sexta-feira, 9 de novembro de 2012

DUELO A DOIS



            No melhor e mais equilibrado campeonato dos últimos tempos, uma hora a brincadeira ia acabar, e toda aquela bela equiparação de pilotos e times, uma hora ia acabar. Pois bem, a farra acabou mesmo, e a duas corridas do final da temporada de 2012 da Fórmula 1, a briga ficou mesmo restrita a apenas dois nomes: Fernando Alonso e Sebastian Vettel. Dois bicampeões que vão dar tudo por tudo para conquistarem o seu terceiro título. Uma briga que poderia ser ainda mais eletrizante, se ambos estivessem com carros de igual quilate. É nesse ponto que a disputa desanda um pouco, mas ainda assim, permanece em alta consideração.
            Até as férias de agosto, Sebastian Vettel vinha fazendo uma temporada apenas normal: tinha apenas uma vitória no campeonato, e nem era cotado como favorito para a disputa do título. Mas, bastou Adrian Newey descobrir um meio de recuperar a competitividade do modelo RB-08 que o atual bicampeão mundial praticamente renasceu na competição, e com 4 vitórias consecutivas, mostrou que é na reta final que tudo se decide, e no atual momento, é o mais cotado para levar o caneco da temporada, podendo até mesmo fechar a conquista no próximo final de semana, no novíssimo circuito de Austin, no Texas, que marca a volta dos Estados Unidos ao calendário da F-1 depois de vários anos. E o show de pilotagem do jovem alemão da Red Bull domingo passado, em Yas Marina, ainda que tenha tido uma ajuda da sorte com as duas intervenções do Safety Car, carimbaram definitivamente seu crédito de merecimento pelo título de 2012.
            A recuperação de Vettel deve ser medida não pelo carro revigorado da Red Bull, mas pela performance de seu companheiro Mark Webber, que mesmo dispondo do mesmo equipamento, brilhou mais apenas nas classificações, não tendo tido a mesma constância de resultados. Domingo passado, mesmo largando entre os primeiros, não conseguiu aproveitar para tirar vantagem, e depois ainda acabou abandonando depois de um enrosco com outros pilotos na disputa de posições pontuáveis intermediárias. E vale lembrar que o carro da Red Bull, se é considerado o melhor hoje, não pode ser chamado de dominador, como foi no ano passado. E a performance de Webber justifica muito bem essa afirmação, pois o australiano nem de longe está conseguindo se impor como deveria. A continuar assim, 2013 deve mesmo ser sua última temporada na F-1. Mas, o mundo costuma dar voltas, e tudo pode mudar ainda nas provas finais, em Austin, e aqui, em Interlagos, onde muito provavelmente se dará a definição do campeão, esperam todos.
            E é na expectativa de tudo ainda poder acontecer que residem as esperanças de Fernando Alonso. O piloto espanhol vem dando aulas de pilotagem em praticamente todos os GPs da temporada, tirando do modelo F2012 mais do que o carro normalmente pode dar. O carro italiano não é mais aquele chassi horroroso do início do ano, que condenava seus pilotos a ficarem pelo Q2 nas classificações, mas aparentemente chegou ao limite do que pode ser desenvolvido. E quando a base não é das melhores, as chances de aprimorar a performance são sempre mais problemáticas a partir de certo nível. É o que parece estar acontecendo nesta reta final do certame. A Ferrari tem produzido diversas peças para melhorar o comportamento do F2012, mas os resultados não tem sido animadores, com o esforço despendido não tendo sido correspondido à altura na pista. Fosse outro piloto que não Alonso, a conquista do título talvez até já estivesse decidida a esta altura, mas o asturiano vem dando tudo de si e até mais um pouco. Em Abu Dhabi, mais uma vez levou seu carro aonde poderia ser impossível, aproveitando todas as oportunidades que surgiam à sua frente.
            O problema é que Alonso, por mais que pilote, tem seus limites. E para piorar a situação, se em muitas ocasiões na temporada deste ano ele contou com a sorte e azar dos adversários, ele também sofreu alguns azares, com os dois abandonos, na Bélgica e no Japão, que se mostraram cruciais para a perda da vantagem que tentava administrar na reta final da competição. E, se a Ferrari, por mais que se esforce, não consegue fazer o seu F2012 melhorar a olhos vistos, o pessoal da Red Bull também não tem ficado parado, e tem conseguido anular as melhorias de Maranello melhorando o ritmo do RB-08, que com Vettel pilotando como nunca, tem feito a balança pender para o lado do time austríaco. E, para completar o quadro de complicações, Vettel também tem tido sorte nas últimas corridas. Domingo passado, quando precisou largar dos boxes após a furada do time na classificação, parecia que teríamos uma corrida com resultado totalmente favorável a Alonso. Bem, a sorte mudou de lado, e quem saiu realmente vitorioso no domingo acabou sendo Sebastian Vettel. Não admira Fernando Alonso estar com cara de desconsolado em plena comemoração no pódio de Abu Dhabi...
            Austin é uma pista desconhecida, e pode ser palco de surpresas na temporada. Aliás, a prova de Yas Marina, este ano, foi a melhor que o circuito já teve, contrariando as previsões e o histórico da prova, normalmente chata, desde que estreou na competição, em 2009. Tivemos uma corrida agitada, com algumas brigas até boas em todos os pelotões, e pelo menos um acidente que deixou o pessoal assustado, entre uma Mercedes e uma Hispania, felizmente sem nenhum ferido. E, ainda que com atraso, a categoria conheceu seu 8° vencedor diferente no ano: Kimmi Raikkonem, que vinha abatendo na trave na primeira metade do ano, e agora finalmente deu tudo certo para ele e a Lótus, em um momento onde o time já parecia ter ficado sem chances de subir ao degrau mais alto do pódio. Verdade que Lewis Hamilton ganharia com um pé nas costas se não quebrasse, mas quando ele ficou fora de combate, Kimmi estava logo ali para agarrar a oportunidade, e ele ainda sofreu forte pressão no final da prova de Fernando Alonso. Mas o piloto finlandês sempre esteve com tudo sob controle, como ainda fez questão de falar pelo rádio com seu engenheiro, onde Raikkonem só faltou falar expressamente para seu engenheiro calar a boca e deixá-lo guiar sossegado. O fato de assistirmos novamente a corridas com resultados inesperados mostra que o campeonato, mesmo em sua reta final, ainda pode nos surpreender, e se caímos novamente no velho panorama de vermos apenas dois nomes na disputa pelo título nas corridas que faltam, isso não significa que as provas restantes não sejam inesquecíveis.
            Austin é uma pista que parece ser das boas. Todo mundo torce para Hermann Tilke, odiado por 9 entre 10 pilotos da categoria por criar traçados de autódromos totalmente insossos (Yas Marina que o diga...), tenha acertado a mão e repetido o feito de quando criou a pista da Turquia. E o fato de ser um circuito novo pode fazer diferença entre as equipes, podendo surgir alguma surpresa inesperada. E Interlagos é um circuito altamente seletivo, onde também tudo pode acontecer, não sendo possível apontar com exatidão quem vai se dar melhor no circuito paulistano. O problema são os 10 pontos de vantagem que Vettel dispõe sobre Alonso, que podem fazer toda a diferença do mundo.
            Isso nem de longe significa que a Red Bull vai mandar Vettel administrar o resultado, muito pelo contrário: a ordem é ir para o ataque, e fechar a conta o quanto antes. Aliás, muito provavelmente o time das bebidas energéticas já deve fechar a fatura do campeonato de construtores em Austin mesmo. Já a Ferrari ainda está na alça de mira da McLaren na luta pelo vice de equipes, mas o foco principal de Maranello é mesmo o título de pilotos, e é nesse ponto que a tarefa de Alonso é mais dura do que nunca. O espanhol promete lutar até o fim, e nem poderia ser de outro jeito. Mas, diferente de 2010, quando time errou feio na estratégia na corrida final, e entregou o título para Vettel, agora se perder novamente para o alemão, quem terá ficado devendo foi a Ferrari como time, pois dentro da pista, Alonso pilotou como nunca.
            Como no tradicional duelo dos filmes de faraoeste, o palco está armado para o duelo entre os dois protagonistas. E, por mais que tenham mostrado serem merecedores, só poderá haver um ganhador. Não importa quem ganhe, o perdedor vai sair de certa forma até com certa injustiça, pois faz juz tanto quanto o outro ao título. Na melhor das hipóteses, que daqui a duas semanas fiquemos sabendo quem vai levantar taça de campeão de 2012. O duelo pode ter ficado mais restrito, mas nem por isso deixou de ser empolgante e disputado. Fiquem firmes em seus lugares. Ainda tem muito show pela frente, podem apostar...

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