sexta-feira, 22 de julho de 2022

A REAFIRMAÇÃO DE DIXON

No retorno da Indycar ao Canadá, Scott Dixon retornou ao degrau mais alto do pódio, e igualou a marca de vitórias de Mario Andretti nas categorias Indy.

            Passando por um momento um pouco “mundano” em sua carreira, o neozelandês Scott Dixon mostrou, ao vencer domingo passado o GP de Toronto, pelo campeonato da Indycar, que não está tão “decadente” como alguns poderia insinuar. Mais do que isso, se o triunfo nas ruas do Exihibition Place, em Toronto, marcou a volta da categoria de monopostos dos Estados Unidos ao Canadá, depois de dois anos de ausência por causa da pandemia da Covid-19, foi também um retorno de Dixon ao degrau mais alto do pódio, de onde ele andava ausente há 22 corridas, desde o seu triunfo no GP do Texas de 2021, naquela que foi sua única vitória na temporada do ano passado. Foram 14 meses de jejum, encerrados domingo passado.

            Mas a marca é significativa, por se tratar da 52ª vitória do piloto nas categorias Indy, levando-o a empatar, na segunda posição do ranking unificado, com outra lenda do esporte a motor dos EUA, o ítalo-americano Mario Andretti, que até domingo passado ocupava isoladamente essa posição, perdendo apenas para o recordista absoluto, Anthony Joseph Foyt Jr., ou simplesmente A.J. Foyt, com suas 67 vitórias. E o próprio Mario tratou de parabenizar Scott pelo seu feito, sabendo que o neozelandês deverá assumir a segunda posição no ranking de vitórias de forma isolada, já que ele não tem planos de se aposentar, afirmando que ainda espera competir por mais uns cinco anos na competição, se não mais. E alcançar o número de vitórias de Foyt pode ser complicado, mas não impossível. São 15 triunfos ainda a separar o heptacampeão do hexacampeão, e com cinco temporadas ainda pela frente, se nada de inesperado acontecer, Dixon tem chance de chegar lá, e até de ultrapassar o norte-americano. Mas não será fácil, dado o nível de competitividade da Indycar, onde nos últimos tempos tem sido bem difícil um piloto obter um elevado número de triunfos por temporada.

            Scott Dixon já ocupa posição de destaque na história das categorias Indy, englobando a F-Indy original, e a atual Indycar, onde conquistou nada menos do que seis títulos, perdendo novamente apenas para Foyt, que foi sete vezes campeão na antiga F-Indy. O triunfo obtido em Toronto recoloca Scott na luta pelo título da temporada de 2022. Não que ele não estivesse fazendo um ano propriamente ruim mas, do mesmo modo do ano passado, o neozelandês parecia não ter mais a mesma força para encarar seus companheiros de equipe, começando a entrar em decadência. Não que Dixon nunca tenha sido superado por colegas de time, mas, com a idade avançando mais, e a Indycar se tornando cada vez mais um certame de pilotos jovens, ao contrário da F-Indy de antigamente, onde pilotos mais velhos eram maioria no grid, já se imaginava que seria cada vez mais difícil bater os novos talentos, mesmo no próprio time.

            Afinal, tendo sido superado por seu novo companheiro de equipe, o espanhol Álex Palou, que foi campeão da Indycar no ano passado, tendo vencido apenas uma corrida, enquanto Palou venceu três provas, e onde até outro companheiro de equipe, Marcus Ericsson, venceu mais corridas, começou a se especular se Dixon já havia dado o seu melhor na carreira, aos 41 anos, momento em que muitos pilotos já estão aposentados de certas categorias, em especial de monopostos, dedicando-se a campeonatos menos exigentes. Pelo modo como Palou se integrou rapidamente à Ganassi já em seu primeiro ano na equipe, e sendo campeão da competição, em seu segundo ano disputando a Indycar, muitos apostavam que Álex seria talento diferenciado, o digno e natural sucessor de Dixon na equipe Ganassi, numa passagem do bastão que inevitavelmente aconteceria. E, no início deste ano, até com o triunfo de Ericsson nas 500 Milhas de Indianápolis, e a liderança do campeonato pelo piloto sueco, poderia se afirmar que a escuderia de Chip estava bem servida para o dia em que o neozelandês resolvesse pendurar o capacete, algo que não estaria longe de acontecer. Mas, que piloto, mesmo um grande campeão, não tem seus momentos de “baixa” performance na competição? Ignorar o talento e a experiência de Dixon seria um erro crucial, apesar dos resultados da temporada passada não terem sido os mais brilhantes de seu currículo. Mas, de toda forma, acreditar que a Ganassi já estaria se preparando para a futura saída de Scott também não era algo inesperado. E Palou, e agora Ericsson, davam bons sinais de um futuro de manutenção de glórias para o time do velho Chip.

Com a PacWest, sua estréia na antiga F-Indy, e a conquista da sua primeira vitória, nas 200 Milhas de Nazareth, naquela que foi sua primeira e única vitória fora da equipe Ganassi nas categorias Indy.

            Bem, eis que novos acontecimentos mostraram que ainda era cedo demais não apenas para a equipe subestimar as capacidades do veterano hexacampeão, como também dos planos de seus novos pilotos. Quando resolveu anunciar a permanência de Palou para 2023, eis que Chip Ganassi acabou surpreendido quando seu piloto anunciou que está se transferindo para a McLaren no próximo ano, o que gerou um tremendo mal-estar dentro do time da Ganassi, pela maneira como isso acabou não sendo informado à escuderia que defende atualmente, a ponto de Chip querer o espanhol fora já na corrida do último domingo, e só não levando isso às vias de fato por problemas com os patrocinadores, o que deve ajudar a manter Palou até o fim da temporada, mas encerrando muito brevemente a sua passagem pelo time de Chip, o que impossibilita qualquer chance que o espanhol tinha de ser o legítimo sucessor de Dixon na escuderia. E pode até mesmo comprometer suas chances de tentar o bicampeonato este ano. Mesmo sem ter conseguido vencer este ano, o atual campeão ocupa a 3ª posição no campeonato, com 314 pontos, apenas 7 a mais que Dixon, que ocupa a 5ª posição, com 307. O líder é Marcus Ericsson, com 351 pontos, que vem fazendo uma temporada extremamente regular. Por mais irritado que possa estar com a atitude de seu piloto, Chip Ganassi tem responsabilidades para com os patrocinadores que apoiam o carro Nº 10 do espanhol, mas o clima entre os mecânicos já não será o mesmo no empenho de dar o seu melhor na preparação do carro, pelo modo como Álex desmentiu o time a respeito de sua renovação para 2023. Ericsson e Dixon, que não tem nada com isso, poderão endurecer ainda mais a disputa com o companheiro de time, que já andou se estranhando com Marcus na etapa de Road America, onde uma ultrapassagem forçada do sueco acabou colocando o espanhol fora da pista, arruinando suas chances na prova, e deixando os ânimos de Álex acirrados em relação ao companheiro de time. Pode vir novos atritos por aí, até porque, sabendo que Palou estará em um outro time no próximo ano, Ericsson vai querer mais do que nunca mostrar força numa dividida de posição.

            No meio disso tudo, Scott pode se agigantar no campeonato, e chegar para discutir o título. Restam sete provas na temporada, e nada está decidido, muito pelo contrário. A Penske, com Will Power e Josef Newgarden, vem forte no ano, e tendo mais vitórias até aqui do que a Ganassi. Mas não se pode menosprezar a experiência de Dixon, que se comprovar ter deixado a “má” fase para trás, pode ser o azarão do campeonato, como já ocorreu em outras vezes, e surpreender os rivais. Domingo passado, frente a um Colton Herta que parecia dominante mais uma vez em uma pista de rua, Scott partiu para o ataque logo de cara, superando o piloto da Andretti, e depois administrando a corrida, mantendo um ritmo firme o suficiente para impedir uma reação de Colton, e mostrando ainda ter lenha para queimar na competição. E Chip Ganassi sabe que pode confiar inteiramente em seu piloto, depois de tantos anos, tantos títulos, e tantas vitórias conquistadas com a escuderia.

Com a equipe Chip Ganassi, Scott Dixon estabeleceu uma ligação ímpar, conquistando seis títulos e 51 vitórias, numa história que ainda não acabou, iniciada com o saudoso patrocínio da Target no carro do neozelandês (acima), e atualmente com o apoio do PNC Bank (abaixo).


            Aliás, outro feito incrível de Dixon é que, tirando sua primeira vitória, obtida na antiga F-Indy, no GP de Nazareth, em sua temporada de estréia, em 2001, pela equipe PacWest, todas as demais vitórias do piloto foram conquistadas justamente com a equipe Ganassi, para onde se transferiu a meio da temporada de 2002, ainda na antiga F-Indy, com o colapso da equipe de Bruce McCaw. Com a migração da Ganassi para a então IRL (Indy Racing League), Scott seguiu junto, e está lá até hoje, num exemplo raro de longevidade de um piloto, não apenas nas categorias Indy, mas também em uma mesma equipe no mundo do esporte a motor. E quem conhece Chip Ganassi sabe que ele é um chefe bem exigente. Não por acaso, vários dos pilotos que dividiram o time com o neozelandês desde 2003 ficaram pelo caminho, incapazes de oferecer os resultados exigidos pelo patrão, e de competir no mesmo nível de performance demonstrado pelo agora hexacampeão, que seguiu firme na escuderia por todos estes anos, mesmo depois da perda do patrocínio de longa data da rede de lojas Target, que estava com a Ganassi praticamente desde sua fundação, no início dos anos 1990.

            Este, aliás, é outro ponto no qual Dixon impressiona: ele nunca arrumou confusão com companheiros de equipe. Mesmo nos momentos de maior disputa dentro da Ganassi, em especial com Dario Franchiti, que foi três vezes campeão na escuderia, tendo Scott como companheiro de equipe, o neozelandês nunca se indispôs com ninguém, fosse um companheiro de equipe, ou com o próprio time, num raro caso de profissionalismo que nunca deixou que desavenças ou problemas de disputa na pista comprometessem o bem-estar na escuderia. A fidelidade do piloto à equipe de Chip Ganassi é algo que não se vê todo dia no mundo do esporte a motor.

            Ainda é cedo para dizer se a fase de pouco brilho de Dixon está passando, mas a verdade é que o neozelandês já pode ocupar o posto de 2º maior vencedor de fato, por continuar competindo. A 53ª vitória vai chegar, mais dia, menos dia, fazendo com que Mario Andretti caia para a 3ª posição no ranking de vitórias. E a chance de igualar o número de títulos de A.J. Foyt são melhores, ainda mais se ele conseguir tal feito este ano, tendo então mais cinco temporadas, pela sua meta de competição, para ultrapassar o heptacampeão. Cabe a Scott mostrar, definitivamente, que ainda é muito cedo para apostar em seu ocaso como piloto de monopostos, para azar dos concorrentes.

Álex Palou surpreendeu em seu primeiro ano na Ganassi e foi campeão. Mas desautorizou a equipe na sua renovação para 2023, e anunciou que vai para a McLaren no próximo ano, se "queimando" com Chip Ganassi, que ficou bastante contrariado.

 

 

Para alcançar suas 52 vitórias na antiga F-Indy, Mario Andretti competiu durante 30 anos no certame de monopostos dos Estados Unidos, tendo disputado sua primeira corrida em 1964, e encerrado sua participação ao fim da temporada de 1994, contabilizando um total de 407 corridas. E, nesse meio tempo, Mario ainda participou da F-1, tendo sido campeão na temporada de 1978, no que foi o último título conquistado pela equipe Lotus na categoria máxima do automobilismo. Mesmo quando participou em tempo integral da F-1, Mario ainda disputava algumas provas da F-Indy, quando o calendário assim o permitia. Sua primeira vitória na categoria foi no Hoosier Grand Prix, prova disputada em um circuito chamado Indianapolis Raceway Park (que não tem nada a ver com o Indianapolis Motor Speedway), em 1965. Já sua última vitória na competição foi nas 200 Milhas de Phoenix em 1993. Foram quatro títulos na F-Indy, conquistados nas temporadas de 1965, 1966, 1969, e 1984. Já Dixon disputou até domingo passado, contando tanto a F-Indy quanto a IRL/Indycar, 361 corridas, para alcançar as mesmas 52 vitórias de Mario. Mas em uma estatística, o veterano da família Andretti ainda está muito à frente do neozelandês: pole-positions. Mario atingiu a marca de 65 largadas na frente, enquanto Scott tem “apenas” 32 até o presente momento.

 

 

Apesar da carreira extremamente longa e vitoriosa, um ponto em comum entre Mario Andretti e Scott Dixon é que ambos nunca foram muito vitoriosos nas 500 Milhas de Indianápolis. Mario participou 29 vezes da prova, e apesar de ter conseguido a pole-position em 3 participações (1966, 1967, e 1987), ele venceu apenas uma vez (1969), chegando outras duas vezes em 2º lugar (1981 e 1985), e uma vez em 3º (1965). Já Dixon tem até hoje 20 participações na Indy500, e apesar de ter largado cinco vezes na pole-position (a última pole foi este ano), ele só venceu uma vez (2008), tendo sido 3 vezes 2º colocado (2007, 2012, 2020), e uma vez 3º (2018).

 

 

Contabilizando as temporadas da F-Indy e IRL/Indycar, Scott Dixon ficou sem vencer em apenas dois anos. Em 2002, e 2004. Em todas as demais temporadas de competição nas categorias Indy, o neozelandês venceu sempre pelo menos uma corrida. A temporada de 2008 foi quando ele venceu mais, com seis vitórias, incluída a Indy500, tendo sido o campeão da temporada daquele ano. Já Mario Andretti, por sua vez, teve mais temporadas em que ficou sem vencer. Nos anos de 1964, 1972, 1974, 1975, 1976, 1977, 1979, 1981, 1989, 1990, 1991, 1992, e 1994, Mario ficou longe do degrau mais alto do pódio. A temporada em que venceu mais foi em 1969, com 9 triunfos naquele ano, quando foi campeão, e também venceu a Indy500.

 

 

A Indycar já volta às pistas neste final de semana, e o palco é o circuito oval de Iowa, na única rodada dupla da temporada de 2022, com corrida a ser disputada neste sábado, e no domingo. Amanhã, a corrida terá sua largada às 17 horas, enquanto a prova de domingo começará às 16 horas. Ambas as corridas terão transmissão ao vivo pela TV Cultura em sinal aberto, pela ESPN4 na TV por assinatura, e pela internet, no serviço de streaming Star+.

 

 

 A F-1 chegou a Le Castellet, na França, próximo à costa do Mediterrâneo, para a disputa do Grande Prêmio da França, corrida que pode ser sacada do calendário da categoria máxima do automobilismo na próxima temporada, em virtude dos planos da Liberty Media de ampliar o calendário, tentando acomodar mais corridas. A Ferrari vem embalada para manter sua reação no campeonato, com Charles LeClerc tentando diminuir a vantagem de Max Verstappen na pontuação, mas o time rosso deverá ficar desfalcado na estratégia de corrida devido à punição que Carlos Sainz Jr. deve receber por ter de trocar sua unidade de potência, inutilizada após o estouro na etapa da Áustria, que chegou a levar até mesmo a um incêndio no carro do espanhol. A Red Bull, por sua vez, aparenta preocupação com o crescimento do time italiano, que poderia estar novamente em vantagem, também na pista francesa, que possui bons trechos de reta, onde o carro italiano mostrou ter recuperado velocidade de ponta em relação ao carro do time dos energéticos. E a Mercedes vem com novas atualizações que, segundo o time alemão, pode até colocar seus pilotos na luta pela vitória, o que seria um fator complicador tanto para a Ferrari quanto para a Red Bull, que teriam mais um time com que se preocupar na pista. Para a competição, seria muito bom ver a Mercedes chegar junto à frente, e aumentar a disputa pelas vitórias. A escuderia diz que está compreendendo melhor o seu carro, e que por isso sabe qual caminho pode seguir no seu desenvolvimento, mas ainda é cedo para comemorar, sem saber se o carro irá se comportar bem na pista de Paul Ricard. Vamos ver isso a partir de hoje, com os primeiros treinos oficiais.

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