sexta-feira, 21 de setembro de 2018

BALANÇO DE CINGAPURA

Lewis Hamilton foi impecável mais uma vez, e conquistou mais uma vitória, para "alegria" de Sebastian Vettel no pódio, vendo o pentacampeonato do inglês ficar cada vez mais perto.

            O campeonato acabou! Para muitos, a Fórmula 1 já pode comemorar o seu novo pentacampeão mundial, Lewis Hamilton, que conseguiu novamente destronar seus adversários e levar mais um caneco para casa! É o que muitos estão dizendo mundo afora, depois de mais uma retumbante vitória do piloto da Mercedes, domingo passado, em Marin Bay, Cingapura, onde a Ferrari, mais uma vez, perdeu uma excelente chance para vencer e tentar uma reação, e novamente, por culpa própria. Desse modo, com mais uma atuação irrepreensível, Hamilton vai pavimentando sua trajetória rumo ao seu quinto título na categoria máxima do automobilismo, colocando-se ao lado do lendário Juan Manuel Fangio, e ficando atrás somente de Michael Schumacher, com seus sete títulos, que passam a estar na mira do piloto inglês.
            Se a situação de Sebastian Vettel após a derrota em Monza já era complicada, precisando descontar 30 pontos, vantagem nada desprezível, o desastre só piorou com a corrida de Cingapura: Hamilton agora ostenta 40 pontos de vantagem para o alemão da Ferrari, uma desvantagem que, em condições normais, já não dá para ser revertida. Temos 6 provas pela frente, com um total de 150 pontos em jogo, o que faz parecer que uma dianteira de 40 pontos não parece tanto assim, mas é o contrário. Seria preciso Vettel vencer todas as corridas restantes, com a melhor hipótese de Hamilton ser segundo colocado em todas elas, e mesmo assim, Sebastian só levaria o título da temporada por meros 2 pontos. Mas, depois do que vimos em Monza e Marina Bay, alguém acredita que o alemão conseguirá tal feito?
            A Ferrari continua a ter o melhor e mais competitivo conjunto da F-1 no momento, mas a diferença de performance não é tão pronunciada assim, dependendo de circuito para circuito. Sabendo aproveitar as particularidades e circunstâncias do momento, a disputa fica completamente imprevisível. Tanto na Itália quanto em Cingapura, a perspectiva era de um momento de vantagem da Ferrari, tanto que o time de Maranello fez a primeira fila no grid em Monza, e com alguma facilidade até. Mas a presepada de Vettel com Hamilton na primeira volta da corrida italiana jogou por terra o que tinha tudo para ser um GP doméstico de glória para a Ferrari. E Hamilton, com uma pilotagem inspirada, e uma estratégia traçada à perfeição pela Mercedes, aplicou um duro golpe nos rivais que foi sentido por todos, e bem diante de sua própria torcida.
            Em Marina Bay, uma pista onde a Mercedes não costumava ser tão forte quanto nas demais pistas, era questão de honra para a Ferrari e Vettel superarem o revés e iniciarem uma reação. Deu tudo errado: com uma volta espetacular, Hamilton conquistou a pole lembrando Ayrton Senna, quando o brasileiro calava os rivais com uma performance saída sabe-se lá de onde. Para variar, a Ferrari mais uma vez não conseguiu reagir e ficou “apenas” na 2º fila do grid, sendo superada até por Max Verstappen, da Red Bull. Lembrando do enrosco sofrido na pista em 2017 logo na largada, Vettel desta vez não tentou resolver tudo na primeira curva, e partiu firme para superar Verstappen ainda na primeira volta. O objetivo era claro: ir à caça de Hamilton e superá-lo. Se não na pista, nos boxes. Mas o roteiro programado também deu com os burros n’água: Vettel parou primeiro, e na volta à pista, ficou trancado atrás de Sérgio Perez, e com isso, acabou superado por Verstappen no pit stop do holandês, caindo para 3º. Como desgraça pouca é bobagem, o time ainda colocou pneus errados no carro do alemão, que obviamente não aguentariam até o fim da corrida, no ritmo que era necessário implementar para tentar algo diferente para surpreender os adversários. E tudo acabou como se viu: Hamilton, solto na frente, controlou a corrida a seu bel prazer, só passando aperto mesmo quando se aproximou de vários retardatários em disputa de posição com, vejam só, Romain Grosjean. Mas Hamilton, e incrível, Verstappen, mantiveram-se frios e calmos, e rumaram para a bandeirada, com o inglês faturando a corrida, e Max garantindo mais um pódio para a Red Bull numa pista onde eles seriam competitivos pelo retrospecto recente da escuderia dos energéticos no circuito de rua da Cidade-Estado do sudeste asiático. E Vettel? Bem, com os pneus mostrando que não aguentariam o ritmo necessário para lutar pela vitória, teve de dosar o acelerador para conseguir chegar ao final. Conseguiu, mas a absurdos 40s do vencedor, Hamilton. Se os tiffosi achavam que Monza havia sido um sonho ruim, Cingapura virou um pesadelo...
Hamilton largou na pole e comandou a corrida, não dando chances aos rivais.
            De início na corrida, tudo apontava para o óbvio: instalado atrás de Hamilton, e numa pista onde ultrapassar exige certo jogo de cintura, como toda pista de rua, todos imaginavam que Vettel acompanharia Lewis e, quando o inglês fizesse sua parada, era tentar acelerar fundo para voltar à sua frente depois de seu pit stop, e então rumar para a vitória, se nada anormal acontecesse. E, nas primeiras voltas, tudo levava a crer nesse plano: Hamilton não escapava na frente, e Vettel seguia logo atrás, com diferenças que oscilavam entre 0s9 e 1s4, um ritmo que fazia supor que Sebastian não forçava mais para preservar seus pneus. Mas, a Ferrari se embananou no rádio ao ouvir as falas de Hamilton sobre seus pneus, e tentando evitar de serem surpreendidos, acabaram cometendo o primeiro erro: chamar Vettel primeiro aos boxes, enquanto Hamilton ainda seguia firme na pista. Ali já se percebia que o buraco na Ferrari poderia ser muito mais embaixo. E acabou sendo. Sebastian recebeu pneus ultramacios, os compostos errados de pneus, que certamente não aguentariam ir até o final. Vettel, ainda por cima, emparelhou com Max Verstappen nasaída do box após o pit do holandês, e perdeu também o 2º lugar. O alemão até tentou, mas não conseguiu superar Verstappen, e nem adiantava fazê-lo, pois isso degradaria seus pneus, e o forçaria a uma nova parada, quando o holandês recuperaria aposição por não parar até a bandeirada. Fazer nova troca poderia levar Vettel para trás de Kimi Raikkonen e Valtteri Bottas, que duelaram timidamente a prova inteira em suas posições, e poderia ser ainda mais desastroso em termos de resultados. Sergio Marchionne deve estar se revirando no túmulo, vendo seu time, com franco favoritismo para detonar a própria Mercedes no campeonato quando de seu passamento, estar batendo cabeças dessa maneira. Estivesse ainda à frente da escuderia rossa, várias cabeças já iriam rolar para 2019...
Além de ficar atrás de Hamilton, Vettel também acabou superado por Verstappen. Não foi um bom GP para a Ferrari...
            Adrian Newey, projetista da Red Bull, que trabalhou com Vettel de 2009 a2014, disse que o piloto alemão, sob pressão, pode cometer erros, como o que temos visto recentemente. Para alguns, o fato de ter tido um carro superior entre 2010 e 2013 (um pouco menos no primeiro ano, quando chegou como azarão), quando conquistou quatro títulos consecutivos, podem ter deixado Sebastian mal acostumado a correr na frente sem muita pressão. E, disputar com o adversário nos calcanhares pode estar fazendo Vettel sucumbir às cobranças que ele próprio faz para ser campeão pela Ferrari, uma vez que o time gira em torno dele, e ele é a mola propulsora da escuderia. Ao que parece, as palavras de Newey são verdadeiras: Vettel possui um excelente carro, superior ao do rival em várias pistas, mesmo que por vezes a diferença seja pequena. Mas ao invés de relaxar e guiar o seu melhor, está deixando a pressão afetá-lo. A Ferrari declarou após a vitória na Bélgica que iriam manter a pressão sobre a Mercedes, porque o time rival, acostumado a seus anos de domínio recente, iriam sucumbir à pressão de não serem os favoritos. O feitiço parece ter virado contra o feiticeiro. É a Ferrari, e seu principal piloto, quem estão sentindo a pressão, mesmo sendo teoricamente favoritos. Eles não estão conseguindo transformar o seu potencial teórico em realidade.
            E agora, o que acontece? O campeonato ficou difícil para Vettel, mas não impossível. O problema é que a vantagem de Hamilton já é tamanha que será necessário pelo menos um GP azarado para o inglês, somado a uma vitória de Sebastian, para recolocar a luta em equilíbrio de possibilidades. Mas Lewis vem guiando o fino, e não cometendo erros, o que não é o caso dos ferraristas, e de Vettel, que em Marina Bay acertou o muro no segundo treino livre de sexta-feira, danificando o carro, e perdendo um bom tempo com os reparos. E a Mercedes tem conseguido se mostrar bem mais eficiente sob a pressão de não ter o melhor carro da competição, enquanto a Ferrari vem sucumbindo a ela, justamente por ter o melhor equipamento, e não conseguir fazer tudo se encaixar como deveria. O modelo SF71-H ainda é ligeiramente superior ao W09, mas a diferença em Cingapura foi menor do que se imaginava, permitindo a Lewis não apenas encarar no braço como até superar os rivais.
            O time alemão vem trabalhando duro para melhorar o seu carro, e um dos detalhes que certamente deve ter ajudado foi o uso de um novo tambor de roda no carro, que com um design diferente do anterior, parece ter ajudado a resfriar os compostos traseiros do carro, que vinham apresentando uma tendência ao superaquecimento. Com os pneus traseiros mais frescos, o carro melhora de ritmo, ficando mais veloz. E a Mercedes promete melhorias contínuas em seu carro em todas as provas até o final da temporada. Com a Ferrari sob forte pressão, será que os italianos conseguirão manter o desenvolvimento de seu equipamento de modo a manter a dianteira de performance sobre a Mercedes? Se formos julgar por Cingapura, o panorama é que o time de Brackley está comendo a vantagem alcançada por Maranello, e que se os italianos não se cuidarem, ficarão para trás. Mas Cingapura é um circuito de rua, e tirando Sochi, prova da semana que vem, que é feita dentro do parque olímpico criado há alguns anos, todas as demais pistas são autódromos, onde a Ferrari pode ter maior desenvoltura. E vai precisar muito, se ainda quiser ser campeão, ao menos de pilotos, nesta temporada.
            O campeonato ainda não acabou, mas do jeito que a Ferrari, quando que não é Vettel, andam fazendo as coisas, não vai demorar para Hamilton levar mais um título para casa, e deixando o time vermelho novamente na fila, em sua melhor temporada, em termos de equipamento, com chances mais do que reais que lhe possibilitavam até dominar o ano com alguma folga. E Hamilton, com uma pilotagem soberba e focada, terá tudo para vangloriar-se deste título ter sido sua maior conquista de todas... As próximas semanas serão tensas no box do time italiano...


Fernando Alonso voltou a pontuar num GP, e com uma atuação de gala, levando-se em conta como a McLaren decaiu de rendimento nas últimas corridas. O piloto espanhol, já de saída da F-1, foi o 7º colocado em Marina Bay, e com isso subiu para o 8º lugar no campeonato, com 50 pontos, e está apenas 3 pontos atrás de Nico Hulkenberg, da Renault, único piloto que pode ser alcançado pelo bicampeão espanhol, já que, dali para cima, Daniel Ricciardo, o 6º colocado, já está com 126 pontos, uma meta completamente inatingível para Alonso, dado o equipamento pouco competitivo que tem. Enquanto isso, Stoffel Vandoorne amargou mais uma corrida sem conseguir marcar pontos, sua 11ª corrida consecutiva zerado. Dificuldades da McLaren à parte, assim como o talento incomum de Alonso, não é difícil entender como o belga foi rifado do time de Woking para a temporada 2019, quando a escuderia terá como titulares Carlos Sainz Jr. e o novato Lando Norris. Melhor Norris torcer para a McLaren acertar no projeto do carro, porque do contrário, pode ver seu nome, atualmente tão promissor, ir para o ralo também, vítima da pouca competitividade do carro. Quando Vandoorne estreou, também era tido como uma grande promessa pelo time inglês. E vejam o que aconteceu...


Sérgio Perez foi o destaque negativo da prova de Cingapura. Ainda nas primeiras curvas, deu um toque de roda no carro de seu próprio companheiro de equipe, Esteban Ocon, que foi parar no muro, encerrando ali sua corrida. Depois, o mexicano ainda se enroscou com o russo Sergey Sirotkin, da Williams, com quem travou uma longa perseguição na pista depois de seu pit stop. Perez perdeu a paciência com o russo, e quando finalmente o superou, deu um chega-pra-lá no piloto da Williams que poderia ter terminado mal para ambos. A direção de prova puniu Sérgio com uma passagem pelos boxes, que o jogou lá para trás, e acabou com qualquer perspectiva de chegar na zona de pontos. E ainda saiu barato para o piloto da Force India, pelas estripulias causadas na corrida. Quem não gostou nada foi a escuderia, que fez um excelente treino, com seus dois pilotos classificados no Q3 (Perez em 7º e Ocon em 9º), e saiu de Cingapura sem pontos. E Ocon, que já vive o pesadelo de ficar a pé por causa dos conchavos comerciais da F-1 atual, não precisava dessa “ajuda” do parceiro de equipe para arruinar o seu dia...
Esteban Ocon viu uma prova potencialmente promissora acabar no muro logo na primeira volta, após toque do próprio companheiro de equipe...


Quem também saiu zerado de Marina Bay foi a Hass. Kevin Magnussen nunca se achou no final de semana inteiro, e caiu já no Q1, largando em 16º, e não conseguindo fazer nada na corrida, recebendo a bandeirada em 18º, chegando à frente apenas de Sergey Sirotkin, da Williams. E Romain Grosjean, que partia em um esperançoso 8º lugar, e tinha boas chances de marcar pontos, fez uma prova abaixo da crítica, despencando para trás, e terminando apenas em 13º. Começam a circular rumores de que Gene Hass pode simplesmente despedir ambos os pilotos e contratar novos para 2019. Grosjean ainda está numa fase de altos e baixos, indo bem em uma corrida e indo mal em outra. Já Magnussen, apesar de ter pontuado bem até agora, também anda arrumando tretas na pista, e tendo algumas atitudes reprováveis no trato com outros pilotos. A paciência do time com ambos já anda curta, e pode acabar a qualquer momento, se eles não se emendarem direito...


Para quem curtia as transmissões da F-1 pelos canais pagos do SporTV, uma má notícia: a partir da corrida de Cingapura, a transmissão em horário “alternativo” do SporTV agora se resumirá a um VT da transmissão ao vivo feita no canal aberto da TV Globo. Sergio Mauricio, Lito Cavalcanti e Max Wilson ficarão restritos apenas às transmissões dos treinos. Quem gostava das conversas da equipe de transmissão no horário pré-corrida detestou a “novidade”, e o VT ainda por cima teve algumas cenas cortadas. Nada que vá fazer muita diferença, mas demonstra o descaso da Globo com o produto, quando deveria pelo menos manter um nível de transmissão decente no canal pago, a exemplo do que costuma fazer nas transmissões da MotoGP. As exceções óbvias deverão ser as transmissões das provas dos Estados Unidos e do México, à tarde, que nos últimos anos passaram a ser feitas ao vivo exclusivamente no SporTV, por conflitarem com os horários dos jogos de futebol do campeonato brasileiro...
Apesar do belíssimo visual noturno de Marina Bay, a prova de Cingapura não foi das mais interessantes, como várias outras do campeonato deste ano da Fórmula 1.

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