sexta-feira, 30 de agosto de 2024

A CAÇA A VERSTAPPEN

Max Verstappen até conseguiu largar melhor, mas desta vez não conseguiu, ou preferiu não lutar de forma desnecessária, com Lando Norris, da McLaren.

            Max Verstappen perdeu a invencibilidade em casa domingo passado. O tricampeão holandês, desde o retorno do GP da Holanda ao calendário em 2021, havia feito a pole-position e dominado a corrida em todas as edições desde então. Mas este ano, o panorama mudou. Lando Norris fez a pole, e venceu a prova. Max, apesar do mau humor com seu resultado, não teve do que reclamar propriamente: largou em 2º, e terminou em 2º. Como resultado, sua vantagem na classificação, até então de 78 pontos, baixou para 70 pontos, frente justamente a Norris, vice-líder na pontuação. E fica a grande pergunta: o piloto da McLaren pode ser campeão?

            No que tange ao campeonato de construtores, a situação é bem complicada para a até outro dia imbatível Red Bull. O time de Woking fez 1º e 4º colocados, frente ao 2º e 6º colocados do time dos energéticos, e com isso, sua dianteira no campeonato caiu para 30 pontos, uma diferença que, diante do panorama atual, deve ruir em duas corridas, talvez três, ou até mesmo em uma, a depender dos acontecimentos e circunstâncias. Já em relação ao campeonato de pilotos, a pergunta é mais difícil. Norris pode ser sim, campeão, mas não vai ser uma tarefa fácil, mesmo com a McLaren tendo o melhor carro do momento.

            Imaginando-se uma repetição do resultado da Holanda nas nove provas finais da temporada deste ano, com Norris vencendo, e Verstappen sendo o 2º colocado, descontando-se as corridas sprints, e o ponto pela melhor volta, o inglês tiraria 7 pontos de Max por prova, conseguindo recuperar 63 pontos, e portanto, faltando 7 para alcançar o piloto da Red Bull, que conquistaria o tetracampeonato. Mas é difícil imaginar que este tipo de resultado se repita, pelo menos em todas as provas restantes deste ano. O clima segue imprevisível, e mesmo com a excelente forma da McLaren, ela não está usufruindo deste bom momento como poderia fazer. E há outros times que podem embaralhar a situação, e tornar a disputa ainda mais difícil e árdua tanto para um quanto outro piloto e time. Cada corrida poderá ter um panorama diferente, não há como prever o que se passará em todas as nove provas restantes do ano. E claro, as corridas sprint também podem ser tanto uma ajuda quanto um revés para ambos.

            A Mercedes, que poderia ter complicado a situação do time dos energéticos, não se achou na pista holandesa, e isso facilitou as coisas para Verstappen, que só teve mesmo que lidar com Lando Norris. E a sorte do tricampeão ajudou no fato de Oscar Piastri, que tinha andando muito forte, e até mesmo à frente de Norris, não ter conseguido fazer uma boa largada em Zandvoort. O australiano ficou preso atrás de George Russell na largada, e isso o fez perder contato com Norris e Verstappen na corrida. Mesmo quando se livrou do piloto da Mercedes, contudo, Piastri não conseguiu se aproximar dos ponteiros, e pior, novamente, a estratégia da McLaren o fez voltar atrás de Charles LeClerc, que fez uma grande corrida, e ao contrário do que muitos esperavam, conseguiu segurar a 3ª colocação, e até se aproximou de Verstappen no fim da corrida, ainda que em nenhum momento tenha se colocado como ameaça ao 2º posto do holandês. Mas, se a Ferrari tivesse ido ainda melhor? Verstappen talvez não tivesse conseguido subir nem ao pódio, o que potencializaria suas perdas na etapa de casa.

Depois de superar Verstappen, Norris levou a McLaren à vitória na pista holandesa com a mesma facilidade que o piloto da Red Bull vinha desmoralizando os concorrentes no início da temporada.

            Neste ponto, aliás, já há quem questione se a McLaren não teria feito bobeira com a invertida de posições na Hungria, dando a vitória a Oscar Piastri, e não a Lando Norris. Por mais que tenha sido um erro de estratégia que colocou o australiano atrás de seu colega de time inglês, a verdade é que o time se desgastou necessariamente com isso. E faltou inteligência também a Lando, que poderia ter devolvido a posição a Piastri, e com quase 20 voltas de corrida ainda, poderia ter ido buscar novamente a vitória no que restava da prova, visto que estava conseguindo ser mais rápido que Oscar naquele momento. O triunfo cortaria a vantagem de Verstappen para 63 pontos, algo mais aceitável do que os atuais 70 pontos de desvantagem do piloto da McLaren, e colocaria ainda mais pressão no tricampeão da Red Bull, que teria menos margem para administrar nestas corridas que restam.

            Verstappen, pelo menos, soube correr com a cabeça, e isso é que fará a diferença nestas próximas corridas. Ele parece ter aceitado, a contragosto, que suas estripulias na Hungria o fizeram perder pontos que podem ser importantes, e não engrossou desnecessariamente na hora de ser superado por Norris em Zandvoort. Uma reprise do enrosco vivenciado em Zeltweg poderia dar ruim, ainda mais diante de sua torcida, e sem garantias de que Norris tivesse mais azar do que ele. Na hipótese de um enrosco acabar resultando em seu abandono, e Norris permanecer na corrida, o prejuízo poderia ser muito maior. O lance, como ele mesmo disse, é “não entrar em pânico”. E não é mesmo. Manter a cabeça no lugar é a melhor resposta, e a situação não é assim tão desesperadora como pode parecer.

            O modelo RB20 não é um carro ruim como as reclamações de Verstappen podem dar a entender. O problema é que a concorrência evoluiu mais que o time dos energéticos, que se antes podiam se dar ao luxo até de administrar os resultados, agora precisam buscar tudo a que tiverem direito. Se formos comparar só pelo que vimos no GP da Holanda no fim de semana passado, e a mesma prova em 2023, podemos estabelecer um parâmetro de comparação da evolução tanto de Verstappen quanto de Norris na mesma corrida. Em 2023, Verstappen fez a pole com o tempo de 1min10s567, enquanto Norris largou na 2ª posição, com o tempo de 1min11s104. Este ano, as posições se inverteram: foi Norris a marcar a pole, com 1min09s673, e Verstappen a ser o 2º, com 1min10s029. Em comparação com o ano passado, o tempo de Max melhorou 0s538, porém, o tempo de Lando evoluiu 1s431. Arredondando, enquanto Verstappen foi pouco mais de meio segundo mais veloz, Norris foi quase um segundo e meio, em outras palavras, a McLaren conseguiu uma melhora de quase 1s melhor que a Red Bull. Isso dá uma idéia de como os dois times melhoraram, com a McLaren mostrando uma evolução muito mais contundente que a Red Bull.

Má largada impediu que Oscar Piastri (acima) fizesse uma performance igual à de Norris, perdendo o pódio e as chances de terminar à frente de Max Verstappen. Já a Ferrari (abaixo) conseguiu avançar na corrida, com boas posições finais de Charles Le Clerc e Carlos Sainz Jr.


            Mas isso não quer dizer que o time dos energéticos está derrotado de vez. O desempenho pode variar, dependendo da pista, e sabendo que as últimas atualizações não deram certo, a Red Bull já está tentando encontrar soluções para isso. Aqui em Monza, onde domingo temos o GP da Itália, o time austríaco está com seu carro de volta às configurações originais do início da temporada. O objetivo é pelo menos devolver a estabilidade ao bólido, e com sorte, recuperar assim parte da performance que acabou perdida com as evoluções que deixaram o RB20 mais nervoso e difícil de pilotar. É um começo para tentar recuperar a performance do carro, um passo atrás para encontrar como dar novos passos à frente. Fica a dúvida sobre como será o desempenho de Verstappen neste final de semana. Monza é uma pista de alta velocidade, e era um dos pontos fortes do carro da Red Bull. O downgrade do carro pode dar certo, e eles recuperem pelo menos a estabilidade do carro e sua grande velocidade, ajudando a enfrentar a McLaren, que já mostrou que suas atualizações deixaram o modelo MCL38 rápido e versátil, capaz de ir bem em todo tipo de pista. Mas a própria McLaren não quer se deixar levar pelo entusiasmo exagerado, preferindo manter os pés no chão também para não levar um tombo inesperado, ainda mais diante dos detalhes que ela sabe que precisa melhorar, especialmente na estratégia de corrida, onde uma decisão errada pode comprometer, se não até arruinar a prova de seus pilotos. Já vimos isso várias vezes este ano, e fica a dúvida se a escuderia irá de fato corrigir esta postura.

            Mas fica também o perigo que Mercedes e Ferrari podem representar em Monza, e se isso impactará o duelo Verstappen-Norris. Se eles chegarem para a briga, e como chegarem. Mas também não podemos esquecer que um dos problemas do time da McLaren são seus erros de estratégia e dos pilotos. O GP da Itália é uma corrida simples, sem muitas variáveis de estratégia, mais de velocidade pura, e portanto, uma chance de testarem a força de cada time. Não dá para contar que a Verstappen será batido em todas as pistas, e o holandês, hábil em explorar as circunstâncias da prova, terá neste ponto o seu grande trunfo para tentar se sobressair sobre os rivais. Mas, quanto mais rivais fortes para disputar, pior poderá ser o panorama, com o risco de ser superado por mais concorrentes ao menor erro, um perigo que Max precisará mais do que nunca manter a cabeça fria, pois cada prova que ele conseguir minimizar os prejuízos joga mais pressão também sobre Norris, que mesmo afirmando que pensar no título ainda é “estupidez”, na verdade é algo que ele não pode deixar de se preocupar, pois se hesitar, pode perder oportunidade de chegar mais rápido no rival holandês.

            E a Mercedes, e talvez a Ferrari chegarem para a briga, pelo menos em Monza, pode vir a ser um complicador também para a McLaren, que pode ter de duelar com eles, ao invés de apenas com Verstappen. Se a vitória cair na mão de qualquer um destes dois times, Norris terá menos chances de diminuir de forma mais eficiente a desvantagem para Verstappen, já que a maior diferença de pontos entre as posições é justamente do 1º para o 2º colocado, 7 pontos. Daí para baixo, as diferenças vão diminuindo, e as chances de Max minimizar os prejuízos aumentam. Mesmo assim, é uma faca de dois gumes, pois se Norris conseguir vencer, seu companheiro Piastri, e as duplas de Mercedes e Ferrari podem ajudar a aumentar ainda mais as chances de desmontar a dianteira de Verstappen, dependendo do desempenho do holandês. E com um detalhe importante: o holandês terá que tomar cuidado com sua agressividade na hora de disputar posições, pois uma manobra errada pode ter consequências sérias, e a possibilidade de um abandono, algo a se evitar a todo custo. Para complicar a situação, depois da sova que tomaram de Verstappen e da Red Bull em tempos recentes, todos os rivais vão querer tirar sua lasquinha de satisfação na pista, e não vão dar mole para o piloto da Red Bull, se virem a chance de deixa-lo para trás.

            A caçada de Lando Norris a Max Verstappen apenas começou. Na Holanda, Norris venceu o primeiro round, mas não foi exatamente um nocaute como poderia ter sido. O que esperar aqui em Monza? No mínimo, se quiser mesmo ser campeão, Lando tem de partir para o ataque desde já. Falta combinar com os outros, porém, e especialmente, com Verstappen, que não pode ser subestimado nunca. Norris já sabe disso, mas será que ele finalmente mostrará aquele ímpeto “matador” que todo campeão precisa ter se quiser de fato vencer um campeonato? Muitos acham que não. É a hora do inglês mostrar que estão errados. Ou certos, se não se impor como deve...

 

 

Situação inusitada nesta quinta-feira em Monza: o Safety Car, conduzido por Bernd Maylander, sofreu um acidente na Curva Parabólica, atingindo a proteção de pneus no lado externo da famosa curva do circuito italiano. Maylander conduzia o carro como parte das atividades de rotina de checagem dos sistemas do veículo, a fim de garantir que está tudo em ordem para quando for exigida sua intervenção no fim de semana, em algum momento. Ao fazer um teste de velocidade, outro procedimento de rotina, contudo, ele aparentemente perdeu o controle do modelo Aston Martin, atravessou a área de escape asfaltada da Parabólica e, em seguida, pulou na área de brita antes de acertar as barreiras de pneus na parte externa da pista. Apesar do forte impacto nos pneus, Maylander e seu passageiro no carro nada sofreram. O modo como o carro saiu do controle na Parabólica sugere um possível problema mecânico, e não um erro do piloto, mas pelo sim, pelo não, o veículo já ia ser analisado, e para qualquer eventualidade, há um carro reserva para ser usado como Safety Car, prevendo este tipo de problema, que é bem raro, ainda que não inédito, na história da F-1.

 

 

A Indycar está de volta a um dos circuitos ovais mais clássicos dos Estados Unidos. Milwaukee, no Wisconsin, é um pequeno circuito oval de apenas uma milha, mas é o mais antigo circuito de corridas dos Estados Unidos. Construído em 1903, ele era inicialmente uma pista de corrida de cavalos, com piso de terra. Tendo passado a ser palco de corridas de carros, o traçado foi pavimentado em 1954, e a partir daí, se fez presente em nas mais diversas categorias automobilísticas dos Estados Unidos, tendo feito parte do calendário da F-Indy original, sendo considerado o circuito que mais categorias de competição já recebeu em sua história de mais de um século de existência. Posteriormente, a pista também integrou a Indy Racing League (IRL), atual Indycar, tendo sua última aparição no calendário em 2015. Desavenças entre os promotores da corrida resultaram na saída de Milwaukee do calendário da competição desde então, com a pista retornando à categoria apenas este ano, e como que tentando recuperar o tempo perdido, em uma rodada dupla. O traçado possui muito pouca inclinação nas curvas, e as corridas ali sempre foram desafiantes diante do tráfego dos retardatários, já que as voltas eram feitas em pouco mais de 20s, de modo que os líderes não demoravam a encontrar com os últimos colocados. O recorde do circuito, aliás, é de 21s519, de Scott Pruett, obtido em 1998, ainda nos tempos da F-Indy original, com um carro Reynard/Ford. Já na atual Indycar, o recorde é de Hélio Castro Neves, com a marca de 22s1211, obtido em 2015 com Dallara/Chevrolet. Marcas que tem boas chances de serem superadas pelos carros atuais neste retorno da lendária “Milha” ao calendário da Indycar. Uma corrida agitada é o que se pode esperar de Milwaukee, e no que tange à disputa pelo título, é mais um palco onde Will Power precisa otimizar seu desempenho, e ainda torcer para Álex Palou ter azar nas provas, já que precisa descontar uma desvantagem de 54 pontos, muita coisa para tentar tirar faltando apenas 3 corridas para fechar a temporada. Palou deu sorte na última corrida em oval, em Gateway, onde Power acabou atingido por Alexander Rossi e tendo de abandonar, enquanto o espanhol da Ganassi terminou em 4º, aumentando sua já folgada liderança no campeonato, que corria o risco de ser drasticamente reduzida. Quem terá mais sorte e competência neste final de semana? A corrida neste sábado terá largada às 19:00 Hrs. Já no domingo, o horário será diferente, com a largada sendo feita às 16:00 Hrs.

 

O centenário circuito oval está de volta ao calendário da Indycar, sediando uma rodada dupla neste fim de semana.

 

E a MotoGP também entra na pista neste fim de semana, com a etapa de Aragón, na Espanha. A corrida Sprint neste sábado tem largada a partir das 10:00 Hrs., enquanto a corrida principal, no domingo, começa às 09:00 Hrs., com transmissão ao vivo pelo canal ESPN4, e pelo sistema de streaming Disney+. 

Aragón, na Espanha, deve ver um novo embate entre Jorge Martin e Fracesco Bagnaia neste final de semana. 

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