Trazendo
hoje mais uma de minhas antigas colunas, este texto foi publicado em 12 de dezembro
de 1997, e o seu assunto era sobre a guerra das marcas de pneus que havíamos
presenciado nos campeonatos da F-1 e da F-Indy recentemente naqueles tempos. Na
F-1, a entrada da Bridgestone deu uma pequena balançada na Goodyear, que até
então reinava absoluta na categoria há muitos anos. Contando com os times de
ponta, a marca norte-americana garantiu a sua supremacia, que seria perdida em
1998 quando a McLaren bandeou-se para a marca japonesa, e foi campeã. A
Goodyear deixou a F-1 e não voltou até hoje à categoria. Na F-Indy, a Firestone
não apenas balançou, mas destronou completamente a Goodyear, impondo derrotas
em série à rival. Não por acaso, a Goodyear algum tempo depois também deixaria
a competição. Aproveitem o texto, e em breve, mais colunas antigas estarão por
aqui...
A GUERRA DOS PNEUS EM
98
Este
ano, a F-1 já foi pródiga em resultados-surpresa devido a um novo elemento no
meio da competição: os pneus Bridgestone. Depois da saída da Pirelli em 1991, a
categoria ficou relegada ao monopólio da Goodyear. Se por um lado esse
monopólio contribuiu para uma pequena diminuição de custos na F-1, com menos
empenho e gastos no desenvolvimento dos compostos, por outro lado pode ter
deixado a Goodyear acomodada em seu trabalho.
Um
panorama igual ocorreu na então F-Indy até recentemente, com a Goodyear como
única fornecedora, mas o panorama começou a mudar...
Em
1995, a Firestone voltou à F-Indy. Algumas equipes, como a Patrick e a Tasman,
apostaram nos novos pneus da Firestone, enquanto a grande maioria permaneceu
fiel à Goodyear. Como resultado, a Firestone, ainda em 95, já conseguiu 2
vitórias na Indy, sendo uma com Scott Pruett em Michigan, e a outra com André
Ribeiro em New England.
Nada
mal para um ano de retorno à categoria. Porém, em 1996, o panorama mudou por
completo: mais equipes aderiram aos pneus japoneses, como a Chip Ganassi.
Apresentando um produto mais competitivo do que o da Goodyear já em seu 2º ano
de retorno na Indy, a Firestone venceu o campeonato com boa vantagem sobre a
concorrente, apesar de algumas provas de domínio da Goodyear.
E
este ano, na F-CART, a situação da Goodyear piorou ainda mais, com um domínio
ainda maior da Firestone. Gil de Ferran foi categórico ao dizer que perdeu o
título, em boa parte, por causa dos pneus, que não conseguiam render o mesmo
que os da Firestone.
Enquanto
isso, na F-1, a Goodyear ainda conseguiu salvar a sua honra, vencendo todos os
GPs e conseguindo mais um campeonato, mas não esteve livre de sofrer alguns
sustos bem fortes. Já nos testes de inverno, quem corria com os pneus
Bridgestone (que é dona da Firestone atualmente) dizia que os novos pneus eram
impressionantes, e que em algumas pistas, poderiam surpreender as equipes da
Goodyear. Muitos acharam que seria fogo de palha, apenas cartaz da Bridgestone
para alardear sua estréia na F-1.
Não
foi bem assim: no primeiro GP, em Melbourne, a Bridgestone já começou
pontuando, com o 5º lugar de Olivier Panis. Em Interlagos, o mesmo Panis
surpreendeu ao terminar no pódio, em 3º lugar, já no 2º GP da Bridgestone. E em Buenos Aires, na
Argentina, Panis passou boa parte do seu tempo na prova dando um sufoco,
imaginem só, nos pilotos da Williams. Jacques Villeneuve só se safou do perigo
porque o carro de Panis desta vez não agüentou o tranco e quebrou durante a
prova. Mas o recado estava dado: os pneus japoneses realmente eram muito
melhores do que os da concorrente americana.
Para
melhorar o panorama da competição, receosos com os pneus da Bridgestone, apenas
as equipes médias toparam encarar o desafio de competir com os pneus japoneses,
como a Stewart, TWR-Arrows, Prost e Minardi. Com as equipes de ponta e times
médios como a Jordan e a Sauber sob sua bandeira, a Goodyear garantiu sua
hegemonia. Só que não faltaram algumas tentativas de balançar forte esse
domínio. Damon Hill quase ganhou na Hungria, e a honra da Goodyear acabou salva
na última hora quando o carro de Hill enguiçou e a vitória foi herdada por
Villeneuve. Panis ainda conquistou mais um pódio, em Barcelona, onde
surpreendeu todo mundo novamente. Já em Mônaco, foi a vez de Rubens Barrichello
brilhar, subindo ao pódio em 2º.
No
balanço da temporada, avolumaram-se as críticas das equipes em relação aos
compostos fornecidos pela Goodyear. E não foi só na F-1. Na F-CART, as
escuderias que competiram com os Goodyear levaram pelo segundo ano consecutivo
um banho dos times da Firestone. A última baixa da Goodyear na categoria foi a
debandada da equipe de Booby Rahal, a Rahal Racing, para a Firestone em 1998,
engrossando o número de equipes que correm com os pneus japoneses. A Goodyear
promete reagir, mas as equipes que ela abastece, como a Newmann-Hass, Penske e
a Walker, por exemplo, ainda ficam meio receosas porque a fábrica
norte-americana prometeu a mesma coisa em 1996 em relação a este ano, e vimos o
que de fato aconteceu.
Já
na F-1, a situação anda ainda pior. A Goodyear, alegando aumento de custos
excessivos com as novas regras técnicas em vigor a partir de 1998, anunciou sua
retirada da F-1 ao fim da temporada do ano que vem. O anúncio causou uma certa
incerteza nas equipes da Goodyear, temerosas de que, com a saída anunciada, a
fábrica dedique ainda menos empenho em desenvolver seus compostos, deixando
seus clientes meio que à mercê dos rivais da Brigestone. E essa incerteza já
provocou uma baixa de peso nas equipes da Goodyear: a McLaren, que depois de 13
anos correndo com estes pneus, já anunciou que utilizará os Bridgestone em 98.
Ainda
é difícil dizer qual será o panorama da guerra dos pneus em 1998 na F-CART e na
F-1. Na F-CART, tudo pode continuar como está, assim como a Goodyear pode se
recuperar e entrar firme na luta pelo título em grau de igualdade ou até
superar a concorrente. Já na F-1, as novas regras em relação aos pneus até o
momento não permite prever se a Bridgestone conseguirá se manter à frente da Goodyear
na qualidade de seus produtos, ou acontecer o contrário. Enquanto a Goodyear
afirma oficialmente que fará todo o possível para vencer o campeonato de 98,
sob olhares um pouco desconfiados, a Bridgestone já afirma que o novo
regulamento técnico é mais um desafio a ser vencido. Resposta por resposta, a
Bridgestone já demonstra muito mais otimismo e determinação que sua rival
americana. O tempo dirá quem fez o melhor trabalho...
A F-CART trocou de patrocinador esta semana. A PPG, uma das mais
conhecidas indústrias de tintas automotivas dos EUA, que era o principal
patrocinador do campeonato desde 1980, resolveu diminuir seu papel na
categoria, agora restrito a apenas alguns prêmios durante a temporada. Para
substituir a PPG, a CART acertou um acordo de 3 anos com a Federal Express, uma
das maiores empresas de transporte do mundo, e que atua em mais de 200 países.
O nome oficial do campeonato também muda: de “PPG CART WORLD SERIES”, passa a
ser “FEDEX CHAMPIONSHIP SERIES”.
Com a mudança para a Bridgestone, a McLaren acaba uma união de 13 anos
com a Goodyear. Desde 1985 que a McLaren corre com os compostos americanos.
Antes disso, ela corria com os pneus da Michelin, com o qual iniciou seu
período de domínio nos anos 1980, ganhando o campeonato de 1984. Com o abandono
da fábrica francesa, a escuderia de Ron Dennis mudou para os Goodyear em 1985,
continuando sua saga vencedora.
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