quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

ARQUIVO PISTA & BOX – DEZEMBRO DE 1998 – 11.12.1998


            Neste período de descanso e relaxamento de fim de ano, nada como trazer alguns textos antigos para o pessoal manter sua leitura, e trago hoje a coluna do dia 11 de dezembro de 1998, cujo assunto era o novo formato de transmissão da então F-CART (a F-Indy original) na programação da TVS/SBT para 1999, depois de uma queda de braço motivada por Gugu Liberato, que na época apresentava seu programa dominical e não gostava nem um pouco de vê-lo interrompido para passar corridas. Em um momento onde até segunda ordem, não teremos mais transmissão das corridas da atual Indycar na TV brasileira para 2020, como noticiado semana passada, dá para ver que não é de hoje que as categorias Indy e seus fãs levam rasteiras de quem diz priorizar o telespectador e ter respeito por ele. Curtam o texto, e logo, logo, trago outras colunas aqui...

VT

            A TVS/SBT confirmou que vai manter as transmissões da F-CART na temporada de 1999. Só que isso, ao contrário do que muitos imaginam, não vai ser motivo de comemoração nenhuma, mas de lamentação. Devido às pressões de Gugu para que seu programa não seja interrompido (e que, na minha opinião, é totalmente dispensável), todas as corridas da categoria não serão mais exibidas ao vivo, mas em VT (video-tape). Até aí, vá lá, mas não será um VT integral, mas um compacto, que a emissora vai apresentar durante a madrugada de domingo para segunda-feira. Sinceramente, um golpe contra os telespectadores e fãs da categoria.
            É simplesmente o cúmulo para uma emissora que diz primar pela satisfação do seu telespectador. A TVS simplesmente desmontou a sua equipe de transmissão da F-CART. Só ficaram o locutor Téo José e o comentarista Celso Miranda, cujos contratos vão até dezembro do ano que vem com a emissora. O repórter Luiz Carlos Azenha, que fazia as matérias de Box nos últimos anos, foi rifado pela emissora. Mas Azenha já arrumou uma nova casa, a TV Globo, onde deverá ser um de seus correspondentes internacionais.
            A transmissão será feita dos estúdios da emissora na Via Anhanguera, em São Paulo. Não haverá mais cobertura “in loco” nas provas. Segundo a emissora, as únicas provas que serão transmitidas ao vivo serão os GPs de Motegi (Japão) e Surfer’s Paradise (Austrália), por serem de madrugada no horário brasileiro. O Grande Prêmio do Brasil (Rio 400) deve ser ao vivo, mas se depender das pressões de Gugu, também será em VT na madrugada. As provas de Saint Louis, e possivelmente a etapa brasileira, se esta cair no sábado, aí sim poderão ser transmitidas ao vivo, mas até o momento, nada foi confirmado oficialmente. O golpe da emissora atinge a todos, expectadores e anunciantes. Primeiramente, os expectadores que se dispuserem a assistir ao VT terão um trabalho inglório pela frente. Já para os anunciantes, a situação vai ser péssima, pois o horário escolhido para os VTs, na madrugada de domingo para segunda-feira, é praticamente o pior horário em termos televisivos, pois será que eles se esquecem que muita gente precisa acordar cedo na segunda para trabalhar e garantir o pão de cada dia
            Sob certos aspectos, foi mais uma gafe de Émerson Fittipaldi, que deveria ter tido maiores cuidados com o contrato de transmissão da categoria, uma vez que ele detém os direitos de exibição para o Brasil. Infelizmente, não houve jeito de se tentar um acordo com a Bandeirantes para se fazer uma co-transmissão conjunta das corridas junto com a TVS. Uma pena, mas parece que quando Émerson tirou a categoria da emissora ao fim de 1992 (última vez que a Bandeirantes transmitiu a categoria), houve alguns desentendimentos. A então F-Indy foi para a Manchete, onde teve uma boa cobertura na programação, que na minha opinião, a TVS/SBT nunca deu. Além de transmitir as provas ao vivo, havia programas mensais com o balanço geral do campeonato àquela altura, além de diversas reportagens sobre os bastidores, com entrevistas, detalhes técnicos, curiosidades, etc. Nos fins de semana de corridas, havia boletins especiais de meia hora, na sexta e no sábado, em horário nobre, com o balanço dos treinos, além de mostrar um pouco da região onde a corrida acontecia. Nem a Indy Lights ficava de fora: no domingo, antes da prova da categoria principal, era exibido um programa específico sobre a categoria de acesso da F-Indy, com um compacto dos melhores momentos da corrida anterior e matérias sobre a Indy Lights. É bem verdade que a geração de todo o material ficava praticamente por conta da Sports World Communications, empresa de Émerson Fittipaldi e Ricardo Scalamandré, que contratou profissionais como Téo José, Luiz Carlos Azenha, e o então comentarista Dedê Gomes, enquanto a Manchete cedia o horário e ambos dividiam os lucros do acordo. Mas era uma cobertura decente, sem dúvida. A Manchete transmitiu a F-Indy por 2 anos, e em 1995, a categoria aportou na TVS/SBT, de novo com a polêmica troca de acusações, agora entre a Manchete e Émerson, pois a emissora carioca tinha prioridade na renovação do acordo e outros detalhes. O objetivo na troca de emissora era alcançar maior audiência. Isso foi conseguido apenas parcialmente, pois os índices, apesar de terem subido, nunca alcançaram os níveis esperados para uma rede como a TVS. Para os anunciantes, a vantagem de mudarem para uma rede maior que a Manchete também não se concretizou por inteiro, pois os valores das cotas de publicidade subiram muito mais do que a audiência efetivamente comprovada.
            Curiosamente, a TVS/SBT não tinha do que reclamar: a audiência era razoável, mas o lucro era garantido, pois todos os anunciantes eram de peso e nunca foi problema preencher as cotas de patrocínio, ainda mais em um período de crise como o atual, o que mostra que a F-CART era e continua sendo um produto rentável. É assim com a Fórmula 1, que segue intacta na Globo há anos e anos. É verdade que os índices de audiência da categoria máxima do automobilismo hoje são apenas metade dos verificados na época de Ayrton Senna e Nélson Piquet, mas a Globo ainda sabe privilegiar a categoria. Mas também é verdade que, se eles não quiserem mais a F-1, outros podem querer, e criar uma concorrência indesejada em potencial, então a Globo continua com a F-1 em sua programação.
            O duro disso tudo é que Émerson Fittipaldi lutou muito para que a F-CART se popularizasse no Brasil. Depois de tanto tempo de luta, ele já deveria saber que a transmissão em TV aberta é essencial para isso, e tivesse tomado mais cuidado com as exigências contratual de transmissão da categoria. Como aparentemente não tomou tanto cuidado assim, acabou deixando isso acontecer. Não seria uma surpresa se os índices de audiência das corridas despencarem vertiginosamente no próximo ano, mercê deste tratamento vergonhoso por parte da emissora de Silvio Santos. Émerson deveria tomar precauções contra este tipo de tratamento. Não é por acaso que Bernie Ecclestone fez da F-1 a maior categoria automobilística do planeta também no quesito de marketing. Seus contratos de transmissão são muito bem detalhados, e a F-1 possui horários que estão ajustados às TVs de todo o mundo que transmitem as provas todas ao vivo.
            Sem dúvida alguma, um caso de desrespeito ao telespectador amante das corridas. O pior disso tudo é agüentar o slogan que a TVS veicula todos os dias, se dizendo o Sistema Brasileiro de Televisão. Se fizerem a imagem do Brasil a partir disso, tenho até medo do que irão achar que nosso país é de verdade...

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