Todo
o pessoal da Fórmula 1 chegou a Abu Dhabi para o GP dos Emirados Árabes,
encerrando a passagem da categoria pelo Oriente. E, pelo menos desde a corrida
da semana passada, segundo matéria publicada nesta última quinta-feira no site
Grande Prêmio, Bruno Senna já está procurando um novo lugar ao Sol para a
próxima temporada: o brasileiro não está nos planos da Williams para 2013. Seu
lugar vai ser ocupado por Valteri Bottas, atual piloto reserva do time, e que
este ano vem cumprindo inúmeros treinos livres no lugar do piloto brasileiro. É
a lógica de um raciocínio que todos já sabiam que iria acontecer desde o começo
do ano, fosse quem fosse o piloto que o time escolheria para companheiro de
Pastor Maldonado, que continua firme e forte no time de Grove, graças ao
patrocínio generoso da PDVSA, que agora com a reeleição de Hugo Chávez na
Venezuela, deve continuar fluindo sem problemas para a escuderia inglesa.
Quando
a vaga na Williams estava em disputa por Rubens Barrichello e seu conterrâneo,
já era de conhecimento praticamente público que este piloto teria de ceder seu
carro em quase todos os primeiros treinos livres de sexta-feira ao longo do
campeonato. Valteri Bottas, reserva do time, é agenciado por Toto Wolf, que com
a dispensa de Adam Parr, assumiu a chefia geral da escuderia inglesa, e seria
óbvio, apesar das freqüentes negativas – para quem quisesse acreditar, claro,
que o jovem finlandês estaria sendo preparado para assumir como titular em 2013, a menos que o script
fugisse do roteiro pré-estabelecido. E como Bottas não fez feio nos treinos, só
andou ganhando elogios, e com isso, deverá alinhar ao lado de Pastor Maldonado
no grid do próximo ano. Cabia a Bruno Senna, que acabou escolhido para a vaga
pelos patrocínios que trazia, mais do que pelo talento propriamente dito,
aproveitar a chance de pilotar um ano em tempo quase integral para lançar-se no
mercado e mostrar realmente a que veio para a F-1, uma vez que sua passagem
pela pequena Hispania não dava uma base confiável o suficiente de suas
capacidades, além de que sua entrada na Renault no ano passado com o campeonato
em andamento também não tinha sido o suficiente para uma avaliação precisa de
seus dons. Bruno sabia que iria apenas “esquentar o banco” para Bottas. E, se
Rubens Barrichello tivesse permanecido no time, como deveria ser mesmo seu
último ano na categoria, se corresse, ele não teria tido preocupações com isso.
Aliás, atrevo-me a dizer que se ele tivesse ficado, a Williams teria tido um
ano melhor do que o que conseguiu. O veterano piloto brasileiro andava no ritmo
de Maldonado, na grande maioria das provas, sem contudo se envolver nas
constantes confusões do venezuelano, e com certeza teria a chance de encerrar a
carreira na F-1 de forma decente, além de ajudar a Williams com sua experiência
e capacidade técnica no acerto do carro.
Bruno
mostrou-se um bom piloto, dedicado, técnico, e rápido, mas com certas
limitações. Embora mais constante que Maldonado, o brasileiro não conseguiu
sobrepujar o venezuelano em um combate direto, com raras exceções. Pior,
mostrou-se fraco nas classificações, largando sempre muito atrás, e num ano em
que o pelotão intermediário esteve mais equilibrado do que nunca, assim como os
ponteiros na primeira metade do certame, isso comprometia duramente as chances
finais de um bom resultado ao fim das corridas. Os treinos livres que teve de
sacrificar em favor de Bottas cobraram seu preço, e infelizmente, Bruno nunca
conseguiu superar esta desvantagem como deveria, criando um ponto fraco que se
repetiu por quase todas as ocasiões em que teve de ceder seu carro. E enquanto
isso, o venezuelano mostrava-se muito rápido com o carro da Williams, quase
sempre indo para o Q3, enquanto o brasileiro quase sempre ficava no Q2, e até
mesmo no Q1. A sorte de Maldonado foi vencer na única ocasião em que a
oportunidade surgiu, no GP da Espanha. Ali o venezuelano fez seu charme da
temporada, e fora desta ocasião, colecionou mais confusões e batidas do que
pontos, perdendo apenas para Romain Grossjean, da Lótus, neste sentido. Bruno
também teve sua cota de acidentes, mas envolveu-se em menos confusões que
Pastor, pontuando com mais regularidade, o que agradava à Williams. Mas,
conforme já mencionado, o fato de largar lá atrás condicionava suas pontuações
a magros resultados ao fim da maioria das corridas. Seus melhores desempenhos
foram na Malásia e na Hungria. Por fim, ainda deu azar com algumas corridas
onde o carro da Williams não rendia nada, o que derrubava suas performances,
por melhor que pilotasse.
As
opções agora para 2013 reduzem-se a um único cockpit decente: a Force Índia.
Mas a escuderia já teria condicionado sua possível contratação a muito
patrocínio, estimados em valor de cerca de US$ 20 milhões pela temporada,
praticamente o dobro que teria levado de verba para a Williams este ano. O
recado é claro: se vier com esta quantia, o lugar fica assegurado. Sem grana,
sem carro, e até um outro dia. Se algum outro piloto chegar com mais grana,
leva. E a Force Índia, mais do que nunca, está precisando de um piloto pagante:
conforme mencionei na coluna da semana passada, a situação financeira de Vijay
Mallya está instável, e as finanças do time estão indo para o vinagre junto. A
venda de parte do time para o grupo Sahara foi uma tentativa de diminuir as
dificuldades, para o time continua precisando fechar as contas para 2013. Nico
Hulkenberg está de saída para a Sauber, junto com seus patrocinadores. Paul Di
Resta deve ficar, por ser piloto apoiado pela Mercedes, o que significa receber
um belo desconto na cobrança dos motores alemães, uma grana economizada de que
o time não pode prescindir, e que mesmo assim, não oferece tanto alívio no
orçamento. Então, a escuderia está aproveitando para aumentar a conta do
assento vago. É a lógica do mercado: se aparecer alguém disposto a pagar o que
o time exige, vai levar, mesmo que não tenha as credenciais necessárias para
fazer isso valer a pena. Bruno precisava ter feito a diferença na Williams para
não ficar apenas na dependência de sua verba financeira para disputar um lugar
em outro time. Ele não é um piloto ruim, e já demonstrou qualidades, mas ainda
assim, não conseguiu fazer com que apenas isso valesse.
Não
é apenas culpa de Bruno ele não conseguir ser valorizado apenas por seu
talento. A F-1 atravessa um momento crítico onde o dinheiro tem sufocado
completamente o talento demonstrado pelos pilotos. Para a sorte dos times, tem
aparecido talentos com dinheiro nesta equação, o que diminui um pouco a
injustiça de se privilegiar apenas o lado financeiro na contratação. Mesmo
assim, tem bons pilotos que lamentavelmente ficarão de fora devido a esta
exigência brutal da categoria. Quem também está na corda bamba de encerrar sua
carreira na categoria é Kamui Kobayashi, que sem ter patrocinadores, está
correndo suas últimas provas na Sauber, que já avisou que sem grana o japonês
não fica, mesmo sabendo de seu potencial e talento.
Para
boa parte dos “torcedores” brasileiros, se Bruno ficar a pé, o piloto já
estaria “indo tarde”, pois na opinião deles, é mais um perdedor, fracassado e
medíocre, que inclusive estaria “sujando” o nome Senna. Nada mais do que uma
opinião de imbecis na minha ótica: Bruno sempre frisou que nunca seria um novo
Ayrton. E boa parte da torcida parece querer não entender isso, preferindo
menosprezar e criticar o rapaz por não conseguir “honrar” a memória de seu
falecido tio. Mas já falei aqui várias vezes: se o piloto não ganha, o torcedor
“comum” no Brasil não dá a mínima bola para o que o sujeito faz, só perdendo
tempo mesmo para criticar e desmerecer. Para eles, não adianta Bruno ser um bom
piloto, se não ganha, praticamente não serve. Quando Felipe Nasr chegar à F-1,
se não estiver no lugar certo na hora certa, podem apostar que será mais um a
engrossar a lista de “fracassos” brasileiros na F-1, assim como Luiz Razia. E
nada indica que esta postura vá mudar...
Bruno
agora parte para as corridas finais precisando mostrar serviço mais do que
nunca, não apenas para valorizar seu passe, mas também para mostrar ao seu time
que merecia ficar na escuderia. Mas sua maior corrida passará a ser do lado de
fora da pista, tentando achar combustível financeiro para garantir a
continuidade de sua carreira na F-1 em 2013. Além de seus apoiadores atuais,
vai ter de arranjar outros, ou garantir que os atuais dobrem a verba oferecida
atualmente. E isso pode ser complicado de se conseguir.
Boa
sorte a Bruno Senna neste desafio. E ele vai precisar dela...
Nenhum comentário:
Postar um comentário