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A
Fórmula 1 chegou aos Estados Unidos, onde estréia o novíssimo circuito de
Austin, no Texas, com o qual pretende, mais uma vez, tentar cativar os
estadunidenses para a categoria máxima do automobilismo. É uma tarefa até certo
ponto inglória, pois os EUA possuem um automobilismo local muito forte, e para
piorar, o estilo elitista/arrogante/prepotente que impregna a F-1 nunca foi do
agrado dos fãs por estas paragens, e isso não é de hoje.
Mas
o dilema do fim de semana é o fato de, pela primeira vez em muitos anos, a
Globo, emissora que detém a exclusividade de transmissão da F-1 no Brasil,
deixar de apresentar uma corrida ao vivo. A culpa é do futebol: a corrida
estadunidense começa às 17 horas de domingo, justamente o horário da emissora
carioca dedicado ao futebol. Certo, o campeonato brasileiro já tem o seu
campeão, o Fluminense, desde domingo passado. Esperava-se que a rodada de
domingo agora definisse o campeão da competição, mas o time carioca encerrou a
fatura antes do que se esperava. Méritos para o Fluminense, que foi o melhor
time de todo o certame, e culpa dos adversários, por permitirem a disparada da
equipe carioca a ponto de ser campeão antes do fim do torneio, mérito também do
sistema de pontos corridos, que premia o time que parte para o ataque desde
logo, e que valoriza o desempenho de todo o campeonato, e não de apenas um
jogo. A decisão era o principal motivo para se deixar a F-1 de lado e firmar pé
no futebol.
E
agora, qual é o motivo? A desgraça palmerense. O verdão está prestes a
despencar para a segunda divisão do campeonato brasileiro no ano que vem, e só
um milagre pode salvá-lo do rebaixamento. Mas, do jeito que o time de Parque
Antártica vem jogando, é difícil acreditar neste milagre, e tudo indica que o
jogo de domingo irá sepultar a queda do Palmeiras para a série B. E é com base
nisso que a Globo norteia a sua decisão de priorizar o futebol, e esquecer,
pelo menos neste domingo, a F-1, que vive um dos campeonatos mais emocionantes
dos últimos tempos. Logicamente, os torcedores do Palmeiras não teriam problema
nenhum em ficar sem ver o jogo fatídico ser transmitido na TV aberta, mas muita
gente está a fim de se deliciar com a desgraça do time paulista, então...
Teoricamente,
não se pode culpar apenas a Globo por tal decisão. A culpa é também da grande
maioria dos torcedores esportivos deste país, para os quais parece não existir
nada mais além de futebol. Mas também não dá para culpar totalmente o torcedor,
pois cada país sempre tem o seu esporte favorito, e quando acontece um embate
de grandes proporções, a TV sempre vai escolher um em detrimento do outro. No
caso do Brasil, se ainda vivêssemos a era de glórias de nossos campeões na F-1,
e um deles estivesse na luta pelo título, ainda teríamos um impasse nas
prioridades da emissora carioca em decidir qual evento seria sacrificado. Mas
do jeito que está a situação de nossos pilotos na categoria máxima do
automobilismo, não houve nem o que discutir. Dá para entender perfeitamente a
lógica da decisão da Globo em passar o futebol, e não a F-1. Portanto, não dá
para agradar a todos, e o futebol, via de regra, sempre foi mais popular neste
país, a tal ponto que o muito brasileiro, se dedicasse a atenção que dá a seu
time de futebol para alguns assuntos realmente sérios, poderíamos ter um país
muitíssimo melhor do que temos atualmente...
O
que se pode criticar a fundo mesmo é a emissora resolver apresentar um VT da
corrida ao fim da noite de domingo, depois do Fantástico. Muitos, inclusive eu,
defendem que a Globo deveria exibir o VT da prova logo após o futebol. O
problema é que aí entra o programa do Faustão, na opinião de muitos, totalmente
dispensável. Mas não, vai ser preciso agüentar Fausto Silva e o Fantástico
antes que muitos fãs possam ver o que aconteceu em Austin. E, com o acesso à
internet, muitos deles já estarão sabendo de tudo o que rolou na corrida a esta
altura. A Globo que não reclame se a audiência for baixa. Nesse ponto, é um
ponto negativo para a emissora carioca e sua política besta de tratar tudo o
que ela não produz ou é dona de “acessório” em sua programação. Se bater de
frente o horário com alguns de seus medalhões, como as novelas, sai de baixo:
nem mesmo o fim do mundo faria a emissora alterar seus horários para exibir
alguma coisa diferente. Ou as produções se ajeitam na sua grande, ou dane-se as
produções. Os produtos globais têm sempre a prioridade, mesmo que sejam os
piores produtos possíveis, como a cretinice do Big Brother, que há mais de uma
década é um câncer que infesta a programação noturna na Globo a cada início de
ano.
Desta
vez, os fãs de automobilismo precisarão recorrer ao SporTV, um dos canais por
assinatura da Globo, que irá transmitir ao vivo a prova estadunidense.
Normalmente o canal pago só transmite ao vivo os treinos livres, ficando de
passar o treino de classificação e a corrida em VT, enquanto estes últimos
passam ao vivo na Globo, em canal aberto. Desta vez, até mesmo o treino
classificatório será exibido ao vivo, embora este treino também seja mostrado
ao vivo pela Globo, no sábado, às 16 horas. A encrenca, como já havia dito,
ficava mesmo para o domingo. O problema aí dos fãs de corridas é que nem todos
têm TV por assinatura, produto que ainda é considerado acessível por poucos
neste país.
Esta
situação não é exatamente novidade, pois em algumas ocasiões passadas, embora
raras, a emissora já deixou a F-1 de lado para transmitir outra coisa. Não
chega a ser a palhaçada que é o tratamento que a Bandeirantes dá à Indy Racing
League, onde nunca sabemos em qual canal a emissora vai transmitir a corrida,
passando do canal aberto para o canal esportivo pago, e vice-versa, sem muitas
vezes definir um horário padrão para quem sabe exibir as corridas em VT no
canal aberto. Devido a essa exibição “roleta russa” que a Bandeirantes faz, e
já não é de hoje, temos como resultado a BMC, empresa que patrocinou Rubens
Barrichello nesta temporada da IRL, reclamar da falta de “retorno comercial”,
pois não houve muita exposição na TV aberta. Claro que não houve. Só houve na
TV fechada, onde sempre que o carro de Barrichello aparecia, lá estava bem
claro e visível a marca BMC. Podem reclamar muito da Globo, mas
estruturalmente, pelo menos na comparação da transmissão da F-1 e da IRL, a
emissora do Jardim Botânico ganha disparado.
Felizmente,
não estarei preocupado com a queda do Palmeiras. Um interesse estará na pista,
não apenas por motivos profissionais, mas por gostar mesmo do automobilismo.
Não vou criticar quem prefere outro esporte, pois todos têm o direito de gostar
do que quiserem, e principalmente, tem também o dever de respeitar quem gosta
de outro esporte. Quem gosta de futebol deve ser respeitado, e o mesmo respeito
deve ser dado àqueles que gostam do automobilismo. Seria muito bom se não
surgissem brigas por causa da disputa de preferência, já que muitas vezes há
fãs que simplesmente não ficam contentes em exercer sua escolha preferencial,
optando por querer impor sua preferência aos outros.
Infelizmente,
não há como ter espaço para todos na TV, e neste momento, a maioria sempre será
levada em consideração, em detrimento da minoria. Uma realidade nua e crua, e
também muito simples...
O GP dos Estados Unidos, no novo Circuito das Américas, marca a volta
da F-1 aos Estados Unidos após 5 anos. A última corrida foi realizada em 2007,
no circuito misto do autódromo de Indianápolis, que recebeu a categoria desde o
ano 2000. Lewis Hamilton, da McLaren, foi o vencedor daquela corrida, e o
campeão de 2008 entrará na pista hoje decidido a ser o vencedor novamente. Mas,
sendo um circuito novo, fica a dúvida de como os times irão se encontrar na
pista. Por mais dados e simulações que tenham feito, encarar a pista e o
traçado reais pode sempre levantar variáveis desconhecidas para os engenheiros
e pilotos. E ninguém pode garantir que não tenhamos surpresas por aqui. Poderão
ser nos treinos, ou mesmo na corrida. E, na melhor temporada da categoria dos
últimos anos, mais surpresas são totalmente bem-vindas. Que Austin nos
presenteie com boas disputas...
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