quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

ARQUIVO PISTA & BOX – DEZEMBRO DE 1997 – 12.12.1997



            Trazendo hoje mais uma de minhas antigas colunas, este texto foi publicado em 12 de dezembro de 1997, e o seu assunto era sobre a guerra das marcas de pneus que havíamos presenciado nos campeonatos da F-1 e da F-Indy recentemente naqueles tempos. Na F-1, a entrada da Bridgestone deu uma pequena balançada na Goodyear, que até então reinava absoluta na categoria há muitos anos. Contando com os times de ponta, a marca norte-americana garantiu a sua supremacia, que seria perdida em 1998 quando a McLaren bandeou-se para a marca japonesa, e foi campeã. A Goodyear deixou a F-1 e não voltou até hoje à categoria. Na F-Indy, a Firestone não apenas balançou, mas destronou completamente a Goodyear, impondo derrotas em série à rival. Não por acaso, a Goodyear algum tempo depois também deixaria a competição. Aproveitem o texto, e em breve, mais colunas antigas estarão por aqui...


A GUERRA DOS PNEUS EM 98

            Este ano, a F-1 já foi pródiga em resultados-surpresa devido a um novo elemento no meio da competição: os pneus Bridgestone. Depois da saída da Pirelli em 1991, a categoria ficou relegada ao monopólio da Goodyear. Se por um lado esse monopólio contribuiu para uma pequena diminuição de custos na F-1, com menos empenho e gastos no desenvolvimento dos compostos, por outro lado pode ter deixado a Goodyear acomodada em seu trabalho.
            Um panorama igual ocorreu na então F-Indy até recentemente, com a Goodyear como única fornecedora, mas o panorama começou a mudar...
            Em 1995, a Firestone voltou à F-Indy. Algumas equipes, como a Patrick e a Tasman, apostaram nos novos pneus da Firestone, enquanto a grande maioria permaneceu fiel à Goodyear. Como resultado, a Firestone, ainda em 95, já conseguiu 2 vitórias na Indy, sendo uma com Scott Pruett em Michigan, e a outra com André Ribeiro em New England.
            Nada mal para um ano de retorno à categoria. Porém, em 1996, o panorama mudou por completo: mais equipes aderiram aos pneus japoneses, como a Chip Ganassi. Apresentando um produto mais competitivo do que o da Goodyear já em seu 2º ano de retorno na Indy, a Firestone venceu o campeonato com boa vantagem sobre a concorrente, apesar de algumas provas de domínio da Goodyear.
            E este ano, na F-CART, a situação da Goodyear piorou ainda mais, com um domínio ainda maior da Firestone. Gil de Ferran foi categórico ao dizer que perdeu o título, em boa parte, por causa dos pneus, que não conseguiam render o mesmo que os da Firestone.
            Enquanto isso, na F-1, a Goodyear ainda conseguiu salvar a sua honra, vencendo todos os GPs e conseguindo mais um campeonato, mas não esteve livre de sofrer alguns sustos bem fortes. Já nos testes de inverno, quem corria com os pneus Bridgestone (que é dona da Firestone atualmente) dizia que os novos pneus eram impressionantes, e que em algumas pistas, poderiam surpreender as equipes da Goodyear. Muitos acharam que seria fogo de palha, apenas cartaz da Bridgestone para alardear sua estréia na F-1.
            Não foi bem assim: no primeiro GP, em Melbourne, a Bridgestone já começou pontuando, com o 5º lugar de Olivier Panis. Em Interlagos, o mesmo Panis surpreendeu ao terminar no pódio, em 3º lugar, já no 2º GP da Bridgestone. E em Buenos Aires, na Argentina, Panis passou boa parte do seu tempo na prova dando um sufoco, imaginem só, nos pilotos da Williams. Jacques Villeneuve só se safou do perigo porque o carro de Panis desta vez não agüentou o tranco e quebrou durante a prova. Mas o recado estava dado: os pneus japoneses realmente eram muito melhores do que os da concorrente americana.
            Para melhorar o panorama da competição, receosos com os pneus da Bridgestone, apenas as equipes médias toparam encarar o desafio de competir com os pneus japoneses, como a Stewart, TWR-Arrows, Prost e Minardi. Com as equipes de ponta e times médios como a Jordan e a Sauber sob sua bandeira, a Goodyear garantiu sua hegemonia. Só que não faltaram algumas tentativas de balançar forte esse domínio. Damon Hill quase ganhou na Hungria, e a honra da Goodyear acabou salva na última hora quando o carro de Hill enguiçou e a vitória foi herdada por Villeneuve. Panis ainda conquistou mais um pódio, em Barcelona, onde surpreendeu todo mundo novamente. Já em Mônaco, foi a vez de Rubens Barrichello brilhar, subindo ao pódio em 2º.
            No balanço da temporada, avolumaram-se as críticas das equipes em relação aos compostos fornecidos pela Goodyear. E não foi só na F-1. Na F-CART, as escuderias que competiram com os Goodyear levaram pelo segundo ano consecutivo um banho dos times da Firestone. A última baixa da Goodyear na categoria foi a debandada da equipe de Booby Rahal, a Rahal Racing, para a Firestone em 1998, engrossando o número de equipes que correm com os pneus japoneses. A Goodyear promete reagir, mas as equipes que ela abastece, como a Newmann-Hass, Penske e a Walker, por exemplo, ainda ficam meio receosas porque a fábrica norte-americana prometeu a mesma coisa em 1996 em relação a este ano, e vimos o que de fato aconteceu.
            Já na F-1, a situação anda ainda pior. A Goodyear, alegando aumento de custos excessivos com as novas regras técnicas em vigor a partir de 1998, anunciou sua retirada da F-1 ao fim da temporada do ano que vem. O anúncio causou uma certa incerteza nas equipes da Goodyear, temerosas de que, com a saída anunciada, a fábrica dedique ainda menos empenho em desenvolver seus compostos, deixando seus clientes meio que à mercê dos rivais da Brigestone. E essa incerteza já provocou uma baixa de peso nas equipes da Goodyear: a McLaren, que depois de 13 anos correndo com estes pneus, já anunciou que utilizará os Bridgestone em 98.
            Ainda é difícil dizer qual será o panorama da guerra dos pneus em 1998 na F-CART e na F-1. Na F-CART, tudo pode continuar como está, assim como a Goodyear pode se recuperar e entrar firme na luta pelo título em grau de igualdade ou até superar a concorrente. Já na F-1, as novas regras em relação aos pneus até o momento não permite prever se a Bridgestone conseguirá se manter à frente da Goodyear na qualidade de seus produtos, ou acontecer o contrário. Enquanto a Goodyear afirma oficialmente que fará todo o possível para vencer o campeonato de 98, sob olhares um pouco desconfiados, a Bridgestone já afirma que o novo regulamento técnico é mais um desafio a ser vencido. Resposta por resposta, a Bridgestone já demonstra muito mais otimismo e determinação que sua rival americana. O tempo dirá quem fez o melhor trabalho...


A F-CART trocou de patrocinador esta semana. A PPG, uma das mais conhecidas indústrias de tintas automotivas dos EUA, que era o principal patrocinador do campeonato desde 1980, resolveu diminuir seu papel na categoria, agora restrito a apenas alguns prêmios durante a temporada. Para substituir a PPG, a CART acertou um acordo de 3 anos com a Federal Express, uma das maiores empresas de transporte do mundo, e que atua em mais de 200 países. O nome oficial do campeonato também muda: de “PPG CART WORLD SERIES”, passa a ser “FEDEX CHAMPIONSHIP SERIES”.


Com a mudança para a Bridgestone, a McLaren acaba uma união de 13 anos com a Goodyear. Desde 1985 que a McLaren corre com os compostos americanos. Antes disso, ela corria com os pneus da Michelin, com o qual iniciou seu período de domínio nos anos 1980, ganhando o campeonato de 1984. Com o abandono da fábrica francesa, a escuderia de Ron Dennis mudou para os Goodyear em 1985, continuando sua saga vencedora.
 


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