sexta-feira, 2 de agosto de 2019

ERROS E ACERTOS

Disputado com uma chuva intermitente, a corrida da Alemanha teve muita disputa e foi imprevisível até o fim.

            No que pode ter sido a despedida da pista de Hockeinhein do calendário da Fórmula 1 (a prova não está garantida para 2020, e pode não ter o GP, diante das dificuldades financeiras de se bancar a corrida), eis que a chuva voltou ao circuito alemão ao lado da Floresta Negra para nos presentear com a corrida mais maluca do ano até aqui, onde teve de tudo um pouco, e com algumas surpresas bem agradáveis, mantendo uma escrita de três provas bem movimentadas na categoria, desde a prova da Áustria, o que tem lavado a alma do torcedor, depois de algumas corridas enfadonhas no campeonato deste ano, que já estavam dando nos nervos de quem queria ver ação e briga na pista, e ainda tendo de engolir aquela punição que roubou a vitória de Sebastian Vettel no Canadá. E, hoje, com o início dos treinos para o Grande Prêmio da Hungria, no já conhecido circuito de Hungaroring, a pergunta é se a prova húngara nos mostrará outra prova agitada. E não é preciso ser adivinho para saber que todo mundo quer outra corrida bem maluca no domingo. E que alguns estariam até aprendendo a fazer a dança da chuva em algum canto escondido do paddock, para garantir a presença de São Pedro em mais um fim de semana de GP. Espero que façam direito as lições para trazer água para esta corrida.
            No final de semana passado, tínhamos uma expectativa de alguma ação para a corrida, com a previsão do tempo garantindo que teríamos chuva em algum momento. A Ferrari até que começou os treinos bem, com tempos expressivos, e dando novamente a sensação de que poderia dar um suadouro na Mercedes. No time rosso, o foco estava voltado para Vettel, por razões não muito agradáveis. Afinal, fora ali naquela pista que no ano passado ele acabou errando e batendo enquanto liderava a prova, sucumbindo às armadilhas do piso molhado, e dando início a uma fase de zica que teimava em não passar, como havíamos visto no erro grotesco da pancada que o alemão deu em Max Verstappen em Silverstone, que acabou com sua corrida. Um novo erro em casa poderia ser catastrófico. E o desastre veio, mas não pelas mãos de Sebastian, mas da Ferrari, que viu as boas chances de sua dupla de pilotos largarem bem no grid irem a nocaute mais rápido do que esperavam, com Vettel condenado à última colocação por um problema mecânico, e depois, no Q3, Charles LeClerc também tendo suas agruras. Depois dessa, alguém precisaria falar para a Ferrari se benzer, no sentido literal da palavra.
Charles LeClerc ficou inconformado com sua batida, após sair da pista.
            Mas eis que São Pedro finalmente deu as caras no domingo, e para variar, com um chove-e-pára perfeito para bagunçar o coreto de engenheiros estrategistas, situação que os times, acostumados a controlarem tudo, mais detestam. Ao menos, a direção de corrida fez algo correto: mandou os carros darem algumas voltas, mas fez a largada com o grid parado. Todo mundo já estava com aquele ar de desapontamento esperando por uma largada em movimento, pela preocupação excessiva com a segurança, visto nos últimos tempos. Todo mundo largou, e apesar de um aperto ou outro, todos passaram incólumes pela primeira curva. E piso molhado, como costumam dizer, separam os homens dos meninos, mas isso não é bem uma verdade absoluta. Se é correto afirmar que corridas com piso molhado costumam equilibrar as performances daqueles que possuem mais talento, nem sempre os pilotos costumam conseguir aproveitar isso conforme suas reputações indiquem.
            Que o diga Lewis Hamilton, que apesar de comandar boa parte da corrida, viu sua estratégia com os pneus dar “tilt” com o para-e-chove, e ainda por cima, escorregando, saindo da pista, e batendo de leve o carro. E justo o inglês, considerado um dos ases da chuva no molhado do grid atual. Hamilton conseguiu ir para os boxes, cortando parte da entrada dos boxes, e pegou todo o time da Mercedes de calças arriadas, sem esperar por sua chegada. O time prateado, que tem dado amostras de precisão e sincronia em várias corridas, estava mais perdido que cego em tiroteio, com seus mecânicos precisando correr atrás dos pneus, enquanto trocavam o bico avariado de seu monoposto, fazendo-o perder muito tempo.. Como desgraça pouca é bobagem, a entrada irregular nos boxes gerou uma punição para o inglês, que na parada seguinte, o fez cair para último na pista.
            Não era mesmo o dia do inglês, e muito menos o da Mercedes, que viu Valtteri Bottas bater seu carro nas voltas finais, quando lutava por um lugar no pódio. O time que costumava acertar em tudo teve um dia cheio de erros, de seus pilotos ao time propriamente dito. Muita gente tirou um sarro danado da Mercedes, até com comentários depreciativos, como se o time tivesse esquecido como é competir em uma corrida. Menos, pessoal... Todo mundo tem seu dia ruim, e apesar do fim de semana para esquecer em Hockeinhen, os rumos do campeonato, dominado pela Mercedes, não mudaram só porque os prateados foram mal no circuito alemão.
Tradicionalmente um dos melhores pilotos em pista molhada do grid, Lewis Hamilton não teve um bom dia na Alemanha, escapando no mesmo local que Charles LeClerc, e até mesmo Nico Hulkenberg.
            E lembram daquele ditado que diz que “um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”? Bom, para começar, ele é cientificamente falso, mas em termos de aplicações causídicas, também vale. Quando apareceu nos monitores da sala de imprensa um carro da Ferrari saindo da pista e acertando uma barreira de pneus com uma placa por cima, todo mundo levou um susto com a expressão “De novo?!!” de forma quase incrédula. Será que pelo segundo ano consecutivo a Ferrari veria seu piloto cometer tal barbaridade idêntica na pista molhada? Bem, sim, e não. Quem acabou escapando da pista e batendo foi LeClerc, e não Vettel, o que deu um certo alívio em todo mundo quando viu que o monegasco era o autor da pancada. Seria mais um prego e tanto no caixão de Sebastian Vettel se ele cometesse tal barbeiragem por dois anos consecutivos na mesma pista, do jeito que anda o inferno astral do piloto.
            O triunfo da corrida foi para Max Verstappen, que também quase teve tudo a perder, quando deu uma forte rodada de 360º em determinado momento da corrida, quando perdeu o controle do carro no piso molhado. Mas ele deu sorte do carro não sair da pista praticamente, e foi só recolocar o carro no rumo certo, e continuar acelerando. Podia ter acabado tudo ali para ele. E, golpe de sorte por golpe de sorte, isso não desmerece nem um pouco sua brilhante performance no restante da prova. E isso não era mérito apenas do holandês. Todo mundo estava tendo, a seu modo, sua cota de erros e acertos. Era tentar não dar azar nos erros, e capitalizar nos acertos. Com algumas entradas do Safety Car para tirar alguns carros acidentados da beira da pista, eis que nas voltas finais tínhamos até Daniil Kvyat em 2º lugar, tendo superado Lance Stroll, que ficava em 3º, com Carlos Sainz Jr. em um ótimo 4º lugar. Mas eis que aí surgiu ele, Vettel, um sobrevivente naquele caos maluco, mas também com muitos méritos de não ter cometido erros na pista, vindo a toda para tentar a redenção. E ele conseguiu, alcançando o 2º lugar, e até tentando forçar Verstappen a um erro, o que não ocorreu.
            E assim, Max Verstappen venceu pela segunda vez no ano, mas o grande vencedor do dia foi Vettel, ao ter feito uma performance impecável, largando de último, para subir ao pódio em 2º, após bons duelos e pegas com muitos pilotos durante a corrida, naquelas condições de piso traiçoeiro. Um resultado para lavar a alma, e quem sabe, afastar de vez os tempos de maus resultados recentes e baixo astral, o que seria ótimo tanto para o piloto quanto para a competição. Kvyat, em outra prova redentora, conquistou o segundo pódio da Toro Rosso com seu 3º lugar, enquanto Stroll teve também um dia para comemorar com seu 4º lugar, enquanto Sainz Jr. colhia outro bom resultado para uma McLaren em ascenção.
            E tivemos aqueles que, apesar de não errarem, ficaram pelo caminho, como foi o caso de Daniel Ricciardo, cujo motor Renault estourou com estilo ainda na primeira metade da prova, e fazendo todo mundo ver que, até o presente momento, sair da Red Bull para o time francês foi uma aposta tremendamente errada, e não um acerto. E certamente seu ex-time tem o problema de sentir saudades do italiano, e não poder demonstrar isso por uma questão de orgulho, tendo que ver Pierre Gasly errar de novo, e dar adeus à corrida com outra performance bem abaixo da de Verstappen, colocando a posição do piloto francês em situação bastante precária perante Helmut Marko e a direção da Red Bull. E não foi somente o francês a persistir nos erros: a dupla da equipe Hass, Romain Grosjean e Kevin Magnussen, conseguiram a proeza de se pegarem novamente na pista, mas desta vez semse eliminarem mutuamente, o que não deve ter deixado Gunther Steiner mais aliviado na mureta do paddock, vendo seus pilotos quase se eliminarem novamente pela segunda corrida consecutiva.
Max Verstappen até chegou a ser ameaçado por Vettel, mas o holandês carimbou sua segunda vitória na temporada, enquanto o alemão lavou a alma, literalmente, com uma corrida sem erros no piso molhado onde sucumbira um ano atrás.
            E, se na pista seus pilotos fizeram quase tudo certinho, encaminhando bons resultados de chegada para a escuderia, a Alfa Romeo infelizmente pisou na bola nos boxes, deixando seus dois pilotos com regulagens irregulares no sistema de embreagem, que fez Kimi Raikkonen e Antonio Giovinazzi serem desclassificados após a corrida, o que permitiu a Hamilton terminar em 9º e marcar pontos mais uma vez, e o mais impressionante, a Williams conquistar um suado pontinho, o primeiro do time no campeonato até agora, e pelas mãos de Robert Kubica, o primeiro ponto do polonês desde a temporada de 2010, quando ele competiu na F-1 pela última vez
            O para-e-chove embaralhou as estratégias dos pilotos, que ficavam sem saber se deveriam parar no box para trocar o composto de pneu. Mas alguém tinha de arriscar, e não deu certo para todo mundo. Isso deixou vários pilotos espalhados, fazendo muitos deles terem de recuperar o tempo perdido, travando duelos com vários rivais, enquanto alguns surgiram lá nas primeiras posições, e tentaram se manter nelas a todo custo. Nico Hulkenberg, vejam só, tinha a possibilidade de finalmente desencalhar e conseguir o seu primeiro pódio, mas o alemão também saiu da pista, e acabou batendo. Houve mesmo bons dueles, e aquele ar de imprevisibilidade que só corridas debaixo de chuva, e ainda assim de precipitações intermitentes, são capazes de produzir. Foi a primeira corrida com chuva na temporada, aliás, e pelos resultados provocados, todo mundo quer mais, de preferência já neste final de semana. A boa notícia é que tem previsão de chuva para este final de semana. A má notícia, é que a chuva deve cair somente hoje no circuito, com expectativa de o tempo ir melhorando com o avanço do final de semana, chegando a apontar um domingo de sol inteiro, sem expectativas de chuva para o horário da corrida. Mas quem sabe a previsão dê errado? Não é preciso chover propriamente, basta que a pista húngara consiga nos apresentar uma corrida cheia de duelos e brigas, onde todos terão que tomar cuidado para não errar, e torcer para conseguirem acertar.
            O campeonato segue com o  favoritismo firme da Mercedes e de Lewis Hamilton para os títulos da temporada, mas algumas corridas agitadas como as últimas três não fazem mal algum à categoria máxima do automobilismo, muito pelo contrário, é de provas assim que a F-1 precisa, e quanto mais, melhor!


A equipe Renault, depois de ver seus dois pilotos fora de combate na corrida da Alemanha, no último domingo, ainda teve um susto durante a semana, antes de chegar aqui na pista de Hungaroring, quando um de seus caminhões sofreu um acidente, e saiu da pista, quando estava a caminho da Hungria, a partir da Áustria. Felizmente, o motorista do caminhão sofreu apenas ferimentos leves, apesar de precisar da equipe de resgate dos bombeiros para ser retirado do veículo, e já foi liberado para descansar em casa. E o material do time presente no caminhão também não sofreu danos, de modo que o time, apesar do susto, pode dar seguimento normal às suas atividades de montagem dos equipamentos tão logo chegou aqui no circuito, onde a escuderia já prevê um fim de semana difícil pelo problema de seu carro de 2019 não lidar bem com curvas de baixa e média velocidade, o que mais temos em uma pista travada como a da Hungria.
 
Apesar do susto, o motorista não se feriu, e os equipamentos na carreta não sofreram danos.

Por melhores e mais talentosos que alguns pilotos sejam em pilotar em corridas com chuva, nem sempre a teoria ou o currículo pregresso corresponde à realidade. Não dá para crucificar Lewis Hamilton, reconhecidamente um piloto muito bom em corridas na chuva, pelo seu péssimo dia em Hockeinhein, ainda que seu estado de saúde não fosse o ideal, o que poderia servir de desculpa para seu desempenho abaixo do esperado na prova. Até Ayrton Senna, considerado o “deus” das corridas sob chuva de sua época, teve seus dias abaixo da média nas pistas debaixo de muita água. Um exemplo foi na corrida da Espanha de 1992, quando o brasileiro chegou a sair várias vezes da pista, sem conseguir ameaçar os líderes da prova, o inglês Nigel Mansell, e o alemão Michael Schumacher, que naquele dia conseguiram ser perfeitos na pista, o que não ocorreu com o piloto brasileiro. E mesmo pilotos campeões já fizeram papelão pior em corridas sob chuva, como Alain Prost, no GP de San Marino de 1991, quando o francês cometeu a heresia de escapar da pista ainda na volta de apresentação, antes da largada, e ficar por ali mesmo, preso na grama. E estávamos em Ímola, com o circuito cheio dos tradicionais torcedores ferraristas. Outros pilotos de renome que rodaram feio naquele dia foram Nélson Piquet, Nigel Mansell, e Jean Alesi. Como se diz no ditado popular, “um dia é da caça, o outro, do caçador...” Não dá para fazer bonito sempre...


Depois de curtir sua pausa de verão, a MotoGP está de volta neste final de semana, com a disputa do GP da República Tcheca, no belo circuito Automotodrom Brno, na cidade de Brno. Uma bela pista, com 5,4 Km de extensão, com 14 curvas, sendo 6 à esquerda, e 8 à direita. Serão 21 voltas, com um percurso total de 113,5 Km. Os canais SporTV transmitem os treinos e a corrida ao vivo, com largada prevista neste domingo para as 9:00 da manhã, pelo fuso horário de Brasília. Com 3 poles, Valentino Rossi é, ao lado de Marc Márquez e de Max Biaggi, o piloto que mais vezes largou na pole na pista tcheca. Mas o “Doutor” é o recordista de vitórias, com 5 triunfos, seguido de Márquez e Dani Pedrosa, com 2 vitórias cada um. Pedrosa, aliás, detém o recorde da pista, com o tempo de 1min56s027. No ano passado, a Ducati venceu a corrida com Andrea Dovizioso, com o time italiano fazendo dobradinha com Jorge Lorenzo, que terminou em 2º lugar. Márquez completou o pódio.

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