sexta-feira, 1 de julho de 2011

A GUERRA DOS MOTORES

            Continua a guerra dos motores que serão adotados em breve na F-1. Em recente reunião dos fabricantes atuais com a FIA, chegaram a alguns consensos: ao invés dos motores terem 4 cilindros em linha, voltam os velhos V-6 que eram a configuração mais comum vista na antiga era turbo. E os novos motores serão usados a partir de 2014, e não 2013, como anunciado antes. No que tange às rotações que as novas unidades poderão atingir, ainda não acertaram o tom, mas falam que deve ficar entre os anunciados 12 mil giros e ir até os 16 mil giros. Os atuais V-8 aspirados usados na categoria atingem 18 mil giros, mas já chegaram a atingir as 20 mil rotações, antes que a FIA baixasse uma norma reduzindo os giros por medida de economia, visando que as unidades se tornassem mais duráveis. Nesta última quarta-feira, a entidade emitiu um breve comunicado oficializando as novas especificações.
            Na briga na mesa de negociações, a Ferrari conseguiu pelo menos impor parte de sua vontade: os motores de 4 cilindros nunca foram aprovados por Lucca de Montezemolo, que ameaçava até tirar a escuderia italiana da categoria se eles fossem aprovados. Quem perdeu foi a Renault, única fornecedora de motor da categoria com ares mais “populares”, ao contrário da Mercedes. E como a Cosworth não é uma montadora de carros, meio que fica no empate. Mas, até aí, meio que sem problema: os V-6 turbo já foram utilizados pela F-1, e foi a própria Renault que os criou em 1977, quando estreou na categoria assustando todo mundo com a engenhoca que, diziam na época, nunca funcionaria, pois a potência era desmedida para a confiabilidade do propulsor. Alguns anos depois, os turbos dominariam a F-1...
            Quanto ao adiamento da adoção dos motores, sem muita crise nisso: os fabricantes ganham mais tempo para desenvolver o projeto das unidades. E quanto ao regime de rotações, isso pode ser acertado com alguma facilidade. Fica restando resolver o dilema de tornar a F-1 mais “ecológica”, e neste ponto, recomeçam as discussões entre todo mundo. Se ainda não falaram nada a respeito do combustível, imagina-se que continuarão movidos a gasolina, o que revela um desperdício de oportunidade, pois seria útil adotar o álcool como combustível, a exemplo do que a IRL já faz há algum tempo em seu campeonato. E, no que tange a tornar os motores mais silenciosos, aí o bicho pega, com vozes exaltadas condenando a proposta a torto e a direito, alegando, entre outras coisas, que isso vai “matar” a categoria, “calar” sua voz, tornar as corridas chatas, entre outros inúmeros argumentos, alguns totalmente sem pé nem cabeça se analisados com algum raciocínio. Chegou ao cúmulo de Ron Walker, organizador do GP da Austrália, encabeçar um “levante” das pistas contra a redução do barulho dos propulsores, ameaçando que, se isso for aprovado, quase todo mundo vai se bandear para o campeonato da IRL, com Walker ainda se vangloriando de que a categoria americana aceitaria tudo sem pensar duas vezes. Cada uma que aparece... Será que alguém acredita que todos os circuitos pulariam fora assim? Da mesma forma que a Ferrari ficar dizendo que a F-1 depende dela, quando na verdade, o que ocorre é o contrário...
            Para mim, e isso vale para muita gente também, o que conta numa corrida é a emoção da disputa. O ronco dos motores é algo secundário, e acreditem, para os pilotos, menos barulho dos propulsores roncando em suas costas até seria bem-vindo, pois com menos ruído, os pilotos poderiam se concentrar mais na pilotagem. E os motores, diga-se de passagem, não seriam exatamente “silenciados”, mas teriam seu nível de ruído bem reduzido. Seria menos poluição sonora – sim, isso também existe, e estamos expostos a ela de muitas e variadas formas. Alegar que as pessoas vão aos autódromos ver corridas apenas para ouvir o barulho dos motores é um argumento muito simplista e desligado da realidade: o barulho é parte do show, mas mais barulho não significa que a prova seja melhor, assim como ninguém pode dizer que uma corrida menos ruidosa não tenha emoção. Mas, como há gente de todo tipo neste mundo, e muitos deles ainda por cima adoram barulho, temos de aturar mais esta discussão que a meu ver, é totalmente imbecil.
            Já está mais do que na hora do automobilismo ter um lado mais “verde”, e isso não significa que eu seja um ecochato. Se fosse, batalharia pelo fim das corridas, pois para alguns, todas elas são puro desperdício de combustível e outros materiais. O uso de soluções mais ecológicas não vai matar a F-1, assim como nunca matou nenhuma outra categoria. É uma oportunidade para se utilizar a imensa capacidade técnica dos engenheiros para conceber soluções mais racionais do uso dos recursos empregados, assim como otimizar a equação consumo/potência dos motores. Se vários setores da indústria conseguiram otimizar suas operações (alguns mais, outros menos), porque a F-1 não pode trilhar o mesmo caminho? Parece que muitos destes imbecis que criticam cegamente os ecologistas não se dão conta de que nosso mundo está sendo cada vez mais e mais poluído, e isso deve ser combatido. Não é fácil criar alternativas, mas enquanto a situação não ficar insustentável, parece que muita gente não dá a mínima. Também não significa ser radical na defesa ecológica, mas que mal há em ir adotando, mesmo que progressivamente, metas mais “verdes”?
            Bernie Ecclestone, claro, está do lado do pessoal pró-barulho. Qualquer coisa que ameace seu bolso, mesmo que indiretamente, mexe com os brios do cartola, que aos 80 anos, certamente não parece estar muito aí para as necessidades ecológicas do mundo moderno, afinal, quantos anos ele ainda vai durar por aqui? Mas é preciso tornar as corridas mais econômicas do ponto de vista do consumo de combustível, afinal, os V-8 da categoria consomem uma barbaridade de gasolina para gerar a potência que tem, e olha que até pouco tempo atrás, pode-se dizer que já foram mais beberrões ainda, quando tinha o reabastecimento, recurso que atualmente voltou a ser proibido. Os novos motores podem ser o pontapé para o desenvolvimento de novas tecnologias na área, a menos é claro que certos imbecis não enxerguem as oportunidades que a situação pode gerar.
Empresas com participação em desenvolvimento ecológico, seja ele em qual setor for, ganham pontos de simpatia com o grande público, cada vez mais aliado das necessidades de se diminuir o desperdício e combater a poluição. Mas claro, não são todos que tem esta visão: basta ver a posição da Ferrari, através das declarações de Lucca de Montezemolo, ao alegar que NUNCA  a Ferrari usaria um motor de 4 cilindros em linha. Só me decepciono pelo fato de a Fiat, que é proprietária da Ferrari, não ter dado um corretivo no dirigente depois dessa, pois o desenvolvimento destes novos motores geraria tecnologia útil para os carros de rua da marca, enquanto os compradores de Ferraris poderiam continuar gastando gasosa à vontade, pois isso não faria muita diferença no desenvolvimento da fábrica de Maranello.
            Depois de acompanhar algumas destas discussões, dá até certa satisfação ao ver a Audi, novamente, rejeitar a idéia de entrar na F-1, sem mencionar que algumas das especificações discutidas inicialmente visava atrair a marca alemã para a F-1. Mas a Audi tem outros planos para suas participações em corridas de carros, e vendo a briga de cartolas, equipes e fábricas na categoria, cada um querendo falar mais alto que o outro, pra não mencionar as frescuras do regulamento, entre outras palhaçadas como as que foram tema da coluna passada, a fábrica alemã tem toda a razão de não querer se misturar com esse balaio de gatos.
            Ao querer adotar motores mais econômicos, a FIA, pelo menos, dá uma bola dentro na necessidade de se colocar a par das novas tendências de preservação do meio-ambiente. Por mais imbecilidades que a entidade venha aprontando ultimamente, não vou deixar de aprovar algo que veja como uma medida positiva que ela esteja, enfim, disposta a introduzir. Ainda há um longo caminho até lá, mas o primeiro passo, com a ratificação das novas regras técnicas dos motores, já é um primeiro passo. Espero que ele surta os efeitos benéficos que, teoricamente, se desenvolva a partir daí. É muito fácil, nos dias de hoje, boas idéias serem completamente desvirtuadas ou manipuladas para atender a interesses escusos...

Nenhum comentário: