quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

ARQUIVO PISTA & BOX – MAIO DE 1996 – 10.05.1996


            Cá estou eu com mais uma postagem da seção Arquivo. A coluna de hoje é datada de 10 de maio de 1996, e o assunto era o Grande Prêmio de San Marino, que abrira a temporada européia daquele ano no domingo anterior. E de quebra, mais algumas notas sobre alguns outros assuntos na semana. Uma boa leitura a todos...


ÍMOLA, DOIS ANOS DEPOIS...


            No último domingo foi disputada mais uma edição do Grande Prêmio de San Marino de F-1. Foi uma corrida com bastante emoção e disputa, e para variar, mostrou algumas surpresas bem interessantes durante a corrida.
            Mas, voltar ao circuito de Ímola, depois do que aconteceu em 94, é algo que nos deixa chocados e entristecidos. Há 2 anos, a F-1 e o Brasil perdiam o seu maior campeão da atualidade. Podia não ser o campeão nos números em sua totalidade, mas todos os reconheciam como um mito da velocidade. Uma lenda do automobilismo que encantou a todos aqueles que sabem apreciar uma corrida automobilística em sua essência. Foi aqui neste circuito que perdemos Ayrton Senna.
            Senna foi o último campão da geração surgida nos anos 1980, e sua morte abriu espaço para a ascenção de Michael Schumacher. O piloto alemão, que já era considerado a maior promessa da F-1 desde o surgimento do próprio Ayrton Senna em 1984, não merecia tal destino. Não que seu talento esteja sendo colocado em dúvida: Schumacher é um campeão com todos os méritos, mas provavelmente levará para sempre a dúvida se ele teria todo o sucesso que tem hoje se tivesse que continuar enfrentando Senna. Assim como o duelo de Ayrton com Alain Prost monopolizou a categoria durante várias temporadas, um provável confronto Senna-Schumacher poderia se estender por mais tempo até. Opiniões à parte, se Senna ainda estivesse vivo e correndo, Schumacher não teria mesmo todo o cartaz que tem hoje. O brasileiro, sem sombra de dúvida, estava acima do campeão alemão de hoje.
            Em 95, quando a F-1 retornou a este circuito, o clima era de certa inquietação íntima: muitos sentiam-se como se Senna ainda estivesse por aqui. Falando em poucas palavras, parecia que seu “fantasma” estava por perto. Alguns tinham até a sensação de estarem sendo observados, sabe-se lá por quem ou como. A corrida foi tranqüila e disputada, e felizmente, exorcizou o terrível clima que pairava no circuito desde o trágico fim de semana de 94.
            Já este ano, as lembranças de 94 pareciam esquecidas para a grande maioria. Todos se concentraram mais na disputa do GP. Talvez seja cruel dizer que o espetáculo tem de continuar, aconteça o que acontecer, mas por outro lado também é verdade que ficar remoendo o passado e levantar memórias dolorosas é algo que ninguém gosta de fazer. Ao contrário de 95, quando as homenagens a Senna foram inúmeras, este ano os eventos foram bem poucos e discretos. É de se compreender: eu mesmo não gosto de lembrar do que aconteceu naquele dia. O clima já estava conturbado pela morte de Roland Ratzemberger no treino de sábado, e o astral de todos parecia anêmico, sem motivo aparente, como se fosse um presságio de que uma tragédia iria acontecer. Houve também o forte acidente de Rubens Barrichello, que foi até o menor dos males do fim de semana. Sem sombra de dúvidas, é um GP que ninguém faz muita questão de lembrar mesmo o que houve.
            O circuito Enzo e Dino Ferrari sempre me exerceu um fascínio especial. Suas curvas características, retas, descidas e subidas, tudo neste circuito me parecia especial em relação aos demais. Nunca soube explicar o porquê deste fascínio, mas para ser sincero, acho que nem valeria a pena saber. Ímola perdeu parte de seu charme com a morte de Senna, mas não todo ele.
            É uma pista que exige muito dos carros e costumava pôr à mostra as virtudes e defeitos de qualquer carro. Outra característica incomum é a torcida: por ser perto da sede da Ferrari, este GP é sempre considerado como uma prova da equipe italiana. É a torcida mais devotada que um time de corridas já teve, e ela se encarrega de dar a esta corrida um clima de festa.
            Bom, Ímola agora fica para trás. A F-1 segue agora para Mônaco, onde no próximo fim de semana disputa mais um GP. Em 97, a F-1 estará aqui novamente no circuito italiano para mais um GP de San Marino, pequeno principado que fica próximo a Ímola, e que dá nome oficial à corrida. Até lá, então, Ímola...


A F-1 está ficando melhor a cada corrida. Apesar de mais uma vitória de Damon Hill, alguns pontos interessantes podem ser destacados na corrida do último fim de semana: a McLaren voltou a liderar uma prova após um intervalo bem grande, e o fez de forma convincente: David Couthard defendeu a liderança com a faca entre os dentes de Michael Schumacher, cuja Ferrari mostrava nítida evolução, conseguindo até andar em ritmo próximo da Williams. Entretanto, a McLaren brilhou, mas não chegou: o piloto escocês acabou abandonando a corrida perto do final. Ponto negativo para a Benetton, que mostrou que ainda não tem um carro à altura de 94 e 95; Gerhard Berger salvou o 3º lugar enquanto Jean Alesi voltou a fazer suas barbeiragens, e ficou em 6º por sorte da quebra dos adversários. Quem também ficou a dever foi Jacques Villeneuve: esperava-se muito mais do piloto canadense, pois era a primeira pista conhecida para ele. É verdade que o pneu furado da 1ª volta estragou seus planos, mas também esperava-se que Jacques não hesitasse na largada, devido ao maior conhecimento da pista. A Jordan também ficou devendo, mas não Rubens Barrichello. Os pit stops foram muito lentos e o problema dos freios impediram o piloto brasileiro de consumar um ataque a Eddie Irvinne pelo 4º lugar da corida. Destaque para Pedro Paulo Diniz, que tendo tratamento igual ao de Olivier Panis, fez sua melhor corrida na categoria, superando seu colega de equipe e dando uma bela canseira em Mika Hakkinem, da McLaren. E a Williams, que tanto perdeu em 94 e 95 corridas na base da estratégia, desta vez surpreendeu a concorrência. Hill estragou a festa da torcida da Ferrari, mas houve comemoração pelo 2º lugar de Schumacher, e como não poderia deixar de ser, houve a tradicional invasão da pista pelos torcedores logo após o fim da corrida. É a Itália, afinal...


Marco Greco, depois de ser despedido pela equipe Scandia, já arrumou um lugar nas 500 Milhas de Indianápolis, que agora fazem parte da IRL, liga paralela da Indy. Greco correrá pela Foyt Enterprises na corrida mais famosa do mundo. A. J. Foyt, proprietário da equipe, foi 7 vezes campeão da F-Indy...


A FIA estuda uma possível ampliação do calendário da F-1 para 97. Em lugar de 16 etapas, seriam 18. E candidatos é que não faltam: Áustria, Indonésia, China, etc...

 

Nova fofoca no paddock de Ímola: a Daenwoo poderia estrear na F-1 em 97, fornecendo motores para a categoria. Especulações diriam que a Arrows, agora associada à TWR, poderia estrear os novos motores orientais. Outras fofocas dizem que os motores Honda da Ligier iriam para a equipe inglesa...


Começam os treinos para as maiores provas das categorias Indy: as 500 Milhas de Indianápolis, pela IRL; e a US 500, pela F-Indy. Ambas as etapas serão disputadas no dia 26 de maio e terão 500 milhas de percurso cada uma. Os treinos deste fim de semana irão preencher as primeiras filas de ambos os grids de largada.

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