sexta-feira, 2 de novembro de 2012

DANDO A LÓGICA



            Todo o pessoal da Fórmula 1 chegou a Abu Dhabi para o GP dos Emirados Árabes, encerrando a passagem da categoria pelo Oriente. E, pelo menos desde a corrida da semana passada, segundo matéria publicada nesta última quinta-feira no site Grande Prêmio, Bruno Senna já está procurando um novo lugar ao Sol para a próxima temporada: o brasileiro não está nos planos da Williams para 2013. Seu lugar vai ser ocupado por Valteri Bottas, atual piloto reserva do time, e que este ano vem cumprindo inúmeros treinos livres no lugar do piloto brasileiro. É a lógica de um raciocínio que todos já sabiam que iria acontecer desde o começo do ano, fosse quem fosse o piloto que o time escolheria para companheiro de Pastor Maldonado, que continua firme e forte no time de Grove, graças ao patrocínio generoso da PDVSA, que agora com a reeleição de Hugo Chávez na Venezuela, deve continuar fluindo sem problemas para a escuderia inglesa.
            Quando a vaga na Williams estava em disputa por Rubens Barrichello e seu conterrâneo, já era de conhecimento praticamente público que este piloto teria de ceder seu carro em quase todos os primeiros treinos livres de sexta-feira ao longo do campeonato. Valteri Bottas, reserva do time, é agenciado por Toto Wolf, que com a dispensa de Adam Parr, assumiu a chefia geral da escuderia inglesa, e seria óbvio, apesar das freqüentes negativas – para quem quisesse acreditar, claro, que o jovem finlandês estaria sendo preparado para assumir como titular em 2013, a menos que o script fugisse do roteiro pré-estabelecido. E como Bottas não fez feio nos treinos, só andou ganhando elogios, e com isso, deverá alinhar ao lado de Pastor Maldonado no grid do próximo ano. Cabia a Bruno Senna, que acabou escolhido para a vaga pelos patrocínios que trazia, mais do que pelo talento propriamente dito, aproveitar a chance de pilotar um ano em tempo quase integral para lançar-se no mercado e mostrar realmente a que veio para a F-1, uma vez que sua passagem pela pequena Hispania não dava uma base confiável o suficiente de suas capacidades, além de que sua entrada na Renault no ano passado com o campeonato em andamento também não tinha sido o suficiente para uma avaliação precisa de seus dons. Bruno sabia que iria apenas “esquentar o banco” para Bottas. E, se Rubens Barrichello tivesse permanecido no time, como deveria ser mesmo seu último ano na categoria, se corresse, ele não teria tido preocupações com isso. Aliás, atrevo-me a dizer que se ele tivesse ficado, a Williams teria tido um ano melhor do que o que conseguiu. O veterano piloto brasileiro andava no ritmo de Maldonado, na grande maioria das provas, sem contudo se envolver nas constantes confusões do venezuelano, e com certeza teria a chance de encerrar a carreira na F-1 de forma decente, além de ajudar a Williams com sua experiência e capacidade técnica no acerto do carro.
            Bruno mostrou-se um bom piloto, dedicado, técnico, e rápido, mas com certas limitações. Embora mais constante que Maldonado, o brasileiro não conseguiu sobrepujar o venezuelano em um combate direto, com raras exceções. Pior, mostrou-se fraco nas classificações, largando sempre muito atrás, e num ano em que o pelotão intermediário esteve mais equilibrado do que nunca, assim como os ponteiros na primeira metade do certame, isso comprometia duramente as chances finais de um bom resultado ao fim das corridas. Os treinos livres que teve de sacrificar em favor de Bottas cobraram seu preço, e infelizmente, Bruno nunca conseguiu superar esta desvantagem como deveria, criando um ponto fraco que se repetiu por quase todas as ocasiões em que teve de ceder seu carro. E enquanto isso, o venezuelano mostrava-se muito rápido com o carro da Williams, quase sempre indo para o Q3, enquanto o brasileiro quase sempre ficava no Q2, e até mesmo no Q1. A sorte de Maldonado foi vencer na única ocasião em que a oportunidade surgiu, no GP da Espanha. Ali o venezuelano fez seu charme da temporada, e fora desta ocasião, colecionou mais confusões e batidas do que pontos, perdendo apenas para Romain Grossjean, da Lótus, neste sentido. Bruno também teve sua cota de acidentes, mas envolveu-se em menos confusões que Pastor, pontuando com mais regularidade, o que agradava à Williams. Mas, conforme já mencionado, o fato de largar lá atrás condicionava suas pontuações a magros resultados ao fim da maioria das corridas. Seus melhores desempenhos foram na Malásia e na Hungria. Por fim, ainda deu azar com algumas corridas onde o carro da Williams não rendia nada, o que derrubava suas performances, por melhor que pilotasse.
            As opções agora para 2013 reduzem-se a um único cockpit decente: a Force Índia. Mas a escuderia já teria condicionado sua possível contratação a muito patrocínio, estimados em valor de cerca de US$ 20 milhões pela temporada, praticamente o dobro que teria levado de verba para a Williams este ano. O recado é claro: se vier com esta quantia, o lugar fica assegurado. Sem grana, sem carro, e até um outro dia. Se algum outro piloto chegar com mais grana, leva. E a Force Índia, mais do que nunca, está precisando de um piloto pagante: conforme mencionei na coluna da semana passada, a situação financeira de Vijay Mallya está instável, e as finanças do time estão indo para o vinagre junto. A venda de parte do time para o grupo Sahara foi uma tentativa de diminuir as dificuldades, para o time continua precisando fechar as contas para 2013. Nico Hulkenberg está de saída para a Sauber, junto com seus patrocinadores. Paul Di Resta deve ficar, por ser piloto apoiado pela Mercedes, o que significa receber um belo desconto na cobrança dos motores alemães, uma grana economizada de que o time não pode prescindir, e que mesmo assim, não oferece tanto alívio no orçamento. Então, a escuderia está aproveitando para aumentar a conta do assento vago. É a lógica do mercado: se aparecer alguém disposto a pagar o que o time exige, vai levar, mesmo que não tenha as credenciais necessárias para fazer isso valer a pena. Bruno precisava ter feito a diferença na Williams para não ficar apenas na dependência de sua verba financeira para disputar um lugar em outro time. Ele não é um piloto ruim, e já demonstrou qualidades, mas ainda assim, não conseguiu fazer com que apenas isso valesse.
            Não é apenas culpa de Bruno ele não conseguir ser valorizado apenas por seu talento. A F-1 atravessa um momento crítico onde o dinheiro tem sufocado completamente o talento demonstrado pelos pilotos. Para a sorte dos times, tem aparecido talentos com dinheiro nesta equação, o que diminui um pouco a injustiça de se privilegiar apenas o lado financeiro na contratação. Mesmo assim, tem bons pilotos que lamentavelmente ficarão de fora devido a esta exigência brutal da categoria. Quem também está na corda bamba de encerrar sua carreira na categoria é Kamui Kobayashi, que sem ter patrocinadores, está correndo suas últimas provas na Sauber, que já avisou que sem grana o japonês não fica, mesmo sabendo de seu potencial e talento.
            Para boa parte dos “torcedores” brasileiros, se Bruno ficar a pé, o piloto já estaria “indo tarde”, pois na opinião deles, é mais um perdedor, fracassado e medíocre, que inclusive estaria “sujando” o nome Senna. Nada mais do que uma opinião de imbecis na minha ótica: Bruno sempre frisou que nunca seria um novo Ayrton. E boa parte da torcida parece querer não entender isso, preferindo menosprezar e criticar o rapaz por não conseguir “honrar” a memória de seu falecido tio. Mas já falei aqui várias vezes: se o piloto não ganha, o torcedor “comum” no Brasil não dá a mínima bola para o que o sujeito faz, só perdendo tempo mesmo para criticar e desmerecer. Para eles, não adianta Bruno ser um bom piloto, se não ganha, praticamente não serve. Quando Felipe Nasr chegar à F-1, se não estiver no lugar certo na hora certa, podem apostar que será mais um a engrossar a lista de “fracassos” brasileiros na F-1, assim como Luiz Razia. E nada indica que esta postura vá mudar...
            Bruno agora parte para as corridas finais precisando mostrar serviço mais do que nunca, não apenas para valorizar seu passe, mas também para mostrar ao seu time que merecia ficar na escuderia. Mas sua maior corrida passará a ser do lado de fora da pista, tentando achar combustível financeiro para garantir a continuidade de sua carreira na F-1 em 2013. Além de seus apoiadores atuais, vai ter de arranjar outros, ou garantir que os atuais dobrem a verba oferecida atualmente. E isso pode ser complicado de se conseguir.
            Boa sorte a Bruno Senna neste desafio. E ele vai precisar dela...

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