Antigamente a F-1 também tinha treino de classificação nas sextas-feiras. E com mais carros que vagas no grid, sempre tinha quem ficasse de fora... |
Os testes da
pré-temporada da Fórmula 1 de 2017 se aproximam, mas os debates sobre possíveis
mudanças na categoria, visando restaurar a sua popularidade e atratividade
continuam. Um dos assuntos em voga é o que fazer para melhorar o aproveitamento
dos fins de semana de Grandes Prêmios, e torná-los muito mais interessantes ao
público. E uma destas discussões se refere ao que fazer a respeito das
atividades das sexta-feiras, que há tempos não conseguem empolgar mais ninguém.
Aliás, há até quem defenda a extinção das atividades neste dia, por considerar
que elas não agregam mais valor ao GP. Acho isso exagerado, contudo.
Nos velhos tempos, um
dos destaques das sextas-feiras era que elas também tinham um treino de
classificação para o grid de largada. Sim, para uma geração inteira, que só
conhece os treinos classificatórios no sábado, antigamente o grid era formado
pelos melhores tempos dos pilotos em duas sessões classificatórias: a de sexta,
e a de sábado. Valiam os melhores tempos dos pilotos, no combinado destes
treinos. Nos jornais de sábado, as manchetes falando sobre o “pole provisório”
eram comuns. Tal piloto marcava o melhor tempo na sexta-feira neste treino de
classificação, e portanto, tinha a posição de honra do grid até então. Mas,
para manter esta posição, ele dependia de pelo menos dois fatores cruciais: que
ninguém no sábado melhorasse sua marca, ou então o próprio piloto baixar ainda
mais o seu tempo, no caso de alguém superá-lo.
Normalmente, os tempos
de sábado sempre eram melhores do que os da sexta-feira. A pista ia ficando
mais emborrachada, e os times e pilotos iam evoluindo o set up de seus carros.
Mas, não era anormal acontecer o contrário: por vezes, a pista ficava mais
lenta, devido a fatores alheios, e ninguém conseguia melhorar, ou os times,
tentando evoluir os acertos de seus carros, erravam a mão, e com isso sua
performance ficava pior. O problema era quando chovia no sábado, e assim, sem
que ninguém conseguisse baixar os tempos, todo mundo largava com a posição
obtida na sexta. Azar de quem tivesse algum enguiço na sexta-feira, ficasse de
fora das 26 posições do grid, e via sua esperança no sábado ir por água abaixo,
no sentido mais literal da palavra. Afinal, naqueles tempos, haviam mais carros
competindo do que vagas no grid, então a sessão de classificação sempre teria
alguém eliminado, algo que praticamente não acontece mais nos dias de hoje,
onde o treino de classificação só serve mesmo para definir a ordem de largada, com
o encolhimento do grid.
Para tornar o treino
de sábado mais atrativo, e obviamente também cobrar mais das emissoras que o
transmitiam, Bernie Ecclestone e Max Mosley praticamente eliminaram o treino de
classificação das sextas-feiras, que passaram a ter apenas treinos livres. Um
dos argumentos é que quando chovia no sábado, ninguém ia para a pista, e assim,
torcedores e telespectadores ficavam a ver navios, já que pilotos e equipes não
iriam se aventurar na pista molhada sem necessidade, com posição de largada já
garantida na sexta. Quando muito, e mesmo assim dependendo da intensidade da
chuva, iam para a pista quem não tinha posição no grid garantida, e nada tinha
a perder. E hoje, é o que temos nas sextas-feiras de GPs: apenas dois treinos
livres, de uma hora e meia cada um, que em tese só servem para os times fazerem
seus acertos para a corrida. No terceiro treino livre, no sábado, as equipes
testam seus acertos de classificação, e fazem um meio-termo que seja bom tanto
para a classificação como para a corrida, já que após o treino de classificação
não se pode mexer mais nos carros.
E, dependendo da
pista, ou do momento nela, os treinos livres de sexta não apresentam nada muito
interessante ao público presente, ou a quem acompanha pela TV. E isso é algo
que realmente preocupa. Mas, o que fazer com a sexta-feira? Esse é um dos
problemas que a F-1 precisa achar uma resposta. Eliminar a sexta não seria a
melhor opção. Por mais que isso gere alguma economia de custos, pelo autódromo
ter um dia a menos de atividades, também renderia menos renda, tanto para
patrocinadores, em virtude do menor tempo de exposição de suas marcas, como
pela menor bilheteria, já que seria um dia a menos para se vender ingressos das
atividades.
Há outra razão para as
atividades de sexta-feira também não renderem o que poderiam. Com as severas
limitações do regulamento técnico, entre elas o limite de unidades de câmbio e/
ou motores para a temporada, todas as escuderias procuram andar apenas o
estritamente necessário na sexta-feira. Durante algum tempo, aliado a isso,
ainda tinha o limite de jogos de pneus disponíveis a cada piloto durante o fim
de semana do GP. Então, a ordem era gastar o mínimo possível na sexta, para ter
o que usar no sábado, e principalmente na corrida. Esse jogo de economia
forçada, para tentar conter os custos, simplesmente derrubou o entusiasmo dos
treinos das sextas-feiras. Imagine quebrar o câmbio, quando ele ainda deveria
aguentar x corridas? Ou ver o motor explodir no treino, quando cada piloto só
tem 4 motores para o ano inteiro, por imposição do regulamento? Daí o fato das
escuderias tentarem, tanto quanto possível, limitar o desgaste de seus
equipamentos na sexta-feira, para poder exigir mais deles no sábado, e na
corrida. Mesmo que possa disputar as primeiras posições no treino de sexta, os
times não precisam obrigatoriamente fazer este tempo. Para quê forçar, afinal?
São treinos livres, e seu resultado final em nada influi sobremaneira na
corrida, além do esforço estritamente necessário para achar o melhor ajuste de
corrida.
Daí o que acontece é
que todo mundo vai para a pista, dá sua porção de voltas, e retorna aos boxes.
Fazem seus melhores tempos, e depois, na parte final, com a pista mais
emborrachada, partem para seus “long runs”, as simulações de corridas, onde
enchem o carro de combustível, e vão para o circuito rodar inúmeras voltas, mas
sem forçar o carro como em uma volta de classificação. Neste momento, salvo
algum piloto ou time que não teve tempo de fazer seu cronograma conforme
planejava, ninguém bate o tempo de ninguém, e o público, claro, não vai
levantar de emoção na arquibancada ou no sofá de casa apenas vendo os carros
darem voltas pela pista. Isso precisa mudar. Os times precisam ficar livres
destas amarras do regulamento, a fim de poderem andar com menos preocupação de
poupar o equipamento na sexta-feira. Visando isso, foi até estipulada uma
regra, onde os times recebem um jogo extra do fabricante de pneus, para uso
exclusivo na primeira meia hora de treino, que depois desse tempo deveria ser
devolvido à fornecedora, para estudo dos compostos. Isso aliviava um pouco a
restrição de pneus que os pilotos tem, mas com as demais limitações de
quantidade de equipamentos no restante do carro, trata-se de medida meramente
paliativa.
Outro problema do
regulamento, e que também explica a excessiva prudência de pilotos e times na
sexta-feira é que não há mais carro reserva obrigatório para o fim de semana,
como havia antigamente. Hoje há um chassi reserva, mas não um carro completo,
como era praxe nos velhos tempos. Assim, que time ou piloto vai querer arriscar
mais na performance de sexta, e correr o risco de bater com o carro, e com
isso, perder sua melhor chance de competir, uma vez que o time terá de utilizar
provavelmente peças deste carro batido para não ser penalizado ao montar o
chassi reserva. Afinal, continua valendo o limite de componentes do piloto. Se
ele bate, e o carro tem perda total, já pode computar as perdas por ter de usar
um novo motor e câmbio, e por aí vai.
Com a proibição de testes
durante a temporada, com raras exceções, muitos acham que os treinos de sexta
poderiam ser convertidos em sessões de testes para todas as escuderias. Mas,
com a limitação dos equipamentos que podem ser usados pelos pilotos, a idéia
não vinga. O máximo que acontece é quando o time coloca seu piloto reserva em
um dos carros, normalmente no primeiro treino livre, para lhe dar chance de
pilotar, e mesmo assim, nunca é para valer, pois se o carro for batido, lá se
vai o equipamento, e talvez o dia inteiro, já que não há carro reserva.
Poderiam trazer os carros reservas de volta, mas isso implica em mais gastos
para os times. E, também, transformar os treinos de sexta em sessões exclusivas
de testes, mais uma vez, implica em maiores gastos, já que as escuderias
precisariam trazer mais equipamentos para a pista, visando fazer as avaliações
destes materiais. Eles até fazem isso hoje em dia, mas não com o potencial do
que realmente poderiam trabalhar.
Limitação do número de unidades de equipamentos, como motores, fazem os times andarem só o necessário nos treinos livres de sexta, para não desgastarem os carros. |
Tudo desemboca numa
equação simples, mas de resultado complicado, diante das atuais circunstâncias
vividas pelos times. Maior atividade de pista = maior uso dos equipamentos =
necessidade de mais componentes = custos maiores. E custos maiores, lembrando
que metade do grid está na corda bamba em termos financeiros, com um time tendo
acabado de falir, e outro por pouco não fechando em 2016, e vemos que as
soluções podem ser simples, mas difíceis de aplicar na prática. Ainda mais pelo
fato de as escuderias terem se acostumado com seu modus operandi atual, de
andarem o mínimo necessário, para resguardar seu equipamento, e evitarem
maiores custos operacionais. Por incrível que pareça, os times hoje pouca
vontade sentem de treinar e testar à vontade, como se fazia antigamente.
Investindo firme em simuladores e outros equipamentos, os times se acomodaram
em poderem fazer em ambiente virtual ou dentro da fábrica os desenvolvimentos
que antigamente eram feitos unicamente em testes de pista. E, pelo mesmo
motivo, também não acham muito necessário aumentarem suas atividades nas sextas-feiras
de GPs, a ponto de haver até quem defenda que não haja mais atividade nestes
dias.
A situação só não
avança em definitivo para acabarem com os treinos de sexta porque, com menor
exposição, os patrocinadores vão querer reduzir o valor pago aos times, e isso
também vale para os anunciantes nos autódromos. Fora que as sextas também são
usadas por muitos como propaganda de marketing e reuniões de negócios e
patrocinadores, que não poderiam ser realizadas com tanta liberdade aos
sábados, pela necessidade de concentração total de pilotos e times. É preciso
afrouxar as amarras das limitações técnicas de número de unidades imposta pelo
regulamento, e muito provavelmente, trazer de volta a sessão de classificação
às sextas, para fazer com que pilotos e times se mexam de fato neste dia.
E mesmo assim, o
pessoal parece não chegar a um acordo sobre como seria a melhor forma de se
fazer este treino de classificação nas sextas. O formato atual, com 3 fases,
funciona bem para o treino de sábado, mas para um treino de sexta, já não seria
tão bom. E tentar antecipar, por exemplo, o Q1 para a sexta, não ajudaria a
tornar o treino de sábado melhor, pois apenas os carros mais lentos cairiam na
sexta, e estes times reclamariam da falta de oportunidade de melhorar seu tempo
no treino de sábado. Muito provavelmente, o melhor seria voltar ao sistema
antigo, de valer o melhor tempo de cada piloto de ambos os treinos, nem que
fosse para avaliar como ele se daria nos dias de hoje, se daria resultado, e
ajudasse as sextas-feiras a recuperarem sua atratividade e importância.
Mas que alguma coisa
precisa ser feita, isso precisa. Resta saber se o pessoal da F-1 chega a um
consenso, ou se continuará batendo cabeça. Mais um ponto para o pessoal do
Liberty Media pensar sobre o que fazer a respeito. Mãos à obra, portanto...
A McLaren mostra que quer entrar
em uma nova era, e para isso, parece decidida a eliminar os vestígios da
administração de Ron Dennis nos últimos tempos. O dirigente inglês, que chegou
à McLaren em 1980, foi literalmente expulso no final do ano passado, em virtude
de desavenças com os outros sócios do Grupo McLaren. Como prova disso, o novo
carro da escuderia para o campeonato deste ano será chamado de MCL32,
abandonando a tradicional sigla MP4, adotada desde 1981, primeiro ano da
escuderia sob gestão de Dennis, e que significava “McLaren Project Four”,
seguido do número do modelo. A Project Four era o time de Ron Dennis na F-3,
que foi praticamente fundido ao time de F-1 da McLaren, criando a partir dali a
McLaren International, nova denominação da escuderia, que sob a batuta de Ron
Dennis, tornou-se uma potência na F-1, e um grupo de empresas de
desenvolvimento de tecnologia, com um faturamento anual bilionário. Outra
indicação de que querem passar a borracha no nome de Ron Dennis foi a demissão,
anunciada esta semana, de Jost Capito, que ocupava a chefia do time oficial da
Volkswagen no Mundial de Rali, e tinha sido contratado para ser o diretor
executivo da escuderia de F-1 por Ron Dennis, no ano passado. Não foram nem 5
meses no cargo, e antes mesmo que pudesse mostrar resultados de sua gestão, já
foi dispensado. Ron Dennis, em que pese toda a sua imensa contribuição à
história da McLaren, pelo que encontrou no início de sua gestão da escuderia, e
no gigante que a tornou, merece respeito pela sua história, algo que as últimas
atitudes da escuderia estão deixando a desejar. Por outro lado, Dennis cavou
sozinho a sua cova, ao se mostrar inflexível na discussão de certos assuntos, o
que o levou a se desentender com seus outros sócios no comando do Grupo
McLaren. E, desnecessário dizer, sua arrogância, prepotência, e por várias
vezes autoritarismo, não ajudavam a formar amigos no paddock. Daí o fato de
muitos não fazerem a menor questão de sentirem saudades dele. Resta saber se a
nova gestão da McLaren conseguirá retomar o rumo de sucesso à qual o time
estava acostumado. Os últimos 3 anos são de resultados apenas medianos para
ruins, e o time não sabe o que é vencer uma corrida desde 2012, passando pela
sua maior fase de entressafra desde que foi fundado. E parece que ainda não
será neste ano que o time voltará ao degrau mais alto do pódio, conforme
declarações recentes de Zak Brown, novo diretor executivo da escuderia.
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