Direção do WEC cancelou a etapa brasileira por falta de garantia dos promotores locais, que na cara dura, acusaram a direção da categoria como única culpada pelo fato. |
Pois é, foi bom
enquanto durou, alguns diriam. Bem, na verdade, não. A etapa brasileira do
Mundial de Endurance, que deveria ser realizada em Interlagos, no mês de
fevereiro do ano que vem, foi para o espaço. O motivo? Falta de garantias dos
promotores nacionais, que sem conseguir apresentar as condições financeiras
acertadas com a direção do WEC, simplesmente resultou no cancelamento da etapa
nacional, que faria seu retorno ao certame depois de vários anos. No lugar, o
WEC conseguiu agir rápido, e os carros da categoria irão acelerar na pista de
Austin, no Texas, fazendo assim uma dobradinha de provas nos Estados Unidos, já
que a etapa seguinte do calendário será em Sebrind, na Flórida.
Mas perder a corrida
não é o pior, mas o modo como ela foi perdida, mostrando mais uma vez a falta
de seriedade e comprometimento com um evento de renome internacional, ajudando
a deixar a imagem de nosso país, para todos os efeitos, mais queimada do que já
anda. E olhem que essa vergonha não é de hoje... E nem preciso falar de tudo o
que anda acontecendo em nossa terra brasilis para fazer um balanço que faria
muita gente enfiar a cara num buraco e não querer tirar mais. Só no que tange
ao esporte a motor, já está de bom tamanho, e infelizmente, não há como falar
sobre isso sem soltar os cachorros em cima de quem merece, em especial nossos
políticos, ligados a empresários trambiqueiros e sem seriedade que certamente
comprometem nossa fama perante o mundo inteiro.
Alguém aí lembra do
mico que foi a “etapa” da Indycar que seria realizada em Brasília? Bem, aquilo
deu com os burros n’água, gastou-se uma boa grana detonando as instalações da
pista de nossa capital federal sob pretexto de “reforma-la”, até que a justiça
viu que os contratos eram todos irregulares, e nada podia seguir em frente.
Corrida cancelada, um monte de gente frustrada, e a direção da categoria
norte-americana se perguntando onde estavam com a cabeça para terem aceitado
firmar um contrato naquelas condições. Tudo isso armado por um governador
picareta que, em conjunto com a Bandeirantes, emissora que transmite a
categoria, acabou arrumando esse rolo todo, que resultou em prejuízo para
todos, ainda mais perante os norte-americanos, que podem ter muitos defeitos,
mas para os quais palavra empenhada é compromisso assumido. E quebrar
compromissos por picaretagens e palhaçadas não cai nada bem...
Mas não precisamos nem
arrumar confusão com o pessoal lá de fora para nos metermos em roubada
humilhante. Basta lembrar os rolos armados por quem em tese deveria defender o
esporte para ver o atentado cometido contra a pista de Jacarepaguá, no Rio de
Janeiro, sacrificada sem dó nem piedade, vítima de um complô ganancioso entre o
COB e empresários interessados na especulação imobiliária, que acabaram com o
circuito carioca para construir um parque olímpico que está virando ruínas de
fazer inveja às pirâmides do Egito, e com a passividade de uma CBA que não se
moveu nem um pouco para impedir isso, mesmo com vários jornalistas da imprensa
alertando para o conto do vigário que isso resultaria... Realmente, o
brasileiro é uma desgraça mesmo, e não podemos nem dizer que é culpa dos
outros.
Acostumado ao famoso
“jeitinho”, para o qual tudo dá-se um jeito de sair bem na foto, esse tipo de
atitude e procedimento do brasileiro não funciona no mundo que trabalha a
“sério”, e nisso inclui-se todos os países desenvolvidos e alguns até nem tão
desenvolvidos. Mas o brasileiro parece ter em mente que jogar a sério é coisa
de tonto, e que o certo mesmo é organizar alguma coisa e faturar nas
entrelinhas ou nos bastidores, às vezes nas duas vertentes. Não é assim que o
mundo funciona. Como diria o saudoso Joelmir Betting, “alguém deve estar
errado: o Brasil ou o resto do mundo...”, e ele já dizia isso numa época onde o
nosso país parecia mais sério e comprometido do que é atualmente, então...
E é daí que sai a
vergonha maior em relação a perdermos a etapa do WEC: os promotores nacionais,
em um comunicado onde só faltou mesmo o óleo de peroba, afirmaram na maior cara
de pau que a culpa pelo cancelamento da corrida é totalmente da direção do WEC,
e que eles, os promotores, fizeram o possível para levar o compromisso adiante,
numa justificativa que ofende a inteligência de qualquer um que leu a respeito
do assunto. Todo evento internacional é baseado em um contrato onde o promotor
local tem de apresentar um número de garantias para a realização do mesmo. Não
se faz um evento simplesmente dando a idéia na telha e resolvendo fazer assim
ou assado. Prerrogativas e condições são acordadas e estabelecidas de comum
acordo, para evitar ao máximo imprevistos que possam ocorrer, que possam
comprometer a realização do evento, cujo cancelamento repercute para todos, com
a perda de algo extremamente importante: credibilidade e confiança. Algo que
muita gente neste país acha besteira, e que só a vontade de fazer, seja do modo
como for, basta.
E a direção do WEC,
por sua vez, tem a obrigação de zelar pela integridade e condições da disputa.
Eles tem uma responsabilidade como organizadores do mundial perante os
participantes inscritos, e estes, por sua vez, tem de ter também a confiança da
direção do campeonato para organizarem suas atividades e planejar suas ações.
Ou alguém acha que para alguns destes times é só enfiar os carros e
equipamentos em um avião de carga e se mandar para o mundo afora, em um
transporte caro, sem ter a garantia de que irão disputar a corrida acordada?
Claro, isso pode não acontecer, mas por motivos completamente alheios ao
controle de qualquer um ou eventos inesperados, como por exemplo o tufão no
Japão que ameaçou a realização da corrida de F-1 em Suzuka. Mas enguiços
causados por incompetência, picaretagens e outras atitudes vergonhosas de quem
não tem responsabilidade e honestidade perante compromissos assumidos? Isso
ninguém tem obrigação de relevar. E a direção do WEC fez o que precisava para
manter a integridade e confiança de sua competição, e ainda fez questão de
afirmar que não houve problema algum com a Prefeitura de São Paulo, ou com o
Autódromo de Interlagos, que com suas últimas reformas do pit line e paddock,
por exigências da F-1, também suprem com sobras as necessidades como palco para
uma prova do Mundial de Endurance. O problema mesmo foi com relação aos
promotores, que estes sim, terão de dar satisfações àqueles que, confiando na
realização da corrida, se comprometeram com ela, e dependendo da situação,
terão ou não prejuízos com isso.
Que, aliás, é bom lembrar, foi também por
problemas com os promotores que o WEC desistiu de correr por aqui, há alguns
anos. E olhe que o promotor ainda por cima era alguém do universo do esporte a
motor, ao contrário dos promotores atuais, praticamente virgens neste ramo.
Émerson Fittipaldi foi o responsável pelas corridas que o WEC fez em
Interlagos, e por mais piloto que tenha sido dentro das pistas, fora dela
Émerson infelizmente não teve a mesma desenvoltura, com as provas tendo dado
prejuízos a muita gente, que até hoje não recebeu pelos serviços prestados, e
luta na justiça contra o ex-piloto para receber o que devem a eles.
E não vamos nos esquecer da maior pataquada
nacional no momento, que é mais uma vez o já batido assunto do autódromo de
Deodoro, no Rio de Janeiro, que por enquanto só rende confusões, com
absolutamente nada tendo sido feito de concreto para se dotar a capital do Rio
de Janeiro de um novo autódromo para corridas. Nossos políticos, com o
presidente Jair Bolsonaro no meio, garantem por garantir que o GP de F-1 vai
para o Rio em 2021. Mas vai correr aonde? Não tem como! A licitação para se
construir a nova pista é um verdadeiro Conto do Vigário, tendo sido vencido por
uma empresa montada na véspera do processo, sem comprovar efetivamente possuir
os recursos necessários para se construir algo dessa magnitude, e a última
novidade foi a adoção de “incentivos fiscais” de pouco mais de R$ 300 milhões
para viabilizar a construção do novo autódromo, cujo maior problema é ser em
uma área de proteção ambiental, e ainda por cima, ter sido usada como área do
exército, que para treinos militares e outras atividades, entupiu o terreno de
minas e outros artefatos.
E agora veio outra “bomba”, no sentido
praticamente literal da palavra: o site Agência Sportlight de Jornalismo
Investigativo através da Lei de Acesso à Informação, obteve acesso a documentos
que confirmam que a operação de descontaminação realizada pelo Exército há
algum tempo atrás, visando remover todos estes artefatos explosivos ainda
existentes no local, não foi completa, o que pode comprometer a segurança de se
construir alguma coisa por lá. Trocando em miúdos, ainda podem haver várias
minas e outros tipos de bombas perdidos no local, que podem explodir ao
contato. Quando o pessoal fala, em tom de brincadeira, que esta pista vai ser
um estouro, não está falando metaforicamente... E o mesmo site da Agência
Sportlight ainda lembra de tragédias ocorridas naquele lugar nos anos 1950,
quando os paióis do Exército explodiram, causando muitos estragos, confusão, e
mortes, em 1958.
Não é preciso pensar demais para ver que a
realização de um GP de F-1 naquele lugar daqui a dois anos é conversa para boi
dormir. Países onde as coisas são feitas com seriedade levaram cerca de dois
anos, ou quase isso, para levantarem seus autódromos destinados a receber
provas da F-1. Se as construções começassem ainda este mês, seria uma corrida
contra o relógio para construir a pista a tempo de receber a corrida, lembrando
que, nesse meio tempo, teria de haver um contrato firmado para a realização do
GP, com todas as garantias inerentes que vimos não terem sido viabilizadas para
a corrida do WEC. E ainda tendo os procedimentos burocráticos da FIA, que
sempre precisa vistoriar a pista, e emitir o seu laudo de aprovação, sem o qual
não tem corrida, o que consome tempo também. E, voltando ao lance das minas e
bombas perdidas, imaginemos que, durante as obras de construção, ocorra um
acidente, e uma, ou algumas delas, ou até muito mais, explodam, em meio às
atividades de construção da pista. Poderemos ter uma tragédia, em termos de
vidas humanas, mas não ficará apenas nisso, pois tal acontecimento interromperão
as obras, e certamente colocará em xeque todo o projeto, que desde o início,
nunca foi tratado com a seriedade que se exige. E daí então, quem vai se
responsabilizar por isso? Nossos políticos, estes, podem apostar que vão tirar
o deles da reta rapidinho, mas terão sido os maiores responsáveis por
insistirem em um projeto concebido sem o necessário planejamento. E nosso país
já anda com muitas tragédias recentes para resolver, por que não poderíamos ter
mais uma...? Não, isso seria uma piada, e não se brinca com vidas humanas. Mas
estamos falando de nossos políticos, que já deram mostras de que podem fazer de
tudo para garantirem seus interesses, e não é por acaso que, justamente o Rio
de Janeiro, está falido como está... E, para eles, não é errando que se
aprende, é errando, e errando cada vez mais, por pura ganância e
incompetência...
E todo mundo ainda esquece de outro detalhe,
que é a possibilidade de o GP continuar em Interlagos. O governador João Dória,
junto à Prefeitura de São Paulo, estão tratando do assunto, e falam em estender
o contrato até 2030, uma vez que a realização da corrida traz muito lucro para
a cidade. Mas já ouvi muitos dando por “acabado” e “enterrado” o GP do Brasil
de F-1 em Interlagos, quando isso é um evidente exagero. As condições e
estrutura da pista nunca estiveram tão boas, e o Liberty Media não seria maluco
de trocar o certo, a renovação do contrato do GP em um local onde tudo está
pronto, por uma corrida em uma cidade onde nem projeto propriamente tem para um
novo autódromo, no que me refiro a um projeto de engenharia sério mesmo, e não
apenas papagaiada de políticos. Claro que pode acontecer de o contrato com
Interlagos não ser renovado, mas se isso acontecer, não será devido a essa
operação “Deodoro 2021”, que de séria até agora não mostrou nada além de
desvarios de nossos políticos e nada mais. Se o contrato não for renovado, o
que é mais provável acontecer é o Brasil perder o seu GP de F-1.
Aliás, os mesmos políticos que também
prometeram, para 2022, trazer a MotoGP de volta ao Brasil, e... Em Deodoro! Mas
onde estes caras irão correr, então? Só se a MotoGP trocar suas motos por
outras de motocross, e soltar os pilotos no meio do matagal... Perto disso,
ainda tivemos a falação de uma corrida da Indycar junto ao Sambódromo, onde já
teríamos até um “mapa” do circuito, e compromisso da corrida para 2020. Uma
ótima notícia, não fosse o fato da direção da Indycar praticamente nem ter sido
comunicada sobre isso, e quando deu pela notícia, tratou de desmentir tudo
rapidinho, ainda com as lembranças frescas na memória das lambanças criadas em
torno da realização da corrida em Brasília há alguns anos... E não imagino que
eles tenham gostado de serem envolvidos em uma conversa totalmente sem pé nem
cabeça destas... Menos, gente, menos...
Isso acaba queimando nossa imagem, de modo
que até um projeto mais “pé no chão” e viável, que seria trazer a Formula-E ao
Brasil, em um circuito de rua que seria muito possível de ser criado nas ruas
do Rio de Janeiro, acaba sendo algo difícil de ser concretizado. E olha que a
direção da categoria de carros elétricos até tem interesse em correr por aqui,
mas é preciso um projeto sério de nossa parte. Há algum tempo atrás, estava
quase tudo certo para isso acontecer, e a corrida até entrou no calendário da
competição, em uma pista que seria montada junto ao Pavilhão do Anhembi, a
exemplo do que foi feito na época da corrida da Indycar. Só que aí João Dória,
então prefeito de São Paulo capital, resolveu jogar areia no projeto, ao
inventar de privatizar o Anhembi porque queria, o que degringolou os planos.
Nosso país acabou excluído, e hoje, se quiser sediar uma corrida, precisa
entrar na fila de pretendentes, uma vez que várias outras cidades pelo mundo
querem uma corrida da F-E. O Rio tem tudo para sediar um ePrix, exceto um
projeto sério e responsável para a prova. E sem isso, desculpem, mas vamos
ficar cada vez mais isolados no cenário do esporte a motor internacional.
Ah, e não me venham
com essa de que sou contra nosso país receber etapas de grandes competições
automobilísticas. Como um amante do esporte a motor, nada me deixaria mais
feliz do que ver nosso país no calendário das mais variadas competições. E o
Brasil já sediou várias provas em tempos remotos e não tão remotos. Já tivemos
a F-Indy, a Motovelocidade, o Mundial de Endurance, entre outras competições. E
nem falo dos campeonatos nacionais, que eram muito mais pujantes e importantes
há algum tempo atrás. Alguém se lembra de que nosso campeonato nacional de F-3
brindava seu campeão com a Superlicença, o documento obrigatório para se guiar
na F-1, um privilégio que nem mesmo o campeão da F-3 Sul-Americana que existia
à época recebia? Infelizmente, quase todos estes campeonatos deixaram de existir,
pelos mais variados motivos, e crises econômicas à parte, incompetência e
comodismo, além de cartolas picaretas e os mais variados vigaristas existentes
ajudaram a minar não apenas nosso automobilismo interno, mas hoje,
lamentavelmente, ajudam a prejudicar quaisquer tentativas de nosso país de
sediar de forma séria uma etapa destes importantes campeonatos internacionais.
Como já falei, não há espaços para “jeitinhos” nesse assunto. Ou se toca o
assunto a sério, ou vamos apenas passar vergonha... E que ninguém ainda fique
surpreso quando isso acontecer...
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