sexta-feira, 21 de outubro de 2022

REVIRAVOLTA NA LUTA PELO TÍTULO

Francesco Bagnaia, da Ducati, assumiu a liderança do campeonato da MotoGP na Austrália, e pode ser campeão neste final de semana, na Malásia, desbancando o atual campeão do mundo Fabio Quartararo, da Yamaha.

            A MotoGP iniciou hoje os treinos para o GP da Malásia, na pista de Kuala Lumpur, e a expectativa na luta pelo título mudou de mãos, faltando apenas duas provas para encerrar a temporada 2022. Fabio Quartararo, o atual campeão, da Yamaha, perdeu a liderança da competição domingo passado, na etapa da Austrália, em Phillip Island, e agora caiu para a vice-liderança, com uma diferença de 14 pontos de desvantagem para o novo líder, Francesco Bagnaia, da equipe oficial da Ducati.

            E como desgraça pouca é bobagem, Bagnaia torna-se agora o grande favorito para conquistar o título, podendo até encerrar a contenda já neste domingo, onde bastará marcar mais 11 pontos que o piloto da Yamaha, para levantar a taça, em um momento onde a moto italiana é o melhor equipamento do grid da classe rainha do motociclismo. Quartararo vinha tentando minimizar os prejuízos nas últimas corridas, ciente da desvantagem da moto do time dos três diapasões diante da rival de Bolonha, mas infelizmente teve outra corrida cheia de erros que acabaram levando ao seu abandono, e precipitando a perda da vantagem acumulada durante o ano. Bagnaia já vinha reduzindo a diferença, mas Fabio estava conseguindo impedir um avanço mais dramático do rival. Os erros cometidos nas etapas de Aragón e Phillip Island, entretanto, se mostraram fatais para as pretensões do atual campeão, que contava em poder administrar os resultados para tentar chegar ao bicampeonato, e agora terá de correr atrás do prejuízo, literalmente. E, se tentar reverter a desvantagem para Bagnaia já é uma tarefa complicada, Quartararo ainda tem que se preocupar com Aleix Spargaró, que se encontra 13 pontos atrás, e com o francês da Yamaha na alça de mira.

            Se Bagnaia vencer a corrida, e Quartararo não conseguir chegar ao pódio, a disputa termina com o título do italiano da Ducati, que daria o segundo campeonato à marca de Borgo Panigale desde o solitário título de Casey Stoner em 2007, a única conquista obtida pela Ducati desde sua entrada na MotoGP. Se Francesco for o 2º colocado, Fabio não pode ir além da 7ª posição, mas Aleix Spargaró também não pode vencer a corrida de Kuala Lumpur. O cenário para o fim da temporada parece claro, mas ninguém pode ainda comemorar. Muita coisa ainda pode acontecer, e da mesma forma que o atual campeão se encontra no momento em desvantagem, tudo pode mudar, dependendo do que ocorrer domingo na Malásia. Nada está garantido. E tanto Francesco Bagnaia quanto Fabio Quartararo sabem muito bem disso.

            A temporada de 2022 parecia repetir o cenário de 2021. Apesar de ter a melhor moto do grid, a Ducati parecia não conseguir se entender direito com a nova GP-22, apesar dos excelentes resultados dos testes da pré-temporada, de modo que o desempenho era inconstante nas primeiras provas. Quartararo, contudo, não estava muito melhor que Bagnaia, e quem dava o ar da graça era outro piloto Ducati, Enea Bastianini, que com uma GP-21, a moto do ano passado, surpreendia a todos, e se colocava numa inédita posição de protagonista do campeonato, defendendo o time satélite da Gresini. Um time satélite se sair melhor que o time de fábrica não era algo inédito, bastando lembrar da performance do time da SRT, satélite da Yamaha, sobre o time de fábrica em 2020. Mas será que Bastianini conseguiria manter o ritmo?

            O cenário visto nas primeiras seis provas do ano era de total incerteza, uma vez que performances esperadas não se confirmavam, e surpresas aconteciam. Afinal, nas seis primeiras corridas, tivemos cinco vencedores diferentes, com a Aprilia conseguindo seu primeiro triunfo, e até mesmo a KTM, apesar de um desempenho claudicante, aproveitando para vencer em momentos excepcionais. Quartararo venceu a etapa de Portimão, seguido por Bagnaia em Jerez na etapa seguinte, e o único a repetir um triunfo havia sido Bastianini. Todo mundo estava meio embolado, mas quem iria deslanchar na temporada, todos se perguntavam? Apesar de uma nova vitória de Bagnaia em Mugello, três abandonos do italiano colocavam sua capacidade de ir à luta pelo título em xeque, enquanto Quartararo tratava de ir para a frente, aproveitando também de abandonos de Bastianini, e de uma queda de resultados de Aleix Spargaró a meio da temporada.

Entre quedas e tombos, Bagnaia (acima) teve cinco abandonos no ano, mas iniciou uma recuperação fulminante a partir da etapa da Holanda, enquanto Quartararo (abaixo) tentava conter os prejuízos, mas também acabou sofrendo abandonos que comprometeram sua liderança no campeonato.


            Ao fim da prova da Alemanha, Quartararo tinha 91 pontos de vantagem para Bagnaia, só para exemplificar o avanço que o atual campeão tinha aberto em relação ao agora novo líder do campeonato. Se Aleix Spargaró e a Aprilia eram uma ameaça potencial controlável, capaz de assustar, mas sem ter força para ir além de certo ponto, o problema seria quando a Ducati conseguisse acertar seus ponteiros, e fazer valer seus pontos fortes, o que até então não tinham conseguido realizar a contento na primeira metade do campeonato. Mantido esse panorama, mesmo com um equipamento inferior, mas tendo uma pilotagem fina, e aproveitando todas as oportunidades de pista, Fabio manteria grandes suas chances de chegar ao bicampeonato. E o piloto da Yamaha ainda tinha vencido as etapas da Catalunha e da Alemanha, mostrando que, apesar dos pesares, Quartararo não estava em tanta desvantagem como parecia supor.

            Algumas semanas antes, o campeão do mundo expressava descontentamento com a força da Yamaha perante os rivais, em especial a Ducati, cuja velocidade de reta a fazia uma ameaça muito forte, em especial em circuitos velozes. Mesmo o equilíbrio da moto japonesa, ponto forte da marca em 2021, não seria suficiente para compensar a diferença de performance, com o piloto afirmando que só estava ali na luta pelo título dando tudo de si o tempo todo, algo que não seria possível de manter, se os rivais não tivessem problemas. Curiosamente, depois das vitórias, as críticas do piloto ao desempenho da YZR-M1 desapareceram, até porque o piloto renovou com a escuderia japonesa por mais duas temporadas, no início do mês de junho, depois de algumas indiretas de que poderia seguir novos caminhos na categoria, indicando uma possível troca de equipe.

            O fato é que o desempenho da Yamaha estava mais condicionado aos esforços de pilotagem de Quartararo, do que aos méritos do equipamento, haja visto que Franco Morbidelli, seu colega de time, vinha fazendo uma temporada apagadíssima, mal conseguindo pontuar. A hora que os rivais deixassem de ter problemas, a situação poderia complicar. E foi o que ocorreu. A partir do GP da Holanda, em Assen, a temporada de Fabio começou a desandar. O francês errou na pista de Assen, e sofreu o seu primeiro abandono do ano, enquanto “Pecco” Bagnaia vencia a corrida. O que deveria ser um revés ocasional, contudo, foi virando um pesadelo: Bagnaia engatou uma série de 5 pódios consecutivos, sendo 4 vitórias, onde Quartararo teve que rebolar para impedir o pior, e mesmo assim, de lá para cá, subiu ao pódio apenas mais uma vez, na Áustria, com um 2º lugar. Com uma escalada vertiginosa, enquanto o campeão mundial patinava, a pergunta não era mais se Bagnaia alcançaria Quartararo, mas quando isso aconteceria. O abandono de Fabio em Aragón antecipava o momento crucial, mas ali, Enea Bastianini deu uma ajuda indireta ao campeão mundial vencendo a corrida e deixando Bagnaia em 2º, em u momento onde a Ducati não fez jogo de equipe com seu time satélite para melhorar a posição de seu piloto do time oficial.

Aleix Spargaró, da Aprilia: perigo à vista para Quartararo. Com poucas chances efetivas de título, o italiano quer roubar o vice-campeonato na temporada.

            Se a sorte sorriu novamente para o piloto da Yamaha no Japão, onde Bagnaia errou e acabou abandonando a corrida, a sobrevida de Fabio na dianteira do campeonato infelizmente não foi muito longe. Os novos pódios do italiano na Tailândia e na Austrália recolocaram a disputa do bicampeonato em rota crítica ao Quartararo zerar nos pontos na prova de Buriran, e a um novo abandono em Phillip Island, resultando na situação atual. A pressão cada vez maior dos adversários começou a ser sentida pelo piloto da Yamaha, que como havia avisado lá atrás, não teria como se garantir pilotando no limite o tempo todo. Quando se está no limite, não há espaço para erros, e quando isso acontece, o prejuízo é potencializado. Se no ano passado o piloto da Yamaha conseguiu construir uma vantagem imensa que lhe permitiu administrar com calma a segunda metade do campeonato, frente a uma Ducati que já se mostrava muito superior, este ano a situação ficou insustentável.

            Primeiro, porque em 2021, a vantagem, apesar de grande, não era maior que a deste ano, mas a reação tardia de Bagnaia não permitiu ao piloto da Ducati recuperar toda a desvantagem de Quartararo, que com calma, e uma grande pilotagem, conseguiu impedir a erosão de sua liderança com muito mais competência. E a Yamaha tinha certa versatilidade nas pistas, ajudando a equilibrar um pouco o páreo com as Ducatis. Mas, neste ano, a moto italiana melhorou muito, enquanto a japonesa não acompanhou o mesmo ritmo. Não fosse a demora da equipe italiana em conseguir ajustar devidamente sua GP-22, a situação do atual campeão mundial já teria se complicado muito antes. Isso permitiu a Fabio deslanchar na frente, mas tão logo a Ducati resolveu seus problemas, e Bagnaia passou a pilotar como nunca, deixando de cometer tantos erros nas corridas, ele aproveitou como ninguém para engolir toda a vantagem de Fabio, que aliado ao seus erros e abandonos, acabou por deixa-lo agora na liderança, e em vias de fechar antecipadamente a conquista do título da temporada 2022, colocando Quartararo contra a parede, situação que ele temia ocorrer já há varias etapas, diante do rendimento inferior e dos resultados aquém do esperado, frente a escalada do piloto da Ducati oficial.

            A luta pelo título, entretanto, não está perdida ainda para o piloto da Yamaha. Quartararo, sem nada a perder, passa a jogar agora como franco-atirador, e prometeu ir para cima com tudo. Antes, como liderava a competição, ele mantinha uma postura mais prudente, justamente para evitar correr riscos desnecessários, e se envolver em algum incidente que pudesse complicar a situação e favorecer o rival. E ele até vinha conseguindo manter as coisas sob controle, aproveitando as oportunidades, enquanto os concorrentes se engalfinhavam pelos melhores resultados. Mas, mesmo assim, o azar dos acontecimentos na Espanha e na Austrália acabaram jogando por terra os planos do atual campeão, que agora precisa ir para o ataque, se quiser ter uma chance efetiva de inverter novamente a situação.

            Já Bagnaia deve ir pelo sentido oposto, evitando riscos desnecessários para não sofrer o mesmo destino que já vivenciou em cinco etapas desta temporada. Na Austrália mesmo, o italiano já foi mais contido na luta pela vitória, evitando uma disputa mais acirrada contra Álex Rins, da Suzuki, que surpreendeu e arrebatou uma vitória incrível para ele e seu time, já de despedida da MotoGP. Ele até aceitou perder o 2º lugar para Marc Márquez, já ciente do abandono do rival na corrida, optando por se manter no pódio, o que já lhe daria a liderança na classificação, e uma vantagem razoável na pontuação, que lhe possibilita ter a chance de fechar a disputa já neste final de semana. Porém, se a Ducati se mostrar superior na pista malaia, que ninguém duvide que “Pecco” também partirá para o ataque, visando minar moralmente Quartararo, se assim puder fazê-lo. E a temporada já teve bons momentos de acontecimentos e disputas inesperadas, que podem ajudar a tornar imprevisível a disputa da prova de Sepang.

Não é de hoje que a Yamaha (acima) sofre com a falta de potência de seu motor, mas a moto conseguia se mostrar mais ágil que a rival Ducati (abaixo), o que ajudou Quartararo a ser campeão em 2021, mas este ano a Desmosédici melhorou muito, neutralizando as qualidades da moto japonesa, além de uma pilotagem extremamente inspirada de Bagnaia.


            Com suas longas retas, a pista da Malásia deve ser um prato cheio para a Ducati, que tem o motor mais possante do grid, enquanto Quartararo, ciente da potência inferior de sua Yamaha, vai ter de fazer milagre para tentar compensar a falta de velocidade nas retas com uma melhor estabilidade nas curvas do circuito. Mas o maior problema do atual campeão é que sua luta na pista não está restrita a Bagnaia, mas a diversos outros pilotos que podem complicar seus planos de partir para cima do piloto da equipe de fábrica da Ducati. Aleix Spargaró, da Aprilia, está com o francês na sua alça de mira, e só não está mais perto porque seu time errou bastante no ajuste de sua moto nas etapas do Japão e da Tailândia. Aleix chegou a afirmar que a Aprilia não está à altura de conquistar o título, mas isso não significa que ele não lutará pelo seu melhor resultado na MotoGP de sempre. Se alcançar Bagnaia é tarefa complicada, a meta é desalojar Quartararo da vice-liderança do campeonato. Se a Aprilia não errar novamente, e Aleix conseguir brilhar como espera, o vice-campeonato é uma conquista muito possível, e que coroará a melhor temporada de todos os tempos para a Aprilia na classe rainha do motociclismo.

            Quartararo conseguiu se sobressair em 2021, aproveitando as oportunidades, e capitalizando os bons momentos e performances que conseguiu extrair da Yamaha para chegar ao seu primeiro título mundial. Este ano, a tarefa vai ser bem mais complicada. Se ele conseguir o bicampeonato, será um feito ainda maior do que o seu primeiro título, e uma derrota fragorosa para a Ducati, que tem tudo para ser novamente campeã, e mesmo assim, ainda não pode contar com o resultado antes da hora. Vamos conferir o que acontece neste domingo, e ver se a disputa se encerra, com a vitória da marca italiana depois de 15 anos, ou se a decisão será adiada para a etapa final, em Valência, na Espanha, aumentando ainda mais a ansiedade dos torcedores. A corrida terá transmissão ao vivo a partir das 4:00 Hrs. da manhã deste domingo, pelo canal ESPN4, e pelo sistema de transmissão Star+. E que vença o melhor!

 

 

A F-1 chegou ao Circuito das Américas, em Austin, Texas, nos Estados Unidos, para mais um GP. Com o título já conquistado por Max Verstappen, o duelo agora é pelo vice-campeonato, e obviamente, a Red Bull vai concentrar forças em fazer Sergio Pérez terminar o ano atrás do companheiro de equipe. E Charles LeClerc já vai estar em desvantagem neste GP, pois a Ferrari deve confirmar a troca do motor turbo V-6 do monegasco na prova de domingo, o que acarretaria nova punição de perda de posições no grid, já que o piloto vai para o uso de sua sexta unidade na temporada, com o limite imbecil de apenas três unidades por piloto por ano. O time italiano quer fazer um teste visando aprimorar a durabilidade do propulsor, visando a temporada de 2023. Resta saber se isso não vai prejudicar o duelo de LeClerc com Pérez, que estão em luta direta pelo vice-campeonato, lembrando ainda que a próxima corrida é no México, e lá a Red Bull deve dar ainda mais força para um vitória do mexicano em casa, visando lhe dar vantagem no duelo pelo vice-campeonato.

 

 

Enquanto a cúpula da F-1 e da FIA desdenham da proposta de ingresso da Andretti como nova escuderia no grid da categoria máxima do automobilismo, nos Estados Unidos o nome Andretti recebe o devido respeito pela sua história no automobilismo, e a última curva do Circuito das Américas, que conduz à reta dos boxes, acaba de ser nomeada de Curva Mario Andretti, em homenagem ao piloto que foi o último campeão com a equipe Lotus na F-1, em 1978, e que é venerado como grande lenda do mundo do automobilismo. Uma homenagem mais do que adequada ao veterano ex-piloto, pela sua grande carreira.

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