Bruno Senna: Nova carreira no Mundial de Endurance... |
Com
a confirmação de Luiz Razia na equipe Marussia como titular, os torcedores
brasileiros ficaram na expectativa se teríamos 3 representantes no grid da
Fórmula 1 nesta temporada. Bruno Senna, ainda que na condição de azarão, ainda era
tido como candidato à então última vaga disponível na categoria para este ano,
na equipe Force Índia, que até o fechamento desta coluna, ainda continuava com
Paul Di Resta como único titular anunciado. Mas eis que o sobrinho de nosso
último tricampeão de F-1 anunciou esta semana que vai mudar de ares. Disputará
a categoria GT-Pro do Mundial de Endurance, categoria criada no ano passado.
Bruno Senna assinou contrato para defender a Aston Martin, e irá fazer parceria
com o piloto francês Frederic Makowiecki durante todo o ano. Para as etapas das
24 Horas de Le Mans e as 6 Horas de Spa, o time contará também com o inglês Rob
Bell na competição. A estréia de Bruno se dará no mês que vem, na etapa das 12
Horas de Sebring, na Flórida, Estados Unidos. Nesta prova, o brasileiro ainda
terá como colegas de pista o inglês Darren Turner e o alemão Stefan Mucke.
As
razões de Bruno para desistir da F-1 e procurar outra opção foi a mais lógica
possível: disputar corridas em melhores condições, e com chances de vencer, o
que nunca teve nas 3 temporadas em que correu na categoria máxima do
automobilismo, e também nunca teria neste ano, mesmo que conseguisse o lugar na
Force Índia. Quem também optou por um novo caminho foi o alemão Timo Glock, que
acabou rifado da equipe Marussia em janeiro, e já encontrou lugar no time
oficial da BMW, campeão do DTM no ano passado, para disputar o campeonato deste
ano da modalidade. Bruno tomou a decisão correta: suas opções na F-1 ficaram
muito restritas, e neste momento, a não ser que se tornasse titular na Force
Índia, qualquer outro lugar na categoria seria um retrocesso, e ele não estava
disposto a encarar ou permitir isto.
Nos
fóruns, blogs e sites de notícias, o que vi foi o de sempre: muita gente
depreciando Bruno, com argumentos dos mais batidos até os mais ridículos,
comentários mais equilibrados e sensatos, e aqueles desejando ao brasileiro
sorte em sua nova fase da carreira. Mas a maior parte mesmo era de comentários
negativos, o que prova que mais uma vez a grande “massa” de torcedores só dá
valor se nossos pilotos vencerem corridas ou forem campeões. Bruno provou ser
um bom piloto, mas no atual momento, isso parece não comover nenhum “torcedor”
por aqui, e lamentavelmente, sua passagem pela F-1 não lhe rendeu muitos
créditos, fora o adjetivo de piloto “pagante”, que por estas bandas só tem
mesmo o sentido de piloto “que só corre por que traz grana e nada mais”. Sua
passagem pela Williams, desde o início, já se sabia que seria um jogo de cartas
marcadas: ninguém dá 15 treinos livres na sexta-feira para um piloto hoje em
dia se não for para torná-lo titular no ano seguinte.
Valtteri
Bottas pode ser talentoso e merecedor da oportunidade de ser titular da
Williams este ano, mas nos bastidores, vai levar tempo para tirar a sensação de
que o finlandês só ganhou a vaga devido ao jogo de interesses de seu empresário
Toto Wolf, que no ano passado também foi diretor da escuderia inglesa. Segundo
algumas conversas, houve novamente bate-boca interno na escuderia sobre a troca
de pilotos. Assim como muita gente no ano passado preferia manter Rubens
Barrichello, e venceu a escolha de Adam Parr, que para muitos achou os
patrocínios de Senna mais valiosos do que o talento e experiência de Rubinho,
que pelo menos merecia ter tido a chance de uma despedida mais decente pelo
time, muitos no time queriam que Bruno continuasse, certos de que ele poderia
render mais. Mas Toto Wolf fez valer sua força na direção, promovendo seu
pupilo, e fim de conversa. Resta à Williams torcer para Maldonado parar de se
envolver em confusões na pista, porque rápido ele já mostrou que é, e Bottas
ainda precisará mostrar a que veio. Bruno só teria chances de virar o jogo se
tivesse tido um desempenho fenomenal na temporada, e isso ele não conseguiu.
Ele
admitiu seus pontos fracos no ano passado, e isso, para os torcedores, pareceu
outro pecado. Aqueles que idolatravam Senna achavam seu ídolo infalível,
imbatível, capaz de proezas heróicas e impossíveis. Bem, Bruno sempre disse que
nunca seria como o seu tio, mas a torcida sempre quis que ele fosse como o tio.
Inconscientemente, até mesmo onde ele correu na F-1 sempre se teve pelo menos
esta esperança. Mas Bruno é Bruno, assim como Ayrton foi Ayrton. O sobrenome
Senna deixa a F-1 pela segunda vez, e irá talvez brilhar em outros ares. Há
vida fora da F-1 no automobilismo, e o Mundial de Endurance é um excelente
campeonato, onde já teremos outro piloto brasileiro na temporada: Lucas Di
Grassi, outra promessa nacional que viu suas chances de um lugar decente na F-1
também se esvaírem, irá correr por lá, e na mais conceituada equipe, a Audi, na
categoria LMP1, em algumas etapas.
Lamentavelmente,
repetiu-se mais uma vez a sina dos “descendentes” de nossos grandes campeões na
F-1 não conseguirem repetir o sucesso obtido por seus “antecessores”. Christian
Fittipaldi chegou à F-1 no início dos anos 1990 depois de vencer a F-3000
Internacional, e muitos diziam que ele tinha talento para honrar o nome
Fittipaldi, que foi bicampeão da categoria nos anos 1970 com seu tio Émerson,
que só não teve passagem mais gloriosa pela F-1 devido ao projeto da equipe
Copersucar. Christian estreou na Minardi, e conseguiu pontuar em seu primeiro
ano, em 1992, conseguindo 1 ponto, um feito na época, onde apenas os 6
primeiros pontuavam. Christian ficou dois anos em Faenza, onde conseguiu marcar
mais 5 pontos em seu segundo ano, e em 1994, mudou-se para a Arrows, um time de
mais potencial. Mas as mudanças de regras durante a temporada, após o trágico
GP de San Marino, derrubou a competitividade da equipe, e ao fim do ano, apenas
6 magros pontos, e poucas perspectivas de achar um lugar decente para 1995,
motivaram Christian a mudar para a F-Indy, onde permaneceu por muitos anos,
esquecendo de vez a F-1. Não seria com ele que o nome Fittipaldi voltaria a brilhar
na categoria.
Na
década passada, Nélson Ângelo Piquet, filho de Nélson Piquet, chegou enfim à
F-1, em 2008, após uma trajetória cuidadosamente calculada por seu pai, que fez
o filho passar pelas principais categorias de acesso sempre demonstrando grande
talento e capacidade. Mas errou feio ao colocá-lo na equipe Renault, que na
época era praticamente um time de um piloto só, Fernando Alonso, e com aval
totalmente irrestrito do patrão, Flavio Briatore, que dava tudo e até mais um
pouco a seu protegido. Nelsinho mostrou potencial, e teria tudo para evoluir na
F-1. Mas embarcou no plano furado de armar o acidente de Cingapura, e quando
isso foi revelado, mais por vingança contra Briatore do que por justiça ou
denúncia de terceiros, ficou praticamente queimado na categoria. O estopim da
denúncia foi sua dispensa da Renault em 2009, após praticamente não conseguir
resultados com o instável carro do time, que era uma carroça e só Alonso tinha
um monoposto mais decente que lhe permitia obter resultados. Briatore perdeu o
emprego, mas Nelsinho nunca mais teria chance de ser piloto novamente na F-1.
Consciente disso, foi buscar lugar em um terreno até então totalmente
inexplorado pelos pilotos brasileiros: a Nascar. E vem conseguindo aos poucos
se destacar, competindo nas categorias secundárias, como a Truck Series, mas
que são tão disputadas quando a categoria principal, a Sprint Cup. E já
conseguiu fazer pole e vencer um ou outra corrida. Aos poucos, ele está
construindo uma carreira que tem tudo para ser vitoriosa no automobilismo
americano. E o nome Piquet, assim como Fittipaldi, não conseguiu também
emplacar um sucessor na F-1 com vitórias e títulos.
Bruno
Senna foi pelo mesmo caminho. O sobrinho de Ayrton só retomou a carreira já
adulto, depois de praticamente uma década parado, em virtude da trágica morte
do tricampeão. Mostrou jeito para a competição, e conseguiu vitórias nas
categorias por onde passou. Nunca exibiu a exuberância do tio, é verdade, mas
não era um braço duro também. Mas não teve momentos bons em sua passagem pela
F-1. Na única chance mais visível, na Williams, não conseguiu superar as
dificuldades que apareceram, mesmo conhecendo algumas delas de antemão, como a
perda de vários treinos livres durante o ano. E assim, mais uma vez, o nome Senna,
que já foi sensação na F-1 há 20 anos atrás, saiu novamente da categoria, e
pela porta dos fundos, sem comover ninguém.
Não
posso dizer mais nada, a não ser o óbvio: que Bruno Senna seja feliz e
bem-sucedido em sua nova empreitada profissional. Retornar à F-1 não é
impossível, mas poderá ser muito difícil. Que consiga manter o foco na sua nova
categoria da mesma maneira como Christian se focou na F-Indy nos anos 1990, e
se Nelsinho vem mantendo na Nascar. E a vida seguirá...
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