sexta-feira, 19 de abril de 2024

DISPUTAS BEM-VINDAS

Jorge Martin manteve a liderança da MotoGP, apesar de não ter subido ao pódio no Circuito das Américas, após travar bons embates com vários adversários na corrida, para delírio do público.

            A temporada 2024 da MotoGP tem saído melhor que a encomenda, pelo menos nestas três provas iniciais da competição. Apesar do amplo favoritismo, a Ducati, apesar de confirmar ser ainda a melhor moto do grid, não está conseguindo impor o seu domínio como muitos esperavam. E temos visto outros atores no palco brilhando de forma inesperada.

            Candidato óbvio ao título, Francesco “Pecco” Bagnaia começou o ano com tudo: venceu a corrida de estréia da temporada, no Qatar, e foi 4º colocado na prova Sprint de Losail, resultado que repetiu na prova curta em Portimão. Mas, na corrida principal, um incidente com Marc Márquez acabou com a corrida do bicampeão, que amargou seu primeiro abandono em 2024. Nada de pânico, essas coisas podem acontecer. O que não pode é deixar virar rotina. Já no Circuito das Américas, o campeão reinante teve um desempenho modesto, sendo apenas 8º na prova Sprint, e 5º colocado na corrida principal, em um fim de semana onde ficou atrás de Enea Bastianini, seu colega de equipe na escuderia oficial de Borgo Panigale. Com isso, Bagnaia acumula “apenas” 50 pontos no campeonato, ocupando a 5ª posição, algo inesperado para quem tinha começado o ano como o grande favorito, em que pese todo mundo saber que haveriam rivais com capacidade para complicar a disputa.

            E o principal rival, todos imaginavam, seria Jorge Martin. Vice-campeão de 2023, o piloto da Pramac, time satélite da Ducati, tenderia a vir mordido para a competição em 2024, ávido por tentar levar o título que perdeu na temporada passada. E “Martinator” vem confirmando as expectativas: venceu a corrida Sprint de Losail, onde foi 3º colocado na prova principal, posições invertidas em Portimão, onde foi 3º na corrida curta, e venceu a prova de domingo. E, em Austin, minimizou eventuais prejuízos com um 3º lugar (Sprint) e 4º lugar (prova principal). Tudo isso colocou “Martinator” na liderança do campeonato, com 80 pontos, ostentando uma vantagem considerável para o vice-líder, Bastianini, do time oficial da Ducati, que tem 59 pontos, 21 de desvantagem para o piloto da Pramac. Um avanço significativo, mas que não ilude o vice-campeão de 2023, ao afirmar que Bagnaia ainda é o principal favorito ao título, procurando não se empolgar demais, e jogando a pressão para o bicampeão, que terá de correr atrás do prejuízo, que já é de 30 pontos. Nada que não possa ser recuperado, já que em 2022 vimos Bagnaia recuperar quase 100 pontos de desvantagem para Fabio Quartararo na briga pelo título daquele ano, e sagrar-se campeão.

Uma largada ruim quase arruinou as chances de Maverick Viñalez, mas o espanhol foi à luta para se recuperar e ainda vencer a corrida.

            Mas não é exatamente a mesma coisa. Bagnaia tinha uma Ducati muito mais competitiva que a Yamaha de Quartararo, que foi levando nas costas a disputa, e perdendo na reta final, diante da pressão do italiano, e de alguns azares do francês. Em 2024, tanto Bagnaia quanto Martin possuem o mesmo equipamento, a Desmosédici GP24, sendo a única diferença a estrutura maior do time oficial da Ducati em relação à Pramac. E o espanhol, de desafiante, virou a caça. Bagnaia ainda tem tudo para reverter a situação, mas a parada promete ser dura, e não dá para contar com azares ou erros do espanhol, que parece ter aprendido com os percalços que o fizeram perder a briga pelo título em 2023, e que foram importantes lições a serem compreendidas para evitar repetir a mesma situação este ano. Além disso, o atual bicampeão terá que lidar com a competição mais acirrada de outros rivais.

            O primeiro deles é Enea Bastianini, que no ano passado ficou fora de combate devido a um acidente sofrido na primeira etapa, que impactou seu rendimento pelo resto da temporada, conseguindo mostrar sua capacidade em raros momentos, quando Bagnaia já estava disparado na briga pelo título com um surpreendente Jorge Martin. A Ducati foi compreensiva com Bastianini, sabendo dos problemas que seu piloto enfrentou, mantendo seu contrato de dois anos, apesar das especulações de uma possível troca que seria feita com Martin e a Pramac com Enea, que não se consumou. Mas, com Bagnaia já de contrato renovado com a equipe de fábrica, Bastianini precisa se garantir, e sem ter os mesmos percalços de 2023, está indo à luta como se esperava. Ele ainda não venceu, mas já acumula dois pódios, e neste momento, ocupa a vice-liderança na classificação, à frente do atual companheiro e bicampeão Bagnaia, que é o 5º colocado. E ele não querer dar mole na pista, se quiser manter seu lugar na escuderia, que é mais do que visado por Martin desde o ano retrasado. Por isso mesmo, “Pecco” terá no compatriota um rival que tem tudo para lhe dar tanto trabalho quanto Jorge Martin, especialmente porque seu lugar está em jogo, portanto, será cada um por si na pista, desde que não arrumem confusão desnecessária.

Pedro Acosta já é a sensação da temporada, conquistando dois pódios consecutivos, e liderando um GP pela primeira vez (acima). Já Marc Márquez (abaixo) está voltando a disputar as primeiras posições com a Gresini, e brigou pela vitória em Austin, até cair sozinho após assumir a liderança.


            Outro rival, este um pouco mais inesperado, pode ser Maverick Viñalez. O piloto da Aprilia já venceu duas sprints, e ainda arrancou uma vitória espetacular em Austin, depois de cair para o meio do pelotão após largar na pole da prova principal. O feito levou o espanhol à 3ª posição na tabela, com 56 pontos, e ao feito de ser o primeiro piloto na era da MotoGP a vencer corridas por três marcas diferentes, tendo triunfado com a Suzuki, Yamaha, e agora com a Aprilia. Saído em baixa da Yamaha, Viñalez tem agora a oportunidade de recuperar sua imagem na competição, com uma Aprilia mais forte do que todos imaginavam, e que pode entrar firme na briga pelo título, diante da performance vista no Circuito das Américas. Maverick falhou na largada, perdendo várias posições, e precisou recuperar tudo na pista, até alcançar novamente a liderança, e receber a bandeirada depois de uma luta renhida nas voltas finais.

            O resultado da corrida no Circuito das Américas, contudo, precisa ser visto com cuidado. Não que a vitória de Maverick Viñalez seja indesejada, mas no ano passado, vimos justamente naquele circuito uma vitória firme com um desempenho mais do que positivo de Álex Rins, com a equipe LCR, time satélite da Honda, que teve ali sua única vitória em toda a temporada, na qual esteve longe de conseguir repetir o mesmo desempenho visto com o piloto na pista do Texas. Rins tinha feito uma boa corrida Sprint, e na prova principal, no domingo, não apenas repetiu a boa forma, como ainda venceu a corrida, mesmo que aproveitando-se de erros dos adversários. Só que foi o único momento de nota da Honda em todo o ano, que depois só ocupou o noticiário pela perda de Marc Márquez para a temporada deste ano, preferindo arriscar-se com um time satélite da Ducati do que permanecer com a marca nipônica, que mostrava-se perdida e sem perspectivas de melhora a curto prazo.

            Seria ruim termos uma repetição deste panorama, pois a entrada da Aprilia numa briga por vitórias seria boa para o campeonato, trazendo mais imprevisibilidade e disputas pelas melhores posições. E há outro ponto a se enfatizar de uma melhora da Aprilia: Aleix Spargaró até agora ainda não se achou na temporada, mas foi ele o piloto a obter os melhores resultados da marca italiana nos últimos dois anos, inclusive obtendo as vitórias da equipe. Estando 30 pontos atrás de Viñalez, ele ainda pode vir para cima, ajudando a engrossar o bolo das disputas na temporada, se a Aprilia continuar com a boa forma exibida nos Estados Unidos, mas que já tinha sido vista em parte em Portugal, onde Maverick só não terminou melhor porque enfrentou uma quebra da moto na corrida principal.

            Na pista, Marc Márquez é outro nome que vem demonstrando a velha classe que o levou a conquistar seis títulos na classe rainha, e só não venceu em Austin porque acabou caindo logo após assumir a liderança. Verdade que ainda faltava boa parte da corrida, mas o modo como a “Formiga Atômica” vai ficando mais íntimo da Desmosédici indica que ele fez um acordo certeiro com a Gresini para a temporada 2024, mesmo dispondo de uma moto 2023. Marc, mesmo ainda se entrosando à escuderia, já começou a deixar o irmão caçula Álex, que já tem um ano de casa no time, comendo poeira na pista, sendo que o hexacampeão ainda fala em estar descobrindo os limites da moto, além de ter deixar para trás certos hábitos de pilotagem oriundos de seu tempo na Honda, que não são exatamente bem aplicáveis à moto italiana. E seu objetivo principal era, acima de tudo, confirmar se ainda era competitivo, depois de todos os percalços das últimas temporadas, e da queda brutal de desempenho da Honda na competição. Ao que parece, Marc ainda conserva boa parte do talento e capacidade que o fizeram ser o grande destaque da MotoGP na década passada, e tem tudo para voltar às vitórias, e quem sabe, à luta pelo título. Se lembrarmos que a Gresini quase disputou o título em 2022 com Enea Bastianini, nada impede que Márquez repita o mesmo feito, assim que se encaixar melhor com a moto italiana. Subestimar a “Formiga Atômica” é um erro que não pode ser cometido, e os rivais que abram o olho. O enrosco com Bagnaia em Portimão foi um incidente aparentemente isolado, mas que pode ser o prenúncio de novos duelos em futuro mais do que próximo. Mas, estamos vendo que faltava mesmo era equipamento para Marc Márquez voltar a dar seus shows na competição.

Enea Bastianini (acima) voltou à velha forma, e é o vice-líder do campeonato. Já Luca Marini (abaixo) paga os pecados com uma Honda irreconhecível em Austin, depois de uma vitória em 2023 com Álex Rins ali.


            A resposta fica ainda mais contundente se virmos como a Honda se portou em Austin: terminou em última na pista com Luca Marini, numa distante 17ª posição, sendo que seus outros pilotos ou caíram, ou abandonaram a corrida com problemas, sem conseguirem em nenhum momento saírem do fundo do pelotão, indicando que o momento atual da marca da asa dourada é bem deprimente, em nada lembrando os tempos de domínio vislumbrados com Marc Márquez ao volante da moto nipônica. Sua arquirrival Yamaha também enfrenta problemas, mas está um pouco melhor na competição, ainda que esteja longe dos dias de glória que já desfrutou em tempos recentes. As duas marcas vão ter muito trabalho pela frente para voltarem a disputar as primeiras posições no grid e nas corridas, tendo que se contentarem no momento com o papel de meras coadjuvantes.

            Mas enquanto Honda e Yamaha negam fogo nas expectativas de voltarem a brigar como protagonistas, a grande sensação deste início de temporada é sem sombra de dúvidas o espanhol Pedro Acosta, a grande aposta da KTM, que chegou a colocar seu contratado Pol Spargaró, que tinha contrato para defender a equipe satélite Tech3 este ano, na geladeira, a fim de não perder o jovem talento para a concorrência. Apesar do modo pouco ético que foi afastar um de seus pilotos com contrato assegurado, o desempenho de Acosta nestas três primeiras etapas vem causando um tremendo frisson, e justificando a atitude da marca austríaca. Acosta já chegou até a liderar corrida, e faturou em Austin seu segundo pódio consecutivo, depois de também ter sido 3º colocado na etapa anterior, em Portimão, Portugal. Mesmo correndo pelo time satélite da KTM, a Tech3, que usa a marca Gasgas, Acosta já deixou a dupla titular do time oficial de fábrica para trás na classificação, ocupando a 4ª colocação, com 54 pontos. Brad Binder é o 6º colocado, com 49 pontos, e Jack Miller o 10º, com 22 pontos. Miller, aliás, já viu que está na marca do pênalti no time austríaco, prevendo que a nova promessa Acosta irá ocupar seu lugar em 2025. Houve até quem afirmasse que isso iria acontecer já nesta temporada, mas a própria KTM tratou de desmentir tal fato, dizendo que ali as coisas não acontecem desse jeito, dando uma clara alfinetada na compatriota Red Bull na F-1, onde Helmut Marko, em seus dias de mau humor, não hesita em sacar seus pilotos a torto e a direito, se sentir que eles não dão retorno.

"Pecco" Bagnaia quer o tricampeonato, mas vai ter de ralar na pista para superar os adversários, que tem outras idéias.

            Mas o fato é que a estréia acima das expectativas do novato mexeu com os brios da KTM, a ponto de surgirem rumores de que a marca pode trocar toda a sua dupla de pilotos do time de fábrica para 2025, indicando que Brad Binder também não estaria rendendo tudo o que pode, diante do desempenho surpreendente de Acosta com uma moto do time satélite da marca austríaca. Se a situação de Miller já é complicada, Binder ficaria também a pé para o próximo ano, se a KTM resolver mudar seus ares.

            Mas isso é algo que irá ter foco para 2025, e no momento, a atenção é para a disputa do título de 2024, e a MotoGP começou bem seu ano, oferecendo imprevisibilidade e emoção, apesar de uma expectativa de domínio que é real, mas que não tem conseguido se materializar como se esperava, pelo menos por enquanto. Quando isso irá acontecer não se sabe, mas até lá, os fãs seguirão aproveitando os duelos e pegas que a classe rainha do motociclismo sabe oferecer melhor do que ninguém.

 

 

A Fórmula 1 retorna à China, de onde estava ausente nas últimas quatro temporadas, devido à pandemia da Covid-19, sendo que a última corrida no circuito de Shanghai foi em 2019. Naquela edição, a prova teve dobradinha da equipe Mercedes, com Lewis Hamilton vencendo a corrida, e Valtteri Bottas terminando em 2º lugar, sendo que o finlandês havia largado na pole-position, com Hamilton partindo a seu lado, na primeira fila. O pódio foi completado por Sebastian Vettel, da Ferrari. Hoje, o panorama é bem diferente na categoria máxima do automobilismo. A Ferrari ainda ocupa um papel de desafiante, ainda que tênue, frente a outro time dominador, no caso, a Red Bull, que não deve ter problemas em conquistar uma nova vitória na temporada, e com um pouco de sorte, mais uma dobradinha, dependendo de como os adversários se apresentarem. A prova chinesa terá pela primeira vez um piloto de seu país presente no grid, no caso, Guanyou Zhou, da Sauber, que irá correr pela primeira vez diante de seu público conterrâneo na F-1. Depois de um desempenho pífio após bons treinos livres, a Mercedes afirma que parece ter compreendido melhor o comportamento de seu modelo W15, e espera poder tirar uma melhor performance na etapa chinesa, uma história que já vimos, restando saber se o time alemão mostrará de fato alguma evolução nesta etapa.

 

 

A China, além de voltar ao calendário da competição, também irá estrear as corridas Sprint na temporada 2024, algo que motivou críticas de vários pilotos, diante da necessidade de precisarem ajustar os novos bólidos com efeito-solo ao traçado de Shanghai, onde eles ainda não tiveram chance de correr com o novo regulamento técnico. Haverá apenas um treino livre, e depois, os pilotos já terão de fazer a classificação para a corrida curta, que será neste sábado, com transmissão ao vivo pela TV Bandeirantes, a partir da meia-noite, pelo horário de Brasília. Depois de realizada a prova Sprint, os pilotos ainda terão de realizar a classificação para a corrida de domingo, com largada às 04:00 Hrs. da madrugada, pelo horário de Brasília, também com transmissão ao vivo pela TV Bandeirantes.

A bela pista de Shanghai está de volta ao calendário da F-1.

 

 

Depois do fiasco que foi o Desafio do Milhão, realizado na pista do Thermal Club, na Califórnia, a Indycar retoma seu campeonato com uma etapa de verdade, o GP de Long Beach, prova mais badalada da competição depois das 500 Milhas de Indianápolis, realizada desde 1977 nas ruas do balneário ao sul de Los Angeles, primeiro como etapa da F-1, passando pela F-Indy original, e atualmente como parte do calendário da Indycar. A corrida terá transmissão ao vivo neste domingo a partir das 16:30 Hrs., pela Tv Cultura em TV aberta, e pela ESPN4 na TV por assinatura, além do serviço de streaming Star+. Josef Newgarden venceu a etapa de abertura, em São Petesburgo, e lidera a competição, mais uma vez em busca do sonhado tricampeonato, no qual já bateu na trave duas vezes. Vamos ver se ele consegue repetir o desempenho nas ruas de Long Beach, e manter firme a liderança da competição...

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