sexta-feira, 15 de julho de 2011

BAGUNÇA PARA TORCEDOR NÃO VER

            O Grande Prêmio da Inglaterra, disputado semana passada, foi o melhor exemplo de como a Federação Internacional de Automobilismo meteu os pés pelas mãos na questão do escapamento aerodinâmico, um recurso criado no ano passado pela equipe Red Bull de F-1, e que agora, está proibido, ou está permitido, dependendo da hora em que a pergunta era feita no paddock de Silverstone semana passada. E um campeonato que, apesar da supremacia de Sebastian Vettel, vinha apresentando corridas cheias de emoção e disputas na pista, salvo raras exceções, acaba de sofrer o seu tradicional golpe de credibilidade que a FIA e a cartolagem da categoria parecem não cansar que querer aplicar entra ano, sai ano. Assim, não tem torcedor que agüente.
            Começamos a sexta-feira com uma regra, terminou-se os treinos com a perspectiva de tudo voltar ao que era antes de Valência, e no sábado, voltou tudo novamente à proibição, com alguns pontos ajustados aqui e ali, mas nada que justificasse a interferência promovida pela entidade máxima do automobilismo no campeonato com seu curso em andamento. E não se deu para ver até que ponto a proibição do difusor aquecido afeta os carros que utilizavam o sistema, devido à presença da chuva, que bagunçou os planos traçados pelas escuderias na sexta-feira, e deixou sua marca no início da corrida no domingo. Mas deu para ver que alguns times sofreram mais do que outros. E a Red Bull, principalmente, parece ter sentido o golpe. O duro é que não foi a única a sofrer.
            Na classificação, os carros rubro-taurinos mostraram que ainda tinham alguma reserva de performance, em que pese o assédio dos carros da Ferrari, que monopolizaram a segunda fila. A McLaren, que sempre teve bons ares em Silverstone, foi batida facilmente por Red Bull e Ferrari. A Mercedes pareceu no seu lugar de sempre, mas a Renault sumiu das primeiras filas. O time, que também usa o escapamento aerodinâmico com um conceito interessante que redireciona os escapamentos para a frente, já vinha apresentando alguma queda de rendimento, mas isso se tornou pronunciado em Silverstone. Já no caso da Ferrari, o novo pacote de modificações introduzido nos carros justamente na etapa britânica acertou em cheio e aparentemente deu uma revigorada na performance dos carros de Maranello. De frisar que os ferraristas ainda tiveram a bênção da chuva que molhou a pista no início da corrida, desobrigando seus pilotos de terem de utilizar os compostos mais duros da Pirelli, com os quais o modelo 150° Italia nunca conseguiu se entender direito.
            E agora, parece que tudo vai voltar a ser como antes de Valência. Aparentemente, todos os times concordaram em rever a proibição, uma vez que a FIA, depois do vai-não-vai de Silverstone, resolveu jogar a responsabilidade para as escuderias, alegando que se houver concordância, o difusor aquecido volta a ser permitido já em Nurburgring semana que vem. Até onde sei, parece que Ferrari, e por tabela a Sauber – que aliás, usa motor Ferrari, estariam contrárias a concordar com a volta do equipamento, e para que isso fosse decidido, seria preciso unanimidade entre todos os times. Até Williams e Hispania, que teriam dado origem a todo o imbróglio, teriam aceitado rever suas posições. Até o fechamento desta coluna, ainda não era possível saber qual seria a decisão final, uma vez que seria feita uma reunião onde todos debateriam o tema a tempo suficiente de se prepararem adequadamente para o GP da Alemanha, que será no próximo final de semana.
            Difícil saber qual será a decisão. Podemos ver o fim do escapamento aerodinâmico, ou na melhor das hipóteses, seu uso ser autorizado até o fim do ano e definitivamente proibido para 2012. Ficou complicado acompanhar a situação no fim de semana passado, especialmente quando se entrou no campo dos percentuais de aceleração necessário dos motores quando não estão em “aceleração”, devido aos mapeamentos eletrônicos dos propulsores. E o torcedor na arquibancada, e através das telas de TV, que quer ver apenas uma corrida na pista, fica sem saber como isso e aquilo pode mudar totalmente o panorama da situação. Confesso que desde que passei a acompanhar a F-1, nunca vi tanta pasmaceira numa tacada só. Depois dessa, confesso que dá uma tremenda saudade da época antes do início dos anos 1990, quando as mudanças de regras eram mais simples, e em menor número. Hoje, além do excesso de regras, elas ainda não tão totalmente claras, e ainda por cima, na ânsia por vezes exagerada de melhorar a competição, mudam diversos parâmetros e estabelecem novas restrições. Com estabilidade nas regras, a própria categoria chegaria a um termo de equilíbrio, com os times se acertando aos poucos. Com as regras mudando a toda hora, não há como se conseguir estabilidade de forças. Nesse cenário, quem tem mais recursos sempre vai continuar na frente, porque mudar tudo a todo momento exige recursos que nem sempre estão disponíveis para todos. Por outro lado, nos últimos tempos, a norma geral de mudança nos regulamentos tem sido mais uma punição para os times mais competentes do que um reconhecimento de sua capacidade.
            Jean Todt está conseguindo fazer com que sintamos saudades de Max Mosley, e pasmem, até de Jean-Marie Balestre, que se nunca primou por ser um amor de figura, pelo menos era coerente e sem firulas e meio-termos. Basta ver como ficou a “novela” sobre o GP do Bahrein este ano, cancelado – oficialmente adiado, inicialmente, devido aos distúrbios que estão conturbando o Oriente Médio, e que até hoje ainda não se acalmaram direito. Primeiro, adiou-se, depois, marcou-se uma data, suspendeu de novo, e enfim, foi cancelado de vez neste ano. Devia ter sido cancelado logo de uma vez, e não se falava mais nisso. Ficaram na expectativa fãs, equipes, e imprensa especializada.
            O pior de tudo isso é que os fãs parecem ter uma paciência de monge para tanta palhaçada que vem acontecendo na categoria. Muitos dizem-se desiludidos, descrentes, de saco cheio, e outros termos, mas a audiência da F-1 continua em altos níveis, e os circuitos, apesar de tudo, têm tido bons públicos. Não se pode culpar os fãs totalmente, afinal, as corridas este ano tem sido muito boas, e o público que gosta de velocidade quer ver mais disputas do que nunca. O que não merecem, e não podem ficar aceitando, são estas mudanças meio sem pé nem cabeça, regras dúbias de interpretação dos regulamentos técnicos, e outros pormenores que servem de combustível para atitudes como o que se viu nas últimas semanas a respeito de um equipamento dos carros.
            Mais transparência, menos regras esdrúxulas. E deixem o pau comer solto na pista entre pilotos e equipes. O torcedor quer e merece mais respeito. O torcedor não paga para ver bagunça como a do último final de semana dentro do paddock...


Luís Fernando Ramos, em matéria para o jornal esportivo “Lance”, deu um bom motivo plausível para os times se unirem, e manterem o difusor aquecido até o fim do ano: a renovação do Pacto de Concórdia no ano que vem. Se os times mostrarem união, terão certamente mais força na renegociação de divisão de lucros que a F-1 gera, que atualmente ficam com pouco menos que a metade, enquanto o grosso vai para a FOM (e Bernie Ecclestone). Um racha no seio dos times a esta altura só os enfraqueceria na mesa de negociações, onde seus desentendimentos minariam sua força de barganha. Ecclestone, que não é bobo, não perderia a chance de aproveitar a oportunidade para incentivar as rivalidades entre as escuderias. Ferrari e Sauber, que até o momento seriam os entraves para permitir que os escapamentos aerodinâmicos continuem sendo usados, poderiam aceitar recuar agora para ganhar mais numa redivisão dos lucros da categoria a curto prazo. Não deixa de ser uma hipótese provável e plausível. Resta saber se a Ferrari irá abrir mão de uma provável chance de ganhar este campeonato para pensar na F-1 como um todo. Voltando as regras antigas, recuperaria-se parte da credibilidade perdida no episódio. Mas provavelmente a Red Bull voltaria a dominar com mais facilidade. O que irá realmente acontecer?

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