sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

DESFALQUE NO CALENDÁRIO?


Nurburgring: circuito está falido, mas ainda vai sediar a F-1. Pelo menos este ano...
            Na próxima terça-feira os carros da Fórmula 1 2013 entram finalmente na pista, no primeiro dia dos testes da pré-temporada, que terá apenas 3 sessões de testes coletivos este ano. Mas o que ninguém sabe afirmar neste momento é quantas corridas teremos de fato neste campeonato. Serão 20? Ou 19, ou seria apenas 18? Das 20 corridas programadas inicialmente, o GP dos EUA em New Jersey não conseguiu sair do papel de maneira a viabilizar a corrida neste ano, e deve figurar no calendário somente em 2014. Procurou-se uma etapa “alternativa” para ser adicionada ao calendário, inclusive deixando uma data possível de ser usada em meio à fase européia do calendário, de modo a minimizar os custos de logística e produção da corrida, mas sem um acordo de bom termo, tudo indicava que iríamos ficar mesmo com 19 corridas, o que não é nenhum holocausto, diga-se.
            Mas nos últimos dias, a coisa prometia complicar mais um pouco: Nurburgring, circuito alemão que deveria sediar a prova germânica desta temporada, teve sua falência decretada no ano passado, e apesar dos esforços, ainda tentava viabilizar a realização da etapa de F-1. Mas Bernie Ecclestone teria afirmado que esgotaram-se as possibilidades de negociação com os organizadores da prova, e neste momento, o que se entendia é que teríamos menos 2 corridas em 2013. Ainda assim, ficaríamos com 18 provas, número que está mais do que de bom tamanho. Mas o problema não é o número de corridas, e sim o fato de não ter se chegado a bom termo no sentido de providenciar corridas substitutas para estes cancelamentos e/ ou vias de se cancelar uma prova. O que deu errado, afinal?
            O que deu errado é a conta que Bernie Ecclestone apresenta para quem quiser organizar um GP. Com a Europa sentindo os efeitos da crise, o chefão da FOM, como já mencionei aqui várias vezes, dá de ombros para as dificuldades dos organizadores privados europeus, e continua cobrando valores fora da realidade, quando não inventa desculpas que muitos entendem serem totalmente furadas, ou muito mal concebidas para se justificar uma negativa. Senão, vejamos:
            Turquia: a prova em Istambul seria considerada a favorita para substituir um GP no calendário. Todos gostam do circuito, mas o governo turco adiantou que não iria viabilizar nenhuma ajuda financeira para custear a prova. E como os organizadores turcos não conseguem levantar a grana na iniciativa privada, danou-se. Sem grana, sem GP. E fim de papo!
            Áustria: O velho circuito de Zeltweg, desmantelado na década passada após o país sair do calendário, foi comprado por Dietrich Mateschitz, dono da Red Bull, e completamente restaurado e reformado. Chamado agora de Red Bull Ring, a pista reúne todas as condições necessárias para sediar uma prova de F-1, e Mateschitz não demonstrou má vontade em pagar o valor de uma corrida avulsa. Mas aqui o enguiço foi a “falta” de infra-estrutura turística na região de Zeltweg, que Ecclestone afirmou não ter nenhuma condição de receber o pessoal que acompanha a F-1. Engraçado que há 10 anos atrás isso não parecia ser um problema. O pessoal que acompanha a categoria não aumentou assim para justificar essa desculpa. Parece ser mais má-vontade de Ecclestone, que aceitando a oferta de Mateschitz, implicitamente iria adular a turma da Red Bull, e o time das bebidas anda acumulando uma certa ciumeira no paddock, em virtude de ter ganho os últimos 3 campeonatos. Fazendo um mimimi para agradar a Ferrari, maior crítica da Red Bull? Parece...
            Portugal: os portugueses tem interesse em voltar ao calendário, e já tem um circuito que atende os mais altos requisitos da FIA para autódromos, no Algarve. O problema lusitano é bancar a conta exigida por Bernie, e novamente, o aviso é dado com todas as letras: sem grana, sem corrida. E como Portugal é mais um país com as finanças combalidas pela crise econômica, o governo português teria de ser louco para bancar tal iniciativa. Portimão é um circuito interessante, com muitas semelhanças com Estoril no traçado, e seria legal a F-1 se apresentar ali. Mas, interesse dos fãs à parte, o importante é dinheiro na mão, do contrário...
            San Marino: Certo, o GP de San Marino já foi embora do calendário faz tempo, mas o circuito de Ímola, que tantas boas corridas sediou, poderia receber uma etapa do calendário. E com certeza lotaria as arquibancadas. O problema, além de pagar a salgada conta da taxa de realização do GP, é que a pista, que foi completamente reformada há alguns anos atrás, foi “rebaixada” pela FIA na nota de classificação de circuitos, e foi considerada “inadequada” para sediar um GP de F-1. No máximo, poderia aceitar sediar testes da categoria. Indiretamente, a culpa recai sobre Ecclestone, que acostumou mal a FIA e a própria F-1 com os circuitos faraônicos erguidos desde 1999 por Herman Tilke, que são suntuosidades fora da pista, e fazendo com que muita gente hoje sinta nojo ou desprezo de correr em uma pista que até uma década atrás ninguém via problema em competir. Ímola é uma pista excelente, mas a frescura da FIA, e por tabela da F-1 atual, parece condenada a nunca mais sediar um GP. Ou se resolverem vender a alma para pagar a taxa de Ecclestone, que já levou a F-1 até para fins do mundo no planeta a quem aceitava pagar seu preço. Alguém aí lembra do GP do Pacífico, em Aida?
            Pela mesma razão das altas taxas, a França pulou fora de sediar uma etapa, e isso com duas pistas em ótimo estado para sediar um GP: Magny-Cours, onde já correram até pouco tempo atrás; e Paul Ricard, um circuito onde muitos gostariam de competir novamente. Mas o governo francês não vai pôr dinheiro na corrida, e aí sem grana, todos já sabem qual o resultado.
            E a Espanha? O país teve duas provas em 2012, mas a Alonsomania não se mostra páreo para a crise econômica, que afundou a economia ibérica de forma fulminante, só perdendo para os gregos. Valência venceu o contrato, e a cidade não quer topar renovar a prova, ainda mais pelo preço sempre crescente cobrado pela FOM. E, já sem a perspectiva de nova prova, o circuito urbano de Valência já exibe até sinais avançados de abandono. E ninguém fala de usar o autódromo Ricardo Torno, nas redondezas, para sediar um GP. Barcelona mesmo está por um fio: os organizadores estão reclamando muito do valor da taxa de realização da prova, e o circuito da Catalunha é sério candidato a pular fora do calendário a qualquer momento. A fama de Fernando Alonso é uma das poucas justificativas para se manter a corrida, mas até o fervor dos espanhóis tem limite. E Jerez? A pista, onde semana que vem começam os treinos da pré-temporada, poderia sediar uma corrida, desde que alguém pagasse a conta da FOM. Mas Jerez se tornou, com a crise, uma das cidades mais falidas da Espanha no momento, e nem governo, nem empresários locais pensam em agüentar o tranco de uma prova de F-1. Para sorte deles, a MotoGP cobra taxas muito mais razoáveis, e como os espanhóis são loucos por motociclismo, a corrida na pista segue garantida nas duas rodas...
            Como se vê, opções de substituição de provas não faltam. O que falta é mais bom senso e menos ganância por parte de alguns cartolas da categoria máxima do automobilismo, em especial do chefe da FOM. Chega a ser ridículo, para não dizer vergonhoso, que as duas maiores potências esportivas da F-1 no momento ou não tem corridas (caso da França, que tem o motor campeão do mundo nos últimos três anos – Renault), ou a prova estava em vias de não ser realizada por dificuldades financeiras (o atual campeão é o alemão Sebastian Vettel, e a Alemanha também tem a Mercedes competindo, não apenas como equipe completa, mas também como fornecedora de motor). Mas ontem, Ecclestone surgiu com a notícia de que conseguiu chegar a um acordo com os administradores de Nurburgring, e que a prova finalmente está confirmada no calendário. Bernie ainda faz parecer que seus esforços foram mais um favor do que uma obrigação aos fãs europeus que curtem a F-1, por conseguir manter mais um GP no Velho Continente. Aparentemente, ele teria concordado em baixar um pouco sua taxa, de forma a viabilizar a corrida, afinal, a Alemanha é o país de Vettel, e privar o atual campeão de defender seu título perante sua torcida em seu país natal poderia gerar mais danos à imagem da F-1 do que ao seu bolso. Mas o chefe da FOM sempre dá sinais de que anda de paciência curta com as provas européias, que na sua opinião não andam rendendo lucros “viáveis” em comparação com outras provas, mundo afora.
            E Bernie dificilmente vai mudar de idéia, pois enquanto surgirem candidatos que pagam sem pestanejar suas altíssimas taxas, ele vai continuar cobrando valores exorbitantes e sempre aumentando a conta. O desfalque de New Jersey deve ser resolvido para termos a corrida em 2014, e os russos também vão ter um GP em breve, para não falar que a Tailândia também quer uma corrida. E, das novas provas surgidas nos últimos tempos, as únicas que já foram embora foram Valência e Turquia. Mas as demais provas novas, bem ou mal, ainda seguem firme. Sabe-se lá até quando...
            Para os times, que reclamaram do longo campeonato de 2012, com 20 corridas, disputar um certame de apenas 18 já estaria ficando melhor do que a encomenda... Por enquanto, vamos com 19, mas ainda não se esgotaram todas as chances de termos mesmo 20 provas este ano...

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