E chegamos ao mês de dezembro de
2019. Estamos praticamente no fim do ano, e logo chegaremos a 2020. Com o ano
do automobilismo quase praticamente encerrado em sua totalidade, chega a hora
de darmos uma olhada em alguns dos acontecimentos ocorridos no mundo da
velocidade neste mês de novembro, em mais uma edição da sessão Flying Laps,
relatando alguns destes acontecimentos, sempre com alguns comentários rápidos a
respeito, como de costume. Então, uma boa leitura para todos, e aproveitem o
texto desta que é a última Flying Laps do ano de 2019, pois a próxima virá
somente em janeiro, já no novo ano que se aproxima...
O Mundial de Rali de 2019 acabou
terminando sem que sua última prova fosse disputada. O Rali da Austrália, que
fecharia o mundial que consagrou o estoniano Ott Tanak campeão, pondo fim à
dinastia de Sébastien Ogier, acabou cancelado pela organização, em acordo
conjunto com todos os pilotos. O motivo foram os fortes incêndios na região de
Nova Gales do Sul, onde seria disputada a competição. Com o tempo seco, e as
autoridades tendo problemas para debelar as chamas, o cronograma e itinerário
da etapa do Mundial de Rali já havia sido reduzida em relação à sua programação
original, justamente pelo perigo dos incêndios. Infelizmente, com as chamas se
alastrando muito mais do que se esperavam, não houve como garantir a segurança
dos participantes e do público, uma vez que o percurso do rali não tinha a
segurança mínima assegurada diante dos fortes incêndios. Assim, optou-se pelo
cancelamento da prova, encerrando o campeonato de 2019 com 13 eventos
disputados. O cancelamento garantiu o vice-campeonato para o belga Thierry
Neuville, que tinha 10 pontos de vantagem para Sébastien Ogier, que terminou o
ano em 3º lugar, e cuja disputa prometia ser a grande atração da etapa final da
competição. Da mesma forma, a Hyundai garantiu o título de construtores, com
seus 18 pontos de vantagem para a Toyota, que ficou com o vice-campeonato.
A Toyota, campeã de pilotos com Ott
Tanak no Mundial de Rali deste ano, aliás, viu seu novo campeão bandear-se para
a rival Hyundai na próxima temporada, ficando sem poder capitalizar a sua
conquista na competição. Mas o time japonês acabou sendo rápido, e garantiu
para ele os serviços de Sébastien Ogier, que resolveu não cumprir o restante de
seu contrato com a Citroen, e em 2020 defenderá a equipe nipônica em seu ano de
adeus ao Mundial de Rali, em decisão comunicada pelo piloto no ano passado. A
consequência deste troca-troca acabou sendo a debandada da Citroen da
competição, uma vez que ficaram sem ter um piloto de ponta que pudesse defender
o time francês na próxima temporada. A marca francesa, porém, já havia
anunciado que não ficaria muito tempo no WRC, tendo informado que não
participaria da temporada de 2021, quando os carros de competição passarão a
ser híbridos, ficando somente até o fim de 2020. Como perderam Ogier,
resolveram antecipar seus planos, e já encerraram sua participação, não
retornando no próximo ano.
A Formula-E deu sua largada para a sexta
temporada da competição de carros elétricos na rodada dupla disputada em
Diriyah, na Arábia Saudita. Assim como na temporada passada, a Andretti BMW
mostrou força, com Alexander Sims a marcar a pole-position nas duas corridas do
fim de semana. E Sims ainda conquistaria sua primeira vitória na categoria, ao
vencer a segunda corrida, repetindo o triunfo de seu time, que havia vencido a
prova na temporada passada, com o português Antonio Félix da Costa. Mas na
primeira corrida Sims acabou sucumbindo aos rivais, que demonstraram mais força
na corrida. A equipe de Michael Andretti, aliás, teve outro percalço na segunda
corrida saudita: na pista, o time fez dobradinha, tendo Maximilian Gunther
chegando em 2º lugar, mas o alemão acabou cometendo ultrapassagem na pista
durante o período de bandeira amarela em toda a pista, e por isso acabou
penalizado, caindo para a 11ª colocação. Com uma pilotagem precisa e forte, Sam
Bird levou a Virgin novamente à vitória, ao triunfar na primeira corrida, e se
tornando, até o presente momento, o único piloto presente desde a primeira
corrida a vencer provas em todas as temporadas da F-E, condição que só pode ser
igualada por Lucas Di Grassi, que também venceu corridas em todas as cinco
temporadas. E Porsche e Mercedes, estreantes na F-E, fizeram bonito logo em sua
primeira corrida, com André Lotterer chegando em 2º lugar, com Stoffel
Vandoorne fechando o pódio em 3º. O time das três pontas ainda pontuou com o
novato Nyck de Vries, que chegou em 6º lugar. As duas marcas não haviam sido
particularmente impressionantes nos testes da pré-temporada, mas começaram sua
participação com o pé direito no certame, e prometendo engrossar a lista dos
times candidatos a vitórias na F-E. Vandoorne, aliás, repetiu o resultado na
segunda corrida, e mais uma fez fechou o pódio.
Aliás, fiel a seu estilo mais
“imprevisível”, a segunda corrida da F-E nos subúrbios de Riad viu alguns
pilotos terem sorte diferente da primeira prova. Sam Bird, que venceu a
primeira corrida, acabou tendo problemas e ainda por cima bateu na segunda
prova. Aliás, a Virgin teve uma segunda corrida para esquecer, pois seu outro
piloto, Robin Frijns, que havia feito um bom 5º lugar na primeira prova, também
bateu na segunda corrida, deixando o time fora de combate. Lucas Di Grassi, que
teve uma classificação horrorosa na primeira prova, terminando apenas em 13º,
reagiu na segunda corrida, e com um carro da Audi que ele mesmo classificou
como não bem desenvolvido, terminou em 3º lugar na pista, e com a
desclassificação de Gunther, herdou a 2ª posição. André Lotterer, por outro
lado, foi outro que foi bem na primeira prova, e viu as coisas não funcionarem
direito na segunda, ficando fora da zona de pontos. E teve aqueles que tiveram
azar nas duas corridas. Um deles foi Felipe Massa, que até iniciou bem a
primeira corrida, mas depois foi ficando para trás, terminando em 12º. Já na segunda
corrida, o brasileiro cometeu um erro bisonho, de largar da posição errada do
grid, o que o levou a tomar uma punição que o jogou para o fim do pelotão,
terminando apenas em 17º. Sébastien Buemi, depois de terminar a temporada
passada em estado de redenção, voltando a vencer, e sendo vice-campeão, teve um
fim de semana para riscar da memória em terras árabes: o piloto suíço da e.dams
abandonou a primeira corrida, e na segunda, apesar de largar da 2ª posição,
levou um toque na prova, e terminou a corrida em 12º. Mas o pior foi o piloto,
com o carro virado após ser tocado por Antonio Félix da Costa, ter voltado à
pista no meio da trajetória dos carros, o que poderia ter causado um acidente
feio, o que o fez tomar uma punição de 10s, enquanto Da Costa tomou um drive
through pelo ocorrido. Quem também teve um final de semana de extremos foi o
novo bicampeão Jean-Éric Vergne: o piloto francês também ficou fora de combate
na corrida 1, mas conseguiu se recuperar um pouco na corrida 2, finalizando em
8º lugar. E Jerôme D’Ambrosio teve sorte inversa: terminou a primeira corrida
em 9º, e nem conseguiu largar na 2º prova, com problemas em seu carro. Com
resultados de altos e baixos para a grande maioria dos pilotos e equipes, o
campeonato promete ser bem disputado, e ganhará quem conseguir ser mais
constante que os demais, ou tiver a sorte de não se envolver em confusões na
pista, o que nem sempre é muito fácil de se conseguir evitar. Com os
resultados, Alexander Sims é o líder na classificação, com 35 pontos. Soffel
Vandoorne, com seus dois pódios, é o vice-líder, com 30 pontos. Apesar de
abandonar a segunda prova, Sam Bird ocupa a 3ª posição, com 26 pontos. Oliver
Rowland é o 4º, com 22 pontos, seguido por Lucas Di Grassi em 5º, com 18
pontos. Entre os novatos, Nyck de Vries é o 9º, com 8 pontos; James Calado é o
11º, com 6 pontos; e Brendon Hartley o 14º, com 2 pontos.
Lucas Di Grassi, aliás, tem uma marca
para ser comemorada e respeitada: único piloto da F-E a ter participado de
todas as 60 corridas disputadas desde o início da competição, em 2014, o
brasileiro conseguiu na segunda corrida em Diriyah seu 31º pódio, o que lhe dá
a incrível façanha de ter subido ao pódio em praticamente pouco mais de metade
de todas as provas da categoria de carros de competição monopostos totalmente
elétricos. Lucas, aliás, também foi o primeiro vencedor de uma prova da
competição, em Pequim, na corrida inaugural, herdando a vitória, depois que
Nicolas Prost e Nick Heidfeld se estranharam e bateram no finalzinho da
corrida. Coincidência ou não, ambos não fazem mais parte do grid da categoria.
Lucas ainda conquistou um campeonato, e foi duas vezes vice-campeão, terminando
outras duas temporadas em 3º lugar. Se a Audi se acertar, o brasileiro
certamente disputará firme o título, mas a parada promete ser mais dura do que
nunca, com mais gente disputando as primeiras colocações...
Com o fim do campeonato, e mais uma
vitória de Marc Márquez na etapa final, em Valência, a Honda anunciou a
contratação de Alex Márquez, o irmão mais novo do hexacampeão da classe rainha,
e que foi campeão da temporada da Moto2 este ano. Assim, o time oficial da
Honda terá uma dupla familiar em 2020, com Alex a ocupar o lugar do agora
aposentado Jorge Lorenzo, que surpreendeu a todos em Valência ao anunciar sua
retirada das pistas, após a péssima temporada que teve este ano, além das
várias quedas e acidentes sofridos. Marc nunca escondeu que desejaria competir
com seu irmão na mesma equipe, e a Honda resolveu atender seu pedido. E,
obviamente, começarão as comparações, e muito provavelmente, pressões que virão
por esta decisão, afinal, todos vão querer saber se o jovem Alex terá as mesmas
qualidades do irmão mais velho, e de como se dará o embate entre os dois irmãos
na pista. Marc prometeu ajudar seu irmão caçula em tudo o que ele precisar para
se aclimar ao equipamento, e a relação entre ambos é a mais amistosa possível.
Mas isso até agora, quando ambos estão em estágios diferentes de suas
carreiras, ou melhor, estavam. E o próprio Marc já admite que ter o irmão
dividindo o box na mesma equipe pode ser bom e também ruim. Ele admitiu que
Alex será mesmo cobrado e pressionado para duelar com seu irmão mais velho. Mas
Alex, pelo menos até o presente momento, parece não estar preocupado com isso,
ao afirmar que quando for correr, não pode ligar para quem for seu companheiro
de equipe, dando a entender que isso não fará diferença. Pelo seu lado, Marc,
apesar da ajuda que promete dar ao irmão caçula, também já afirmou que isso não
irá desviar o seu foco de atenção no seu lado do box, já insinuando que sua
ajuda terá limites. Tem tudo para ser um duelo interessante. Marc certamente
não vai querer dar mole para o irmão na pista, e Alex, por sua vez, precisará
marcar seu território dentro do time. E isso tudo, claro, vai parar na pista, e
todos se perguntam o que irá acontecer quando ambos dividirem freadas um com o
outro numa disputa de posição. E os dois irmãos pelo menos concordam em algo:
eles serão rivais na pista. E com rivais, a disputa será franca e aberta. O que
poderá acontecer? Se eles se digladiarem pelas vitórias, manterão assim mesmo o
amor fraternal que dividem atualmente, ou a relação irá para o vinagre?
Saberemos as respostas em 2020...
Na Fórmula 1, aliás, essa pergunta sobre
correr com o irmão na mesma equipe foi algo que muitos se fizeram quando
Michael Schumacher e seu irmão Ralf competiam na categoria máxima do
automobilismo. E Michael foi taxativo ao responder o que acharia de ter o irmão
como companheiro de equipe, ao afirmar que seria legal, mas também seria muito
ruim, porque alguém teria de perder, dando a entender que ele não iria deixar
que seu irmão mais novo dividisse seu espaço com ele numa luta por vitórias. E
se lembrarmos que o heptacampeão fazia questão de garantir para si os melhores
recursos do time, podemos imaginar como isso iria acabar... Será que veremos
algo assim na MotoGP? Creio que não, no que tange a reservar para si os
melhores recursos do time, além da clara distinção entre primeiro e segundo
piloto, algo que Schumacher nunca admitiria perder seu status de estrela
principal. Na classe rainha do motociclismo, contudo, a situação é diferente, e
em um time que não pode ficar refém apenas de um de seus pilotos, Alex terá
liberdades de competição que podem ser tanto positivas quanto negativas para o
time. Para Marc, ele quer a chance de duelar a fundo com alguém, e para o time,
precisam de dois pilotos fortes na pista para lutar por vitórias. Vamos ver
qual situação prevalecerá...
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