sexta-feira, 2 de junho de 2017

A CONSAGRAÇÃO DE TAKUMA SATO



Com uma pilotagem sem erros e atacando na hora certa, Sato chegou à vitória na Indy500, uma das maiores consagrações da carreira de qualquer piloto.

            As 500 Milhas de Indianápolis erigiram um novo herói neste último domingo. Aos 40 anos de idade, Takuma Sato tornou-se o primeiro japonês a vencer a Indy500, escrevendo seu nome nos anais do automobilismo mundial, e na história da Brickyard, atingindo a consagração de sua carreira como piloto, e o fim de quaisquer piadas a cerca de seu talento, que por muito tempo ficou associada à imagem que seus compatriotas deixaram na categoria máxima do automobilismo, alguns com justa causa, diga-se.
            Por ser um piloto fortemente associado à Honda, Takuma sofreu também com este apoio, não tendo maiores oportunidades na F-1 fora da alça de mira do fabricante nipônico. Estreou na temporada de 2002 pela equipe Jordan, após ser campeão da F-3 Inglesa, outro feito para um piloto japonês na época, e com uma performance arrasadora, vencendo 12 das 13 provas da competição. Sua temporada de estréia pelo time inglês, que na época usava motores da Honda, não foi dos mais empolgantes, marcando apenas 2 pontos com um 5º lugar justamente perante sua torcida, no Japão. Mas o time de Eddie Jordan já dava sinais de decadência, tanto que marcou somente 9 pontos naquele ano. Na temporada seguinte foi piloto de testes da BAR, mas correu novamente na etapa do Japão, marcando pontos. Em 2004, tornou-se piloto titular a tempo integral da escuderia, e faria sua melhor temporada, ficando em 8º lugar, marcando 34 pontos, sendo seu ponto alto justamente um 3º lugar nos Estados Unidos, justamente na pista de Indianápolis, no circuito misto. Em 2005, sua carreira despencou na F-1, e ele marcou apenas um ponto durante todo o ano. Para 2006, graças à Honda, que bancou o time formado por Aguri Suzuki, Sato ainda continuou na F-1, mas com poucas chances de brilhar. Mesmo assim, em 2007, ainda marcou 4 pontos pela pequena escuderia, superando o próprio time de fábrica. Em 2008, com a falência da Super Aguri, a carreira de Takuma também findou na F-1, uma vez que a Honda, que o apoiava, também desertou da competição ao fim da temporada. E sem apoio financeiro, não importava se Takuma já tinha dado mostras de não ser um braço duro como piloto e fosse um competidor de potencial. Várias carreiras já foram ceifadas na F-1 por causa disso, e Sato não foi exceção.
            Sem perspectivas, Sato foi para os Estados Unidos, competir na Indy Racing League, categoria que usava motores da marca japonesa. Sua estréia foi em 2010, competindo pela equipe KV, e terminando seu ano de estréia em 21º lugar, com 214 pontos, e um 9º lugar como melhor resultado. Estava de bom tamanho para um iniciante na competição. No ano seguinte, ainda pela KV, os resultados foram melhorando: terminou o ano em 13º lugar, com 282 pontos, e marcando uma 4º e duas 5ªs colocações durante a temporada. Em 2012, mudança de ares, competindo pela equipe Rahal/Letterman, onde a performance se manteve, sendo o 14º colocado, com 281 pontos, e tendo dois pódios, um 2º e um 3º lugares, como melhores resultados nas corridas. Sato vinha mostrando que podia brilhar nos Estados Unidos, mas ficou sem lugar no time, tendo de buscar uma nova casa para 2013, que acabou sendo a escuderia de A. J. Foyt, onde permaneceu por 4 anos. Sua temporada de estréia na Foyt foi marcante: além de conseguir outro pódio, com um 2º lugar, Sato ainda venceu sua primeira corrida na IRL, em Long Beach. Terminou a temporada em 17º lugar, com 322 pontos, mas preparado para dar vôos mais altos a partir de então.
            Só que a Foyt nunca foi uma escuderia muito constante, e diga-se para variar, em alguns momentos, até Sato parecia incorporar o espírito kamikaze que fez seus compatriotas arrumarem tanta confusão na pista. Um exemplo é da própria Indy500 em 2012, quando o japonês tentou porque tentou superar Dario Franchiti no finalzinho da prova, e acabou no muro, vendo o escocês se consagrar na Brickyard Line. Assim, as temporadas seguintes foram no nível mais ou menos exibido em seu primeiro ano na Foyt: foi o 18º classificado, com 350 pontos, em 2014, seu ano onde marcou mais pontos na IRL; acabou em 14º, com 323 pontos, em 2015; e no ano passado, finalizou em 17º, com 320 pontos. De 2014 a 2016, apenas um pódio de um 2º lugar, na segunda prova de Detroit de 2015. Três 5ºs lugares e um 4º acabaram sendo os resultados mais proeminentes. Ao fim de 2016, com a decisão da Foyt de mudar para a Chevrolet, Sato, mais uma vez, ficava a ver navios, pela sua ligação com a Honda. Mas, foi também esta ligação que o ajudou a arrumar um novo lugar para esta temporada, no caso a Andretti, que já competia com os propulsores nipônicos. E assim, Takuma garantiu-se para sua 8º temporada completa na categoria de monopostos americana.
            Seu desempenho até Indianápolis vinha sendo discreto, superado na pista por Ryan Hunter-Reay e Alexander Rossi, e superando apenas Marco Andretti na escuderia. Mas o time de Michael Andretti sempre teve uma preparação ímpar nos últimos anos para as 500 Milhas de Indianápolis, como mostrou a vitória de Rossi no ano passado, e as boas posições de largada de seus pilotos este ano, inclusive Fernando Alonso, na associação com a McLaren. Logicamente, os olhares de todos estavam sobre o espanhol, a grande estrela a participar da corrida este ano, mas ali, quieto em seu canto, Takuma ia cumprindo o seu trabalho. Sem chamar atenção propriamente, contudo, o japonês não passava de todo ignorado: Téo José, que narrou a corrida para a TV Bandeirantes, e com praticamente quase duas décadas acompanhando a Indy500, já falava que o japonês não podia ser subestimado, e o colocava entre os favoritos para vencer a corrida. Claro que muita gente deu de ombros para a citação do narrador, vista por muitos como alguém que apenas queria torcer por outro piloto diferente dos medalhões. Mas, eis o pior erro que se pode cometer: ignorar e subestimar um adversário. Se não era ignorado pela mídia americana, o japonês tampouco era considerado exatamente um dos favoritos, sendo considerado um piloto com potencial para vencer, mas não no mesmo patamar de outras feras presentes na pista. Muita gente quebrou a cara.
Helinho fez uma corrida impecáve, e estava com a tão esperada quarta vitória à vista, mas não resistiu à arrancada fulminante de Takuma Sato nas voltas finais.
            E de fato: largando em 4º lugar, Takuma manteve-se entre os primeiros durante quase toda a corrida, andando sem cometer arroubos, e sendo até discreto, mas no momento final, ele surgiu para arrebatar as posições de seus adversários à frente e ir para a liderança, valendo-se não apenas de um carro muito bem acertado e veloz, mas também de uma pilotagem segura, firme, e sem se meter em qualquer confusão ou cometer um único erro que fosse. Travou um duelo curto, mas renhido e decisivo, contra Hélio Castro Neves nas voltas finais, e arrancou com a fúria e determinação de um verdadeiro samurai, para fazer história no seu país, nos Estados Unidos, e no resto do mundo inteiro. Vencer em Indianápolis não é para qualquer um, e Takuma precisou se aplicar a fundo, e não dar nenhum passo em falso, como o de 2012, quando jogou as chances de um bom resultado pelos ares com sua tentativa intempestiva na disputa com Dario Franchiti.
            A fama da vitória da Indy500 já coloca Sato como o maior piloto japonês de todos os tempos, pelo feito realizado numa das mais famosas e importantes corridas do mundo da velocidade. Takuma pode até abandonar as pistas agora, com a sensação do dever cumprido, algo que nunca conseguiu realizar na F-1. Mas, como bom piloto, e competitivo como é, quem disse que ele não vai querer mais? A meta agora é brilhar no resto do campeonato, o que talvez seja um pouco mais complicado, mas dificuldades nunca foram novidade para este simpático japonês, que sempre foi de uma simpatia ímpar com o público e seus fãs. E que certamente irá lutar pelo bicampeonato em Indianápolis em 2018, podem apostar.
            Portanto, os parabéns e préstimos de respeito a quem os merece de fato. Banzai, Sato-San!
Scott Dixon sofreu o mais violento acidente da Indy500 em 2017, mas conseguiu sair andando do que restou de seu carro, depois da impressionante capotagem.


A Ferrari deitou e rolou em Mônaco, como se imaginava ao ver os resultados do treino livre na quinta-feira. Esperava-se uma reação da Mercedes, que errou no ajuste do carro, e não o encontrou mais, pelo menos, no monoposto de Lewis Hamilton, que largou no pelotão de trás, e ainda conseguiu minimizar o desastre total, garantindo alguns pontinhos com o 7º lugar, mas tendo agora que correr bem atrás de Sebastian Vettel, que abriu 25 pontos de vantagem, e certamente não largará a dianteira do campeonato tão cedo, mesmo que Hamilton arrase a tudo e a todos na próxima corrida, no Canadá, na semana que vem. Para o time de Maranello, além da vitória de Vettel em Monte Carlo, e à grande vantagem imposta na classificação, foi encerrar o jejum de 16 anos sem vitórias no Principado, onde não chegava na frente desde 2001. E o fez em grande estilo, com dobradinha, com Kimi Raikkonen chegando em 2º lugar. Aliás, a última vitória do time rosso em Mônaco também foi com dobradinha, com Michael Schumacher na frente, secundado por Rubens Barrichello. Daniel Ricciardo, depois de perder a prova no ano passado por um erro da Red Bull no pit stop, deu um pouco mais de sorte este ano e, se não esteve em condições de vencer novamente, pelo menos superou alguns dos rivais à sua frente e fechou o pódio em 3º lugar, deixando justamente seu companheiro de equipe Max Verstappen bem chateado com isso. A corrida deste ano não será das mais lembradas, e os poucos momentos de emoção vieram das trapalhadas de alguns pilotos, que cometeram mais deslizes do que seria de se esperar de uns e outros, como Jenson Button e Sérgio Perez. Já Sttofel Vandoorne e Marcus Ericsson simplesmente bateram sozinhos e sem justificativa. E depois dizem que Mônaco não é para qualquer um...


O debate da corrida de Mônaco naF-1 era praticamente um só: a Ferrari privilegiou Sebastian Vettel em detrimento de Kimi Raikkonen, para garantir que o piloto alemão levasse vantagem na luta pelo campeonato? A resposta é sim, mas nem tudo foi tão fácil e certo como se imagina. Raikkonen largou na pole e comandou a corrida até seu único pit stop. Tendo sido chamado antes, Raikkonen acabou tendo o azar de voltar atrás de carros mais lentos, e isso foi determinante para o finlandês perder tempo na pista na tentativa de se manter à frente quando Vettel fizesse sua parada. Nas voltas em que teve pista livre à frente, Sebastian tratou de acelerar tudo o que podia e o que não podia, com o intuito de ganhar tempo e sair à frente de Kimi. Funcionou, e por pouco. Daí em diante, não havia o que fazer, e Raikkonen, sabedor de que não teria como ultrapassar o colega de equipe numa pista truncada como Mônaco, perdeu até o ímpeto de guiar, passando a rodar mais lento, e com isso, Vettel foi-se embora. Mas é preciso frisar alguns pontos. Primeiro, o fato de Raikkonen nunca ter aberto uma vantagem significativa para Vettel, de forma a inviabilizar a estratégia destinada a favorecer o alemão. Segundo, ele poderia ter ficado um pouco mais na pista, e quem sabe, não voltasse com tráfego à sua frente, e talvez, assim conseguisse voltar ainda na frente. Mas seus tempos de volta haviam caído, e Vettel já estava logo atrás. Neste caso, faltou um pouco de firmeza por parte de Kimi, que sabendo que o time iria privilegiar o parceiro com a melhor estratégia, devia ter andado mais forte e sumido na frente, antes que enfrentasse tráfego. A estratégia para Vettel dependia do alemão também andar muito forte, e ele cumpriu o necessário, e mesmo assim, foi no quase, saindo na volta à pista praticamente quando Kimi já vinha acelerando firme na reta. Particularmente, seria muito melhor se a estratégia falhasse e Kimi vencesse, porque ele merecia ter um retorno às vitórias, depois de ter andado melhor que Sebastian no ano passado, e também porque tornaria as coisas mais complicadas para a Ferrari fazer Vettel vencer. Dá para entender o jogo de equipe, mas eu particularmente não tenho que aceitar o que a Ferrari faz a esta altura do campeonato, já apostando suas fichas em apenas um piloto. Não é ilegal, mas fere a ética do esporte. Podem me chamar de ingênuo ou tolo, mas prefiro isso a aceitar estas palhaçadas, sejam de qual modo forem mostradas, e não apenas relativo à Ferrari, mas a qualquer time de competições. Quero ver a hora que a Mercedes tiver que se rebaixar a isso, como já vimos no Bahrein e em Barcelona, ainda que sob circunstâncias ligeiramente diferentes...
Vettel estava particularmente sorridente no pódio novo de Mônaco. Já Raikkonen...


Chamado para substituir Fernando Alonso na prova de Mônaco da F-1, Jenson Button até que fez uma boa classificação, indo para o Q3, e mostrando que não estava tão enferrujado como muitos esperavam. Infelizmente, por ter trocado peças na unidade de potência, Button tomou 15 posições de punição, largando em último e sem ter quaisquer perspectivas de um resultado razoável. Mas Jenson acabou se envolvendo em um raro acidente, quando tentou passar Pascal Werhlein na curva Portier, e no toque das rodas, mandou a Sauber do alemão para a barreira de pneus, onde ficou na vertical, e preso, até ser resgatado pelos fiscais. A situação mais ridícula desta história toda é que Button foi considerado culpado pelo incidente (o que não é errado, ele fez besteira mesmo), e com isso, ganhou uma punição que o fará perder 3 posições no grid da próxima corrida. Mas, levando-se em conta que Button voltou para a sua aposentadoria, essa punição torna-se inócua, praticamente uma piada, pois o inglês dificilmente a cumprirá, exceto se voltar a ocupar uma posição em um grid de largada, o que não deve acontecer tão cedo. A F-1 ainda tem cada uma...

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