sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

TEMPORADA FINALIZADA

Campeã ininterrupta desde 2014, a Mercedes foi novamente um time eficiente e coeso, tanto fora quando dentro da pista, e com um Lewis Hamilton cada vez mais centrado e objetivo nas corridas. Mais uma vez o time prateado dominou e venceu os rivais.

            E a Fórmula 1 encerrou o seu ano, e como era de se esperar, a pista de Yas Marina, em Abu Dhabi, apresentou uma corrida pra lá de mediana, apesar de termos tido a chance de vermos algumas disputas na prova, porém insuficientes para dar caldo no clima geral da corrida. E Lewis Hamilton, agora hexacampeão, fez barba, cabelo e bigode na pista dos Emirados Árabes Unidos, conquistando a primeira pole desde a etapa da Alemanha, e fechando o ano com sua 11ª vitória. Já são 84 triunfos, e com mais 7, empatará com as 91 do recordista de vitórias da história da categoria máxima do automobilismo, Michael Schumacher. E isso tem tudo para ser até superado em 2020, a depender da Mercedes manter a sua excelência de performance.
            Muitos especulam que o time prateado poderá enfim ter maiores dificuldades no próximo ano, depois das boas corridas que tivemos nesta segunda metade da temporada de 2019, mas eu esperaria para ver. Red Bull forte e vencendo? OK, Max Verstappen deu show em Interlagos, e se não fosse metido a besta em algumas declarações e ainda um pouco afobado, poderia ter levado a prova mexicana com um pé nas costas. Mérito da Honda, também, que parece estar encontrando o sucesso novamente, depois dos anos de fiasco com a McLaren? Também, mas vamos relativizar um pouco. No ano passado, Verstappen venceu a etapa mexicana, com sua Red Bull/Renault, e aqui no Brasil, só não repetiu a vitória porque o holandês correu o risco desnecessário de dividir freada com o retardatário Esteban Ocon na saída do S do Senna, quando liderava a corrida, e com isso perdeu as chances de vitória. E não vamos nos esquecer: a Mercedes, já com uma grande vantagem, já estava mais concentrada no carro do próximo ano, então...
            É claro que todos queremos mais disputas e mais times e pilotos diferentes vencendo, mas daí a dizer, pelos resultados das últimas corridas, que a Mercedes vai ter problemas em 2020 é ainda muito cedo para afirmar. Pode ocorrer, mas também pode ocorrer o contrário, como vimos na primeira metade deste ano. A Ferrari, que havia sido vice-campeã nos dois anos anteriores, tendo chegado a dar um sufoco nos prateados em várias corridas, mas se perdido em várias outras por culpa própria, dava pinta de que ia endurecer o jogo este ano, e fez questão de mostrar na pré-temporada que vinha com tudo. Mas faltou combinar com os alemães, que não se apavoraram (tudo bem, podem ter ficado um pouco preocupados, mas mantiveram a cabeça fria) com o que viram, e quando tudo começou pra valer, deram um banho nos rivais, vencendo 8 corridas consecutivas, praticamente matando o ano dos concorrentes quase todo ali.
Max Verstappen (acima) se tornou o líder inconteste da Red Bull na pista, com um casamento com a Honda que começou muito bem para os rubrotaurinos. Já Charles LeClerc (abaixo) chegou causando furor na Ferrari, e foi o rei das pole-positions em 2019, e com muita sede de mostrar ainda mais em 2020.
            A Ferrari só foi se encontrar de fato no GP da Bélgica, e dali até Cingapura, andou bem forte, mas só servia mesmo para não deixar o ano passar em branco. Mas o time rosso poderia ter tido melhores resultados se não ficasse batendo cabeças entre eles mesmos, e sua dupla de pilotos, que ganhou um reforço até maior do que o esperado com a chegada de Charles LeClerc, que bagunçou o coreto de Sebastian Vettel da mesma maneira que Daniel Ricciardo o fez em 2014, quando dividiram a Red Bull. Com a promessa de que os pilotos teriam liberdade para competir, logo de cara ficou o dito pelo não dito, e o time se embananou entre manter Vettel com seu status de primeiro piloto do time e deixar LeClerc correr à vontade. Por fim, até deixaram seus pilotos mais soltos para competir, mas esqueceram de ensinar a ambos o que significa respeitar o parceiro na pista, e infelizmente, tivemos algumas corridas nas quais ambos colocaram tudo a perder, como no caso do Brasil, onde um duelo mais renhido levou tanto Charles quanto Sebastian a ficarem pelo caminho, com o time deixando de marcar pontos e resultados esperados.
            E faltou também a Ferrari acertar nas estratégias, pecando em muitas corridas por atitudes que beiraram o ridículo, como deixar seus pilotos saírem para a classificação muito em cima da hora, e com isso perdendo suas chances de abrir volta rápida. Infelizmente, apesar da grande velocidade que o modelo SF90 demonstrou em reta, o bólido não se entendeu direito com os pneus em alguns GPs, e isso limitou a performance de seus pilotos. Foram inúmeros detalhes, aqui e ali, que fulminaram um ano que, problemas técnicos à parte, poderia ter sido melhor do que realmente foi. E talvez até tivessem complicado um pouco a conquista do título por parte de Lewis Hamilton e da Mercedes. De qualquer forma, os ferraristas também tiveram uma certa dose de sorte este ano.
            Digo isso porque a sua principal adversária em pista, a Red Bull, praticamente correu com apenas um piloto a tempo integral. Se Max Verstappen não decepcionou e mostrou inclusive grande maturidade e sua inegável velocidade, liderando o time na pista, por outro lado a escuderia sentiu a falta de Daniel Ricciardo, embora nunca vá admitir isso abertamente, dada a soberba que infelizmente baixou por lá nos últimos tempos. O australiano estava ao nível do holandês, e se não era tão rápido em velocidade pura quanto Max, compensava com uma visão de corrida e pilotagem suave, porém eficiente. Atrevo-me a dizer que se Daniel tivesse permanecido em Milton Keynes, seria a Red Bull a vice-campeã de construtores, e não os italianos de Maranello. Pierre Gasly não se entendeu direito com o carro do time principal dos energéticos, e acabou “rebaixado” de volta à Toro Rosso, depois que seu rendimento foi considerado aquém do esperado. Se Alexander Albon se mostrou melhor que o francês ao assumir o seu carro no time principal, porém o tailandês também não conseguiu andar exatamente no nível de Verstappen, mas como pelo menos conseguia deixar a turma da “F-1 B” para trás, isso acabou bastando para Christian Horner e Helmut Marko, com o tailandês sendo agraciado com a confirmação de que continuará no time principal dos energéticos em 2020. Já Gasly, de volta à Toro Rosso, aparentemente se reencontrou, e junto com um Danill Kvyat mais maduro, continuarão na escuderia em 2020, agora sob o nome de Alpha Tauri.
            A Honda teve muitos méritos em sua evolução este ano, e para aqueles que fizeram inúmeras piadas a respeito de Fernando Alonso e a McLaren, a comparação não é correta. A unidade de potência nipônica realmente alcançou um nível de performance aceitável com a reputação que a Honda merece pela sua história na F-1, mas nos tempos de sua associação com o time de Woking, o desempenho e confiabilidade eram de fato sofríveis, e isso não era devido apenas ao carro da McLaren ter suas falhas. Se a Honda tivesse se preparado melhor, duvido muito que a parceria tivesse sido desfeita. Muitos parecem imaginar que a unidade que equipa hoje os carros da Red Bull e Toro Rosso são os mesmos de quando equipavam a McLaren, quando na verdade já são muito diferentes e bem mais evoluídas, tanto em performance quanto em confiabilidade. E, graças também a um chassi eficiente, apesar de alguns desaires ao longo do ano, eles também puderam obter melhores resultados. Mas de certo modo, a Red Bull, em termos de resultados, manteve-se ao nível do que vimos nas últimas duas temporadas: brilhando em algumas corridas, mas ficando no geral abaixo de Mercedes e Ferrari, e prometendo que no próximo ano a situação será diferente. Aguardemos para confirmar.
Decepções de 2019: a Renault (acima), apesar dos altos investimentos, não evoluiu como equipe como esperava. Já a Hass (abaixo) se perdeu no desenvolvimento de seu carro, e ainda manteve uma dupla de pilotos problemática para 2020.
            Dentre as decepções do ano, podemos citar a Williams, que teve seu pior ano de que há memória. Os carros de Grove se mostraram incapazes de largar além da última fila por méritos próprios, e quase sempre foram os últimos a receber a bandeirada. O desempenho foi tão sofrível que motivou a demissão (oficialmente, ele disse que “saiu”) de Paddy Lowe, que havia assumido o cargo de diretor técnico em 2018, e esperava-se poder recolocar o time do velho Frank nos eixos. A escuderia só não ficou zerada porque, em um golpe de sorte, Robert Kubica marcou o único ponto do time no caótico GP da Alemanha deste ano. O polonês, aliás, acabou também vítima da pouca competitividade do carro, e se perdeu o duelo interno com o novato George Russel, é preciso lembrar que ele voltou à F-1 anos depois de sua última participação, em 2010, e não vamos esquecer também que Russel foi o campeão da F-2 de 2018, ou seja, não era um piloto qualquer, mas um novo talento em potencial que chegou bem à F-1, e só não foi adiante porque pegou um verdadeiro abacaxi em sua temporada de estréia.
            Quem também desandou foi a Renault, que depois de uma boa temporada em 2018, se reforçou bastante para 2019, inclusive contratando o australiano Daniel Ricciardo para liderar o time na pista, e ajudar o time a encostar no trio Mercedes/Ferrari/Red Bull. Daniel apostou no time oficial da marca francesa, e infelizmente, a aposta deu errado, com os carros da escuderia apresentando uma performance instável, ora competitivos, ora se arrastando. A unidade de potência evoluiu, mas sem um carro de ponta para demonstrar suas qualidades, fica difícil aferir o progresso alcançado. Se Daniel ainda tirou leite de pedra em alguns momentos, Nico Hulkenberg infelizmente acabou rifado pelo time, e está dando adeus à F-1 após uma década de competição sem ter alcançado nenhum pódio na categoria máxima do automobilismo. Sua saída causa uma certa revolta porque na Hass, outro time que perdeu o rumo em 2019, manteve sua problemática dupla de pilotos para 2020, quando todo mundo esperava ver Kevin Magnussem e Roman Grosjean levando o bilhete azul. O time de Gene Hass vinha crescendo de performance gradativamente desde que estreou na F-1, e depois da boa temporada em 2018, todo mundo esperava tentar uma aproximação às grandes. Bem, nem sempre as coisas dão certo, mas o ponto mais crítico foi ver o desenvolvimento técnico da Hass não conseguir acertar o desenvolvimento do carro, a ponto de terem percebido tardiamente que o assoalho inicial do carro, usando nas primeiras corridas, o deixava mais competitivo do que a peça nova implantada a meio da temporada. Nesse ponto, com um carro instável e que não reagia conforme o esperado, pode-se até dar um desconto para a dupla de pilotos, que não conseguiu obter os resultados esperados. Magnussem até conseguiu alguns pontos, mas Grosjean continuou tendo uma sombra negra sobre si, tendo sua fase de azar e problemas continuando a persistir por quase todo o ano.
            Quem também teve de driblar os problemas, técnicos, não financeiros, foi a Racing Point, ex-Force India. Se em sua antiga gestão a escuderia sediada ao lado da pista de Silverstone conseguia fazer milagres com um orçamento pra lá de enxuto, este ano, com recursos financeiros de sobra, tiveram que se entender para achar o rumo do desenvolvimento do carro, que começou o ano abaixo do que se esperava, mas demorando a se engrenar. Sergio Perez mostrou sua habitual competência, obtendo os melhores resultados do time, enquanto Lance Stroll mostrou que sua conta bancária é de fato o seu melhor talento como piloto. Longe de ser um braço duro, mas levou um baile do mexicano, que segue firme no time em 2020, ao lado do canadense. E justamente por Stroll não ser tão bom, que o time terminou apenas em 7º lugar, quando poderia ter sido até 5º, superando a Renault, se tivesse uma dupla mais homogênea, quando tinha Esteban Ocon ao lado de Perez. Para alguns, o fato de estar reformando a fábrica, reformulando a área técnica, e contratando mais pessoal, 2019 deve ser encarada como uma temporada de transição no time, que em 2020 deverá conseguir mostrar sua evolução. Não deixa de ser uma boa desculpa; resta saber se irá ocorrer.
Com uma nova dupla de pilotos, uma nova direção, e um novo projeto mais bem acabado, a McLaren surpreendeu, e só perdeu para as poderosas Mercedes, Ferrari e Red Bull, terminando o ano em 4º lugar, mas querendo bem mais para 2020.
            Com o nome Sauber definitivamente descartado, a Alfa Romeo só não é 100% porque sua unidade motriz é o da Ferrari, e a escuderia viveu um ano de altos e baixos, com Kimi Raikkonen a mostrar que ainda tem muita lenha para queimar na F-1, mesmo aos 40 anos, deixando o italiano Antonio Giovinazzi na sobra na maior parte da temporada. Tanto que o italiano quase perdeu seu lugar para 2020 no time, se não tivesse melhorado sua performance na segunda metade do ano, mesmo que isso não tenha se traduzido em pontos como o finlandês conseguiu. O time até começou o ano demonstrando algum potencial, mas foi ficando para trás a meio da temporada, terminando em 8º lugar, ficando à frente apenas da Hass em termos de resultados. E nem faz sentido comparar com a Williams, do modo como foi seu ano... O time mantém sua dupla de pilotos para o próximo ano, no que deve ser a despedida de Raikkonen da F-1, ao fim de seu atual contrato com a escuderia. Resta saber se o time consegue evoluir além do que mostrou este ano.
            E, se teve uma grata surpresa nesta temporada, foi ver a McLaren renascer na F-1. Ainda não voltou a vencer, marcar pole, nem lutar pelo título, claro, mas terminou o ano como 4ª força, ficando atrás apenas do trio Mercedes/Ferrari/Red Bull, com 145 pontos, tendo sua melhor temporada desde 2014, voltando a brigar com frequência nos pontos. Só não foi melhor porque a confiabilidade pecou em algumas corridas, jogando fora alguns resultados expressivos, além de algumas trapalhadas do time, que aos poucos vai voltando a brilhar na sua trajetória de volta às primeiras colocações. Com uma nova dupla de pilotos, e um ambiente mais arejado para trabalhar, o time focou em desenvolver adequadamente o carro, e o casamento com a unidade de potência da Renault melhorou muito. E com um carro competitivo, Carlos Sainz Jr. foi um dos destaques da temporada, terminando o ano em 6º lugar, e até conseguindo um pódio, ainda que circunstancial pela punição de Lewis Hamilton em Interlagos, mas ainda assim, o primeiro pódio da escuderia de Woking desde o GP da Austrália de 2014. E Lando Norris, em seu primeiro ano na F-1, não comprometeu, apesar de alguns percalços, mas andando forte sempre que teve chances. A dupla de pilotos, aliás, também surpreendeu pelo seu bom entrosamento, algo complicado quando a escuderia tinha Fernando Alonso como piloto nos últimos anos, pelo clima mais carregado de cobrança que o asturiano sempre impunha. Alonso, obviamente, não deixou saudades destes tempos.
            E o que dizer da Mercedesw? Mais um ano, e mais um título, de pilotos, e também de construtores. Lewis Hamilton não deu chances a ninguém este ano, e suas 11 vitórias falam por si, assim como em outros momentos o inglês batalhou pelo melhor resultado na pista, visando o campeonato, e evitando erros e riscos desnecessários, mantendo uma postura firme e decidida. Sua única gafe foi tocar em Albon em Interlagos e tirar o tailandês da corrida nos seus momentos finais, mas ali ele já era hexacampeão, e ele próprio admitiu que arriscou porque corria livre para tentar vencer por vencer, admitindo seu erro. Valtteri Bottas teve seu melhor ano no time, e foi vice-campeão, mas ainda ficou devendo no combate com Hamilton, a quem raras vezes conseguiu se impor durante o ano. Mas o time prateado continuou mostrando sua extrema competência também fora da pista, não perdendo a calma nem quando a Ferrari assumiu a primazia na pista, como na Bélgica ou na Itália, e apesar de alguns lances de sorte, manteve-se extremamente coesa e eficiente, ao contrário da rival Ferrari. E seus pilotos, quando tiveram que dividir curvas, o fizeram de forma a respeitar um ao outro na pista, sem toques ou encostadas desnecessárias.
            Com um time azeitado e engrenado, vencer a Mercedes seria mesmo uma tarefa inglória. Que a concorrência tente de novo em 2020. Mas não se esqueçam que os alemães não estarão dormindo no ponto, como podemos ver pelo seu período de domínio da F-1 desde 2014, o mais longevo da história da categoria até o momento, e que pode se prolongar ainda por bem mais tempo...

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