolvimento
de seus propulsores. Mas, se os franceses também mostrarem serviço e evolução,
o ponto de interrogação que já paira sobre a cúpula da Red Bull não apenas
tende a permanecer como até ficar ainda maior. O que a pista do circuito Gilles
Villeneuve nos mostrará? Este texto foi fechado nesta quinta-feira, e portanto,
ainda sem saber como se desenvolveram os treinos desta sexta-feira.
Só nos resta aguardar
e ver quem estará dando as cartas. Adoro as corridas neste circuito porque
geralmente a pista oferece sempre alternativas para boas corridas e disputas, e
com uma imensa reta onde as ultrapassagens podem ser realizadas efetivamente.
Aliás, este ano teremos três zonas de ativação do DRS neste circuito, o que deve
deixar as disputas ainda mais concorridas. Vamos ver o que acontece...
Um momento histórico ocorre neste
final de semana, com a disputa do ePrix de Zurique, marcando o retorno de uma
competição automobilística à Suíça, que proibiu as corridas em todo o seu
território após o violento acidente ocorrido nas 24 Horas de Le Mans de 1955.
Recentemente, o país abrandou essa proibição, estabelecendo como exceção a
disputa de corridas de carros elétricos, descrição que a Formula-E atende com
perfeição. O traçado montado nas ruas de Zurique tem 2,46 Km de extensão, com
11 curvas. Jean-Éric Vergne, da equipe Techeetah, lidera o campeonato, e se
conseguir abrir mais 17 pontos sobre Sam Bird na corrida suíça, poderá encerrar
a disputa e conquistar o título da temporada, pois não poderá ser alcançado,
mesmo que o inglês faça todos os pontos possíveis na rodada dupla de Nova
Iorque, em julho. Vergne
já tem 40 pontos de vantagem, e se chegar a 57, fatura matematicamente o
campeonato, já que Sam Bird poderia marcar apenas 56 pontos nas corridas da
metrópole estadunidense.
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