sexta-feira, 10 de março de 2017

PROGNÓSTICOS PARA A F-1 2017


Ultrapassar deve ser um desafio bem mais difícil na F-1 de 2017. Felipe Massa andou atrás de Marcus Ericsson e não conseguiu passá-lo na pista, mesmo tendo um carro bem mais veloz.

            Hoje terminam os testes coletivos da pré-temporada, na pista de Barcelona. Depois destes míseros oito dias de testes, as escuderias retornam às suas fábricas para tentarem colocar a mão na massa e tentar obter o maior número de modificações possíveis antes de embarcarem todos os equipamentos para o outro lado do mundo, onde no dia 24 já entrarão na pista para os primeiros treinos livres da nova temporada, no Albert Park, em Melbourne. Dependendo do time, e do que eles puderam avaliar na pista da Catalunha, poderão haver modificações ou alterações maiores ou menores nos bólidos. E quem sabe, novas surpresas na relação de forças da categoria.
            Mas, independente disso, dizer que a F-1 deste ano será melhor que a de 2016 ainda é algo bastante questionável. Poderemos até ter mais disputas, mas emoção nas corridas, talvez nem tanto como muitos poderiam esperar. E alguns sinais já puderam ser vistos nos testes de Barcelona.
            Em primeiro lugar, as ultrapassagens. Muitos criticam o DRS, que é visto como uma forma “artificial” de se facilitar as ultrapassagens, e afirmarem que o piloto à frente fica em clara desvantagem neste momento, por não poder defender dignamente sua posição. Isso é besteira: a asa móvel facilita, mas não tanto como se poderia esperar, dependendo da pista, e sua função é servir como um substituto do recurso do “vácuo”, que os carros da F-1 usavam há muito tempo atrás para ajudar em ultrapassagens, e que igualmente não dava oportunidade de quem ia à frente de responder a esse recurso, que só era possível quando o carro de trás era “sugado” pelo bólido que ia à frente. Bom, este ano, o DRS deverá sua eficácia mais limitada do que em outros anos, dependendo da pista onde for usado. O motivo é que os carros tiveram um aumento brutal da carga aerodinâmica, e por tabela, isso inclui também a sensibilidade ao fluxo de ar. Não é mistério para ninguém que segue a F-1 que os carros ficaram muito sensíveis em termos aerodinâmicos nas últimas décadas. Hoje, tornou-se muito mais difícil um piloto “embutir” na traseira de um carro que vai à frente, em virtude do ar “sujo” que o bólido cria atrás de si. E sem esse fluxo de ar, a aerodinâmica não funciona como deveria.
            A intenção de aumentar a carga aerodinâmica era diminuir a dependência das unidades de potência híbridas, e com os pneus maiores, dar maior aderência mecânica e aerodinâmica aos carros. O resultado é que já tivemos os bólidos andando praticamente 3s mais rápidos em Barcelona se compararmos com as melhores marcas do GP da Espanha do ano passado. E para aguentar essa aderência maior, além do peso dos carros também ter aumentado, os pneus atuais da Pirelli para este ano são bem mais resistentes, e não sofrem mais aquela degradação após poucas voltas. Mais duros e resistentes, o seu comportamento ficou bem mais uniforme ao longo de muitas voltas. O ponto positivo é que os novos compostos não superaquecem como os do ano passado, e isso dá ao carro mais estabilidade, diminuindo a perda de performance. Por outro lado, juntando as melhorias dos carros num quadro geral, temos agora bólidos e pneus que permitem aos pilotos frearem muito mais perto das curvas do que em 2016. E apesar dos novos pneus oferecerem mais aderência, a dependência da aerodinâmica, com 30% mais downforce, também aumentou. E ela é concebida para atuar de forma ideal. Simplificando, o carro tem rendimento máximo com o fluxo de ar “limpo”. Mas, quando fica em um fluxo “sujo”, que é o ar turbulento que é deixado para trás por outro carro, essa mesma aerodinâmica já não oferece a mesma sustentação. E sem a sustentação do ar, o carro fica “solto”, e o piloto pode até perder o controle. Por essa razão, eles deverão ter muito mais dificuldade para tentar uma ultrapassagem neste ano. E nem mencionei que, como os carros também são mais largos, eles ocupam mais espaço na pista, sendo mais “largos”, outro detalhe que também complicará as disputas de posição.
            Felipe Massa já deu a dica, ao afirmar que na terça-feira, andou várias vezes atrás de um dos carros da Sauber, e mesmo com um carro cerca de 1s5 mais veloz, praticamente não conseguia ultrapassá-lo. Se isso for o indicativo geral da temporada, podemos esperar por muitas corridas sem ultrapassagens, o que poderá ser contraprodutivo para corridas mais emocionantes. Quem largar na frente, dependendo da situação, não terá como ser ameaçado por quem vier atrás. E não se trata de uma questão do piloto ser arrojado ou não. Se o carro fica “solto” na turbulência, ele não consegue se aproximar adequadamente do carro que vai à frente. E com os espaços de frenagem muito mais curtos, diminui também as chances de conseguir frear por último e tentar o ataque na tomada da curva. Se o piloto for aos limites, pode acabar fora da pista, ou falando de forma menos pessimista, simplesmente não conseguir concretizar sua ultrapassagem.
            Poderemos ter uma idéia de quão difícil será ultrapassar já em Melbourne. O Albert Park nunca foi uma pista muito favorável às ultrapassagens, mesmo com o uso do DRS, portanto, veremos se os pilotos conseguirão disputar posições com dificuldade com os novos bólidos. E a situação pode ser igualmente complicada mesmo em Barcelona, onde as escuderias terão de rebolar para conseguir isso. Mesmo com o DRS, ultrapassar na pista da Catalunha tem sido uma via cruccis nos últimos anos. O conhecimento excessivo da pista pelos times, que aqui testam toda pré-temporada há anos, só complica ainda mais a situação. Não dá para afirmar ainda o que haverá nas outras pistas da temporada, mas em todas a situação de ultrapassagem deverá ser mais difícil do que já é. Com ou sem DRS.
            Outro detalhe interessante é que, com pneus mais duráveis, os pit stops devem rarear mais, em muitos casos limitando-se ao uso estritamente necessário dos dois compostos diferentes, conforme manda o regulamento da categoria. E mesmo no ano passado, quando os times puderam efetuar as provas apenas com uma parada, já vimos que as disputas na pista ficavam mais monótonas e enfadonhas. Pode acontecer o mesmo este ano. Outro detalhe a se considerar também é que no ano passado, os 5 compostos diferentes oferecidos pela Pirelli tinham graus de performance mais pronunciados, de modo que os pilotos podiam ter a opção de variar mais as estratégias, dependendo da equação performance – desgaste – tempo perdido no box. Neste ano, ainda não foi observado a fundo as diferenças de performance entre os diferentes compostos, que continuam sendo os ultramacios, os supermacios, os macios, os médios, e os duros. Se a diferença de performance não for pronunciada, os pilotos preferirão permanecer na pista a perderem tempo no pit stop, que pode não ser recuperável na corrida.
            Isso deve implicar também nas escolhas das estratégias de corrida. Tentar ultrapassar no box ou na pista? Dependendo dos compostos à mão, da pista, e da situação da prova, isso pode até resultar em mais disputas. Mas, se vai render ultrapassagens, é outra história. O tempo gasto nos boxes precisa compensar na maior performance na pista, mas se o piloto “entalar” atrás de algum carro, mesmo que seja retardatário, a estratégia pode ir para o vinagre, ainda mais se as ultrapassagens ficarem realmente mais difíceis. Como as estratégias geralmente são definidas em virtude da duração dos compostos de pneus, que já mostraram resistir sem perda de performance por muito mais tempo que no ano passado, ninguém vai querer ir ao box trocar os compostos, enquanto puder permanecer na pista. Portanto, o menor número de pit stops deverá se traduzir em menor variedade das estratégias.
            E lembrar que antigamente, alguns pilotos conseguiam (e podiam, na verdade, porque o regulamento não tinha essa regra) fazer uma corrida inteira sem precisar parar no box para trocar pneus. Não era qualquer piloto que conseguia isso. Além de habilidade do piloto, o carro precisava ser muito equilibrado, de modo que o desgaste de pneus pudesse ser contornado. Nélson Piquet ganhou as provas do Japão e da Austrália de 1990 não parando para trocar pneus. Seu ritmo era mais regular que aqueles que trocavam de compostos, mas era sempre uma aposta: saber andar rápido o suficiente sem deteriorar os compostos, enquanto outros que efetuavam trocas de pneus podiam acelerar mais. Seria interessante dar a pilotos e equipes este tipo de liberdade hoje em dia. Quem sabe em um futuro próximo não tiram essa regra dos compostos obrigatórios. Claro, desde que ofereçam compostos com duração bem particular em relação a cada tipo disponível...
Sebastian Vettel andou bastante, e marcou o melhor tempo até ontem na pré-temporada em Barcelona. E insiste que a Mercedes ainda é o time a ser batido. Quem está escondendo mais o jogo neste empurra-empurra de declarações?
            Já com relação a quem vai andar na frente, a Ferrari mais uma vez deu mostras de que deve vir forte este ano, mas no paddock, tanto o time italiano quanto a Mercedes fizeram questão de jogar o possível favoritismo para o rival. A Mercedes, através de Niki Lauda, afirmou que o ano deverá ser mais complicado do que eles imaginam, e que a Ferrari está à frente. Por sua vez, Sebastian Vettel, que nesta quinta-feira bateu a marca de Valtteri Bottas, ao fazer quase 1min19s cravados, falou pouco, mais ainda considera a Mercedes o time a ser batido. Uma tentativa de jogar a pressão por resultados para o concorrente? Muito possível, mas é verdade também que o novo SF70H vem conseguindo impressionar nos testes, a ponto de vários integrantes de outros times perderem seu tempo observando com muito mais atenção os detalhes do carro, que mostrou resistência e velocidade, a ponto de todo mundo duvidar sobre quem está realmente escondendo o jogo sobre a real performance do seu modelo 2017. Mas, como já mencionei na semana passada, a tranquilidade nos boxes da escuderia de Maranello é um sinal claro de que o novo carro tem tudo para fazer o time ser um dos destaques positivos da temporada. A prudência nas declarações é mais uma maneira de não jogarem pressão sobre si mesmos, depois de prometerem mundos e fundos em 2016 e quebrarem a cara, sem conseguirem os resultados esperados.
            Em um ponto, os dois times se equivalem: ambos andaram muito nestes poucos dias de testes, e tanto os italianos como os alemães enfrentaram poucos problemas no carro, o que significa que ambos os modelos são bem confiáveis. E, apesar da declaração de Lauda, o ambiente no box do time campeão das últimas três temporadas nunca ficou tenso ou nervoso, sinal de que tudo andou ocorrendo dentro do esperado, sem nada que tirasse a tranquilidade. Mas não adianta apenas contabilizar velocidade e confiabilidade. A constância em ritmo de corrida também será importante, e Vettel frisou que a Mercedes ainda é o time a ser batido, e que não é prudente subestimar a força da equipe prateada. Ele tem razão na última afirmação: não é bom cantar vitória de véspera, como ocorreu em 2016. E quer evitar o mesmo erro este ano. O que pode ser um claro indicativo da afirmação de Lauda, ao atribuir favoritismo ao carro vermelho: fazê-los acreditar terem as melhores chances, não chamando atenção para a força real da Mercedes.
            Essa é uma dúvida que só será realmente dirimida, e ainda parcialmente, em Melbourne. Mas, se tem algo que já se pode afirmar, antes mesmo do campeonato estrear, é que a McLaren deve ser a decepção do ano. A segunda sessão de testes em Barcelona foi novamente complicada para o time de Woking, e tanto Fernando Alonso quanto Stoffel Vandoorne, além de não terem conseguido andar novamente o que esperavam, ainda tiveram que usar as unidades de potência da Honda em ritmo “controlado”, leia-se moderado, ou lento, para ser franco e direto, para não quebrarem novamente. Quando os japoneses enfim tiveram a oportunidade de redesenharem sua unidade de potência, todo mundo esperava pelo menos um incremento de performance que permitisse à McLaren voltar a lutar regularmente pelos pontos, talvez até conquistar algum pódio. Vencer já seria mais complicado, e lutar pelo título, um milagre. Mas pelo histórico da Honda, era de se esperar melhorias, mas o que estamos vendo até agora parece um retrocesso frustrante e sem perspectivas a curto prazo.
            Terem precisado mexer no motor quando surgiu um problema logo na primeira saída de pista foi preocupante, mas pior ainda foi ver a unidade apresentar um problema, pouco tempo depois, que não conseguiram descobrir onde é que a coisa deu errado. Como ter tranquilidade quando o motor apresenta um defeito, e não se consegue descobrir o que é? Fernando Alonso deu uma alfinetada direta nos japoneses esta semana, ao afirmar que a McLaren estaria pronta, mas não dava para dizer o mesmo dos japoneses. Se confirmarem uma temporada desastrosa, como estão dando a entender, melhor a Honda começar a se preocupar em cometer haraquiri, o ritual de suicídio da cultura nipônica. E com Alonso se candidatando a descer a espada nos japoneses...

McLaren-Honda: vai ou racha em 2017? Até o momento, está rachando, e feio...
            Depois de dois anos de experiência prática no Mundial, é inconcebível a situação enfrentada pela Honda. Recursos não faltam, e justamente quando não há mais a limitação de desenvolvimento nos motores, o que limitou as possibilidades de evolução em 2015 e 2016, tudo parece ter andado para trás, ao invés de evoluir. Não fosse ter uma vida inteiramente dedicada ao esporte a motor, e quase 40 anos de vivência na McLaren, Ron Dennis, “expulso” da direção do time no final do ano passado, poderia estar rindo à toa com essa situação, vendo que o time não está indo melhor sem ele, como esperavam os demais acionistas do Grupo McLaren. Poderemos ver Alonso e Vandoorne disputando posições no grid com a Sauber, ao invés dos outros times? Exagero ou não, o fato da escuderia inglesa já ter afirmado que deverão usar os treinos livres de sexta-feira nas primeiras corridas como sessões de testes para recuperarem o tempo perdido indica que a situação anda feia na garagem do time inglês. Na quarta-feira, aliás, o clima estava tão “bom” que as coletivas tanto da Honda quanto da McLaren foram canceladas. Está ficando difícil para eles responderem às constantes e embaraçosas perguntas sobre o que farão para reverter a situação, a ponto de a imprensa espanhola já começar a antecipar a saída de Alonso, e do próprio divórcio entre McLaren e Honda. Definitivamente, o clima nos boxes da escuderia foi tenso durante estas duas semanas na Catalunha.
            Em compensação, o meio do grid parece que vai ser bastante embolado este ano. A disputa promete ser interessante. Vamos ver quem vai corresponder às expectativas...
Felipe Massa fez tempos promissores com a Williams, que deverá ter um ano bem mais competitivo do que em 2016. Mas Ferrari e Mercedes estão bem mais à frente do que a escuderia de Frank Williams.

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