sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

PRÉ-TEMPORADA: 2ª PARTE

A Ferrari mostrou alguma reação nesta segunda semana de testes da pré-temporada, com Sebastian Vettel conseguindo liderar um dos dias de treinos (acima). Mas Valtteri Bottas (abaixo) terminou com a melhor marca da pré-temporada para a rival Mercedes.

            E a Fórmula 1 fechou sua pré-temporada para o campeonato de 2020. Para não fugir ao script, o cenário visto esta semana nos três últimos dias que as escuderias tiveram para se preparar para a disputa apenas ajuda a confundir um pouco mais as expectativas, mas de certo modo, podemos ter algumas confirmações parciais do que esperar para a temporada.
            A primeira delas é que a Mercedes realmente deve ser o carro a ser batido. Apesar do time prateado ter enfrentado alguns problemas com suas unidades de potência, algo que chegou a afetar até mesmo a Williams, que usa o propulsor, o ambiente nos boxes das flechas de prata ainda era de tranquilidade e calmaria. Mesmo que Lewis Hamilton tenha afirmado que eles tiveram problemas a serem resolvidos, ainda assim é consenso geral de que a escuderia alemã é a franca favorita para o campeonato. Mesmo com os problemas enfrentados, os carros prateados rodaram bastante no circuito da Catalunha, mostrando boa confiabilidade, e os long runs efetuados mostraram bom ritmo, além de o comportamento dos carros ter deixado sua dupla de pilotos bem satisfeitos. A dúvida que todos têm é de quanto deve ser a vantagem dos carros prateados sobre a concorrência, e isso só ficaremos sabendo mesmo no Albert Park. Como o time alemão tem o hábito de não dar tudo o que pode do rendimento de seus carros, a fim de se resguardar para surpreender os rivais, fica o temor de que a vantagem possa ser maior do que as observações mais acuradas possam sugerir. Hamilton e Bottas deram cerca de 407 voltas na pista de Barcelona, mostrando a alta quilometragem alcançada, mesmo com alguns problemas enfrentados.
            Alvo de olhares desconfiados na semana passada pelo ritmo aquém do esperado, mesmo com as justificativas dadas pela escuderia de que estavam procurando conhecer melhor o seu novo carro, a Ferrari deu alguma esperança esta semana, com direito a Sebastian Vettel ter o seu momento de glória na pré-temporada, e ajudando a dar a expectativa de que o ano para o time de Maranello não será o desastre que muitos chegaram a preconizar. E Mattia Binotto, por sua vez, reafirmou que o carro, no momento de encerramento da pré-temporada, ainda não é tão rápido quanto o das rivais Mercedes e Red Bull, procurando conter os ânimos. Afinal, depois de quase prometer mundos e fundos na pré-temporada de 2019, e sofrer um tombo considerável na primeira metade da temporada, vendo a Mercedes disparar na liderança, não se pode culpar os italianos por tentarem ser mais comedidos este ano. Prometendo menos, se o time andar bem, isso se torna lucro. Mas a declaração de que já está sendo preparada uma “evolução” do SF-1000 para maio denota que o carro deste ano precisará de atenção “especial”, o que revela que parte do projeto não rendeu exatamente o esperado, obrigando o time a ter de correr atrás do prejuízo. Assim como na Mercedes, fica a dúvida de qual é o real potencial do time vermelho, só que neste caso, no outro sentido, com os torcedores esperando que os rivais não estejam tão mais à frente como temem, e que a Ferrari possa lutar pelas primeiras posições. Ao menos o time confirmou que o carro possui uma confiabilidade respeitável, mas sem conseguirmos saber ao certo se isso se deveu a andar um pouco mais lento ou não. De qualquer modo, foram 486 voltas na pista, um número mais do que expressivo para o time rosso.
            Enquanto isso, a Red Bull também teve uma semana de relativa tranquilidade, e se não forçou o ritmo, tampouco demonstrou nervosismo durante as atividades de pista. O time demonstrou bom ritmo nos long runs ao longo dos dias, e pode ser realmente o time que será o rival mais direto da Mercedes, restando aferir qual a diferença que terá de performance real. Fiabilidade foi outro ponto forte do time dos energéticos, e Max Verstappen fez questão de dizer que não deverão enfrentar este ano problemas de durabilidade com as unidades de potência da Honda, que estão mais resistentes, e claramente potentes, com os japoneses demonstrando finalmente estarem prontos para tentarem voltar à disputa de um título. Piloto e carro parece que eles terão, mas ainda não sabemos como será a performance bruta do novo RB16 frente ao W11. Foram 307 giros na pista, com Verstappen se dizendo completamente pronto para o início do campeonato, mas ressalvando que o time terá novidades ainda. A Red Bull pode ter sido o time que menos voltas deu nesta segunda metade da pré-temporada, mas isso não pode ser visto como um revés. A confiança de todos está em alta, e certamente eles devem ter bons motivos para tanto.
A Red Bull tem tudo para ser a maior adversária da Mercedes em 2020. Consistência e confiabilidade foram pontos positivos nos testes.
            Enquanto isso, o pelotão intermediário promete uma disputa até potencialmente maior do que a do ano passado. Campeã da “F-1 B” em 2019, a McLaren tem como objetivo claro manter esta posição, tentando diminuir a distância para Mercedes/Red Bull/Ferrari, e até aqui, se não empolgou exatamente, o time de Woking tampouco pareceu demonstrar decepção com os trabalhos de pista, afirmando que todos as tarefas programadas foram realizadas a contento, com os resultados esperados, no que se traduziu na melhor pré-temporada em muitos anos da escuderia britânica. Um otimismo compartilhado também pelo desempenho da nova unidade de potência da Renault, que não apresentou nenhum problema durante os dias de testes, o que é um sinal extremamente positivo tanto para os ingleses como para os franceses, que no ano passado tiveram seus períodos de altos e baixos, com a confiabilidade do propulsor deixando a desejar em certos momentos, conseguindo um total de 374 voltas no circuito. O clima só não é mais otimista porque todos ficaram preocupados com o desempenho da Racing Point, que vem surpreendendo até aqui.
            O time inglês mostra muita confiança, depois do período de transição e de adaptação no ano passado, quando a escuderia mudou de propriedade no segundo semestre de 2018. Com orçamento bem maior, e com as transições concluídas, o time resolveu apostar no que estava funcionando, e do mesmo modo como a Hass adquire da Ferrari tudo o que o regulamento da F-1 permite, eis que o pessoal da escuderia sediada em Silverstone simplesmente pegou tudo o que podia do projeto do carro da Mercedes de 2019, e parece ter dado um tiro certeiro, com o time andando muito, até mesmo com Lance Stroll, e assustando os concorrentes do bloco intermediário pela performance apresentada até aqui. Tanto que a Renault pretende entrar com protesto na FIA contra o time inglês, alegando violação de propriedade intelectual por usar um projeto de terceiros, mas que muito provavelmente não dará em nada, uma vez que quem teria mesmo motivos para reclamar de uso indevido seriam os alemães, que até agora nada fizeram ou indicam que farão neste sentido. Mas é preciso esperar para ver se toda esta performance se manterá nas corridas, e que não seja apenas fogo de palha. Convém conter um pouco a empolgação, pois alguns chegaram a cotar a Racing Point com potencial para andar até mesmo na frente da Ferrari, depois dos resultados medianos do time italiano em Barcelona na semana passada. Seria ótimo para o pessoal da Racing Point, claro, mas será que o carro está tão bom assim, ou os italianos estariam tão ruins? Mesmo assim, a escuderia rosa tem tudo para brigar pelo posto de “melhor do resto”, como já fez em algumas temporadas, mostrando notável coesão e desempenho diante dos curtos orçamentos de que dispunham naqueles anos. Se eles recuperaram essa capacidade, agora que tem mais dinheiro em caixa, os concorrentes devem ficar preocupados de fato, e quem já fazia planos de liderar o segundo pelotão que fique de olho nos carros cor-de-rosa, pois pode acabar comendo poeira deles. E o modelo RP20 rodou bastante, com um total de 410 voltas no circuito, mostrando que a confiabilidade não deverá ser um problema para eles.
Desempenho da Racing Point tem tirado o sono das adversárias.
            É o temor também da Renault, que já não ficou satisfeita com o seu desempenho em 2019, sendo amplamente superada pela McLaren, seu time cliente, e a quem tinha como meta bater este ano. E que agora pode ter mais dores de cabeça do que o esperado, mas vindas dos rivais. Daniel Ricciardo até andou bem esta semana, mas ainda não se pode dizer ao certo quem tem o favoritismo nessa briga no pelotão do meio. Ninguém mostrou exatamente todas as suas armas, mas só o fato dos franceses terem ficado bem incomodados com a “Mercedes rosa” da Racing Point a ponto de protestarem demonstra que eles sentiram o golpe de verem um rival andando tão ou até mais forte do que eles esperavam, e ainda mais usando equipamento em teoria de outro time, mesmo que dentro do regulamento. O time francês anotou 359 giros na pista, sem problemas de monta.
            Quem também andou colocando as manguinhas de fora foi a Alfa Romeo, que chegou a liderar dois dias de testes, um deles com Kimi Raikkonen, e o outro com Robert Kubica, agora seu piloto de testes. Mas ninguém bota muita fé no time sediado na Suíça, porque muito provavelmente eles tentaram chamar a atenção e mostrar alguma força, numa indicação de que não estão com essa bola toda, para não mencionar que, nestes dias, a maioria dos times mais fortes focou em simulações de corrida, o que aumentou seus tempos de volta, explicando parte do protagonismo do “time B” da Ferrari. Mas claro que todo mundo torce para que não tenha sido para tanto, e que a escuderia realmente consiga andar como demonstrou, o que iria embolar ainda mais a disputa no meio do grid, gerando mais disputas. O time suíço averbou 311 voltas no circuito, nesta segunda semana de testes da pré-temporada.
            E reforçar sua posição também é o objetivo da Alpha Tauri, ex-Toro Rosso, que também conseguiu marcar um bom número de voltas, com tempos bem satisfatórios, e que em tese, os credenciam a tentar entrar firme na briga do meio do grid. O time sediado em Faenza rodou 382 voltas no circuito catalão, também demonstrando grande confiabilidade de seu equipamento, rodando até mais que o time principal de Dietrich Mateschitz.
Em dia de simulações de corrida dos times mais fortes, Robert Kubica teve seus 15 minutos de fama liderando um dos dias de testes da pré-temporada, com a Alfa Romeo.
            A Williams pode se dar por satisfeita. Conseguiu dar mais 409 voltas na pista, tendo como maior preocupação ter usado praticamente todos os motores disponíveis para a pré-temporada, o que deixou a escuderia preocupada com relação à durabilidade das unidades de potência alemãs. George Russel afirmou que o carro melhorou muito, embora ainda afirme que alguns pontos precisam ser melhorados. De fato, pelo ritmo demonstrado em 2019, a escuderia de Grove precisaria de um trabalho notável não apenas para acompanhar a evolução dos rivais, mas também para recuperar parte do déficit de performance do ano passado, o que significa ter de melhorar muito mais do que seus rivais. Como não existem milagres na F-1, podemos dizer que o time inglês ao menos tem a perspectiva de um desempenho melhor do que o de 2019, mas só saberemos mesmo em que ponto da relação de forças do grid eles estão quando o campeonato começar.
            Com 329 voltas anotadas na pista, a Hass basicamente não empolgou, mas também não se pode dizer que comprometeu. Depois da decepção da temporada passada, a escuderia parece não querer criar expectativas, procurando conhecer melhor o seu equipamento, ver se pelo menos desta vez não vai errar em seu desenvolvimento, como ocorrido em 2019. Mas para alguns, o time dos Estados Unidos parece o maior candidato à lanterna do grid este ano. Algo ainda a confirmar, na pior das hipóteses.
            Diferente das temporadas passadas, este ano nenhum dos times de ponta mostrou totalmente suas caras. Se a Mercedes já tinha por hábito não forçar demais, e dar apenas uma amostra pontual, mostrando que está “por ali” nos ponteiros, os dias em que terminaram na frente, tendo marcado também o melhor tempo da pré-temporada, com Valtteri Bottas, 1min15s732, conseguido na primeira semana, deixa todos com a pulga atrás da orelha, uma vez que ninguém acredita que os alemães tenham levado seu carro ao limite extremo. Por outro lado, a Red Bull também não exigiu tudo do seu novo carro, mesmo quando anotou bons tempos, o que sugere que eles também tem um potencial ainda a ser revelado. E a Ferrari, apesar das melhorias de performance e confiabilidade demonstradas esta semana, ainda é uma incógnita maior, com todo mundo esperando para ver do que os carros vermelhos serão capazes nesta temporada.
            Com essa indefinição de posições entre as principais forças, e um meio de grid com chances de disputas ainda mais acirradas do que já vimos recentemente, podemos ter expectativa de alguns bons duelos na pista para esta temporada. Se se confirmar o pior, de outro ano dominando amplamente pela Mercedes, esperemos que pelo menos as corridas demonstrem emoção e disputas, ajudando a mitigar o domínio prateado na luta pelo título.
            Todos os times agora voltam às suas sedes para providenciarem as mudanças finais de seus equipamentos, dependendo de seus cronogramas e resultados obtidos nestes míseros seis dias de pré-temporada. Está chegando a hora de embarcar para o outro lado do mundo, e dar início a mais um campeonato mundial de F-1. A hora da verdade está chegando, e vamos ver o que a pista do Albert Park poderá nos dizer sobre as chances e forças de cada time neste ano.


A segunda semana dos testes da pré-temporada da F-1 teve muito trabalho na pista, mas o assunto dominante no circuito esteve longe de ser sobre a performance os bólidos da categoria máxima do automobilismo. A ameaça do coronavírus ocupou a pole-position dos acontecimentos, de modo que o pessoal até se esqueceu do novo sistema do volante da Mercedes, que tanto burburinho provocou na semana passada. Se até então o maior estrago provocado pelo surto da doença originado na China tinha sido o “adiamento” da etapa chinesa, adiada para data incerta até o presente momento, a explosão do número de casos em diversos outros países começa a complicar a situação para a F-1. E não é por menos, afinal, são mais de mil pessoas viajando o mundo, com os staffs das escuderias, além de repórteres e jornalistas de várias partes do mundo, que cobrem regularmente a competição. Até o presente momento, a etapa da Austrália está garantida, mas mesmo assim, podem surgir surpresas até a semana que vem, quando todo o pessoal embarca para a Oceania. Mas as ameaças potenciais começam a se avolumar, com o aumento do número de casos e de países apresentando casos positivos do coronavírus. Algumas pessoas mais pessimistas chegam a dizer que o campeonato só poderá começar efetivamente em maio, colocando como etapas potenciais de serem canceladas também as provas do Bahrein e do Vietnã. Mas, mesmo antes de viajar, o pessoal da F-1 já começa a enfrentar problemas, afinal a Itália viu surgir uma explosão de casos em seu território, e os dois times sediados no país, a Ferrari e a Alpha Tauri, já estão tomando medidas de isolamento para seus funcionários em suas fábricas. Mas e os funcionários que irão viajar para o outro lado do mundo? Veremos como está a situação na próxima semana, a depender dos acontecimentos, e torçamos para que a situação melhore...

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