quarta-feira, 17 de julho de 2019

ARQUIVO PISTA & BOX – OUTUBRO DE 1998 – 23.10.1998


            Trazendo novamente mais uma antiga coluna, esta foi publicada em 23 de outubro de 1998. Faltava uma semana ainda para o Grande Prêmio do Japão daquele ano, que encerraria a temporada, e com definição do campeão. E obviamente, as especulações andavam a toda velocidade, sobre o que poderia acontecer na corrida, se a McLaren voltaria a ser campeã do mundo, com Mika Hakkinen, ou se a Ferrari finalmente encerraria o seu jejum que já estava perto de duas décadas de duração. De quebra, alguns tópicos rápidos sobre alguns acontecimentos do mundo do esporte a motor naquela semana. Curtam o texto, e em breve trago mais algumas colunas antigas... Boa leitura a todos.


ESPECULAÇÕES DE SUZUKA

            O que podemos esperar do Grande Prêmio do Japão? A prova final da temporada, que vai decidir o título entre Mika Hakkinen e Michael Schumacher centraliza todas as atenções do círculo do automobilismo de hoje até o domingo que vem. Neste momento, todos os times preparam-se para viajar rumo à Terra do Sol Nascente. Tal antecedência é necessária para que todo mundo tenha tempo de se adaptar ao fuso horário do Japão, praticamente do outro lado do mundo.
            As dúvidas começam pela performance dos carros. Quem vai ser o bicho papão: McLaren ou Ferrari? A julgar pelo desempenho das últimas etapas, a briga promete ser bem equilibrada no quesito performance. Fica a dúvida maior no quesito piloto. Com duas vitórias no circuito de Suzuka, o favorito é Schumacher. Ainda mais se o clima estiver instável, o que amplia ainda mais o favoritismo do bicampeão alemão, considerado um ás na chuva. Pelos lados da McLaren, Hakkinen sempre andou bem em Suzuka. Em seu primeiro GP pela McLaren em terras nipônicas, o finlandês subiu ao pódio em 3º lugar, em 1993. E voltou a estar lá presente em 1995 (2º colocado) e 1996 (3º posição).
            Mas é no quesito estratégia de equipe que tudo pode pegar fogo. Foi neste GP ano passado que a Ferrari deu uma virada no campeonato, após algumas provas em que o time italiano despencava de performance. No GP do Japão, contudo, a Ferrari jogou com uma cartada de mestre na estratégia de equipe que derrubou a Williams, a rival do ano passado. Eddie Irvinne foi usado como “coelho” para puxar o ritmo e depois trabalhar como escudeiro de Schumacher. O irlandês cumpriu a tarefa à risca e Michael venceu a corrida, voltando ao páreo na disputa pelo título, que perderia depois, na pista de Jerez de La Fronteira, no GP da Europa, encerramento do campeonato de 1997.
            Na luta por equipe em conjunto, a Ferrari é favorita. Além de Michael Schumacher, que sempre é um perigo, é na pista de Suzuka que o irlandês Eddie Irvinne tem seus melhores desempenhos, devido ao seu extremo conhecimento da pista, graças às suas temporadas disputando a F-3000 japonesa. Pelos lados da McLaren, o escocês David Coulthard nunca teve desempenhos empolgantes no GP do Japão. É aí que mora o perigo: no caso de um mal desempenho do escocês, Hakkinen terá de ter muito cuidado com o piloto irlandês da Ferrari. Na hipótese mais extrema, a possibilidade de haver um acidente entre ele e Irvinne deve ser levada em consideração. No caso de ambos se acidentarem, e o finlandês abandonar a corrida, bastaria a Schumacher um 2º lugar para vencer o campeonato. Mas seria temerário esperar que a Ferrari resolvesse usar uma estratégia tão arriscada, e passível de punição se houvesse o menor sinal de um acidente combinado. O normal é Schumacher conseguir a dianteira na corrida, enquanto Irvinne fica para trás segurando todos os demais, Hakkinen incluso. O fator Irvinne deve ser superado de qualquer maneira. O ano passado serve de exemplo: mesmo tendo um carro mais veloz, Hakkinen terminou a prova em 4º lugar, trancado atrás do piloto irlandês, que passou mais da metade da corrida bloqueando todos que o perseguiam.
            Dada a personalidade de Schumacher, não seria novidade Irvinne ter o trabalho de tirar o piloto finlandês da corrida. É só lembrar o que aconteceu em Barcelona, onde Irvinne e Giancarlo Fisichella, da Benetton, se acidentaram numa freada de curva, tirando ambos da pista e do GP da Espanha. Houve quem especulasse que o irlandês teria feito isso para que Schumacher conseguisse o 3º lugar, uma vez que era impossível alcançar a dupla da McLaren, e o piloto da Benetton era um adversário muito perigoso àquela altura da corrida. É claro que o time italiano e o piloto negaram tudo, o que é óbvio, mas o precedente, mesmo apenas em suposição, não deve ser desconsiderado, e por isso a McLaren terá de repetir o seu desempenho de Nurburgring, ou melhor, terá de ser ainda mais eficiente, pois no GP de Luxemburgo, se Hakkinen foi perfeito e venceu a prova, Coulthard ficou devendo, passando boa parte da corrida preso atrás de Eddie Irvinne.
            Por tudo o que se pode esperar da corrida, Mika Hakkinen tomou a ofensiva: já declarou que não vai correr apenas para ser campeão, mas para vencer a corrida. Foi o que Damon Hill fez em 1996: mesmo precisando de apenas um 6º lugar no GP, Hill foi à luta e venceu a corrida de ponta a ponta, não dando chances à concorrência. Se Hakkinen quiser o título, terá de partir para o ataque e sem cometer erros. Do contrário, as coisas podem se complicar e Schumacher irá chegar, enfim, ao tricampeonato. Façam suas apostas então: quem vai vencer?


Alessandro Zanardi voltou a exibir a velha forma domingo passado no Grande Prêmio de Surfer’s Paradise de F-CART, na Austrália: o piloto italiano superou Dario Franchiti e venceu a corrida, ampliando ainda mais o seu recorde de pontos numa só temporada da categoria. De Franchiti, sobrou o consolo de ter feito a pole position na corrida e ter alcançado a vice-liderança do campeonato. E o italiano já avisa que vai querer a vitória em Fontana, no dia 1º de novembro, na prova de encerramento da temporada, para se despedir por cima da categoria, já que em 99 voltará à F-1, pilotando para a Williams.


A prova australiana foi mais um pesadelo para a maioria de nossos pilotos na F-CART. Só Christian Fittipaldi, que subiu ao pódio, e Tony Kanaan, tiveram desempenho satisfatório. André Ribeiro e Maurício Gugelmim passaram a corrida inteira brigando com seus carros. Gil de Ferran errou feio na estratégia e Hélio Castro Neves foi parar no muro. Já é melhor encararmos a idéia de passar o ano sem vermos nenhuma vitória na categoria e começar a pensar na próxima temporada...


Paul Tracy aprontou mais uma das suas em Surfer’s Paradise: desta vez a vítima do piloto canadense acabou sendo Michael Andretti. O ambiente entre os dois pilotos está fervendo, e pode resultar em novos atritos muito em breve...


O inglês David Richards foi demitido do comando da equipe Benetton devido à falta de resultados da escuderia no atual campeonato da F-1, e a desavenças de mentalidade entre o inglês e Luciano Benetton, dono do time. Seu lugar deverá ser assumido por Rocco Benetton, que promete levar o time de volta às vitórias e conseguir ainda mais títulos do que os de 94 e 95. Espero que ele esteja preparado para queimar a língua, caso as coisas dêem errado...

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