sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

QUE VENHAM OS NOVOS CARROS


Novo carro da Sauber exibe uma bela pintura, mas patrocínios decentes são outra história...

            E a Fórmula 1 começa a mostrar os seus bólidos para a temporada de 2017. Depois de uma “espiada” promovida pela Williams na semana passada, mostrando as linhas gerais do seu novo modelo FW40, que será lançado oficialmente apenas amanhã, foi a vez de Sauber, Renault, Force India, e Mercedes, até ontem, exibirem suas armas para a nova temporada, cuja primeira sessão coletiva de testes se inicia nesta segunda-feira, no circuito de Barcelona, Espanha. Hoje, é a vez da Ferrari mostrar o seu novo bólido, em Fiorano, na Itália; e da McLaren, em Woking. Ficarão faltando, então, vermos como ficarão os carros de Red Bull, Toro Rosso, e da Hass, que o farão apenas no domingo, já na Catalunha, antes de iniciarem os testes da pré-temporada.
            O que dizer dos novos carros mostrados até agora? Todos parecem belos e elegantes, salvo um ou outro detalhe. As maiores dimensões dos monopostos fazem lembrar os velhos tempos, quando os carros eram mais “parrudos” e volumosos. Nos últimos tempos, procurando deixá-los mais lentos, a FIA procurou “podar” sua sustentação aerodinâmica, e para isso, valeu-se de diminuir a dimensão dos pneus, quando não diminuiu também as dimensões dos carros, e limitou o uso de certos apêndices aerodinâmicos. Dos carros apresentados, a Mercedes foi o que mostrou menos diferenças estéticas em relação ao visto no modelo do ano passado, confirmando a máxima de que em time que está ganhando não se mexe. Mas a escuderia garantiu que, visual à parte, o novo modelo W08 é quase inteiramente novo por dentro, indicando que o time campeão do mundo nas últimas temporadas não pretende dormir sobre os louros conquistados, e mesmo com as novas regras técnicas para este ano, pretende continuar dominando a competição.
            Entre os novos carros, a Sauber chama atenção pela beleza de sua pintura, mas que também denotou um problema que promete ser crucial para a escuderia, que por pouco não fechou as portas no ano passado, destino do qual a Manor não conseguiu escapar. O carro do time suíço estava quase virgem de patrocínios, o que demonstra que o time, comandado por Monisha Kaltelborn terá uma temporada com rédeas curtas no que tange à situação financeira, o que certamente comprometerá o desempenho do novo modelo C36. A escuderia também estará inferiorizada em termos de motor, por optar com competir com a unidade de potência da Ferrari do ano passado, a qual obviamente não sofrerá nenhum upgrade, já que o time de Maranello irá competir com uma unidade completamente nova, à qual devotará seus esforços de melhorias, agora que os fabricantes não terão mais o congelamento dos motores a obedecer.
Depois de um ano de transição em 2016 no retorno como time de fábrica, é hora da Renault começar a mostrar serviço com o novo modelo RS17.
            A Renault, por sua vez, mostrou um carro de belas linhas no modelo RS17, e deve melhorar significativamente este ano. Em 2016, eles competiram com o projeto adaptado da Lotus, quando reassumiram o time, e desde o início, sua prioridade sempre foi a temporada deste ano, já que não havia muito o que ganhar desenvolvendo o modelo do ano passado, projetado inicialmente para o motor Mercedes, e adaptado para usar a unidade da marca francesa. Fica a dúvida de quanto eles poderão avançar, mas mesmo a direção da equipe descarta vôos muito ousados nesta temporada, dizendo que a meta é voltar a vencer e disputar o título até 2020. Muito provavelmente ainda há muito a se trabalhar, e o projeto do RS17 é o primeiro de fato da fábrica francesa após retornar como time oficial à categoria, de modo que nem eles devem saber exatamente qual o seu grau de performance, em comparação com os demais times, algo que só passará a ser conhecido a partir de segunda-feira.
            Quem tem pretensões ousadas mesmo é a Force India. Após seu melhor campeonato na categoria, quando terminou o certame de 2016 na 4ª posição entre os construtores, a equipe do bilionário indiano Vijay Mallya quer nada menos do que a 3ª posição na temporada deste ano. E para isso, conta com seu modelo VJM10, além de seus pilotos, o talentoso Sérgio Perez, e a promessa Esteban Ocon, para levar o time a ficar atrás, teoricamente, apenas de Mercedes e Red Bull, superando a Ferrari, só para início de conversa. Quanto ao visual do novo carro, que comemora uma década do time na F-1, foi o único modelo até agora a adotar um “degrau” no bico, além de manter o mesmo com o visual “tomada” exibido no ano passado.
O modelo VJM10 marca a décima temporada da Force India na F-1.
            A Mercedes exibiu seu novo carro mostrando um modelo elegante e sóbrio, e até o presente momento, é o único modelo, ao lado da Williams, a não exibir a “barbatana” sobre a tampa do motor. Há uma aleta curta, mas nada comparável à “parede” exibida por Sauber, Renault e Force India. Foi um recurso já utilizado pela F-1 na década passada, e que retorna agora, pelas novas regras técnicas adotadas pela categoria, que prometem, mais uma vez, melhorar a competição.
            Se a disputa vai melhorar, só saberemos vendo na prática. Pela primeira vez na história, as mudanças implantadas visaram aumentar o downforce dos carros, tornando-os mais velozes. Estima-se que os bólidos possam ser pelo menos 5s mais velozes este ano em relação ao apresentado no ano passado. A esperança de todos é que, com as novas regras, a relação de forças mude na categoria, e a Mercedes perca sua posição de força dominante na categoria, permitindo a mais times disputarem as primeiras colocações. A chance existe, mas até vermos o resultado dos testes, por enquanto só temos mesmo são esperanças de que isso aconteça. Até prova em contrário, nada garante que o time alemão perca sua força. O que pode acontecer é pelo menos a Red Bull conseguir equilibrar a briga, e os demais, chegarem mais perto, a ponto de incomodar, mas nem tanto.
            Em relação às disputas na pista, as ultrapassagens deverão ficar mais complicadas neste ano. Mesmo com a asa móvel, o fato de os novos pneus da Pirelli serem mais resistentes indica que eles serão também mais duros, e isso significa menos aderência. E agora, com um ganho aerodinâmico em torno dos 30%, os novos carros poderão ficar ainda mais dependentes do fluxo de ar “limpo” para chegarem perto dos bólidos que vão à frente, requisito essencial para tentar a ultrapassagem. O novo tamanho dos pneus deve ajudar a dar maior sustentação, mas fica a dúvida do quanto eles poderão compensar a perda do fluxo aerodinâmico ideal. O que pode ajudar é o fato dos novos compostos serem mais resistentes ao superaquecimento, o que deve permitir-lhes manterem o monoposto mais próximo do carro imediatamente à frente, mesmo pegando o ar quente que este carro deixa para trás, o que até o ano passado, era uma dificuldade a mais para os compostos conseguirem manter a aderência ideal sem comprometer as diferentes taxas de desgaste com os variados compostos à disposição deveriam oferecer, para melhorar o show, dependendo das estratégias aplicadas por times e pilotos. Para tentar driblar isso, as medidas das asas foram modificadas. O spoiler ganhou maior largura e comprimento, e com maior área, sua função canalizadora de ar para o bólido deve ser otimizada, ajudando a manter a estabilidade, mesmo com um fluxo de ar mais “sujo”. Para isso também contribuirão as novas medidas do difusor, as laterais mais largas, e o assoalho igualmente maior.
Lewis Hamilton e o novo Mercedes W08. Meta é manter a hegemonia das últimas temporadas.
            Mesmo assim, como os pneus deverão durar mais, o número de paradas nos boxes deverá diminuir, e com isso, as estratégias tenderão a ficar mais homogêneas, diminuindo a possibilidade de algum time ou piloto surpreender o adversário. Por outro lado, posições precisam ser ganhas mesmo na pista, e não nos boxes, e com menos opções para tentar subir de posições com trocas mais rápidas no box, os pilotos terão de partir para o ataque com mais determinação e agressividade na pista mesmo, que é onde o público quer ver de fato a disputa por posições. E, para incentivar os pilotos a aumentarem suas disputas, a FIA confirmou no mês passado que os pilotos da F-1 não serão punidos por colisões nesta temporada, a menos que seja absolutamente claro e inegável saber quem foi o responsável de fato pelo acidente. Até o ano passado, os pilotos ficavam intimidados pelo fato de que qualquer atitude na pista, que gerasse qualquer esbarrão de um carro no outro, era imediatamente colocado “sob investigação”, podendo gerar uma punição ou não. Para ajudar a devolver o brilho das disputas, os pilotos estarão liberados para serem mais ousados a partir de agora. O que é ótimo, aliás. Ninguém que está na F-1 é exatamente um irresponsável ao volante, ainda que alguns pilotos sejam mais “barbeiros” do que outros.
            Mas sem a possibilidade de serem punido por coisas banais, os pilotos tenderão a partir para o ataque com maior decisão, contribuindo para deixar as corridas mais emocionantes, e não ficando a pensar se o risco de uma manobra seria compensador ou não pela possibilidade de tomar uma punição. A medida, contudo, também precisa que os pilotos deixem de ter a postura de ficarem reclamando de qualquer coisa na pista, como começou a ficar comum nos últimos tempos, quando vários pilotos começavam a chiar pelo rádio de manobras dos concorrentes na pista. Chega de frescura por nada. O piloto que quiser superar o adversário que parta para o ataque, simplesmente, e deixe de enrolar, mas também pare de reclamar se o adversário for duro na disputa de posição.
            Em relação aos motores, uma boa e uma má notícia. A boa notícia é que o congelamento do desenvolvimento das unidades, tal como foi adotado nos últimos anos, finalmente foi abolido. Os fabricantes poderão desenvolver suas unidades de potência à vontade, o que deve auxiliar quem tiver uma performance menor a conseguir tirar a diferença, buscando melhorar seu equipamento. Desde 2014, com as regras do congelamento, e depois das “fichas” de desenvolvimento, o que se viu foi que quem errou no projeto de seu motor praticamente ficava a temporada inteira marcando passo até o ano seguinte, quando poderia enfim revisar o seu projeto. Isso deixou a Ferrari sem condições de apresentar uma melhor performance em 2014, e em 2015, foi a vez da Renault e Honda serem as penalizadas, contribuindo, com isso, para a manutenção da hegemonia da Mercedes, cujo propulsor se tornou o melhor da categoria. Com essa liberação, Renault, e especialmente Honda, já fizeram novos projetos para melhorarem de forma substancial a performance de suas unidades, com vistas a enfrentarem melhor a toda-poderosa Mercedes, que obviamente não ficou parada também, assim como a Ferrari. E, se no ano passado estimava-se que a potência da unidade alemã já alcançava os 950 Hps, tudo indica que a marca de mil HPs será superada este ano, até com alguma folga, preveem alguns.
            Mas nem tudo é para se comemorar: continua valendo o limite ridículo de apenas 4 unidades por ano para cada piloto, o que significa que os pilotos ainda não poderão exigir tudo de seus equipamentos, e o desenvolvimento das unidades ficará restrito a este número. Se uma marca implantar um desenvolvimento que precise mudar algo no motor, só poderá disponibilizar isso quando uma nova unidade for usada, a menos é claro que este desenvolvimento possa ser empregado em um motor que já está sendo utilizado. Como cada unidade tendo de aguentar pelo menos 5 corridas, isso limitará um pouco a disponibilidade dos avanços, que terão de ser implementados em lotes, e não paulatinamente, dependendo do avanço a ser introduzido.
            Com relação à evolução da performance dos novos bólidos, ainda é incerto sobre qual será o ganho de velocidade. Os carros não apenas ficaram maiores este ano: eles ficaram também mais pesados. Houve um incremento de 26 quilos no peso dos monopostos, que passaram de 702 para 728 quilos de peso mínimo. Parte desse peso “extra” veio das novas dimensões dos pneus, que ficaram no seu conjunto 6 quilos mais pesados. Com um cálculo de perda de performance estimado em 0s3 por volta, em média, a cada 10 quilos a mais no monoposto, isso deve significar uma perda potencial de cerca de 0s8 na performance dos carros. Os bólidos, dada a maior dimensão, também se tornarão mais lentos na reta, sofrendo mais resistência do vento. Em contrapartida, o maior apoio aerodinâmico deverá permitir que eles ganhem imensa vantagem nas curvas, advindo daí o incremento de performance por volta que todos imaginam ocorrer. Obviamente isso variará de pista para pista, sendo que em algumas o incremento deverá ser mais significativo do que em outras. Se em uma pista cheia de curvas como Mônaco os carros deverão ser bem mais rápidos, por outro lado, em Monza, com suas longas retas e poucas curvas, os carros deste ano não deverão apresentar um desempenho tão melhor como se imaginam, tanto que alguns times estão planejando asas especiais para uso apenas na pista italiana, em virtude desse detalhe.
            Outro detalhe interessante que deverá ajudar a melhorar a performance é a nova dimensão dos tanques de combustível, que poderão ter 5 Kg a mais a partir deste ano. O que significa que todos os pilotos terão um pouco mais de combustível para utilizar por corrida. Pode parecer pouco, mas como as novas unidades híbridas conseguem fazer um GP com apenas um terço a menos do que as antigas unidades V-8 aspiradas utilizavam, estes 5 Kg a mais de capacidade nos tanques deverão ajudar os motores a roncarem ainda mais alto (força de expressão, já que o barulho deles é muito menor), podendo consumir um pouco mais de combustível, e consequentemente, gerando muito mais potência que poderá ser utilizada pelos pilotos.
            Tudo parece indicar que os novos bólidos deste ano serão bem interessantes em seu comportamento, que exigirão serem bem domados pelos pilotos, que certamente terão um belo desafio pela frente, tendo que conduzirem carros com muito mais downforce do que no ano passado. Até domingo, veremos todo os carros do novo grid serem mostrados, para segunda-feira entrarem logo na pista e mostrarem do que serão capazes de produzir. Que venham portanto os novos carros! Se a pré-temporada, com apenas 8 dias de testes, desaponta quem esperava mais ação, ver os novos bólidos pelo menos continua sendo tão legal quanto antes. É hora de pisar novamente no acelerador e mandar ver. Que venha a F-1 de 2017!

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