quarta-feira, 6 de julho de 2011

ARQUIVO PISTA & BOX – JULHO DE 1994 - II

            Seguindo com mais uma de minhas antigas colunas. Esta, escrita logo após o Grande Prêmio da Alemanha de 1994, enfoca um pouco da importância da Ferrari voltar a vencer na Fórmula 1 após o seu mais longo jejum de triunfos na história da categoria, e um pouco de como andava a situação do campeonato. Boa leitura...


FERRARI, AFINAL...

Adriano de Avance Moreno

            Enfim, a Ferrari está de volta às vitórias na F-1. Depois de um monólogo de vitórias da Benetton de Michael Schumacher, o panorama da categoria começa a melhorar. É verdade que o piloto alemão ainda é o favorito único ao título da temporada, mas as coisas agora parecem estar ficando um pouco mais difíceis para Michael.
            O desempenho da Ferrari em Hockeinhein foi uma amostra do que o time vermelho pode render em circuitos de alta-velocidade como Spa-Francorchamps e Monza. O carro da Ferrari ainda precisa de maior estabilidade, é verdade, mas está caminhando neste sentido.
            Na Itália, os tiffosi foram à loucura: há mais de 4 anos que eles não sentiam o gosto de ver uma vitória dos carros vermelhos. Para ser mais exato, 58 GPs, a fase mais magra de triunfos da história da equipe. O triunfo na Alemanha foi merecido, e não há torcida na F-1 como a do time italiano. Não é pra menos que a categoria não seria a mesma sem a presença dos bólidos de Maranello.
            A Williams começa a diminuir também a diferença de performance para a Benetton, e pode dar trabalho. Se na Hungria o traçado favorece a Benetton, por exigir um bom equilíbrio dos carros, há também o porém de ser um circuito travado, e se Damon Hill ou Gerhard Berger pularem na frente, vai ser difícil conseguir ultrapassá-los. A coisa fica ainda mais complicada para Schumacher se levar em conta que o alemão levou um “gancho” de 2 corridas e pode perder aí toda a vantagem que tem sobre Hill. Schumacher correu na Alemanha sob apelação, que será julgada somente no final de agosto. Até lá, ele pode participar dos GPs da Hungria e da Bélgica, mas se não conseguir ampliar novamente sua vantagem na classificação, pode ver suas chances de ser campeão irem para o brejo.
            Os rumores de que a Benetton poderia estar usando equipamentos ilegais como um controle de tração está dando o que falar nos meios da F-1. O mau desempenho do alemão em Hockeinhein reforçou as hipóteses desse fato, mas como não há provas concretas, não se fala no assunto oficialmente. Mas a Benetton está na mira da FIA, e a conduta irregular de Schumacher na Inglaterra deu o pretexto legal que Max Mosley precisava para fazer a entidade cair em cima do time multicolorido.
            O incêndio que surgiu nos boxes do autódromo alemão foi a cena mais apavorante do ano. O temor dos que eram contra o reabastecimento acabou surgindo na prova germânica. Confesso que senti um forte susto quando a Benetton, com Jos Verstappen ainda no cockpit, se incendiou totalmente, em virtude da falta de um pouco mais de cuidado, talvez, de algum dos mecânicos, o que fez escapar um breve jorro de combustível, que pegou fogo imediatamente após atingir as partes quentes do carro. Há rumores de que houve uma falha humana, mas também não se pode dizer que não tenha havido falha do equipamento. Até divulgarem um estudo detalhado, tudo é possível. A FIA foi criticada pela volta do reabastecimento, tendo como argumentos a falta de segurança na operação, que poderia resultar em acidentes como o de Verstappen, que por sorte só teve ferimentos leves, como os mecânicos, graças principalmente aos macacões antifogo. Mas não se pode esquecer que na F-Indy o reabastecimento é utilizado há anos, e no mesmo dia, durante as 500 Milhas de Michigan, o carro do piloto mexicano Adrian Fernandez também pegou fogo nos boxes. Fernandez saiu quase ileso, felizmente, graças à ação rápida dos mecânicos, que estão sempre prontos para agir no caso de isso acontecer.
            Quem está com a razão sobre a segurança ou não do reabastecimento? Na minha opinião, os riscos são inerentes ao procedimento da operação, assim como as corridas têm seus riscos naturais. Não se pode eliminá-los totalmente, apenas minimizá-los.

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