sexta-feira, 8 de julho de 2011

AMBIENTE QUENTE EM SILVERSTONE

 
            Chegamos à vez do Grande Prêmio da Inglaterra, uma das minhas corridas preferidas no campeonato, especialmente por ser em Silverstone, onde a F-1 praticamente nasceu no dia 13 de maio de 1950, com a disputa de seu primeiro GP, vencido por Giuseppe “Nino” Farina, que foi também o pole da primeira prova, e também o primeiro campeão mundial da nova categoria. E este ano, a tradicional visita ao mais famoso autódromo das ilhas britânicas tem um charme especial, pela estréia da nova área de paddock e boxes, situada praticamente do outro lado da pista em relação às instalações usadas até o ano passado. O novo complexo agora fica situado entre as curvas Club e Abbey, e as curvas da pista foram todas renumeradas a partir da “nova” reta dos boxes. A Copse, que era a curva “1” até o ano passado, agora passa a ser a curva “9”. Em alguns aspectos, vai ser quase como estar em um circuito totalmente diferente, dependendo do ângulo de visão do traçado.
            Mais do que as novas instalações de Silverstone, a presença do GP da Inglaterra de F-1 nesta pista é uma vitória do BRDC, que nos últimos tempos travou uma bela batalha com Bernie Ecclestone para manter o GP neste circuito. Bernie, como de costume, queria impor mais um de seus contratos leoninos de GP, arrancando mais dinheiro dos promotores. Conseguiu “tirar” a corrida de F-1 daqui, anunciando levá-la para Donington Park, que passaria por uma reforma geral para sediar o GP, em um contrato que atenderia às sanhas financeiras de Ecclestone. Mas o tiro saiu pela culatra, os novos donos de Donington não conseguiram arrumar as verbas necessárias para promover as reformas, e Bernie teve de aceitar, a contragosto, dizem, renegociar a volta da F-1 a Silverstone, em um novo e longo contrato que vai até meados da próxima década. E o BRDC, com Damon Hill à frente, iniciou então as obras de atualização e revitalização de Silverstone, que nunca foi uma pista com infraestrutura das piores, claro, mas agora, com o novo complexo de paddock e boxes, o autódromo inglês pode se equiparar, em estrutura, à todas as melhores instalações já construídas nos últimos anos em autódromos pelo mundo afora. E o melhor de tudo: sem descaracterizar a pista com “intervenções” de Hermann Tilke, que “arruinou”, por exemplo, o autódromo de Hockeinhein na Alemanha, fazendo a pista perder suas longas retas dentro da Floresta Negra, e deixando o circuito sem charme e insosso.
            Silverstone continua uma pista de alta velocidade, e o novo traçado, a rigor, já é conhecido desde o ano passado, com mudanças que respeitaram as características da pista, e ainda com o ponto positivo de o antigo traçado ainda continuar lá. Aliás, uma das maiores virtudes da reforma foi preservar os “traçados” existentes dentro de Silverstone, oferecendo opções de se criar traçados diferentes dependendo do tipo de prova que vier a acontecer neste autódromo, que passa a oferecer, a partir de agora, também uma estrutura destinada a eventos diversos, ampliando o leque de opções comerciais da pista. A idéia é fazer Silverstone se tornar um “complexo”, não apenas para atividades de automobilismo, mas para realizar outras atividades, e isso sem que uma interfira na outra, o que é melhor ainda.
            Só gostaria que o ambiente na primeira visita da F-1 ao “novo” Silverstone fosse mais tranqüila: o ambiente da categoria, aliás, está bem pesado, e pode-se dizer que o clima no paddock está bem quente, e não me refiro à temperatura, que para os padrões brasileiros, até que está frio (algo em torno dos 18° nos melhores momentos). Hoje, quando os carros entrarem na pista para os primeiros treinos livres, estará oficialmente proibido o uso dos difusores “aquecidos”, uma invenção criada por Adrian Newey na Red Bull no ano passado, que utilizava habilmente os gases dos escapamentos para acelerar o fluxo de ar no perfil extrator na parte de trás. O sistema, otimizado por um sistema de gerenciamento eletrônico do motor Renault, ajudava a criar mais pressão aerodinâmica na traseira do carro, aumentando a tração e a eficiência do monoposto. De uma hora para outra, o sistema, considerado “legal” até poucas semanas atrás, passou a ser considerado “ilegal” pela FIA, em uma manobra que ninguém está vendo com bons olhos, e que parece manipulação deslavada da entidade para evitar que a Red Bull, time que melhor utilizava o sistema, e dominava o campeonato, de conquistar o campeonato com muita antecedência. Em Valência, duas semanas atrás, foi proibido a mudança de mapeamento do motor que permitia otimizar o sistema dos gases de escape. Neste fim de semana, todos os carros não poderão mais utilizar os gases dos escapamentos com função de otimização aerodinâmica.
            Fica a dúvida se isso vai funcionar, e em qual intensidade. Em Valência, a Red Bull venceu sem maiores problemas, mas por ser uma pista de rua, não deu para se ter uma idéia se a equipe dos energéticos perdeu algum desempenho ou não. A escuderia alega que o fim da mudança do mapeamento do motor não vai atingi-los, e vive repetindo que, com a proibição dos escapamentos aerodinâmicos, vai sofrer alguma perda, mas não tanta quanto alguns imaginam. Pode ser verdade, mas também pode não ser. O problema é que há outros fatores presentes que podem bagunçar a equação, ajudando a complicar a situação, ou até a manter o atual status de forças do campeonato.
            Um destes fatores é o fato de que não é apenas a Red Bull que está sendo atingida, mas todas as escuderias que utilizam o recurso. McLaren, Renault, Ferrari e Mercedes, só para citar os mais bem colocados na classificação, também usam o sistema, com maior ou menor eficiência, e também vão perder desempenho em seus carros. Fica a dúvida quem vai perder mais, ou menos. Certo mesmo é que todos serão afetados. O grau de mudança ficará para a dependência, maior ou menor, do sistema do escapamento aerodinâmico. E se é verdade que Newey concebeu o sistema e sabe aproveitá-lo da melhor maneira, seria ingenuidade pensar que o projetista já não tenha concebido uma forma de compensar eventual perda do uso do sistema.
            Outro fator que pode pesar no equilíbrio de forças serão os compostos de pneus. A Pirelli trouxe compostos macios e duros para a etapa de Silverstone, e a diferença destes compostos pode gerar comportamentos distintos dependendo do carro. Quem pode se dar mal é a Ferrari, considerada a principal motivadora da proibição do difusor aquecido, por não conseguir igualar a performance dos carros rubro taurinos, e que não se entendeu com os compostos duros na prova de Barcelona, com Alonso terminando praticamente uma volta atrás do vencedor Sebastian Vettel. O comportamento de todos os carros deverá mudar sem o sistema, e não seria difícil imaginar que, por causa disso, a relação dos bólidos com os pneus deverá apresentar anomalias em relação ao comportamento conhecido até aqui. Os treinos livres de hoje serão fundamentais para que os times conheçam o comportamento de seus carros com os pneus nas novas regras.
            A pista de Silverstone, de alta velocidade, também pode influir no equilíbrio de forças. Um carro de boa estabilidade aerodinâmica é essencial para se aproveitar as retas e curvas velozes da pista, e não é por acaso que a Red Bull venceu aqui nos dois últimos anos. O time também se justifica dizendo que seu carro é bom no conjunto completo, e não apenas por uma peça do carro. Se isso for verdade, não há porque não considerar os carros de Vettel e Mark Webber menos favoritos na corrida. E olha que a previsão para o fim de semana ainda inclui chuva, o que pode bagunçar ainda mais as coisas para as escuderias...
            Por outro lado, o clima deve ficar bem mais quente se a Red Bull perder muito mais do que se imagina. O campeonato, apesar da monotonia de vitórias de Vettel, estava sendo recheado de corridas empolgantes até agora, e a F-1 caminhava para uma temporada onde as novas regras adotadas da asa móvel, pneus de duração mais diferenciada, e a volta do kers, estavam dando emoção às corridas. Até a FIA resolver se meter na questão dos difusores aquecidos, que poderiam ser proibidos sim, desde que isso valesse só a partir do ano que vem. Mas não agora, dando a nítida imagem de interferência no andamento do campeonato, e ajudando, novamente, a minar a credibilidade da imagem da F-1. Sem dúvida que a categoria poderia passar sem essa baixaria e patifaria.
            Infelizmente, parece que os cartolas da FIA e da F-1 não conseguem viver sem criar alguma confusão. E os amantes do automobilismo tem que conviver com estas imbecilidades que eles aprontam, infelizmente...

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