Neste
período de descanso e relaxamento de fim de ano, nada como trazer alguns textos
antigos para o pessoal manter sua leitura, e trago hoje a coluna do dia 11 de
dezembro de 1998, cujo assunto era o novo formato de transmissão da então
F-CART (a F-Indy original) na programação da TVS/SBT para 1999, depois de uma
queda de braço motivada por Gugu Liberato, que na época apresentava seu
programa dominical e não gostava nem um pouco de vê-lo interrompido para passar
corridas. Em um momento onde até segunda ordem, não teremos mais transmissão
das corridas da atual Indycar na TV brasileira para 2020, como noticiado semana
passada, dá para ver que não é de hoje que as categorias Indy e seus fãs levam
rasteiras de quem diz priorizar o telespectador e ter respeito por ele. Curtam
o texto, e logo, logo, trago outras colunas aqui...
VT
A TVS/SBT
confirmou que vai manter as transmissões da F-CART na temporada de 1999. Só que
isso, ao contrário do que muitos imaginam, não vai ser motivo de comemoração
nenhuma, mas de lamentação. Devido às pressões de Gugu para que seu programa
não seja interrompido (e que, na minha opinião, é totalmente dispensável),
todas as corridas da categoria não serão mais exibidas ao vivo, mas em VT
(video-tape). Até aí, vá lá, mas não será um VT integral, mas um compacto, que
a emissora vai apresentar durante a madrugada de domingo para segunda-feira.
Sinceramente, um golpe contra os telespectadores e fãs da categoria.
É
simplesmente o cúmulo para uma emissora que diz primar pela satisfação do seu
telespectador. A TVS simplesmente desmontou a sua equipe de transmissão da
F-CART. Só ficaram o locutor Téo José e o comentarista Celso Miranda, cujos
contratos vão até dezembro do ano que vem com a emissora. O repórter Luiz
Carlos Azenha, que fazia as matérias de Box nos últimos anos, foi rifado pela
emissora. Mas Azenha já arrumou uma nova casa, a TV Globo, onde deverá ser um
de seus correspondentes internacionais.
A
transmissão será feita dos estúdios da emissora na Via Anhanguera, em São Paulo. Não
haverá mais cobertura “in loco” nas provas. Segundo a emissora, as únicas
provas que serão transmitidas ao vivo serão os GPs de Motegi (Japão) e Surfer’s
Paradise (Austrália), por serem de madrugada no horário brasileiro. O Grande
Prêmio do Brasil (Rio 400) deve ser ao vivo, mas se depender das pressões de
Gugu, também será em VT na madrugada. As provas de Saint Louis, e possivelmente
a etapa brasileira, se esta cair no sábado, aí sim poderão ser transmitidas ao
vivo, mas até o momento, nada foi confirmado oficialmente. O golpe da emissora
atinge a todos, expectadores e anunciantes. Primeiramente, os expectadores que
se dispuserem a assistir ao VT terão um trabalho inglório pela frente. Já para
os anunciantes, a situação vai ser péssima, pois o horário escolhido para os
VTs, na madrugada de domingo para segunda-feira, é praticamente o pior horário
em termos televisivos, pois será que eles se esquecem que muita gente precisa
acordar cedo na segunda para trabalhar e garantir o pão de cada dia
Sob certos
aspectos, foi mais uma gafe de Émerson Fittipaldi, que deveria ter tido maiores
cuidados com o contrato de transmissão da categoria, uma vez que ele detém os
direitos de exibição para o Brasil. Infelizmente, não houve jeito de se tentar
um acordo com a Bandeirantes para se fazer uma co-transmissão conjunta das
corridas junto com a TVS. Uma pena, mas parece que quando Émerson tirou a
categoria da emissora ao fim de 1992 (última vez que a Bandeirantes transmitiu
a categoria), houve alguns desentendimentos. A então F-Indy foi para a
Manchete, onde teve uma boa cobertura na programação, que na minha opinião, a
TVS/SBT nunca deu. Além de transmitir as provas ao vivo, havia programas
mensais com o balanço geral do campeonato àquela altura, além de diversas
reportagens sobre os bastidores, com entrevistas, detalhes técnicos,
curiosidades, etc. Nos fins de semana de corridas, havia boletins especiais de
meia hora, na sexta e no sábado, em horário nobre, com o balanço dos treinos,
além de mostrar um pouco da região onde a corrida acontecia. Nem a Indy Lights
ficava de fora: no domingo, antes da prova da categoria principal, era exibido
um programa específico sobre a categoria de acesso da F-Indy, com um compacto
dos melhores momentos da corrida anterior e matérias sobre a Indy Lights. É bem
verdade que a geração de todo o material ficava praticamente por conta da
Sports World Communications, empresa de Émerson Fittipaldi e Ricardo
Scalamandré, que contratou profissionais como Téo José, Luiz Carlos Azenha, e o
então comentarista Dedê Gomes, enquanto a Manchete cedia o horário e ambos
dividiam os lucros do acordo. Mas era uma cobertura decente, sem dúvida. A
Manchete transmitiu a F-Indy por 2 anos, e em 1995, a categoria aportou na
TVS/SBT, de novo com a polêmica troca de acusações, agora entre a Manchete e
Émerson, pois a emissora carioca tinha prioridade na renovação do acordo e
outros detalhes. O objetivo na troca de emissora era alcançar maior audiência.
Isso foi conseguido apenas parcialmente, pois os índices, apesar de terem
subido, nunca alcançaram os níveis esperados para uma rede como a TVS. Para os
anunciantes, a vantagem de mudarem para uma rede maior que a Manchete também
não se concretizou por inteiro, pois os valores das cotas de publicidade
subiram muito mais do que a audiência efetivamente comprovada.
Curiosamente,
a TVS/SBT não tinha do que reclamar: a audiência era razoável, mas o lucro era
garantido, pois todos os anunciantes eram de peso e nunca foi problema
preencher as cotas de patrocínio, ainda mais em um período de crise como o
atual, o que mostra que a F-CART era e continua sendo um produto rentável. É
assim com a Fórmula 1, que segue intacta na Globo há anos e anos. É verdade que
os índices de audiência da categoria máxima do automobilismo hoje são apenas
metade dos verificados na época de Ayrton Senna e Nélson Piquet, mas a Globo
ainda sabe privilegiar a categoria. Mas também é verdade que, se eles não
quiserem mais a F-1, outros podem querer, e criar uma concorrência indesejada
em potencial, então a Globo continua com a F-1 em sua programação.
O duro
disso tudo é que Émerson Fittipaldi lutou muito para que a F-CART se
popularizasse no Brasil. Depois de tanto tempo de luta, ele já deveria saber
que a transmissão em TV aberta é essencial para isso, e tivesse tomado mais
cuidado com as exigências contratual de transmissão da categoria. Como
aparentemente não tomou tanto cuidado assim, acabou deixando isso acontecer.
Não seria uma surpresa se os índices de audiência das corridas despencarem
vertiginosamente no próximo ano, mercê deste tratamento vergonhoso por parte da
emissora de Silvio Santos. Émerson deveria tomar precauções contra este tipo de
tratamento. Não é por acaso que Bernie Ecclestone fez da F-1 a maior categoria
automobilística do planeta também no quesito de marketing. Seus contratos de
transmissão são muito bem detalhados, e a F-1 possui horários que estão
ajustados às TVs de todo o mundo que transmitem as provas todas ao vivo.
Sem dúvida
alguma, um caso de desrespeito ao telespectador amante das corridas. O pior
disso tudo é agüentar o slogan que a TVS veicula todos os dias, se dizendo o
Sistema Brasileiro de Televisão. Se fizerem a imagem do Brasil a partir disso,
tenho até medo do que irão achar que nosso país é de verdade...
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