sexta-feira, 13 de julho de 2018

BALANÇO DE SILVERSTONE

Lewis Hamilton conquistou a pole na Inglaterra, mas foi Sebastian Vettel quem largou melhor e dominou a corrida, para desespero e frustração do piloto da Mercedes.

            A Fórmula 1 encerrou sua maratona de três fins de semana consecutivos de corridas domingo passado, em Silverstone, com algumas constatações. A primeira, é que Mercedes e Ferrari tem tudo para se digladiarem ferozmente até o fim da temporada na disputa pelo título, tanto de pilotos quanto de construtores. E neste momento, a Ferrari está liderando o certame de construtores com 20 pontos sobre a Mercedes, situação inédita desde o início da era turbo híbrida iniciada em 2014. O reinado dos carros prateados finalmente vai acabar, ou a escuderia germânica vai conseguir reagir e salvar mais um campeonato? Se conseguir, terá sido a maior conquista desde que começou a ganhar tudo em 2014, porque nunca teve uma oposição tão forte quanto neste ano. E isso parece ter afetado alguns de seus integrantes, que saíram dizendo algumas besteiras em Silverstone, após perderem uma prova que, na teoria, pensavam que seria completamente deles, dado o retrospecto dos carros na pista inglesa.
            Mas já no treino de classificação, dava para ver que a conquista tão esperada iria sair muito mais suada do que se previa: Sebastian Vettel por pouco não conquistou a pole, que ficou com Lewis Hamilton numa daquelas performances dignas de seu ídolo Ayrton Senna, de achar uma volta-canhão onde ninguém mais conseguiria. O desempenho dos carros vermelhos era de se preocupar, até porque Valtteri Bottas acabou batido por Kimi Raikkonen. E numa pista onde potência conta muito, a Red Bull virou figurante de luxo, incapaz de se meter no duelo entre as principais forças da competição, devido ao déficit de performance das unidades motrizes da Renault, que melhoraram, mas ainda estão devendo para as potentes Mercedes e Ferrari. Mas seria a Ferrari tão forte na corrida como foi nos treinos? Em tese, como em Silverstone dá para ultrapassar, a relação de forças poderia ser um problema se os carros de Maranello mostrassem de fato estarem tão bons como pareciam.
            Uma largada ruim de Hamilton ainda facilitou tudo, com Vettel a assumir a ponta, e Bottas tomar a 2ª colocação. Como desgraça pouca é bobagem, Kimi e Lewis se tocaram de leve, e o inglês rodou, caindo para último lugar. E o que prometia ser uma vitória retumbante virava um suplício completamente inesperado. Hamilton ainda deu sorte de seu carro não sofrer nada, em que pese sua chiadeira durante a primeira parte da prova alegando que seu carro não estava completamente OK. Mas que permitiu a ele recuperar quase completamente as posições perdidas, ficando por superar apenas os ponteiros, que estavam cerca de 20s à sua frente. E aí, tivemos o acidente de Marcus Ericsson, que motivou um safety car, que caiu do céu para a Mercedes, e principalmente para Hamilton, que encostava de vez nos líderes. E dava ao time alemão uma nova chance para tentar ganhar a corrida, já que Bottas, durante a perseguição a Vettel, só conseguiu ver o alemão abrindo vantagem volta após volta, até estabilizar na casa dos 6s, 7s, sem conseguir ameaçar Sebastian.
Sem pneus no final, Valtteri Bottas (acima) sucumbiu à pressão de Vettel, e ainda acabou superado por Hamilton (abaixo), que deu uma tremenda sorte com o Safety Car, subindo ao pódio em 2º lugar.
            Só que a Ferrari aproveitou para trocar os pneus, enquanto a Mercedes manteve seus pilotos na pista. Bottas agora era o líder, com Vettel em 2º, e Hamilton em 3º. Conseguiriam Bottas e Hamilton aguentar até o final? Um segundo acidente, entre Romain Grosjean e Carlos Sainz Jr. até lhes deu uma ajuda com mais voltas atrás do carro de segurança, mas logo a pista foi liberada, e tínhamos quase 10 voltas de tira-teima para ver quem levaria a vitória. E a partir dali, foi adrenalina pura, com Bottas, Vettel, Hamilton e Raikkonen disparando na dianteira para ninguém conseguir discutir coisa alguma. E os pneus mais gastos de Bottas cobraram o seu preço, com o finlandês não conseguindo resistir a Vettel, e depois perdendo posições para Hamilton e Raikkonen. Hamilton bem que tentou ir à caça de Sebastian, mas não teve como se aproximar do piloto da Ferrari, que venceu triunfante perante a torcida britânica que como sempre lotou Silverstone, e viu um show nas voltas finais da prova. Lewis saiu transtornado da corrida, falou coisas que não devia, e só no dia seguinte, com a cabeça mais calma, se desculpou por algumas das besteiras que falou e explicou algumas atitudes. Foi muito criticado, mas querem saber? Melhor alguém irritado do que ficar ouvindo aquelas declarações padronizadas que já estamos cansados de engolir a toda hora. Hamilton é humano, e tem todo o direito de ficar chateado, mesmo que possa parecer birra infantil. Ayrton Senna também ficava mal-humorado pra burro quando perdia, e se alguém tocasse num nervo exposto, podia dar briga até...
            Raikkonen levou uma punição injusta pelo toque em Hamilton. Por mais que Kimi tenha se desculpado e admitido ter errado ali, Vettel deu uma pancada muito pior em Paul Ricard em Bottas, e tomou apenas metade da punição, 5s, pagos no pit stop. Para muitos, parcialidade dos comissários, já que Raikkonen quase tirou da corrida o ídolo da torcida local. E estas punições já enchem o saco. Além de em determinados momentos não terem critérios claros, em muitos casos o que se teve foram apenas incidentes de corrida, que não mereciam esse tipo de punição. A F-1 já foi muito menos fresca neste sentido.
            A Ferrari saiu como a grande vencedora do GP da Inglaterra, e a Mercedes pisou na bola no quesito esportividade, ao digerir muito mal a derrota, mas por culpa própria: poderia ter chamado seus dois pilotos para a troca de pneus, e com compostos novos, sua dupla poderia ter tido melhores condições de luta com Vettel e Raikkonen. Só que também teve outro problema: o time alemão não tinha mais pneus novos do tipo necessário para fazer esse tipo de estratégia, então, o jeito foi se aguentar na pista. Culpa do regulamento, que só permite 7 jogos por carro em fim de semana de GP? Sim, mas desde que a regra é essa há muito e muito tempo, cada time tem que saber gerenciar seus recursos, e a Mercedes comeu bronha neste quesito em Silverstone. O time que venceu quase tudo desde 2014 precisa colocar a cabeça no lugar, e parar de marcar bobeira, porque a Ferrari não apenas chegou: ela está na frente! Isso não significa que o campeonato está perdido: o time de Brackley tem todas as condições de reequilibrar o jogo, e passar novamente à frente, mas tem que prestar mais atenção aos detalhes em que anda perdendo a parada. Se em Silverstone tivemos o incidente entre Kimi e Lewis no início da prova, foi mais o problema de gerenciamento dos pneus que frustrou a oportunidade entregue pelo Safety Car. Como também poderia ter dado errado para a Ferrari, como ocorreu em Paul Ricard. Só que quem quer ser campeão não pode se fiar na esperança dos adversários terem sempre azar na pista, portanto, tratem de ficar mais espertos nas próximas corridas, do lado de dentro do box, e na pista...
            Outro ponto a ser constatado em Silverstone é o abismo existente entre os três principais times e o restante do grid. Em nenhum momento Ferrari, Mercedes e Red Bull foram incomodadas pelos demais times. Nem mesmo a Hass, que foi tão bem na Áustria, conseguiu chegar perto, embora tenha sido por outros motivos. E Nico Hulkenberg, o “melhor” do resto, chegou praticamente 20s atrás de Daniel Ricciardo na bandeirada. Parece pouco? Não é, se levarmos em conta que essa diferença foi obtida em cerca de “apenas” 10 voltas, quando o Safety Car deixou a pista, e a corrida foi reiniciada com tudo. O que salva, se é que se pode dizer isso, é que a briga no pelotão intermediário anda muito mais interessante: Renault, Hass, Force India e McLaren estão num belo pega pra ver quem é quem no meio do grid. Se a Renault deu uma respirada, os outros três times estão bem equilibrados na pontuação, apesar de suas performances não corresponderem ao que se imagina.
            A Hass já perdeu pontos a rodo no campeonato deste ano, e em tese seria fácil a 4ª força. A Renault ora anda, ora não anda, e assim, também não tem tido todos os resultados que deveria teoricamente ter. Depois de um início de ano complicado, a Force India vem conseguindo subir de produção, como sempre tem feito nos últimos campeonatos, mas nunca um início ruim foi tão sentido quanto agora, em um momento onde o time corre o risco de não conseguir terminar o ano na pista. E a McLaren, que prometia tanto, só não está fazendo companhia aos times menos bem colocados porque Fernando Alonso vem guiando muito mais do que o carro desde a Austrália. Menos mal que a escuderia resolveu fazer um mea culpa público, coisa muito rara, admitindo que não está onde gostaria, e deveria, e pretende iniciar uma série de mudanças para tentar reencontrar o seu rumo de volta ao sucesso, começando com a substituição de Eric Bouiller por Gil de Ferran na direção esportiva da escuderia.
Brendon Hartley, da Toro Rosso, teve uma quebra de suspensão e um forte acidente, mas felizmente não se machucou.
            Enquanto isso, a Hass começa a dar sinais de que sua paciência com Romain Grosjean está no fim, e no pior momento possível para o piloto francês, que havia enfim feito uma bela prova em Zeltweg, mas voltou a sofrer em Silverstone, onde teve uma batida nos treinos que obrigou a equipe a usar um novo chassi, e na corrida, se estranhou com Carlos Sainz, saindo os dois da corrida por causa disso, depois de ter tocado rodas com o próprio companheiro Kevin Magnussen, que também não anda muito dócil, mas tem conseguido marcar pontos importantes para o time até aqui. E com Charles LeClerc bombando como revelação da temporada, não faltaria muito para a Ferrari alocá-lo na Hass como titular em time mais competitivo do que a Sauber, para o garoto ganhar mais maturidade, antes de assumir um lugar como titular da escuderia de Maranello, se Raikkonen permanecer firme na F-1 em 2019 ao lado de Vettel.
            A Sauber, em que pese as grandes performances de LeClerc, é preciso que se diga, vem evoluindo forte, e Marcus Ericsson andou bem na Inglaterra, antes de bater. Nesse ritmo, a escuderia já não pode mais ser considerada lanterna no grid, e tem condições de engrossar a briga do meio do pelotão, incomodando Renault, Hass, Force India e McLaren, se não na pontuação, nas posições de chegada. Já a Toro Rosso sentiu a falta de potência das unidades da Honda em Silverstone, estimando uma perda de quase 1s por volta em relação aos times de meio do grid. Algo que, em tese, não deveria ser novidade, mesmo levando em consideração a evolução da unidade motriz nipônica, que se não quebra mais tanto quanto ocorria até o ano passado, ainda precisa evoluir muito. Um sinal de alerta que a Red Bull precisa estar atenta para o próximo ano, quando irá utilizar os mesmos propulsores. Não que a Honda não vá evoluir suas unidades para a próxima temporada, mas se eles já andam criticando a performance da Renault, o que acontecerá se os japoneses não renderem o que eles esperam? E isso porque até mesmo a Red Bull se ressentiu de sua performance na Inglaterra, onde até resistiram na pista, mas foram sumariamente engolidos pela Mercedes e Ferrari.
            E o que dizer da Williams? Em uma corrida em casa, onde o próprio fundador da equipe, Sir Frank Williams, estava de volta nos boxes acompanhando um GP, a performance da escuderia foi horrorosa, a ponto de o novo pacote de mudanças aerodinâmicas não ter conseguido dar um alento sequer em termos de melhoria no andamento dos carros, muito pelo contrário... A escuderia precisou abdicar das evoluções porque elas foram tão ruins que colocaram até os pilotos em risco, após as escapadas vistas no treino classificatório. Melhor nem pensar em como as coisas podem piorar em Grove, porque senão...
            A F-1 dá uma pequena pausa neste final de semana, pois na próximas duas vamos para Hockeinhein, na Alemanha, e depois para Budapeste, na Hungria. Serão as últimas provas, antes das férias de verão na Europa. Entre altos e baixos, a competição segue interessante em alguns pontos, e é o que garante a atenção dos fãs de corridas, porque do contrário, poderíamos estar lamentando um campeonato muito mais maçante e broxante, igual ao de alguns anos recentes. E a expectativa de que a Ferrari pode enfim acabar com a era de domínio da Mercedes é o que está deixando todo mundo empolgado. Com exceção da Mercedes, claro...


Hora de definição no campeonato da Formula-E. A categoria dos carros de competição monopostos 100% elétricos está encerrando sua 4ª temporada neste final de semana, com a rodada dupla na cidade de Nova Iorque. O circuito montado no Brooklin tem cerca de 2,373 Km de extensão, com 14 curvas. A primeira corrida, a ser disputada neste sábado, terá um total de 45 voltas, enquanto a prova no domingo contará com 43 voltas. Apesar de dois trechos de retas, é uma pista apertada e de difícil ultrapassagem, o que deve dificultar muito a corrida de quem largar atrás. No ano passado, Sam Bird teve um final de semana perfeito nestas corridas, obtendo duas vitórias impressionantes. Um resultado que o piloto inglês terá que repetir a qualquer custo, se quiser conquistar o título da temporada. Bird tem 140 pontos, e é o vice-líder da competição, com 23 pontos de desvantagem para o francês Jean-Éric Vergne, da Techeetah, o franco favorito para levar o título. Teremos 58 pontos em jogo, contando os 50 pontos das duas vitórias, além dos pontos extras da pole-position e da volta mais rápida. Mas Sam Bird vai precisar que Vergne tenha algum azar no fim de semana, pois a vantagem na pontuação é razoavelmente grande para ser descontada apenas em uma performance normal. No ano passado, Lucas Di Grassi chegou para a rodada dupla final também em desvantagem, mas conseguiu desestabilizar Sébastien Buemi, que cometeu erros nas corridas, e o brasileiro conquistou o título. Será que Vergne vai sentir a pressão da decisão? Ou Bird? De qualquer maneira, a F-E termina a temporada em alta, e com o quarto campeão diferente em quatro temporadas disputadas, o que não é de se menosprezar.
Traçado do circuito de Nova Iorque, que encerra a temporada da Formula-E.

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