A Fórmula 1 inicia a temporada 2017 com muita expectativa. |
Chegou a hora da
verdade. Depois de apenas ridículos oito dias de testes de uma pré-temporada
que deveria ser maior do que realmente foi, em virtude das mudanças técnicas
implantadas para esta temporada, os carros enfim entraram na pista para
iniciarem as atividades do primeiro Grande Prêmio da temporada da Fórmula 1,
que será disputado neste domingo. No paddock do Albert Park, a expectativa é se
esta temporada será de fato melhor do que as últimas, e se as mudanças técnicas
implantadas realmente devolverão a emoção às corridas. Como esta coluna foi
fechada antes do início dos treinos oficiais, quando ela estiver sendo lida no
Brasil, é provável que parte das dúvidas do que é discutido a seguir já tenha
tido algumas respostas, durante os dois treinos oficiais desta sexta-feira. Ou
talvez não...
O clima aqui no
paddock é sempre otimista em um início de temporada, mas receio que o circuito
de Melbourne talvez não nos dê uma idéia muito exata do que será a competição.
Mas permitirá bons indícios. O primeiro deles é praticamente já uma certeza: os
carros estão muito mais velozes, e com pneus mais duráveis, e uma carga de
combustível um pouco mais generosa, os pilotos estão livres para acelerarem com
muito mais vontade do que nos últimos três anos. O aumento da carga
aerodinâmica permitirá contornar as curvas com muito mais agressividade, e o
aumento de potência dos motores certamente jogará muito mais lenha na fogueira
nestes trechos de pista. Paralelamente, os novos carros também exigem muito
mais fisicamente dos pilotos, de modo que muitos deles tiveram que caprichar na
preparação física para não ficarem esgotados com os novos aumentos de força G
laterais que os novos bólidos proporcionam. E vários competidores confirmaram
que os novos carros exigem muito mais do piloto na condução, não apenas no
aspecto físico, mas também em relação ao comportamento das reações do bólido.
Com relação à disputa
pela vitória, todo mundo quer ver se a Ferrari realmente virá com a força que
deu a entender possuir nos testes de Barcelona. O novo modelo SF70H despertou a
curiosidade de todo mundo no paddock, e quando isso acontece, é porque algo
realmente efetivo está em curso. Mas a equipe rossa preferiu sempre
desconversar a respeito de um possível favoritismo, e embora tenha exagerado um
pouco no silêncio com a imprensa, o comedimento fez bem: a expectativa de
torcedores e da imprensa especializada está em alta pelo que Sebastian Vettel e
Kimi Raikkonen poderão render na pista, mas a escuderia, oficialmente, não
promete nada. Portanto, cuidado com o excesso de otimismo para com os carros
vermelhos. É claro que, depois de três anos vendo os carros prateados da
Mercedes ditarem os rumos do campeonato, a esperança de haver finalmente uma disputa
de posição pelo campeonato de forma efetiva é o que todos esperam, para não
termos de ficar novamente reféns de uma disputa interna dos pilotos do time
alemão. O problema é que até o presente momento ninguém faz uma idéia exata do
potencial do novo modelo W08 da Mercedes, que tem tudo para ser tão ou até mais
forte que seus antecessores. Um carro ruim certamente não é. Vai brigar por
poles e vitórias? Certamente. Só não sabemos se estará sozinho na brincadeira
ou irá ganhar companhia nessa hora.
A Ferrari mostrou força e deu indícios de que não mostrou tudo do que é capaz nos testes de Barcelona. Mas qual é o verdadeiro potencial do novo carro do time italiano? Hora de sabermos a verdade. |
Em termos de
cavalaria, a nova unidade de potência da Mercedes já estaria efetivamente
rendendo mil HPs de potência, com previsão de subir ainda mais de acordo com as
evoluções que serão implantadas durante a temporada. E com uma integração das
mais azeitadas entre motor e chassi, Lewis Hamilton e Valtteri Bottas são os
favoritos para a vitória na Austrália. Claro, falta combinar com os
concorrentes, em especial a Ferrari, que se mostrar que está realmente na
briga, virá com tudo para cima. Em termos de motor, os italianos já mostraram
que podem estar atrás das unidades da Mercedes, mas a diferença não é tão
gritante. Já a Red Bull, de quem se esperava mais na pré-temporada, também não
pode ser subestimada. Lembro-me da pré-temporada problemática vivida pelo time
dos energéticos em 2014, mas aqui no Albert Park, ao iniciar a temporada,
Daniel Ricciardo fez uma corrida estupenda, subindo ao pódio em 2° lugar, com
uma performance sólida e eficaz, que se não ameaçou o então vencedor Nico
Rosberg, por outro lado não deu chances ao resto dos competidores. O piloto
australiano só não levou o troféu para casa porque acabou desclassificado por
um consumo irregular de combustível no sensor, mas isso dá uma idéia da
capacidade de recuperação da Red Bull. Afinal, quem tem Adrian Newey na
prancheta não pode ser considerada carta fora do baralho, ainda mais em um
momento onde as novas regras técnicas reforçaram a área da aerodinâmica, o
ponto forte de Newey. Mas essa reação também passa por um esforço da Renault,
que reprojetou o seu propulsor para este ano, e garante ter tido um incremento
de performance considerável, com o objetivo de diminuir sua diferença de
performance em relação aos rivais. O novo motor ficou devendo um pouco em
Barcelona, com alguns problemas técnicos, além de um pouco a menos de potência
do que todos esperavam, mas a fábrica francesa garante que tudo já foi
devidamente resolvido, faltando apenas desenvolver melhor a unidade para que
ela possa ganhar toda a cavalaria necessária para ajudar nesta disputa. A confiança
da Renault é grande, a ponto de ter dispensado a consultoria de Mario Illen,
que no ano passado permitiu aos franceses darem um salto de performance que
ajudou a Red Bull a se recuperar na competição, permitindo-a ser a vice-campeã.
Confiança total no seu novo projeto, ou tentativa de se mostrar autossuficiente
u melhor do que realmente está? Torço para ser a primeira opção, pela melhoria
da competição. Mas espero que os franceses saibam o que estão fazendo...
Infelizmente, o
aumento da carga aerodinâmica nos carros também os tornou muito mais difíceis
de serem ultrapassados. Apesar das novas dimensões da asa dianteira, com o
objetivo de darem mais sustentação aerodinâmica à frente do carro, os efeitos
práticos não pareceram tão eficazes assim. Os bólidos estão muito mais
sensíveis ao fluxo de ar “sujo” gerado pelo carro que vai à frente, de modo que
nem mesmo os novos e maiores pneus parecem conseguir contrabalançar. Felipe
Massa disse não ter conseguido ultrapassar um carro da Sauber em Barcelona,
mesmo tendo um carro 1s5 mais veloz. Se isso e confirmar, as disputas de
posição tenderão a ser mais acirradas, mas sem garantias de maior número de
ultrapassagens, talvez muito pelo contrário.
E este circuito vai
ser particularmente complicado neste quesito. Mesmo sendo uma pista de rua, o
traçado do Albert Park tem mais cara de autódromo, e as freadas aqui são bem
fortes, pois a grande maioria das curvas é de baixa, alguma em ângulos de 90°.
Ultrapassar aqui, mesmo com o uso da asa móvel, o DRS, tem sido complicado nos
últimos anos, e desta vez, tende a ser ainda mais complicado. Os novos pneus,
bem mais duráveis e consistentes, não degradam-se com a mesma velocidade dos
compostos do ano passado, e mantém sua faixa de performance ideal por muito
mais tempo. Se ambos os pilotos estiverem com o mesmo tipo de composto, não
haverá diferença de performance significativa entre eles, o que será um
complicador a mais para as tentativas de ultrapassagens. Mas não é só isso: a
maior carga aerodinâmica, aliada à maior durabilidade dos compostos, permite
aos pilotos frearem muito mais dentro da curva do que antes, e aqui nesta
pista, isso reduzirá significativamente as zonas de freadas. Tentar dividir a
freada em uma curva tenderá a ser bem complicado.
Por isso mesmo, muitos
esperam que o treino de classificação seja muito disputado, pois quem largar na
frente terá a pista livre para ir embora como puder, enquanto quem estiver mais
para trás terá de arriscar bem mais para superar um adversário na pista. A
questão é o grau de dificuldade que os novos carros terão para esse propósito.
Dependendo da situação, não vai bastar apenas o braço e a determinação e arrojo
do piloto para arrancar uma ultrapassagem. Talvez apenas na etapa da China
possamos ver qual será a real dificuldade que os novos carros apresentarão, por
ser um autódromo muito mais característico do que a pista da metrópole
australiana, cujas características são mais particulares.
A McLaren pode ser a grande decepção da temporada. |
Para os brasileiros, o
que interessa é ver quais as possibilidades de Felipe Massa com a nova Williams
FW40, que nas suas mãos, mostrou um excelente rendimento em Barcelona,
mostrando ser um carro fiável, e veloz, pelo menos a ponto de estar logo atrás
de Mercedes e Ferrari, e à frente dos demais times, Red Bull inclusa. Mas,
mesmo que a Williams tenha de fato recuperado sua competividade frente aos
concorrentes, é a nova configuração técnica dos carros que irá ajudar Massa a
render o seu melhor. Os carros voltaram a permitir aceleração mais plena do
piloto, com a ajuda de pneus muito mais constantes e duráveis, características
que vigoravam nos primeiros anos de Felipe na Ferrari, onde ele mostrou a sua
melhor forma na F-1, com o ápice em 2008, quando quase foi campeão. Massa nunca
foi um piloto genial em administrar o desgaste dos pneus e tendo de moderar a
aceleração para economizar equipamento. Isso ajuda a explicar em parte sua
queda de performance a partir de 2009, quando os carros tiveram outras
características que envolviam mais a habilidade do piloto de conservar o seu
equipamento. Livre destas amarras, Felipe poderá voltar a mostrar a sua melhor
forma na condução de um bólido de F-1. E com o bônus de mais uma década de
experiência, que certamente o ajudará muito neste ano.
E mais do que tudo,
Massa está empolgado com as possibilidades, além do fato de que será
efetivamente o líder da Williams na pista, já que seu companheiro de time é um
estreante de 18 anos. Nas últimas temporadas, Massa tinha tratamento
igualitário com Valtteri Bottas dentro do time, e embora sua opinião fosse de
grande valia, agora a sua importância é muito mais crucial, já que o novato
Lance Stroll não poderá dar o timming e o felling que os engenheiros necessitam
do comportamento do carro. Por se sentir muito mais valorizado e importante
para a escuderia, Felipe está extremamente motivado, e nada melhor do que isso
para um piloto render tudo o que pode e mais um pouco.
A briga pelo pelotão
intermediário tem tudo para ser das melhores. E seria ainda mais se pelo menos
duas escuderias estivessem em condições de se manterem nesta briga.
Infelizmente, a Sauber deverá ser a equipe mais lenta do grid, e nem mesmo a
fiabilidade técnica do carro poderá contar muito. E utilizar o motor Ferrari do
ano passado, em um carro mais pesado, e com muito mais downforce, já indica que
a unidade de potência não renderá como o esperado. E, claro, temos a McLaren,
que deveria estar subindo de produção, e não descendo. Aliás, a piada corrente
no paddock é o rol de apostas sobre em qual volta os carros de Woking irão
pifar, já que em Barcelona eles mal conseguiam dar mais de 10 voltas seguidas,
com a unidade de potência em “modo de segurança”, para evitar danos ao
propulsor. Mas aqui a parada é pra valer, e pelo que vejo nos integrantes da
equipe, sejam os ingleses ou os japoneses da Honda, por mais otimismo que
queiram passar, o que parece é que ninguém sabe exatamente o que o equipamento
pode render. O clima de incerteza diante dos acontecimentos, visto durante os
testes de Barcelona, ainda não se dissipou, e dependendo do que os carros
mostrarem na pista, pode melhorar ou piorar. Pelo sim, pelo não, Fernando
Alonso não tem expectativa alguma para este fim de semana. O que vier poderá
ser considerado lucro. E é a opinião de muita gente no paddock, ciente de que
realmente não há muito o que se esperar da equipe de Woking.
O novo visual da pintura da Force India. |
A Force India vem com
sua nova pintura rosa, em virtude de seu novo patrocinador, e é uma das
atrações no pit line, em que pese algumas piadinhas na rede mundial pela cor
rosa dos carros de Vijay Mallya. Mas o time do bilionário indiano (não tão
bilionário assim, pelas dívidas que tem) quer manter a excelente forma exibida
no final do ano passado, quando terminou o campeonato na 4ª posição de
construtores, uma parada que certamente será bem difícil, já que normalmente
seria complicado medir forças com Mercedes e Ferrari, e até a Red Bull, mas com
a Williams a confirmar a sua melhora, Sergio Pérez e Esteban Ocon terão de se
preocupar mesmo é com os outros times. Renault e Hass, além da Toro Rosso, tem
confiança em melhorar seus desempenhos, e a briga no meio do grid deverá ser
bem aguerrida.
Portanto, hora de
vermos quem é quem de fato nesta nova Fórmula 1 muito mais veloz que inicia
2017. E que possamos apreciar um bom campeonato, com muitas disputas e emoções.
Que venha o sinal verde!
Adelaide, cidade australiana que
sediou o GP da Austrália de 1985 a 1995, iniciou estudos para analisar as
possibilidades de voltar a sediar a etapa de F-1. O traçado urbano ainda é
usado como circuito em disputas da V-8 Supercars, campeonato de turismo
australiano, e boa parte da estrutura que um dia serviu para o GP de F-1 ainda
está lá. Seria interessante rever a competição da F-1 naquele circuito, onde
Ayrton Senna venceu pela última vez na categoria máxima do automobilismo, em
sua prova de despedida da McLaren, em 1993. Mas são apenas estudos, não há nada
garantido que indique que o GP saia de Melbourne a curto prazo. É verdade que
os organizadores tiveram algumas rusgas com Bernie Ecclestone nos últimos
tempos, devido a algumas desavenças, mas nada que tivesse colocado a prova em
risco efetivo. E agora com o Liberty Media comandando a categoria, é de se
esperar que tudo seja conduzido de maneira diferente, e quem sabe, mais
flexível e acessível. E, claro, o mais importante: Melbourne não tem intenção
alguma de perder a corrida de F-1. O contrato atual vai até 2023.
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