Em
mais uma postagem da seção Arquivo, trago hoje uma coluna lançada em 24 de maio
de 1996, e o tema era a guerra das categorias Indy, deflagrada por Tony George
naquele ano com a criação da Indy Racing League, que naquele final de semana
atingia seu ponto máximo, com a disputa das 500 Milhas de
Indianápolis, que pela primeira vez não fazia mais parte do calendário da
F-Indy. Esta, pelo seu lado, apesar de uma tentativa de conciliação, para
evitar maiores atritos, viu seus esforços serem rechaçados por George, que não
escondia de ninguém sua intenção de querer acabar com a ex-categoria em que
participava, para reinar absoluto nas categorias de monopostos americana, e
sabendo que enquanto a F-Indy existisse, ele não seria o dono absoluto do
pedaço. O resultado é que todos saíram perdendo: hoje, a F-Indy não existe
mais, e a IRL, que foi o que sobrou, é uma categoria que anda mal das pernas,
tentando achar seu rumo, e onde o próprio Tony George acabou deposto da
direção, por suas estripulias.
Perderam
o público, os pilotos, e os times. Quem saiu ganhando foram as categorias
rivais, como a Nascar, e a F-1, que nos anos 1990, viu o crescimento de
popularidade da F-Indy atingir níveis que certamente incomodaram Bernie
Ecclestone. Fiquem agora com o texto, e boa leitura...
INDY VS INDY
Chegou
a hora. Neste domingo, as categorias Indy disputarão suas maiores e mais
importantes corridas de seus calendários: pela F-Indy tradicional, organizada
pela CART, teremos a US 500, a ser disputada no circuito oval mais rápido do
mundo, o Michigan International Speedway; e pela Indy Racing League (IRL),
teremos as 500 Milhas de Indianápolis, direto do Indianapolis Motor Speedway.
Pela
primeira vez, as 500 Milhas de Indianápolis não fazem parte do calendário
normal da F-Indy. A prova agora pertence à IRL, um novo campeonato de corridas
idealizado e controlado por Tony George, proprietário do circuito de
Indianápolis. Já fazia algum tempo que George, descontente com a perda de poder
e lucros dentro do campeonato da F-Indy, vinha ameaçando tirar a Indy500 do
calendário. Até fins da década de 1970, a F-Indy se resumia a poucas provas, e
as 500 Milhas eram a única corrida de renome. A partir dos anos 1980, com a
fundação da CART, a F-Indy cresceu muito, a ponto de se tornar uma categoria
internacional que só perde para a F-1. Com isso, Tony George, que antes dava as
cartas na Indy, por possuir a maior de todas as suas provas, foi perdendo sua
força política e econômica dentro da categoria.
O
resultado dessa briga estourou esse ano: George criou o seu próprio campeonato,
com provas disputadas apenas em circuitos ovais, e apenas nos Estados Unidos. E
seu maior trunfo é a prova de Indianápolis, que muitos falaram que tiraria todo
o interesse da F-Indy. A CART a princípio não se importou muito com a perda, e
numa atitude de conciliação, deixou todo o mês de maio livre para que seus
pilotos pudessem correr em Indianápolis se assim o desejassem. A IRL,
entretanto, declarou que, das 33 vagas no grid, 25 seriam exclusivas de pilotos
da IRL, ficando as demais vagas para quaisquer outros pilotos “forasteiros”.
A
guerra estava declarada então. Em retaliação, a CART decidiu incluir a US 500,
ou 500 Milhas dos Estados Unidos, prova que será disputada no mesmo dia que a
Indy500, e que será válida pelo campeonato da F-Indy tradicional. Tony George
não deixou por menos e entrou na justiça americana para declarar a
exclusividade do nome “Indy” para a IRL, e processar a CART por uso indevido da
marca em seu campeonato.
Considerando
todos os fatores, as 500 Milhas de Indianápolis saíram perdendo com tudo isto.
A prova mais tradicional do automobilismo americano será disputada em sua
maioria este ano por novatos desconhecidos e sem expressão. Fora algumas
exceções, como Arie Luyendick, que já venceu a corrida em 1990, todos os demais
pilotos de ponta estarão na prova de Michigan. E não é apenas no plano
esportivo que Indianápolis saiu perdendo: inúmeros patrocinadores da Indy
transferiram seus investimentos publicitários reservados a Indianápolis para
Michigan, e os efeitos foram bem fortes: só o ramo de hotelaria calcula um
prejuízo de mais de US$ 100 mil com o cancelamento de inúmeras reservas de
convidados especiais dos patrocinadores.
E
a briga também se desenrola no Brasil no campo da audiência televisiva:
enquanto a TVS/SBT transmitirá a US 500, a Bandeirantes acertou a transmissão da
Indy 500. Pelo interesse, desconfio que a Bandeirantes deve perder a briga,
pois o único brasileiro que disputará as 500 Milhas de Indianápolis
é Marco Greco. Todos os demais nomes conhecidos estarão em Michigan, e vários
deles com chances de vitória na corrida, o que não é o caso de Greco, pela
falta de equipamento que possui. Quem irá ganhar esta briga? IRL ou CART? Façam
suas apostas...
A morte voltou a assombrar Indianápolis: sexta-feira passada, o piloto
Scott Brayton, pole pelo segundo ano consecutivo da Indy500, morreu depois de
uma violenta batida no muro enquanto fazia a checagem dos sistemas de seu
carro. Brayton bateu a cerca de 370 Km/h e morreu pouco depois de chegar ao
hospital. O acidente foi causado muito provavelmente por um estouro de um dos
pneus. O último piloto a morrer em Indianápolis tinha sido o felipini Jovy
Marcelo, em 1992.
Com a morte de Scott Brayton, Tony Stewart passa a ser o pole-position
das 500 Milhas de Indianápolis. Para substituir Brayton, a equipe Menard chamou
Dany Ongais, que já correu na F-1 pela equipe Ensign.
A Fórmula 1 segue com emoção e velocidade. O Grande Prêmio de Mônaco,
disputado no último domingo, foi particularmente interessante. Conhecido por
suas dificuldades e exigências, o circuito monegasco foi devastador para carros
e pilotos este ano: apenas 3 competidores terminaram a corrida. Olivier Panis,
com a Ligier, sobreviveu à hecatombe de problemas que vitimou quase todos os
demais e conseguiu sua primeira vitória na F-1 e a primeira da Ligier em
praticamente 15 anos; David Couthard, da McLaren, e Johnny Herbert, da Sauber,
foram os únicos a receber a bandeirada de chegada, além de Panis.
Michael Schumacher foi a extremos em Mônaco: bateu Damon Hill na luta
pela pole, mas na corrida, fez papel de principiante e foi o primeiro a bater o
carro e abandonar a corrida. Hill, com um excelente arranque na largada, pulou
para a liderança e já ia indo embora, pelo que o alemão tentou não deixar que
ele fugisse e acabou batendo. Hill, entretanto, não pôde comemorar: o motor
Renault deixou o piloto inglês na mão na segunda metade da corrida. Jean Alesi
chegou à liderança, mas para o cúmulo do azar, o carro deixou o piloto francês
a pé. Eddie Irvinne, da Ferrari, também chamou as atenções ao provocar, nas
voltas finais, um engavetamento de carros: o irlandês rodou na pista, e ao
voltar para o traçado, foi atingido por trás por Mika Salo e Mika Hakkinem, em
disputa por posições. Hakkinem, exaltado, pulou de sua McLaren e foi tirar
satisfações com o Irvinne.
Para os brasileiros, restou o consolo de que ficaram pelo caminho por
motivos alheios a seus controles: Rubens Barrichello levou um toque por trás e
acabou ficando na curva Rascasse; Pedro Paulo Diniz teve um semi-eixo quebrado em sua Ligier ; e Ricardo
Rosset foi vítima da bagunça da equipe Arrows, que o impediu de treinar direito
por falta de peças de reposição.
O GP mais recente até então com menos carros a chegarem ao final foi o
da África do Sul de 1993, quando apenas 5 carros cruzaram a linha de chegada. O
detalhe é que, naquela prova, largaram 26 carros. Em Mônaco, este ano, o grid
só teve 22 carros...
Raul Boesel e Émerson Fittipaldi estão otimistas para as próximas
etapas da F-Indy. Em Milwaukee, Raul bateu o recorde do circuito em 1s, e
obteve excelentes progressos no desenvolvimento do chassi Reynard. Já Émerson,
confirmando ter espantado o azar que o perseguia, bateu o novo recorde de Boesel
em 0s4, e nos treinos livres em Michigan, ficou a centésimos de diferença dos
pilotos que usam motores Honda. Além do excelente chassi Penske, ficou nítida a
melhora de performance do motor Mercedes, que já mostra capacidade para
derrubar os Honda.
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