sexta-feira, 6 de março de 2020

VIRANDO-SE COMO SE PODE

Apesar dos trancos e barrancos causados pelo surto do coronavírus pelo mundo, a F-1 está pronta para embarcar para a Austrália, para o início do campeonato, do jeito que der.

            Os campeonatos do mundo do esporte a motor estão tendo uma grande complicação neste ano de 2020. O surto do coronavírus, em uma nova variedade que surgiu na China, alastra-se pelo mundo, e tal qual um incêndio, está fazendo com que muitos países e pessoas cheguem a ficar em até em estado de pânico, sem saberem lidar com o problema de cabeça fria. Se é verdade que atitudes precisam ser tomadas, muitas pessoas estão alarmadas além da conta sobre esta nova doença, que até agora não se mostrou tão letal quanto outras que surgiram, e sendo que no presente momento, outras enfermidades mais comuns e conhecidas há tempos ainda infectam e matam mais gente ainda. A situação não é tão calamitosa quanto se fala, mas o estrago já está feito, e para muitos, parece que estamos à beira do apocalipse, o que compromete o andamento normal das atividades.
            Neste final de semana, as equipes da F-1 iniciam sua longa viagem até a Austrália, para no próximo final de semana termos a abertura do Mundial de 2020. O campeonato já sofreu a “baixa” do GP da China, oficialmente “adiado”, mas que deve ser definitivamente cancelado, pela dificuldade de se encaixar uma nova data no segundo semestre, dado o crescimento do número de provas da categoria máxima do automobilismo. A doença parece ter se estabilizado em solo chinês, e as estatísticas de pessoas curadas já são superiores às de infectados, e o número de mortes, apesar de alto, se for estatisticamente comparado às mortes causadas por outras doenças, é menor. Mesmo assim, não se baixa a guarda, e por isso mesmo, as etapas esportivas em solo chinês continuam suspensas até ordem em contrário. Por isso, a etapa da Formula-E, programada para este mês de março na cidade de Sanya, foi cancelado, com a organização estudando uma possibilidade de rodada dupla em Berlim ou Nova Iorque, inicialmente.
            Mas a situação está mais complicada, porque agora é a Itália que entra em parafuso com o número de infectados pela doença, o que chegou a fazer alguns países até proibirem a entrada de cidadãos italianos, como já haviam feito com os chineses. E a situação na península itálica coloca em dúvida a etapa seguinte da F-E, o ePrix de Roma, marcado para daqui um mês. Já se fala em cancelar a corrida, embora a direção da categoria de carros elétricos ainda não tenha tomado posição oficial a respeito. Mas, se Roma sair do mapa, e as demais etapas na Europa, como Paris e Berlim? Temos programada uma etapa na Coréia do Sul, mas o país asiático também está enrolado com o coronavírus, que chega a ameaçar até mesmo a realização dos Jogos Olímpicos no Japão, programados para o verão no hemisfério norte, mas que poderia ser adiado para o final do segundo semestre, numa solução intermediária. Para sorte da F-1, o GP do Japão será apenas em outubro, mas a categoria máxima do automobilismo também tem seus problemas.
            Se o GP da Austrália está confirmado, a etapa do Bahrein ainda fica razoavelmente na berlinda, uma vez que os ingressos para o GP tiveram sua venda suspensa nesta quinta-feira, enquanto as autoridades avaliam as condições de segurança para a corrida. Mas a prova do Vietnã está em risco, uma vez que o governo do país está impondo condições que podem inviabilizar a entrada de vários integrantes do circo da F-1. E não é para menos: a categoria mobiliza mais de mil pessoas viajando para os locais de GP, contando as equipes, pessoal oficial de apoio, e sem mencionar obviamente o pessoal da imprensa especializada. É uma grande movimentação de pessoas, de diversos países, e que tornam-se transmissores potenciais do coronavírus. Está difícil conseguir prever o que pode acontecer, pois os países podem tanto relaxar suas condições de entrada, como torna-las ainda mais restritivas.
Prova do Bahrein, uma semana após a Austrália, suspendeu a venda de ingressos, e pode adotar outras medidas que compliquem ou até inviabilizem a corrida de F-1.
            O pessoal da MotoGP que o diga. A etapa do Catar, programada para este final de semana, com o início dos treinos marcado para hoje, contará apenas com o pessoal das categorias Moto3 e Moto2. A classe rainha do motociclismo, a MotoGP, teve sua prova cancelada. O motivo é que o governo catariano impôs quarentena de praticamente duas semanas e pessoas vindas da Itália, e boa parte do pessoal das equipes é justamente italiana, ou trabalha no país. A exceção do pessoal das categorias de acesso é que eles já estavam no país quando a condição foi imposta, uma vez que ficaram por lá após a realização dos testes da pré-temporada. Já a turma da MotoGP também fez testes no circuito de Losail, mas em seguida todos voltaram às suas sedes, para finalizar suas preparações, e com isso, não teriam como retornar ao país do Oriente Médio e cumprir o período de quarentena. A etapa da Tailândia, que viria logo a seguir, acabou adiada para o início de outubro. Com isso o campeonato da MotoGP começará efetivamente em abril, com o GP dos Estados Unidos, no Circuito das Américas, em Austin. A etapa da Itália, marcada para o fim de maio, por enquanto ainda não corre risco, mas...
            Curiosamente, duas pistas se ofereceram para substituir a etapa da China no calendário da F-1, mas pistas... Na Itália! San Marino e Mugello chegaram a se oferecer para sediarem a corrida, mas isso foi antes da península itálica começar a ter seus casos. O que já era complicado, normalmente, em que pese serem opções interessantes, foram para o vinagre de vez, e o campeonato da F-1, em tese, só terá começo sem preocupação no início de maio, com a prova da Holanda... E isso se os Países Baixos também não surtarem até lá. Se a situação não se acalmar, muita coisa pode ir pelo rali. Na pior das hipóteses, há quem afirme que o campeonato da F-1 pode só terminar em 2021, mas a categoria faz questão de dizer que irá correr. Inclusive, Ross Brawn teria dado o aviso de que, se algum país impor restrições à entrada do pessoal de algum time, de modo que esta escuderia acabe ficando fora da prova, a corrida não será realizada. A categoria máxima também rejeita a possibilidade de fazer uma corrida a portas fechadas, sem público nas arquibancadas.
            Apesar disso, algumas medidas de prevenção foram tomadas: recomendou-se às escuderias viajarem apenas com seu pessoal indispensável para manter as atividades de pista do fim de semana de GP. A Ferrari avisou que mandará todo o seu staff programado, e não sei como os demais times procederão com isso. A organização da prova australiana disse que tomará certas medidas para evitar ao máximo as aglomerações de público no paddock e nas arquibancadas além do necessário, o que significa que a tradicional badalação da corrida australiana não deve se repetir este ano. Apesar das garantias de que a prova será realizada, tudo ainda pode mudar até a semana que vem, em termos positivos ou negativos. Mas houve quem não quis correr riscos: a RTL, emissora que transmite a F-1 na Alemanha, comunicou que não enviará sua equipe de transmissão não só para a prova da Austrália, como também não irá ao Bahrein e ao Vietnã, fazendo a exibição destas corridas em estúdio, em sua sede, em Colônia. A mesma posição também será adotada por alguns outros veículos e profissionais, como medida preventiva.
Prova de F-1 na China foi adiada, sabe-se lá para quando. Corrida da F-E foi oficialmente cancelada pelo surto do coronavírus.
            É muito complicado tentar contornar estes eventos inesperados. Para a F-1, pelo seu gigantismo, tanto em termos de equipamento, como de pessoal envolvido, cancelar uma etapa pode ser bem ruim. Todo o transporte é planejado com muita antecedência, para levar todo o equipamento necessário, que ocupa três aviões de carga, e dos grandões. Fora isso, tem também o lado burocrático da situação: reservas de hotéis, passagens compradas, vistos e formulários preenchidos, que, de uma hora para a outra, precisam ser modificados e/ou cancelados. E não é apenas o pessoal da F-1 que vive isso. Pessoas de outras atividades profissionais que viajam ou mundo, ou apenas pessoas que esperaram um bom tempo para fazer uma aguardada viagem, estão nesta zica toda. Imaginem os problemas.
            Quem decide não viajar tem problemas para recuperar o dinheiro já gasto, e para piorar, em muitos lugares, apesar do pânico e de alguma histeria, hotéis e outros estabelecimentos, por exemplo, não estão aceitando os cancelamentos, ao menos não sem impôr perdas aos hóspedes que decidiram cancelar suas viagens. Cancelar uma passagem aérea, então, nossa, lá vem frescura e todo tipo de complicação... Não generalizo a situação, pois há empresas e empresas, bem como locais e estabelecimentos que entendem o momento, e sabem que a situação é de prudência... Mas é tudo muito complexo, e o surto do coronavírus já bagunçou a economia mundial o suficiente, e ainda não sabemos quão mais isso pode piorar.
            E quem não se intimidou, e está viajando assim mesmo, também está entrando numa fria. Várias atrações e eventos mundo afora estão sendo cancelados ou fechados. O Museu do Louvre, em Paris, uma das atrações mais visitadas de toda a Europa, está fechado sem previsão de reabertura. O Parque da Disney em Tóquio, assim como a Skytree, duas atrações da capital nipônica, também estão fechados no presente momento. Então, quem não cancelou suas viagens também está sofrendo prejuízos de outras formas. De um modo ou de outro, todo mundo está perdendo, não importa qual decisão se tome.
            Remarcar um GP de F-1, então, vai ser dose. Com o crescimento do calendário, que este ano deveria ter 22 provas (e olhe a Liberty Media chegava a falar em até 25 corridas), restaram pouquíssimas datas para se acomodar uma prova em outra data, sem causar graves transtornos de logística às equipes. E como se desgraça pouca fosse bobagem, enquanto algumas corridas até seguem uma lógica, como as provas do continente americano no fim do ano (México, Estados Unidos, e Brasil), por outro lado tem certas corridas em uma ordem completamente insana, como o fato da prova do Azerbaijão, em Baku, vir logo antes do Canadá, com uma semana de diferença, o que obriga os times a empacotarem todo o seu material tão logo acabe a corrida e tentar ir praticamente para o outro lado do mundo às pressas. E ainda temos as complicações locais, como por exemplo, disponibilidade do circuito (que pode ter outra prova marcada para a data pretendida no adiamento), e ainda ver como resolver os problemas referentes a gastos que o organizador local do GP tem de arcar. Todo contrato tem cláusulas prevendo o não-cumprimento de certas obrigações, e até mesmo se a prova não for realizada, mas a situação do coronavírus tem posto de cabeça para baixo até o mais caótico esquema de emergência, então, durma-se com um barulho desses, tentando achar uma solução. Todo mundo tem que se virar do jeito que pode, e até do jeito que não pode. As provas mais adiante no calendário, seja ele de qual categoria for, no momento corre menos riscos, mas vai depender de como a situação da doença evolui.
Ferrari estará com seu staff integral na Austrália. Time italiano não impôs quarentena a seus funcionários, apesar da muvuca que a Itália vive com o surto do coronavírus.
            Até o presente momento, algumas categorias escaparam destes problemas, como a Indycar, a Nascar, e o IMSA Weather Tech, uma vez que nos Estados Unidos os casos ainda são poucos. O Mundial de Endurance não deve ter problemas no curto prazo. Mas fica a dúvida se outros países europeus terão uma explosão de casos como a Itália, e como os países são pequenos, e com circulação de pessoas livre, isso ainda pode tanto complicar mais como não acontecer nada que cause mais pânico.
            Se queríamos um campeonato empolgante, por enquanto estamos vendo muito mais complicação fora das pistas do que dentro delas. Espero que as pessoas mantenham a cabeça fria, e tentem ser mais racionais no modo como lidam com esta situação. No momento, ainda vemos uma histeria e pânico em certos lugares que em nada ajuda a combater efetivamente este problema, e ainda por cima, vemos pipocar atitudes das mais detestáveis, como discriminação, ignorância, e até violência contra pessoas somente por terem traços orientais, ou de onde estiveram. A maior ameaça às pessoas no momento não será o coronavírus, mas a imbecilidade, egoísmo, e falta de modos e atitudes civilizadas que muitos deveriam ter.
            Isso sim, poderá causar muito mais mortes e desgraças do que qualquer doença... E infelizmente, o ser humano já mostrou que está regredindo como ser inteligente, ao invés de evoluir... Tempos sombrios nos esperam pela frente, e espero estar errado quanto a isto...


E o FoxSports confirmou: a MotoGP 2020 passa a ser a nova atração do canal pago no Brasil, depois que o SporTV desistiu de renovar o contrato de transmissão da categoria. Por enquanto, o acordo firmado é válido para este ano, mas pelo menos os fãs da velocidade nas duas rodas poderão continuar apreciando uma das competições mais emocionantes do mundo do esporte a motor. A MotoGP começará seu ano apenas em abril, com a prova do Circuito das Américas, em Austin, uma vez que a etapa da Tailândia acabou adiada para o segundo semestre. Mas as categorias de acesso da MotoGP, como a Moto2 e a Moto3, que já estão em Losail, no Catar, disputarão suas provas neste domingo, com o SporTV prometendo exibir ambas as corridas. Fica a torcida dos fãs para que o canal traga para suas transmissões Fausto Macieira, que exercia a função de comentarista das competições de moto no SporTV desde a segunda metade dos anos 1990, e que foi dispensado pelo canal quando não renovou o contrato de transmissão.


A Formula-E realizou um treino para pilotos novatos no circuito de Marrakesh, no domingo seguinte à etapa da categoria no Marrocos, e o evento contou com a participação de dois pilotos brasileiros. Sérgio Sette Camara testou pela Dragon, equipe de Jay Penske, e conseguiu impressionar, terminando a sessão de teste com o 2º melhor tempo, atrás apenas do neozelandês Nick Cassidy, que testou pela equipe Virgin. O outro brasileiro foi Pipo Derani, que guiou o carro da equipe Mahindra, finalizando em 16º, entre os 24 pilotos que treinaram. Derani disse que sua participação no teste foi positiva, e considera a F-E uma opção para o futuro, uma vez que seu foco atual está no IMSA Weather Tech Sportscar, o campeonato de endurance dos Estados Unidos. Já Sette Camara está assumindo a posição de piloto de testes e reserva na Dragon, com vistas a trabalhar principalmente no desenvolvimento do carro na sede da equipe. O brasileiro ocupou função parecida na McLaren no ano passado, visando ascender à F-1, mas o cancelamento unilateral feito pelo governo brasileiro do patrocínio e acordo de desenvolvimento técnico firmado entre a Petrobrás e a escuderia britânica acabaram comprometendo a posição de Sergio no time, que acabou saindo, buscando oportunidades em outros certames, como a F-E. O piloto também tem olhado para as possibilidades de participar da Indycar em futuro próximo, onde as chances seriam mais viáveis do que na F-1, diante da necessidade de levar valores mais razoáveis de patrocínio do que na categoria máxima do automobilismo, e obter melhores resultados.

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