O
circo da Fórmula 1 chegou a Interlagos, etapa final do campeonato deste ano, pronta para assistir à batalha
final de seus contendores ao título. Domingo, nesta pista, sairá um novo
tricampeão mundial da categoria máxima do automobilismo. Fernando Alonso e
Sebastian Vettel, um deles, irá subir um patamar no quadro de campeões da F-1. Foram
os melhores pilotos do ano, em um campeonato que teve uma primeira metade
eletrizante, onde não dava para apontar nenhum favorito, e onde tivemos um número
inédito de vencedores de GPs diferentes para um início de temporada.
Domingo
passado, em Austin, assistimos à volta dos Estados Unidos ao calendário, e o
novo circuito da categoria foi bem recebido por equipes e pilotos, e sobretudo
pelo público amante de automobilismo, tendo mais de 250 mil torcedores em todo
o final de semana. Na pista texana, o embate Vettel X Alonso terminou com ganho
do bicampeão alemão, com sua 2ª colocação na prova, retomando a vantagem de 13
pontos sobre o bicampeão espanhol, que entrará na pista hoje na condição do
tudo ou nada. E, infelizmente, Vettel está com a vantagem sobre Alonso.
Se
no quesito piloto a maioria é unânime em afirmar que Alonso está um pouco acima
de Vettel, pelas suas qualidades de piloto mais completo, o piloto da Red Bull
tem a vantagem de contar com o melhor equipamento. O RB-08 tem sido o carro a
ser batido desde as férias de agosto, embora não exiba um domínio como o visto
no ano passado. Mas tornou-se competitivo o suficiente para Vettel tornar-se o
grande favorito. Prestes a se tornar o mais jovem tricampeão da história da
F-1, Sebastian tem também guiado muito nas últimas corridas, e manteve-se
sempre focado, estando sempre no pódio quando não venceu, como aconteceu em Abu
Dhabi e Estados Unidos. Fernando Alonso, por mais que pilote, chegou ao limite
do F2012. Em condições normais, não tem como tirar a diferença para Vettel. Sua
única chance é apostar no azar do rival, ou em condições anormais de corrida.
É
neste último quesito que o asturiano aposta suas derradeiras chances de
conquistar o título: salvo um problema inesperado, no seco a Red Bull é
favorita, e não haverá como lutar de igual para igual. Mas a previsão do tempo
avisa que teremos chuva no final de semana, muito provavelmente na classificação,
e também na corrida. E nestas condições, a prova pode virar uma loteria. Mas a
chuva pode ser uma faca de dois gumes: se por um lado Fernando Alonso é mestre
em tirar proveito de corridas sob condições inesperadas, como se viu na Malásia
neste ano, não se pode dizer que no piso molhado Vettel será um adversário
menos temível. Basta lembrar de sua antológica vitória em Monza, em 2008,
pilotando uma Toro Rosso. Se a chuva vier de fato, nada impede que a Red Bull
possa também tirar proveito das condições meteorológicas adversas e talvez até
ampliar sua vantagem frente à concorrência.
Da
mesma maneira que, não é por ser uma corrida de chuva que Alonso vai vencer a
tudo e a todos. O espanhol anda bem na chuva, mas dependendo do tipo de chuva,
ninguém é infalível no piso molhado. O próprio Alonso bateu de forma bisonha no
GP do Japão de 2007, disputado sob forte chuva no circuito de Fuji. Alonso
torce para que, no piso molhado, possa pelo menos ter chance mais otimista de
vencer o rival. Mas ele tem de estar preparado também para o caso de acabar
vitimado pelas interpéries, o que não é impossível de acontecer.
Claro
que, desde o início da semana, o espanhol procura sempre dar um jeito de
desestabilizar seu rival. A guerra psicológica vem ficando maior nas últimas
semanas, a ponto de Alonso desdenhar do talento de Vettel pura e simplesmente,
dizendo que seu adversário não é o alemão, mas Adrian Newey, o genial
projetista da Red Bull. Vettel tem procurado se manter indiferente às provocações,
e até agora tem feito bem seu trabalho, colocando sempre mais pressão
justamente no rival, e na própria Ferrari, onde todos estão mais do que nunca
sentindo o peso de possivelmente falhar em mais uma conquista de título, ainda
mais depois do que se viu em 2010, na etapa final, onde um erro de estratégia
praticamente jogou por terra os esforços de conquista do campeonato na corrida
final. O panorama agora é mais desolador, pois Alonso chegou a Interlagos com
13 pontos de desvantagem para Vettel. Tirar estes 13 pontos vai ser complicado,
talvez até impossível. Mas a Ferrari e Alonso não desistirão sem luta, isso
podem apostar.
Vettel,
por sua vez, já está merecendo atenção especial de Christian Horner, o chefe do
time da Red Bull, para manter a calma a qualquer custo. Se a chuva tornar a
corrida uma loteria, será preciso administrar a situação mais do que nunca. O
fato de estar em vantagem na pontuação permite a Sebastian correr apenas
marcando Alonso. Mas o melhor mesmo é partir para o ataque com tudo, e uma 4ª
colocação basta para conquistar o título, não importa em que posição Alonso
chegue. E ainda é preciso considerar a concorrência: Lewis Hamilton vem com
tudo no Brasil para despedir-se da melhor maneira da McLaren, e que ninguém
duvide que o inglês vai se meter na luta pela vitória. Em Austin, Vettel
sucumbiu ao piloto da McLaren, e preferiu não forçar demais na luta pela vitória
na prova estadunidense, procurando garantir a pontuação, até porque estava à
frente de Alonso na prova o tempo todo. Ele pode repetir o plano em Interlagos,
no caso de Hamilton novamente entrar na luta pela vitória.
Claro,
vai depender também de como Ferrari e Red Bull se acertarão em Interlagos. Mas,
pela lógica, tudo indica que a equipe austríaca não deve ter surpresas: o time
venceu aqui nos últimos 3 anos e deve manter sua forma. Na Ferrari, o ponto
fraco, que é a classificação, deverá ditar a estratégia dos italianos para a
corrida. Se forem mal no grid, as primeiras voltas, mais uma vez, se tornarão
cruciais para um bom desempenho de Alonso, que precisará ganhar posições na
marra e rapidamente para tentar um ataque ao rival direto. Mas uma pilotagem
agressiva demais nas primeiras voltas pode ser também uma chance de se envolver
em confusões, e no caso do autódromo paulistano, temos o “S” do Senna logo após
a largada, que pode ser um local potencial para enroscos entre os pilotos. Alonso
não terá opção a não ser partir com tudo e para cima de todos. E o menor erro
pode ser fatal.
E
ainda será preciso considerar como a Ferrari poderá usar Felipe Massa nesta
luta. Domingo passado, o time italiano usou de um artifício totalmente antiético
e antidesportivo, ainda que, legal e permitido, para fazer com que o piloto
espanhol ganhasse uma posição no grid e largasse do lado melhor da pista, o que
foi crucial para sua boa arrancada e posicionamento logo a seguir em obter uma
boa prova diante das circunstâncias. Alguns falam, na pior das hipóteses, em
mandar Massa para cima de Vettel e forçar o abandono de ambos. Exagero? Pode até
ser, mas em se tratando da Ferrari, será que não apelarão para algo extremo
assim? Espero que não, mas falando do time italiano, podem esquecer os escrúpulos
morais para manobras baixas na pista. Não quero dizer que tentarão algo tão
baixo, mas depois do que vimos em Austin, quem pode garantir que não haverá
outra manobra discutível de ponto de vista moral e esportivo? Seria, contudo, o
anticlímax da decisão se algo assim acontecer. O campeonato chegou até aqui
depois de vermos muitas corridas e duelos por vezes memoráveis. O título merece
sair de forma justa, e mais do que tudo, ética e esportiva.
Que
prevaleça a justiça e a esportividade, então. E que vença o melhor. É a batalha
final de 2012, e a F-1 aguarda ansiosa para conhecer seu novo tricampeão
mundial. Todos nós, torcedores, profissionais da imprensa, amantes do esporte,
equipes, aguardamos com ansiedade este momento da luta final de um campeonato
que se mostrou um dos melhores de todos os tempos. Que possa ter um desfecho
digno e à altura do que vimos durante todo o ano...
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