sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

NOVOS CAMINHOS


Bruno Senna: Nova carreira no Mundial de Endurance...
            Com a confirmação de Luiz Razia na equipe Marussia como titular, os torcedores brasileiros ficaram na expectativa se teríamos 3 representantes no grid da Fórmula 1 nesta temporada. Bruno Senna, ainda que na condição de azarão, ainda era tido como candidato à então última vaga disponível na categoria para este ano, na equipe Force Índia, que até o fechamento desta coluna, ainda continuava com Paul Di Resta como único titular anunciado. Mas eis que o sobrinho de nosso último tricampeão de F-1 anunciou esta semana que vai mudar de ares. Disputará a categoria GT-Pro do Mundial de Endurance, categoria criada no ano passado. Bruno Senna assinou contrato para defender a Aston Martin, e irá fazer parceria com o piloto francês Frederic Makowiecki durante todo o ano. Para as etapas das 24 Horas de Le Mans e as 6 Horas de Spa, o time contará também com o inglês Rob Bell na competição. A estréia de Bruno se dará no mês que vem, na etapa das 12 Horas de Sebring, na Flórida, Estados Unidos. Nesta prova, o brasileiro ainda terá como colegas de pista o inglês Darren Turner e o alemão Stefan Mucke.
            As razões de Bruno para desistir da F-1 e procurar outra opção foi a mais lógica possível: disputar corridas em melhores condições, e com chances de vencer, o que nunca teve nas 3 temporadas em que correu na categoria máxima do automobilismo, e também nunca teria neste ano, mesmo que conseguisse o lugar na Force Índia. Quem também optou por um novo caminho foi o alemão Timo Glock, que acabou rifado da equipe Marussia em janeiro, e já encontrou lugar no time oficial da BMW, campeão do DTM no ano passado, para disputar o campeonato deste ano da modalidade. Bruno tomou a decisão correta: suas opções na F-1 ficaram muito restritas, e neste momento, a não ser que se tornasse titular na Force Índia, qualquer outro lugar na categoria seria um retrocesso, e ele não estava disposto a encarar ou permitir isto.
            Nos fóruns, blogs e sites de notícias, o que vi foi o de sempre: muita gente depreciando Bruno, com argumentos dos mais batidos até os mais ridículos, comentários mais equilibrados e sensatos, e aqueles desejando ao brasileiro sorte em sua nova fase da carreira. Mas a maior parte mesmo era de comentários negativos, o que prova que mais uma vez a grande “massa” de torcedores só dá valor se nossos pilotos vencerem corridas ou forem campeões. Bruno provou ser um bom piloto, mas no atual momento, isso parece não comover nenhum “torcedor” por aqui, e lamentavelmente, sua passagem pela F-1 não lhe rendeu muitos créditos, fora o adjetivo de piloto “pagante”, que por estas bandas só tem mesmo o sentido de piloto “que só corre por que traz grana e nada mais”. Sua passagem pela Williams, desde o início, já se sabia que seria um jogo de cartas marcadas: ninguém dá 15 treinos livres na sexta-feira para um piloto hoje em dia se não for para torná-lo titular no ano seguinte.
            Valtteri Bottas pode ser talentoso e merecedor da oportunidade de ser titular da Williams este ano, mas nos bastidores, vai levar tempo para tirar a sensação de que o finlandês só ganhou a vaga devido ao jogo de interesses de seu empresário Toto Wolf, que no ano passado também foi diretor da escuderia inglesa. Segundo algumas conversas, houve novamente bate-boca interno na escuderia sobre a troca de pilotos. Assim como muita gente no ano passado preferia manter Rubens Barrichello, e venceu a escolha de Adam Parr, que para muitos achou os patrocínios de Senna mais valiosos do que o talento e experiência de Rubinho, que pelo menos merecia ter tido a chance de uma despedida mais decente pelo time, muitos no time queriam que Bruno continuasse, certos de que ele poderia render mais. Mas Toto Wolf fez valer sua força na direção, promovendo seu pupilo, e fim de conversa. Resta à Williams torcer para Maldonado parar de se envolver em confusões na pista, porque rápido ele já mostrou que é, e Bottas ainda precisará mostrar a que veio. Bruno só teria chances de virar o jogo se tivesse tido um desempenho fenomenal na temporada, e isso ele não conseguiu.
            Ele admitiu seus pontos fracos no ano passado, e isso, para os torcedores, pareceu outro pecado. Aqueles que idolatravam Senna achavam seu ídolo infalível, imbatível, capaz de proezas heróicas e impossíveis. Bem, Bruno sempre disse que nunca seria como o seu tio, mas a torcida sempre quis que ele fosse como o tio. Inconscientemente, até mesmo onde ele correu na F-1 sempre se teve pelo menos esta esperança. Mas Bruno é Bruno, assim como Ayrton foi Ayrton. O sobrenome Senna deixa a F-1 pela segunda vez, e irá talvez brilhar em outros ares. Há vida fora da F-1 no automobilismo, e o Mundial de Endurance é um excelente campeonato, onde já teremos outro piloto brasileiro na temporada: Lucas Di Grassi, outra promessa nacional que viu suas chances de um lugar decente na F-1 também se esvaírem, irá correr por lá, e na mais conceituada equipe, a Audi, na categoria LMP1, em algumas etapas.
            Lamentavelmente, repetiu-se mais uma vez a sina dos “descendentes” de nossos grandes campeões na F-1 não conseguirem repetir o sucesso obtido por seus “antecessores”. Christian Fittipaldi chegou à F-1 no início dos anos 1990 depois de vencer a F-3000 Internacional, e muitos diziam que ele tinha talento para honrar o nome Fittipaldi, que foi bicampeão da categoria nos anos 1970 com seu tio Émerson, que só não teve passagem mais gloriosa pela F-1 devido ao projeto da equipe Copersucar. Christian estreou na Minardi, e conseguiu pontuar em seu primeiro ano, em 1992, conseguindo 1 ponto, um feito na época, onde apenas os 6 primeiros pontuavam. Christian ficou dois anos em Faenza, onde conseguiu marcar mais 5 pontos em seu segundo ano, e em 1994, mudou-se para a Arrows, um time de mais potencial. Mas as mudanças de regras durante a temporada, após o trágico GP de San Marino, derrubou a competitividade da equipe, e ao fim do ano, apenas 6 magros pontos, e poucas perspectivas de achar um lugar decente para 1995, motivaram Christian a mudar para a F-Indy, onde permaneceu por muitos anos, esquecendo de vez a F-1. Não seria com ele que o nome Fittipaldi voltaria a brilhar na categoria.
            Na década passada, Nélson Ângelo Piquet, filho de Nélson Piquet, chegou enfim à F-1, em 2008, após uma trajetória cuidadosamente calculada por seu pai, que fez o filho passar pelas principais categorias de acesso sempre demonstrando grande talento e capacidade. Mas errou feio ao colocá-lo na equipe Renault, que na época era praticamente um time de um piloto só, Fernando Alonso, e com aval totalmente irrestrito do patrão, Flavio Briatore, que dava tudo e até mais um pouco a seu protegido. Nelsinho mostrou potencial, e teria tudo para evoluir na F-1. Mas embarcou no plano furado de armar o acidente de Cingapura, e quando isso foi revelado, mais por vingança contra Briatore do que por justiça ou denúncia de terceiros, ficou praticamente queimado na categoria. O estopim da denúncia foi sua dispensa da Renault em 2009, após praticamente não conseguir resultados com o instável carro do time, que era uma carroça e só Alonso tinha um monoposto mais decente que lhe permitia obter resultados. Briatore perdeu o emprego, mas Nelsinho nunca mais teria chance de ser piloto novamente na F-1. Consciente disso, foi buscar lugar em um terreno até então totalmente inexplorado pelos pilotos brasileiros: a Nascar. E vem conseguindo aos poucos se destacar, competindo nas categorias secundárias, como a Truck Series, mas que são tão disputadas quando a categoria principal, a Sprint Cup. E já conseguiu fazer pole e vencer um ou outra corrida. Aos poucos, ele está construindo uma carreira que tem tudo para ser vitoriosa no automobilismo americano. E o nome Piquet, assim como Fittipaldi, não conseguiu também emplacar um sucessor na F-1 com vitórias e títulos.
            Bruno Senna foi pelo mesmo caminho. O sobrinho de Ayrton só retomou a carreira já adulto, depois de praticamente uma década parado, em virtude da trágica morte do tricampeão. Mostrou jeito para a competição, e conseguiu vitórias nas categorias por onde passou. Nunca exibiu a exuberância do tio, é verdade, mas não era um braço duro também. Mas não teve momentos bons em sua passagem pela F-1. Na única chance mais visível, na Williams, não conseguiu superar as dificuldades que apareceram, mesmo conhecendo algumas delas de antemão, como a perda de vários treinos livres durante o ano. E assim, mais uma vez, o nome Senna, que já foi sensação na F-1 há 20 anos atrás, saiu novamente da categoria, e pela porta dos fundos, sem comover ninguém.
            Não posso dizer mais nada, a não ser o óbvio: que Bruno Senna seja feliz e bem-sucedido em sua nova empreitada profissional. Retornar à F-1 não é impossível, mas poderá ser muito difícil. Que consiga manter o foco na sua nova categoria da mesma maneira como Christian se focou na F-Indy nos anos 1990, e se Nelsinho vem mantendo na Nascar. E a vida seguirá...

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