sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

TURBOS EM CONTAGEM REGRESSIVA

O primeiro motor turbo da nova era que a F-1 iniciará em 2014.

            O campeonato deste ano da Fórmula 1 marcará o fim de uma era para os motores da categoria: ao fim do ano, sairão de cena os motores aspirados (ou atmosféricos), para dar lugar em 2014 às novíssimas unidades turbos de última geração, que trarão à categoria um grande desafio em sua reintrodução. E a contagem regressiva para a chegada dos novos motores já começou: semana passada, a Mercedes divulgou imagens e informações a respeito do propulsor no qual está trabalhando no último ano, desde que as regras dos novos motores foram estabelecidas pela FIA.
            A fabrica germânica avisa que o ronco do motor será diferente dos usados atualmente, e isso é mais do que natural. Mas nem por isso os propulsores deixarão de exibir seu ronco de uma máquina de competição, que apesar de ter de obedecer limites mais restritos de som, ainda haverá muito o que curtir, garantem. A imagem mostra um belo motor, com linhas elegantes, e os mais saudosistas irão lembrar que há praticamente 24 anos a categoria máxima do automobilismo bania os motores turbocomprimidos em nome da competição e da redução de custos. Na época, os gastos de desenvolvimento dos motores, que chegaram a produzir mais de mil cavalos em unidades de corrida que tinham apenas 1,5 litros de volume, estavam inviabilizando a vida dos times médios e pequenos. Havia motores especiais só para a classificação, e fala-se que o Honda V-6 turbo usado em 1987 chegava a impressionantes 1.500 HPs em sua unidade para treinos, enquanto no ano anterior, os Renault V-6 turbinados já assustavam a concorrência ao produzirem estupendos 1.100 HPs em iguais unidades destinadas às classificações.
            Basicamente, só os times mais abastados podiam contar com unidades de treino, muito mais potentes, e ainda dispor de motores de corrida. Na época, era permitido trocar os motores sem sofrer nenhuma conseqüência, e devido ao desenvolvimento frenético dos motores, a fiabilidade nem sempre era das melhores, e o gasto com motores estava subindo às alturas. A FIA então, optou por banir estes motores: a implantação foi gradual, impondo restrições de pressão do turbo a quem ainda utilizasse unidades deste tipo, enquanto quem optasse pelos motores aspirados tinham maior liberdade de mecanização. Em 1987 e 1988, haviam times usando os dois tipos de motores, e a partir de 1989, o uso de motores aspirados tornou-se regra obrigatória. De início, os custos realmente diminuíram, permitindo um número recorde de participantes na categoria, mas isso, claro, não duraria muito tempo.
            Nos anos 1990, os custos explodiram em outras frentes, para não mencionar que a guerra desencadeada entre os fabricantes de motores também fez o custo de desenvolvimento das unidades aspiradas disparar, de modo que os preparadores privados como Heini Mader, Brian Hart e John Judd, já não tinham como oferecer motores competitivos. Nos últimos anos, a escalada de custos da F-1 novamente obrigou a uma contenção das despesas, e nas últimas temporadas, os motores utilizados pela categoria tiveram seu desenvolvimento “congelado”, de modo que os custos dos propulsores caíram, ajudando na contenção dos gastos. A regra de limitar o número de motores disponíveis a cada piloto durante toda a temporada, e a redução do limite de rotações também ajudaram neste objetivo, tornando os motores mais duráveis e fazendo os times gastarem menos, pelo menos, com os propulsores.
            Mas a categoria precisa mostrar desafio e inovação, e a FIA baixou um novo pacote de regras alterando a concepção dos motores a partir de 2014, reintroduzindo os turbos na competição, e criando todo um novo desafio e base de competição, além de novamente permitir à F-1 voltar a ser um laboratório de testes para a indústria automotiva. E tentar tornar a F-1 mais ecológica, também.
            Não é segredo para ninguém que os motores da categoria são muito “beberrões”. E eles já foram até mais, quando o reabastecimento era permitido. Com a proibição deste recurso, os carros voltaram a precisar carregar todo o combustível da corrida desde a largada, e os motores precisaram ser “dosados” para gastarem menos, no que ajudou a redução do limite de rotações. E, com os novos motores turbos, a economia de combustível será ainda mais radical. Se hoje os pilotos largam com cerca de 150 Kg de combustível em seus tanques, para 2014, esse limite deverá ser reduzido para cerca de 100 Kg, o que implicará um economia muito grande em relação aos atuais níveis de consumo. Os novos turbos também terão de obedecer o limite de 15 mil rotações, e mesmo assim, os engenheiros vão ter ainda um ano pela frente para resolverem essa complicada equação potência X consumo. Os novos motores deverão produzir cerca de 750 HPs nesta nova plataforma, e outro item que passará a ser crucial para a economia de combustível será a nova versão do sistema de recuperação de energia, que terá limites bem mais amplos do que os vistos até aqui.
            Hoje, o sistema, alimentado pela energia das freadas dos monopostos, consegue gerar até 80 HPs “extras” que podem ser utilizados por 6,7s por volta. Para o próximo ano, os novos Kers poderão gerar até 160 HPs de potência adicional, e seu uso será estendido para aproximadamente 33,3s por volta, um aumento considerável de tempo de utilização, e que vai fazer muita diferença, se bem usado pelos pilotos. Todas as equipes, bem como as fábricas de motores, estão travando batalhas entre seus engenheiros para poder aproveitar da melhor maneira possível estas novas regras do sistema. Todo o tempo em que o pessoal das fábricas passou vendo seus motores de competição sendo apenas “repostos” ou sofrendo evoluções “cosméticas” ficou para trás, e todo o departamento de engenharia de Ferrari, Mercedes e Renault estão fervendo como nunca no trabalho de criação e desenvolvimento dos novos turbos.
            Os motores também precisarão ser mais duráveis do que nunca: no próximo ano, cada piloto terá direito a apenas 5 unidades durante todo o campeonato, contra 8 do regulamento atual. Um desafio que não é exatamente novidade, pois na categoria endurance, os propulsores também tem um limite de durabilidade bem alto estipulado pelo regulamento.
            Em março do ano que vem, às vésperas da primeira corrida de 2014, os motores serão oficialmente homologados pela FIA, e então, seu desenvolvimento será congelado novamente. Em outras palavras, ainda temos praticamente um ano para que as fábricas façam tudo o que puderem para deixar seus novos motores os melhores possíveis. O fato de a Mercedes ter sido a primeira marca a divulgar fotos reais de detalhes de resultados do motor não quer dizer exatamente que a fábrica alemã esteja na dianteira do desenvolvimento do motor, mas na F-1, o marketing é uma ferramenta poderosa, e para todos os efeitos, Stuttgart saiu na frente em relação aos seus rivais franceses da Renault e italianos da Ferrari. O lado ruim é que a Cosworth provavelmente deixará novamente a F-1, pois a fábrica não tem planos de construir um novo motor nestas características, e nem dispõe dos recursos necessários para fazê-lo. Aliás, até hoje a Cosworth construiu um único motor turbo, que foi utilizado em 1987 pela equipe Benetton, e logo em seguida foi abandonado devido ao retorno dos aspirados.
            Os novos motores irão impor também desafios na construção dos carros, pelas suas dimensões diferentes em relação aos atuais V-8 de 2,4 litros, o que irá exigir um desenho mais estreito da parte traseira dos monopostos, mas irão interferir também na condução dos carros, devido ao torque muito maior que podem oferecer na transmissão de potência, o que vai exigir que os pilotos tenham que modificar a maneira como fazem as curvas. Não será surpresa ver alguns deles rodando tentando achar o ponto ideal de equilíbrio no freio e no acelerador. E, embora esse problema possa ser vencido nos testes da pré-temporada, ninguém pode garantir que nas primeiras corridas, no calor da competição, não vá haver pilotos exagerando na dose.
            Quando os atuais motores da F-1 foram “congelados”, houve quem dissesse que isso iria estragar a competição da categoria, além de diminuir o seu desafio. Não foi o que vimos nestas últimas temporadas. Da mesma forma, houve quem afirmasse que a volta dos turbos seria um retrocesso para a F-1. Eu digo que isso terá de ser confirmado, e a julgar pelas expectativas que temos, não vai ser difícil ser mais uma afirmação totalmente furada. Que venham os turbos em 2014!

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