
Lando Norris: o novo campeão da F-1. Mas não sem ter tido alguns sustos na temporada deste ano.
E a Fórmula 1 conheceu
seu novo campeão. Lando Norris chegou ao tão sonhado título, e tirou a McLaren
de um jejum que já vinha desde 2008, quando Lewis Hamilton foi o último piloto
a erguer uma taça de campeão competindo pelo time de Woking. Foi também a
coroação de um trabalho técnico irretocável da escuderia inglesa, que pelo
segundo ano teve o melhor carro no cômputo geral da competição, devolvendo à
McLaren o seu status de protagonista da categoria máxima do automobilismo
mundial, e quebrando o ciclo de campeonatos que, desde 2010, era vencido
somente por dois times, Mercedes e Red Bull. Curiosamente, em 2009, o título
foi conquistado pela Brawn GP, que no ano seguinte, se tornaria a nova e atual
equipe da Mercedes na F-1.
Mas podemos dizer que a McLaren flertou absurdamente com o perigo. E em Yas Marina, apesar de tudo ter seguido o “figurino” da corrida tática e seguro, não é exagero dizer que tudo poderia ter dado muito errado, e em alguns momentos, não se podia garantir que não desse errado mesmo. Na classificação, Max Verstappen assustou de novo conquistando a pole-position, e em uma pista de ultrapassagens complicadas, tudo poderia ir pelo ralo, apesar de que bastava um terceiro lugar para Lando Norris fechar a conquista, independente do que os outros fizessem, o que ele conseguiu fazer, e bem.
Mas mesmo assim, muita coisa poderia dar errado, especialmente na largada, se houvesse algum percalço, como já tínhamos visto na largada da prova Sprint em Austin, nos Estados Unidos, onde as McLaren se tocaram e ficaram logo de fora. A tentativa de um ataque para assumir a liderança, e evitar que Max Verstappen assumisse o controle da corrida poderia dar tanto certo quanto errado. Mas, felizmente, nada de anormal aconteceu. O holandês manteve-se firme na ponta, e lá estaria na bandeirada de chegada, que com o 3º lugar de Norris, ficou com o vice-campeonato, a apenas dois pontos do inglês, campeão do mundo… Uma margem mínima, que confirma que, se algo desse errado, estaríamos agora vendo um novo pentacampeão mundial, e não um novo campeão.

Max Verstappen: o "campeão moral" de 2025, que venceu mais corridas no ano, e quase levou mais um título.
Oscar Piastri bem que
poderia ter conseguido vencer a corrida, e pelo menos, mostrar sair em alta.
Mas o australiano acabou como o grande derrotado do fim de semana em Abu Dhabi.
Ele precisava de uma conjunção de resultados para chegar ao título, o que até
poderia acontecer, mas em uma corrida sem sal, e sem maiores sustos, pelo menos
no pelotão da frente, ele apenas terminou o ano como 3º colocado, situação
certamente desabonadora para quem, até o início de setembro, era o grande
favorito ao título da competição. Dali em diante, foram oportunidades perdidas,
tanto do lado de dentro dos boxes, como fora dele. Além de erros crassos da
McLaren, Piastri também cometeu erros inaceitáveis para um postulante ao
título. Não que Norris também não tenha cometido, e foram vários, mas na reta final,
quem errou menos se sobressaiu, e levou a recompensa. Merecida pode ter sido,
mas ninguém expressaria que, quem de fato foi o grande destaque da decisão foi
Verstappen, que com a terceira vitória consecutiva nas três provas finais da
temporada, foi não apenas o piloto que mais venceu no ano, e campeão moral da
competição.
Isso porque o holandês descontou mais de 100 pontos a partir de setembro, com vitórias e atuações irrepreensíveis, que graças também à colaboração voluntária da McLaren e de seus pilotos, permitiu uma recuperação que, em condições ideais, dado o potencial e capacidade do time inglês, certamente teriam feito a decisão do título ficar unicamente dentro do time de Woking, por mais que o piloto da Red Bull fizesse milagres na pista. Não é desmerecer o esforço e a capacidade de Verstappen, e até da Red Bull, que conseguiu transformar um carro complicado no início do ano para dar a ele condições de performance bem mais aceitáveis, e deixar que Max fizesse o resto. E se a McLaren ou seus pilotos erraram, Verstappen só aproveitou porque soube se colocar na posição ideal para capitalizar com os erros alheios, algo que outros rivais não conseguiram aproveitar.
E isso se aplicou muito bem na prova de Yas Marina, onde Verstappen mais uma vez foi o único a se intrometer nos duelos de pista com o duo da McLaren. Mercedes e Ferrari se mostraram incapazes de entrar na briga pelo pódio, o que poderia ter complicado seriamente a posição de Norris, que poderia ter perdido o título se a concorrência se mostrasse mais à altura, como vimos em momentos esporádicos da temporada. No início da corrida, Charles LeClerc, da Ferrari, até pressionou Norris com força, mas com o ritmo estabilizado, Lando abriu vantagem para não ser ameaçado mais até o final. Da mesma forma, George Russell, com a Mercedes, teve outro final de semana abaixo do esperado, não conseguindo entrar na briga, como fizera em algumas corridas no ano. Não foi a mais empolgante das decisões de título, e mesmo a ameaça que Oscar Piastri poderia ter apresentado ao triunfo de Max Verstappen, nem isso foi executado a contento. O australiano foi decidido ao superar Norris logo nas primeiras voltas da corrida, mas dali em diante seu ritmo de corrida nunca foi suficiente para tirar o triunfo do piloto da Red Bull, e até mesmo sua última parada de troca de pneus veio muito tarde, e com os compostos menos adequados se quisesse de fato brigar com Verstappen pela vitória, já que o holandês em momento algum perdeu o controle da prova, mesmo quando fez suas paradas para troca de pneus.

A prova de encerramento da temporada não trouxe emoções como se esperava, apesar de alguns bons duelos no pelotão de trás.
Em que pese Lando
Norris ter feito o mínimo necessário para ser campeão, o piloto inglês pelo
menos foi decidido quando voltou dos boxes após a troca de pneus para superar
os pilotos à sua frente na pista e retomar a posição original. Ele não podia
perder tempo, caso contrário, ocorresse algum problema, poderia sofrer o
undercut com Charles LeClerc. Yuki Tsunoda, tentando cumprir seu papel de
ajudar Verstappen na briga pelo título, até que tentou dificultar a vida de
Lando, mas errou na dose, sendo não apenas superado pelo inglês da McLaren com
uma manobra no extremo, mas sem perda de tempo substancial, como ainda rendeu
ao japonês uma punição de 5s por ziguezaguer na frente do piloto da McLaren em
franca infração do regulamento. Tsunoda poderia tomar lições com Sergio Perez,
que em 2021 fez o seu papel de escudeiro na decisão que ocorreu entre Max
Verstappen e Lewis Hamilton, conseguindo segurar o heptacampeão por algumas
voltas, e sem recorrer a manobras desleais.
De ressaltar também a performance de Norris nas etapas da Cidade do México e São Paulo, onde o inglês acertou as pole-positions e venceu de forma categórica, não deixando espaço para azares e problemas alheios, como ele ainda estava devendo na temporada. Nunca se discutiu a competitividade do carro da McLaren, mas desde a etapa da Itália, o que se viu foi tanto a McLaren quanto seus pilotos desperdiçarem as oportunidades de vitória. Com Oscar Piastri entrando em uma espiral descendente, o risco de perderem o campeonato de pilotos, com a aproximação de Max Verstappen era real, mesmo com a vantagem de pontos. A reação de Lando nas duas provas latinas brecou essa escalada do holandês no momento certo, enquanto Piastri ainda se mostrava incapaz de oferecer o mesmo tipo de reação.
Mas aí, a desclassificação da dupla papaia em Las Vegas, onde caminhavam para a administração de danos, colocou quase tudo a perder, e por culpa da equipe, já que os pilotos pouco podiam fazer em relação ao problema da altura do assoalho. A margem de erro potencial que a McLaren poderia se permitir, dessa maneira, praticamente acabou gasta logo de início, deixando a reta final do campeonato ainda mais ouriçada. E, como desgraça pouca é bobagem, como diz o ditado, o time inglês ainda cometeu um erro crasso na etapa seguinte, em Losail, ao perder a oportunidade ideal de pit stop de seus pilotos no momento em que houve a entrada do carro de segurança na pista, após um entrevero entre dois pilotos, sendo o único time a não efetuar a parada durante o momento de bandeira amarela. O resultado, que sugeria uma vitória de Oscar Piastri, e Norris no pódio, como se viu na prova Sprint, deu no que deu: novo triunfo de Max Verstappen, com Piastri em 2º lugar, e Lando apenas em 4º, e deixando a decisão para Abu Dhabi, com risco potencial de o título escorrer pelos dedos da McLaren, e com o potencial pentacampeonato de Verstappen se tornando um resultado quase contundente. Afinal, com dois erros em provas consecutivas, ou a McLaren se aprumava de vez, ou daria o maior vexame em quase duas décadas, vendo o triunfo do campeonato de pilotos ruir por culpa própria.
Mas, a McLaren fez o seu dever, e seus pilotos, a grosso modo, também. Mas, foi o mínimo, e mesmo assim, quase que poderiam ter perdido. A margem de apenas 2 pontos ilustra exatamente quão próximo eles flertaram com o desastre, e por culpa própria. Por mais que a situação estivesse sob controle, em tese, a margem de segurança foi extremamente tênue. Um erro de Norris, ou um problema mecânico, ou algum percalço inesperado, tudo poderia ter dado o título a Verstappen. E seria mais do que merecido. Não foi, e eis que temos um novo e inédito campeão da F-1.

Lando Norris só precisava de um 3º lugar para ser campeão, e fez o que foi preciso, e mostrou garra quando precisou recuperar posições após as paradas nos boxes.
E assim terminou o ano
de 2025, com o primeiro campeonato de Lando Norris. Dado que em 2026 entra em
vigor um novo regulamento técnico, não é possível inferir quem ditará as normas
na pista, sendo impossível, no presente momento, afirmar quem virá forte, ou
não, no próximo campeonato. O título de Norris, na pior das hipóteses, pode até
vir a ser o seu único, a depender de como a McLaren estará no próximo ano, para
não mencionar que, mesmo que a McLaren siga forte, ele certamente terá a
oposição de Oscar Piastri, que certamente não vai querer ser um “número dois”
dentro da McLaren, e certamente tirou várias lições deste campeonato de 2025,
onde o australiano infelizmente fraquejou justo na reta final da competição,
permitindo-se sofrer a virada que resultou no título indo parar nas mãos de
Lando, depois de uma primeira metade onde Piastri dominou o inglês na maior
parte do campeonato.
Max Verstappen e a Red Bull saem como campeões morais de 2025, mesmo sem terem conquistado o título, diante da impressionante recuperação do holandês a partir da etapa da Itália, com o tetracampeão vindo a se tornar uma ameaça real no retrovisor dos carros papaias de Woking, e mostrando que o pentacampeonato esteve muito, muito perto de se concretizar, para desepero dos fãs da McLaren. Mas mesmo Verstappen não sai de 2025 ileso como se imagina. Sua atitude destemperada em Barcelona, onde precisou devolver uma posição ganha irregularmente de George Russell, e logo em seguida jogou o seu carro contra a Mercedes de George, numa atitude claramente antidesportiva, e que motivou uma punição que fez Max despencar da 5ª para a 10ª posição, podemos até dizer que foi crucial para Max perder o título, diante da pequena diferença de pontos apresentada no encerramento da competição.
Olhando para trás, é fácil apontar este momento, como também é fácil apontar que o erro crucial de Piastri em Baku também foi decisivo para ele ter perdido pelo menos o vice-campeonato. Mas não é assim que as coisas funcionam. Olhando para trás, podemos até ter este lance de “tal detalhe foi principal responsável” pelo final da competição, mas o campeonato é um passo coletivo, de vários resultados. Ganhou quem, no cômputo geral, errou menos, aproveitou melhor as oportunidades, teve o melhor carro, o melhor time, etc., nem sempre tudo contando junto em cada momento, mas fazendo uma obra que durou 24 corridas e seis provas sprints, onde cada concorrente deu o seu melhor, ou não.
Lando Norris e a McLaren agora que aproveitem para comemorar o resultado, e que aprendam as lições necessárias para manter o nível, e evitar a repetição de erros cruciais no próximo campeonato, onde por enquanto tudo é imprevisível. Eles conseguiram aproveitar a última oportunidade que tinham para capitalizar
Helmut Marko anunciou sua saída do Grupo Red Bull, após praticamente 20 anos junto ao time dos energéticos, e mais do que isso, coordenando o programa de apoio de pilotos da marca, que sob seu comando se tornou mais um pesadelo para jovens pilotos do que um programa de incentivo forte para impulsionar carreiras no mundo do automobilismo. Se é verdade que através do programa muitos conseguiram chegar à F-1, muitos foram literalmente “queimados” no programa, ou depois de chegar à categoria máxima do automobilismo, pelos métodos de cobrança brutais do conselheiro, que usava, e até abusava da confiança e amizade que tinha com Dietrich Mateschitz, fundador da Red Bull. Embora muitos pilotos afirmem que compreendem os métodos, e até a brutalidade das maneiras do dirigente, a verdade é que muito poucos irão tê-lo de fato em consideração, sem guardarem mágoas e ressentimentos. Sua grosseria e críticas muitas vezes exageradas e descabidas promoveram muitas vezes uma saraivada de críticas à sua pessoa, e até à Red Bull. Em outras palavras, ele não deixará saudades, e para mim, já vai tarde… Curiosamente, ele nem teve muito o que comemorar com a demissão de Christian Horner no meio do ano, uma vez que ambos travaram uma batalha de poder dentro do time depois que Mateschitz morreu, com vitória aparente de Horner a princípio. Mas os boatos dizem que Marko já andava com a corda estreita nos últimos meses também, e apesar de seu contrato ir até o fim de 2026, o consultor resolveu se despedir agora. Obviamente, ele não disse muito sobre o motivo de pular fora agora, dizendo apenas que sentiu muito que Verstappen não tenha conquistado o título deste ano, perdendo por pouco. E, convenhamos, aos 82 anos, podemos dizer que, a bem ou mal, ele já cumpriu sua tarefa de vida, e que vá aproveitar uma aposentadoria tranquila nos anos que ainda tem pela frente…
Um dos motivos para a aposentadoria precipitada de Helmut Marko pode ter sido uma dor de cabeça que ele arrumou para a Red Bull esse ano, envolvendo um jovem piloto chamado Alexander Dunne, que teria sido contratado para uma vaga na academia taurina de formação de pilotos sem o conhecimento da alta cúpula da organização dos energéticos, em informação que foi veiculada pelo jornal De Teelegraf nesta semana. Dunne pertencia ao programa da academia de pilotos da McLaren, e chegou a realizar dois treinos livres com o time papaia este ano. O consultor foi atrás do irlandês de 20 anos, e por causa disso, Alexander rescindiu contrato com a McLaren e assinou acordo com o consultor. Só que a direção da Red Bull não tinha interesse no piloto, e nem sabia da negociação, o que resultou no cancelamento do acordo, e ainda tendo que indenizar o piloto, que acreditou que estava pulando para um barco mais promissor, e acabou ficando sem nada, já que perdeu sua vaga no programa da McLaren.
A Sauber despediu-se da F-1 com dignidade, e marcando pontos em sua última corrida, com o 9º lugar de Nico Hulkenberg. O time, que teve inclusive a presença de seu fundador, Peter Sauber, na sua última participação, em Abu Dhabi, se tornará o time da Audi no próximo ano, mantendo a dupla Hulkenberg e Gabriel Bortoleto, que só não conseguiu pontuar diante de seu carro ter perdido performance, e o time ter errado na sua estratégia. A Sauber estreou na F-1 em 1993, e desde então, passou por algumas denominações, tendo sido inclusive o time oficial da BMW por algumas temporadas, e em termos mais recentes, ter usado o nome da Alfa Romeo, até ser adquirida pela Audi, em um processo para a estréia oficial da marca em 2026, inclusive produzindo sua própria unidade de potência. De 1993 para cá, foram 513 GPs na F-1, com apenas uma vitória, de Robert Kubica no GP do Canadá de 2008. O time também anotou 1 pole-position, e conquistou 28 pódios em sua história, sendo o último dele no GP da Inglaterra deste ano, com Nico Hulkenberg.
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| A última prova da Sauber na F-1, com Nico Hulkenberg e Gabriel Bortoleto. Uma despedida digna de mais de três décadas de participação na competição. |
