A Cidade do México recebe mais uma vez a Formula-E no tradicional autódromo Hermanos Rodriguez.
Ano novo, e lá vamos
nós de novo acompanhar as competições do mundo da velocidade, que na verdade já
está em ação, com mais uma edição do Dakar, o mais famoso rali do mundo, que há
muito tempo deixou de ter a capital do Senegal como parte de seu itinerário, e
neste momento, vendeu-se aos árabes, sendo disputado na Arábia Saudita. Mas, a
rigor, para falarmos de competições em circuitos fechados, temos a Formula-E,
que disputa neste final de semana sua segunda prova da temporada 2024/2025, na
Cidade do México. O campeonato, depois de alguns anos competindo apenas em um
ano para cada temporada (o que acho mais correto, até), voltou a iniciar sua
competição em um ano e terminar no ano seguinte. E para nós, brasileiros,
tivemos a honra de pela primeira vez abrirmos uma nova temporada da competição,
com uma corrida que, a exemplo das anteriores disputadas na pista montada junto
ao Sambódromo do Anhembi, na Zona Norte de São Paulo, não ficou nada a dever em
emoção e disputas em relação às corridas anteriores, firmando-se como uma
corrida de destaque no calendário da competição de carros monopostos elétricos.
E o resultado não poderia ser mais apoteótico, com Mith Evans vencendo a corrida, tendo largado praticamente na última colocação, estabelecendo um recorde que nem mesmo a F-1, do alto de seu queixo empinado, conseguiu apresentar em seus mais de 70 anos de competições, que foi ver um piloto largando da última posição do grid e vencer a corrida. Mais do que sorte, Mith também teve competência para ficar longe de confusões ao longo do ePrix de São Paulo, e soube usar da estratégia e do arrojo para aproveitar as oportunidades e alcançar um triunfo que nem mesmo ele ou seu time acreditavam que seria possível, ainda que a natureza da corrida brasileira, e suas provas de pelotão, possam ter dado lá sua ajuda. Mas muitos outros pilotos estiveram em condições de vencer a prova em São Paulo, e não souberam aproveitar a oportunidade, ou não tiveram a sorte necessária para isso.
Mais do que tudo, a F-E viu uma estréia com o pé direito do seu novo modelo Gen3EVO, evolução do modelo Gen3, que dois anos antes, teve um debut cheio de incertezas e problemas logísticos de materiais. As modificações promovidas no carro agradaram em cheio os pilotos, que puderam acelerar com mais vontade na corrida, e proporcionaram vários pegas, disputas, e até um acidente com o atual campeão Pascal Wehrlein, que capotou após um toque, e viu o mundo de cabeça para baixo. Felizmente, a grande segurança dos bólidos evitou que o piloto alemão se ferisse, apesar do susto, e de algumas contusões, mas ele já está pronto para tentar lutar de novo por uma vitória na pista da Cidade do México. O esperado duelo entre Porsche e Jaguar, as forças dominantes da temporada passada, está pronto para um novo round, com a marca britânica tendo saído na frente na primeira corrida, em São Paulo, mas com a equipe alemã mostrando que está preparada para o desafio, já que Antonio Félix da Costa brigou pelo topo do pódio até a bandeirada, perdendo por pouco para Mith Evans o triunfo na primeira corrida da nova temporada. E a Porsche quer partir para a revanche o quanto antes.
Uma revanche que pode ter alguns intrusos no meio, como comprovou a Nissan, que poderia ter lutado pela vitória, não fosse um problema no gerenciamento de energia que fez seus pilotos usarem mais carga do que o permitido, o que lhes acarretou uma punição pela infração. Mas se o time de fábrica ficou fora da briga, em especial Oliver Rowland, a McLaren, time cliente da marca nipônica, mostrou a capacidade de seu novo trem de força, com Taylor Barnard fechando o pódio, em 3º lugar, com Sam Bird logo atrás em 4º, mostrando que Jaguar e Porsche poderão ter companhia na briga pelas vitórias nas próximas corridas. É verdade que o desempenho visto em São Paulo ainda precisa ser confirmado, e nada melhor que verificarmos na etapa mexicana se a relação de forças irá se manter, ou se alguém ainda tem suas surpresas guardadas na manga para apresentar, ajudando a embolar a disputa. E será que poderemos ver na Cidade do México o mesmo show que tivermos oportunidade de presenciar na etapa brasileira?
A pista mexicana infelizmente não tem a mesma desenvoltura da pista de São Paulo, que teve a honra de ser concebida já tendo em mente as necessidades do modelo Gen3, e tendo se mostrado muito apta também ao potencial do modelo Gen3EVO. O principal ponto positivo da pista da Cidade do México é poder ser feita no Autódromo Hermanos Rodriguez, com suas excelentes instalações e arquibancadas, perfeitas para receber equipes e público para a corrida, e estes aproveitam para encher o autódromo naqueles setores. Mas o circuito, por sua vez, também é muito limitador no que tange ao traçado. E isso porque, ao contrário de muitas pistas, o autódromo da capital mexicana não conta com opções de traçados alternativos. Ele tem apenas um traçado oval, que foi adaptado para as competições da Formula-E já em sua primeira geração.
A nova temporada da F-E começou em São Paulo, com mais uma corrida cheia de emoções e disputas.
A pista era ainda mais
travada em seu design inicial, sendo um desafio para ultrapassagens. Mas, em
uma época onde os pilotos precisavam trocar de carro durante a prova, diante da
incapacidade das baterias à época suportarem toda a corrida, equipes e pilotos
usavam o recurso como forma de driblar as dificuldades de superar os rivais na
pista, e proporcionavam grandes corridas, apesar do traçado truncado.
Posteriormente, ele foi modificado, da forma como era possível, ganhando sua
configuração atual, com 19 curvas em um percurso de 2,63 Km, que pelo menos
resgatou a antiga Peraltada, banida das competições da F-1 diante da ocupação
do espaço daquele setor, promovendo um espaço um pouco mais dinâmico para as
disputas de posição. Apesar de tudo, o traçado tem lá suas particularidades, e
é preciso saber aproveitá-las para tentar ganhar vantagem sobre os
concorrentes, algo que pode apresentar resultados bem positivos, se for feito
um bom trabalho, fora, e dentro da pista.
É verdade que nos últimos anos, diante da ineficácia do Modo Ataque, as dificuldades de ultrapassagens voltaram, mas as mudanças efetuadas na aerodinâmica dos carros, aliado aos novos pneus mais macios da Hankook, e ao sistema de tração integral dos carros quando do uso do recurso, devem promover a revitalização do recurso, o que pode tornar a prova mexicana novamente empolgante, com muitos duelos e disputas.
O Modo Ataque se mostrou incrivelmente revitalizado na etapa de São Paulo, promovendo um incremento de performance incrível quando os pilotos utilizaram o sistema, voltando a ser um recurso capaz de mudar a dinâmica da corrida, como deveria ser, se bem utilizado. Mas, como já mencionei, a pista paulistana permitiu esse desempenho, uma vez que foi concebida para acomodar a maior performance dos carros atuais. A pista mexicana, concebida e adaptada ainda na era dos carros Gen2, proporcionará o mesmo salto de performance? Haverá diferenças, isso é fato, e a questão é se o incremento de performance proporcionará o mesmo show visto em São Paulo.
Um detalhe precisa ser levado bastante em consideração: os pneus. Os novos compostos da Hankook, como mencionado, são mais macios, proporcionando maior aderência, como pilotos e equipes pediam, mas também se desgastam mais rápido que os compostos utilizados na temporada passada. Em São Paulo, o circuito desgastou os pneus menos do que o esperado, o que até surpreendeu alguns times e pilotos, que esperavam uma degradação maior dos pneus no fim de semana. Este desgaste variou, dependendo do acerto de alguns times para seus carros, mas ainda assim, é uma variável que precisava ser observada, de quanto os novos pneus se desgastariam, e como isso alteraria o gerenciamento dos mesmos por parte dos pilotos, que depois de alguns anos usando compostos mais duros, precisariam ser mais precisos e sutis no uso do acelerador para não comprometerem a eficiência dos novos pneus. Na pista mexicana, contudo, o problema pode ser potencializado, já que o asfalto do autódromo Hermanos Rodriguez tem um grau de abrasividade diferente da pista brasileira, e portanto, os novos pneus podem sofrer um desgaste muito mais elevado, obrigando os pilotos a terem de ser ainda mais cuidadosos no seu gerenciamento, lembrando que o recurso da tração integral quando do uso do Modo Ataque também contribui para um desgaste maior dos compostos. Aliado ao fato de que a corrida mexicana terá duração de 36 voltas, uma a mais que a edição de 2024, este fator pode se tornar um detalhe crucial para a estratégia dos pilotos, lembrando também que possíveis intervenções do Safety Car em caso de acidentes podem aumentar a duração da prova, a exemplo do que vimos em São Paulo.
Aliás, como tivemos duas interrupções da corrida no Anhembi, isso ajudou na durabilidade dos compostos, que puderam “descansar” durante o período de parada da corrida, ajudando-os a durarem mais. Mas se a corrida tivesse sido realizada sem as paradas, certamente os pneus poderiam ter se degradado muito mais. E cada carro tem apenas 2 jogos de compostos por fim de semana, em caso de corridas únicas, de modo que poupar os pneus, agora muito mais macios, torna-se de fato um fator que pode determinar o sucesso ou fracasso da estratégia dos times e pilotos. Daí o fato de se levar em consideração as diferenças de piso entre o circuito urbano do Anhembi, e o circuito convencional da Cidade do México.
As disputas prometem ser um tira-teima para muitos pilotos e times. Em especial para os times clientes de Jaguar e Porsche. Em São Paulo, a Andretti não teve muito o que comemorar na etapa, onde viu Jake Dennis ter problemas no carro e abandonando a corrida, e seu novo piloto Nico Muller ficando muito aquém de conseguir um bom resultado. Campeã com o trem de força da Porsche na temporada retrasada, a equipe Andretti não conseguiu repetir o bom entrosamento no ano passado, deixando Dennis sem condições de defender o seu título. Para esta nova temporada, a equipe quer voltar a conseguir aproveitar o excelente trem de força alemão e voltar a brigar firme por vitórias e pelo título.
Pelo mesmo raciocínio vem a equipe Envision, que inclusive foi campeã de equipes na temporada retrasada, superando até o time de fábrica da Jaguar, e marcou passo na temporada passada, sem conseguir exibir o mesmo brilho. Com a mesma dupla para o novo ano, o time até viu Sébastien Buemi ter um desempenho firme em São Paulo, com um 7º lugar, mas viu Robin Frijns ficar pelo meio do caminho. Não apenas a equipe quer recuperar o brilho perdido de dois anos atrás, mas seus pilotos também querem deixar o momento ruim para trás, especialmente Buemi, que já foi campeão da categoria, mas desde então não voltou a exibir o mesmo desempenho.
Quem pareceu ter recuperado um pouco a performance foi a Mahindra. O time indiano teve um dos piores trens de força do grid nos últimos dois anos, mas parece ter conseguido uma certa recuperação, pelo menos em São Paulo, onde sua dupla de pilotos terminou em 5º e 6º lugares, um resultado muito positivo para uma escuderia cujo último resultado positivo tinha sido o pódio do 3º lugar de Lucas Di Grassi há dois anos atrás na Cidade do México. A marca indiana, contudo, perdeu seu time cliente, a ABT, que enveredou pelo novo projeto da Lola na competição de carros elétricos, marcando a volta de um nome tradicional no automobilismo a uma categoria mundial de monopostos, em parceria com a Yamaha, outro nome que também já esteve no grid da F-1, mas sem nunca conseguir exibir o mesmo desempenho e performance de sua compatriota e rival Honda.
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Lucas Di Grassi não teve uma estréia muito positiva do novo trem de força Lola/Yamaha, tendo de abandonar a corrida em São Paulo. |
Aliás, o desempenho na pré-temporada e no ePrix de São Paulo mostraram potencial interessante para o novo equipamento, mas que ainda carece de muito trabalho para se mostrar efetivamente competitivo. Lucas Di Grassi teve de abandonar a corrida com problemas no novo trem de força, e seu companheiro de equipe, o novato Zane Maloney, foi o 13º colocado. Já a “nova” equipe Kiro, contando agora com o trem de força da Porsche, mesmo sendo o equipamento do ano passado, parece poder contar com dias mais positivos na competição. Exceto para Sergio Sette Câmara, que acabou rifado pelo time por imposição da marca alemã, em troca do fornecimento de seus motores, para aceitar seu piloto David Beckmann.
O primeiro treino livre é hoje, no fim do dia, com transmissão ao vivo pelo canal do You Tube do site Grande Prêmio, e pelo canal pago Bandsports, a partir das 19:45 Hrs., pelo horário de Brasília. A classificação terá transmissão a partir das 12:30 Hrs. Deste sábado, com a corrida podendo ser acompanhada a partir das 16:30 Hrs. Portanto, podem começar a se preparar para acompanhar mais uma etapa que tem tudo para ser bem movimentada. Se vai ser mais ou menos do que vimos em São Paulo, não dá para saber, mas as expectativas são positivas. Resta ver quem irá se dar melhor na etapa mexicana.
Christian Horner, chefe da equipe Red Bull, afirmou esta semana que o time está preparado para lidar com as expectativas de Liam Lawson na escuderia, e que o projeto do novo modelo RB21 está sendo visado também para o estilo de pilotagem do neozelandês, que foi promovido da Visa RB para o time principal, no lugar do demitido Sergio Perez. Horner declarou que sabe quão difícil é a tarefa de ser companheiro de alguém como Max Verstappen, e que o objetivo é evitar expôr Lawson a um desgaste prematuro caso a relação de forças entre os dois pilotos seja muito significativa. Acredite quem quiser, diante do histórico de “queimar” pilotos que o time dos energéticos possui, em boa parte graças a Helmut Marko, que só tem olhos mesmo para Verstappen. Perez, que ficou no time por quatro temporadas, pode ter sido uma exceção à regra, mas esse papo de deixar o novo carro com um comportamento que possa ser “aproveitado” por Lawson parece mais outra conversa para inglês ver, já que em vários momentos Perez também pediu por acertos que deixassem o carro mais adequado à sua pilotagem, e a escuderia nada lhe fez a respeito, muito pelo contrário, foram só cobranças de melhores resultados, já que Verstappen vencia corridas a rodo. Será que o time aprendeu com os erros do modelo RB20? Só esperando para ver. Mas é bom que Lawson comece a se preparar, porque o único colega de time que Verstappen teve que andou no seu nível foi Daniel Ricciardo, e desde a saída do australiano para a Renault em 2019, nenhum outro piloto incomodou o holandês no time dos energéticos, que no processo já defenestraram vários pilotos. Lawson pode ser o novo nome a engrossar esta lista, se não tomar cuidado. E resta saber até onde irá a “paciência” do time, se fará juz ao que o neozelandês precisa, ou se o fritará sem nenhuma cerimônia... Que o presente ganho por Liam ao fim do ano passado não vire um presente “de grego” e se torne um autêntico pesadelo...
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