A Mercedes iniciou os testes de pista da pré-temporada da F-1 2020 deixando os rivais arrepiados. Mais um ano de domínio do time? |
E foi dada
oficialmente a largada para a temporada 2020 da Fórmula 1, com a primeira parte
da pré-temporada, com ridículos 3 dias de pista, mais uma vez no já mais manjado
do que nunca circuito da Catalunha, na Espanha. Da última quarta-feira até
hoje, os times estiveram na pista para mostrar e testar os seus novos bólidos
visando a temporada deste ano, a última sob as atuais regras técnicas, uma vez
que em 2021 entrará em vigor um novo regulamento que pretende efetuar diversas
mudanças na concepção dos carros, visando melhorar a disputa, inclusive com a
adoção de um teto de gastos para as escuderias, como tentativa de conter a
escalada de custos que ameaça tragar parte das escuderias.
De negativo, temos
ainda a prática besta dos times mandarem apenas um carro por vez à pista, um contrassenso
em se tratando da menor pré-temporada da história da categoria, que desde que
tal limite foi imposto, lá no início de 2009, só vem piorando ano após ano,
fazendo até os 15 dias daqueles tempos parecer um paraíso diante dos míseros 6
dias deste ano. De positivo, temos o fato de que, sem mudanças no regulamento
técnico do ano passado para cá, os times já partem com um conhecimento técnico
bem satisfatório de seus carros, uma vez que poucos tentaram fazer soluções
mirabolantes para seus novos projetos. Mas, mesmo assim, seria muito mais
interessante se os times pudessem contar com dois carros na pista simultaneamente.
Infelizmente, os próprios times preferem assim, de modo que temos menos ação do
que gostaríamos...
E pelo menos, todo
mundo esteve presente na pista, em todos os dias. E por motivos mais do que
óbvios: perder um dia de testes se tornou muito mais prejudicial do que nunca,
e quem ficar parado fora da pista, seja no acostamento do circuito, ou nos
boxes, vai ver os adversários ganhando terreno sobre eles. Portanto, a ordem
era aproveitar tudo o que fosse possível. Então, hora de todos os times acelerarem
as novas bagaças, com os últimos times que ainda não havia apresentado
oficialmente seus carros fazendo-o finalmente na quarta-feira, antes do início
dos treinos. E aí pudemos ver, realmente, o novo chassi RS20 da Renault, que
faltou à sua própria cerimônia de lançamento, em um mico daqueles. Pudemos ver
efetivamente também o novo Hass VF20, além do Alfa Romeo C39. E todo mundo na
pista trabalhando...
A Ferrari vem com outra metodologia nos testes para não cometer os mesmos erros de 2019, mas parece que, mais uma vez, o buraco pode ser mais embaixo do que o esperado... |
E o que todo mundo
temia pode estar em curso: mais um ano de domínio da Mercedes? Tudo bem que
teste é teste, e corrida é corrida, como vimos na pré-temporada do ano passado,
quando a Ferrari arrepiou em Barcelona, e depois ficou a ver navios na primeira
metade da temporada, numa tremenda desilusão para quem esperava um duelo
renhido com a Mercedes, que nadou de braçada e só foi ter algum sufoco na
segunda metade, quando já tinha quase o título encaminhado praticamente. Só que
o time alemão não é do tipo que sai cantando vitória antes da hora, preferindo
sempre um trabalho mais comedido e procurando conhecer a fundo os pormenores do
carro, antes de mandar ver no cronômetro. No ano passado, a Mercedes fez o seu
trabalho a contento, e um indicador de que tudo estava indo nos conformes podia
ser medido pela tranquilidade nos boxes, mesmo com um certo nervosismo diante
da velocidade aparentemente estonteante dos carros de Maranello. E depois, na
primeira corrida, na Austrália, vimos porque os alemães estavam tão calmos,
dando um baile na concorrência...
Bem, aí é que está o
problema: a Mercedes terminou esta primeira metade da pré-temporada enfiando
tempo nos concorrentes. Se presumirmos que eles continuam com sua mesma
metodologia de trabalho do ano passado, não adianta dizer que os rivais
potencialmente mais próximos, como Red Bull e Ferrari, não exigiram a fundo
seus novos carros, porque muito provavelmente a Mercedes também não fez isso.
Mas só de ter enfiado tempo nos demais já mostra um quadro preocupante onde
podemos cacifar as “Flechas de Prata” como favoritas únicas ao título, deixando
aos rivais novamente as sobras da disputa. E ainda vimos outro dado para lá de
contundente: a Mercedes rodou nada menos que 494, ou quase 7,5 GPs inteiros na
pista de Barcelona, sem enfrentar absolutamente nenhum problema em seu novo
bólido W11. Outro dado preocupante veio de Lewis Hamilton, que normalmente não
é de se empolgar muito com testes, mas estava nitidamente empolgado em pilotar
seu novo carro, procurando andar todo o tempo que fosse possível, o que indica
que ele realmente gostou de seu novo brinquedo, que pode torna-lo, no fim do
ano, o maior vencedor da história da F-1, superando as 91 vitórias de Michael
Schumacher, e igualando os sete títulos conquistados pelo alemão. Só isso já
deveria bastar para deixar os rivais com a pulga atrás da orelha. Um ponto que
a escuderia prateada teria trabalhado com afinco seria na melhoria da
refrigeração do carro, que em certos momentos do ano passado teria sido
deficiente, oferecendo aos rivais um ponto fraco que poderia ser explorado.
Segundo a escuderia, esse ponto negativo foi corrigido, e isso seria um dos
motivos para a altíssima confiabilidade do novo modelo W11.
Max Verstappen aprovou a confiabilidade do novo RB16, e tem altas expectativas com a evolução de seu time e da Honda para a temporada 2020. |
A Ferrari, onde ouvimos
rumores de que os resultados no túnel de vento poderiam ter sido mais
desanimadores do que o esperado, não parecia relativamente feliz com o seu
desempenho nestes três primeiros dias. Por mais que eles tenham afirmado que a
busca por performance deverá ser apenas na segunda sessão de testes, o clima nos
boxes do time vermelho não era dos mais empolgados. Claro que, depois do
ocorrido em 2019, qualquer otimismo mais exacerbado poderia ser visto como uma
repetição do erro do ano passado. O novo carro, em tese, tem mais downforce que
o modelo 2019, e em tese, menor velocidade em reta, que deve ser compensada nas
curvas. O problema é achar o ponto de equilíbrio entre estabilidade em curva e
velocidade em reta, e neste último parâmetro, parece que o novo SF1000 não está
mostrando muito a que veio. Como desgraça pouca é bobagem, o time ainda teve
Sebastian Vettel recuperando-se de um resfriado, o que limitou o tempo de pista
do alemão, além de ter enfrentado um problema em sua unidade de potência quando
resolveu tentar forçar um pouco mais. Como resultado, algum tempo de pista
perdido, e um total de 354 voltas completadas, 140 a menos que a arquirrival
Mercedes, o equivalente a 5,36 GPs, e tempos apenas medianos na tabela, o que
não deveria ser motivo de preocupação a princípio, mas que não dá para deixar
uma ponta de preocupação no ar quanto ao que realmente poderá render o time
rosso este ano na pista. O próprio Mattia Binotto parecia demonstrar
preocupação, chegando a admitir que Mercedes e Red Bull estaria mais rápidos
que eles no momento. O problema é quanto mais rápido isso seria, e é a
preocupação de todos que gostariam de ver uma temporada bem mais equilibrada
este ano. Todo mundo espera que Binotto esteja apenas blefando, mas será que o
diretor da Ferrari é um bom jogador de pôquer para blefar assim?
Por outro lado, a Red
Bull foi quem mais rodou, depois da Mercedes. Foram 471 voltas com seu novo
modelo RB16, ou 7,14 GPs em Barcelona, sem enfrentarem problemas também, e com
um bom ritmo nos seus long runs. O time está com boa sensação em seu segundo
ano de parceria com a Honda, e os japoneses mostram que finalmente alcançaram a
confiabilidade que tanto faltou nos seus anos de parceria com a McLaren.
Espera-se uma grande evolução por parte dos japoneses em seu equipamento, e o
time dos energéticos ensaia um discurso otimista que não se via desde 2013,
quando o time foi campeão pela última vez. A meta, óbvia, é disputar o título,
mas ainda precisamos ver se o time começará o ano bem como se imagina. Pelos
tempos até aqui, a Mercedes parece ter pelo menos 0s5 de vantagem, mas os tempos
dos testes não são conclusivos para dizer que os rubrotaurinos vão comer essa
poeira toda. Mas que eles estarão dispostos a brigar, isso estarão, e talvez deixem
até mesmo a Ferrari comendo poeira, a se confirmar a falta de performance que o
novo SF1000 poderia ter. E Max Verstappen, que já andou declarando que Lewis
Hamilton “não é Deus”, insinuando que o inglês não é invencível, quer mais do
que nunca provar suas palavras. Se o novo carro da Red Bull conseguir andar
perto do modelo W11 da Mercedes, poderemos ter bons momentos de disputa na
pista. Até o momento, o holandês se mostrou extremamente satisfeito com a
confiabilidade do novo carro. Vamos ver quando a exigência de performance
surgir.
Sensação nos testes, a Racing Point parece ter "clonado" o carro vitorioso da Mercedes do ano passado, e vem impressionando. Fogo de palha ou evolução real? |
Outra sensação nesta
primeira semana de testes foi a Racing Point, cujo novo carro chamou atenção
por se parecer demasiado com o carro da Mercedes do ano passado, a ponto de muitos
chamarem-no de “Mercedes rosa”. Não há como deixar de notar essa semelhança, o
que sugere que o time inglês, que no ano que vem se chamará Aston Martin, praticamente
copiou do time alemão tudo o que o regulamento permite, a exemplo do que a Hass
faz em relação à Ferrari. Mas isso estaria incomodando mesmo pelo fato da
Racing Point ter obtido tempos expressivos nos testes, a ponto de indicar que a
escuderia pode lutar pelo posto de “melhor do resto” do grid depois do trio
Mercedes/Ferrari/Red Bull, ou até incomodar mais do que se possa esperar. O que
os rivais agora questionam é quanto o novo RP20 copia o modelo W10 da Mercedes.
Alguns falariam até no carro todo, o que poderia significar quebra do
regulamento, visto que cada equipe deve projetar e construir seu próprio carro
na F-1. Já vimos essa discussão quando a Toro Rosso usava o chassi da Red Bull,
apenas usando outro motor, na década retrasada, e aí resolveram acabar com essa
brincadeira... E se pensarmos que a Racing Point ainda usa o mesmo motor
Mercedes do time de fábrica, temos aí as dúvidas surgidas com as boas marcas
alcançadas pela escuderia, que é sediada ao lado de Silverstone, que por sua
vez não fica muito distante de Brackley, onde fica a sede... Da Mercedes! Mas,
para a competição, seria muito bom ver mais um time encostando no trio da “F-1
A”, e talvez seja essa a possível jogada da Mercedes, para fazer a Racing Point
atrapalhar seus rivais disputando posições com eles na pista, se o carro andar
tão bem como se possa imaginar... Foram 371 voltas na pista, rodando mais
apenas que Hass, Williams, e Ferrari.
E a disputa de melhor
time do resto do grid está mais do que aberta. A McLaren vem disposta a manter
essa posição, alcançada no ano passado, e andou relativamente bem, cerca de 423
voltas, sem enfrentar problemas, executando seu cronograma de testes. O novo
MCL35 é uma clara evolução do modelo do ano passado, com várias melhorias nos
pontos que foram considerados deficitários do carro, com algumas mudanças mais
expressivas, mas na opinião do próprio time, um passo a mais no objetivo de
voltarem a ser um time vencedor. O time de Woking, aliás, pareceu incomodado
com a performance da Racing Point com seu carro “clonado”, dando a entender que
pode ter mais preocupações do que apenas tentar alcançar Mercedes/Ferrari/Red
Bull na pista este ano. E quem também quer tentar recuperar terreno é a própria
Renault, que andou cerca de 380 voltas, aparentemente no mesmo nível de performance
de seu time cliente, a McLaren, sugerindo que poderemos ter um duelo bem
renhido pela 4ª posição no campeonato.
Já Hass e Williams
desejam apenas um ano de entrarem novamente nos eixos. O time de Gene Hass
vinha crescendo progressivamente desde sua entrada na F-1, mas levou um belo
tombo no ano passado, que espera corrigir este ano. Só que manter a dupla
Romain Grosjean/Kevin Magnussen pode dar mais dores de cabeça do que satisfações,
com o dinamarquês já dando a primeira batida da pré-temporada que, felizmente,
não causou maiores danos ao carro, tendo sido ocasionada por um furo no pneu.
Já a Williams parece bem melhor do que em 2019, mas ainda é muito cedo para
dizer qual o seu nível de melhoria, uma vez que todos os rivais também melhoraram.
Mas George Russel elogiou o comportamento do novo carro, classificando-o como
muito melhor do que o modelo de 2019. A Hass foi o time que menos rodou, com
316 voltas, enquanto a Williams acumulou 324 giros na pista.
De resto, temos a Alfa
Romeo, que deu 424 voltas, e até liderou o segundo dia de testes com Kimi
Raikkonen, nos seus “15 minutos” de fama da pré-temporada. O time ainda trouxe
Robert Kubica, seu novo piloto reserva e de testes, para andar no primeiro dia.
O novo carro parece confiável, mas vamos ver ainda quanto ele pode ser rápido.
Última colocada no ano passado, a Williams quer evitar ser de novo a lanterna do grid. |
E, claro, temos a
Alpha Tauri, que até o ano passado era a Toro Rosso, e a partir deste ano tem
sua nomenclatura alterada para o nome da grife de roupas de propriedade de
Dietrich Mateschitz, dono do império da Red Bull. A operação lembra de quando o
empresário Luciano Benetton comprou, em meados dos anos 1980, a equipe Toleman,
renomeando-a com o nome de sua famosa grife de roupas, a Benetton. A meta da
escuderia, como não poderia deixar de ser, é tentar ser a melhor do pelotão
intermediário, e no ano passado eles tiveram de fato bons resultados, conquistando
até dois pódios com seus pilotos. O time averbou 384 voltas pela pista de
Barcelona, sem ter maiores problemas, e em um primeiro momento, já é tida como
o carro com a pintura mais bonita da F-1 em 2020. Mas visual não garante
performance, e pelo menos a Alpha Tauri promete brigar para alcançar vôos mais
altos do que os vistos no ano passado, quando por pouco não superou o time da
Renault, que teve uma temporada decepcionante. Como não se pode garantir que os
franceses marquem bobeira este ano novamente, eles querem a manter a evolução,
e contam com a performance crescente da Honda para conseguirem isso.
Vamos esperar agora
para ver o que os times mostrarão na segunda e última parte da pré-temporada,
semana que vem, de novo em Barcelona, nos dias 26, 27, e 28 de fevereiro. E
depois, todos os times voltam às suas fábricas para os últimos acertos e eventuais
modificações em seus carros, de acordo com os dados obtidos, para o embarque
rumo à Austrália, do outro lado do mundo, onde poderemos ter uma idéia mais
real de quem conseguiu aproveitar esses parcos dias de testes para se preparar
melhor para a competição deste ano. As expectativas, como de costume, sempre é
ser das mais otimistas. Vamos ver o quanto elas de fato se mostrarão este
ano...
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