sexta-feira, 19 de julho de 2019

FIM DE TEMPORADA NA F-E

Sébastien Buemi (acima) encerrou o jejum de vitórias na F-E e ainda conquistou o vice-campeonato da atual temporada, mas quem comemorou mesmo foi Jean-Éric Vergne (abaixo), que chegou ao bicampeonato, mesmo sem ter tido boa atuação nas corridas da rodada dupla de Nova Iorque.

            A Formula-E encerrou sua quinta temporada com a rodada dupla de Nova Iorque, disputada no fim de semana passado, e conheceu o seu primeiro bicampeão em sua curta existência: Jean-Éric Vergne, da equipe Techeetah, conquistou seu segundo título, consecutivo, e escreveu seu nome nos anais da categoria dos carros de competição monopostos totalmente elétricos. O piloto francês, aliás, não teve um final de semana muito auspicioso na pista montada no bairro do Brooklyn, mas fez valer a grande vantagem na pontuação que acumulou nas etapas anteriores para se sagrar campeão, e com uma certa dose de sorte em ver seus adversários mais perigosos darem um tremendo azar nas duas corridas disputadas na metrópole da costa leste dos Estados Unidos.
            Principalmente Lucas Di Grassi, que além de não conseguir ameaçar o bicampeonato de Vergne nas duas corridas de Nova Iorque, ainda perdeu até o vice-campeonato para seu velho rival Sébastien Buemi, que no apagar das luzes deste quinto campeonato, recuperou um pouco do respeito, evitando de passar um segundo ano sem conseguir vencer na competição. O piloto suíço, desde a derrota para o brasileiro no encerramento da temporada 2016-2017, tinha caído de rendimento, ele e seu time, a e.dams, e neste ano, parecia que a maré de azar estava difícil de passar, apesar de demonstrar potencial para obter melhores resultados. Foi também um fechamento de ano mais do que digno para o suíço, que no início da temporada, estava tomando resultado até do novo companheiro de equipe, o britânico Oliver Rowland. Mas Rownland perdeu fôlego conforme a temporada avançava, e Buemi foi retomando o ritmo, até conquistando pole-positions, mostrando que continuava veloz. Faltava, porém, desencantar de vez, o que conseguiu na primeira corrida de Nova Iorque, onde largou na pole, e não deu chances para o azar. E o suíço voltou a fazer uma boa corrida no domingo, subindo novamente ao pódio, e roubando de Lucas Di Grassi o vice-campeonato. Com a e.dams voltando a se mostrar competitiva, agora competindo com o trem de força da Nissan, o time, que até algum tempo atrás era o mais bem-sucedido na F-E, demonstra que deve voltar à luta pelo título, na qual esteve ausente nas últimas duas temporadas.
            Lucas, por outro lado, não se esquivou de admitir que tanto ele quanto seu time, a Audi, não fizeram o trabalho direito para serem novamente campeões na categoria. O brasileiro se credenciou como grande adversário na luta pela taça da temporada com sua exuberante vitória em Berlim, mas tanto ele quanto a Audi negaram fogo no momento decisivo, tanto em Berna quanto em Nova Iorque, onde classificações ruins condicionaram as chances do brasileiro, que não conseguiu recuperar na pista as posições necessárias para dificultar a conquista do título por parte de Vergne. Di Grassi até que foi razoável na primeira corrida de Nova Iorque, mas mesmo assim, em nível inferior ao necessário para não precisar tanto de um bom resultado na prova do domingo. E na prova derradeira, outra posição ruim no grid já prenunciava que só um milagre daria o título ao brasileiro, o que obviamente não ocorreu. Dificuldades de ultrapassagens nas pistas suíça e nova-iorquina, Lucas e a Audi não conseguiram se mostrar à altura do que o momento pedia. Agora, é trabalhar ainda mais para a próxima temporada, onde a concorrência deve ficar ainda mais acirrada na categoria dos carros elétricos. De positivo, apenas Di Grassi conseguir manter-se entre o TOP-3 em todas as temporadas disputadas no certame até hoje.
Lucas Di Grassi não conseguiu chegar ao título, e admitiu que não teve o desempenho necessário para ser campeão, mas terminou mais um ano no TOP-3 da F-E.
            No ano em que estreou novos carros, capazes de efetuar uma corrida inteira sem necessidade de troca, a F-E até que se saiu bem, e com um dado muito interessante: teve 9 pilotos diferentes no topo do pódio, nas 13 corridas disputadas na temporada. Apenas Jean-Éric Vergne, Lucas Di Grassi, e Robin Frijns conseguiram vencer mais de uma vez. O brasileiro e Frijns conseguiram dois triunfos cada um, enquanto Vergne venceu 3 vezes. O nível de equilíbrio se mostra na pontuação, onde Vergne se tornou bicampeão com o menor número de pontos nestas 5 temporadas de disputas, com “apenas” 136 pontos. No ano passado, o francês fora campeão com a pontuação até agora recorde para uma conquista de título: 198 pontos. A menor diferença entre um campeão e o vice-campeão, contudo, foi na primeira temporada, onde Nelsinho Piquet faturou a taça com apenas 1 ponto a mais que o vice-campeão, Buemi. O ponto positivo deste 5º ano foi que, nas 8 primeiras corridas, com 8 pilotos diferentes vencendo, era impossível apontar um favorito, pois vários pilotos vinham embolados na pontuação, sem termos um favorito destacado. E com os pilotos alternando resultados, só a partir da etapa de Mônaco, onde Vergne ganhou pela segunda vez, é que o número de candidatos começou realmente a se afunilar de forma mais clara. E apesar de, matematicamente, 8 pilotos ainda terem chegado a Nova Iorque com chances matemáticas, na prática apenas dois, Vergne e Di Grassi, poderiam ser considerados postulantes de fato, com os demais correndo como verdadeiros azarões. Mesmo com sua vitória na primeira corrida nova-iorquina, Buemi ficou fora de combate já na classificação da segunda corrida, por não conseguir a pole-position, e tudo ficar ainda mais reduzido no número de pilotos com chances reais. Tendo chegado a Nova Iorque com 32 pontos à frente do rival mais próximo, essa vantagem foi crucial para Vergne administrar os resultados, mas podendo também se dar ao luxo de arriscar um mau resultado, até certo ponto, desde que os rivais não conseguissem aproveitar a oportunidade. E foi o que aconteceu, com o francês sendo campeão ainda com 17 pontos de vantagem para Buemi, o vice-campeão.
Robin Frijns (acima) venceu duas corridas no ano e foi o melhor piloto da Virgin na temporada, deixando Sam Bird para trás. Já a BMW (abaixo) começou bem o ano, mas perdeu força na segunda metade da temporada, assim como a própria Virgin e a Mahindra.
            A falta da troca de carros durante as corridas, devido à autonomia dos novos sistemas de baterias, tirou um pouco da emoção que as paradas nos boxes proporcionavam até então. Os pilotos que costumavam planejar suas estratégias para ganhar posições na hora das trocas tiveram que partir para duelos diretos na pista. Para tentar dar mais emoção, foi instituído o “Modo Ataque”, com os pilotos ganhando o direito de usar mais potência por um período determinado após cruzar um ponto específico na pista. Isso ajudou a dar um tempero extra em alguns momentos, com resultados variados, dependendo das circunstâncias da prova. Mas os novos carros, um pouco maiores que os anteriores, e muito mais rápidos, mostraram que a categoria precisa repensar seus circuitos. Em algumas etapas, tivemos toques e incidentes acima do que deveria ser aceitável, com os pilotos tendo de abusar da agressividade para superar os adversários na pista, em manobras nem sempre bem-sucedidas.
            Algumas curvas em vários circuitos “estrangularam” demasiado a passagem dos carros, sendo necessário uma revisão destes trechos, a fim de proporcionar melhores condições de competição, além de ajudar a evitar “engavetamentos” potenciais quando alguns carros se enroscam juntos nestes pontos, como vimos em alguns momentos. E o novo formato das corridas, por tempo, até pode ter sido interessante neste primeiro ano de implementação, mas as provas acabaram sendo muito prejudicadas por momentos de bandeira amarela em toda a pista, que às vezes demorava muito para ser encerrado, o que diminuía sobremaneira o tempo de corrida efetivamente realizado. Para a próxima temporada, estão introduzindo uma regra de decréscimo da carga das baterias durante o período de bandeira amarela, de forma a obrigar os pilotos a gerenciar melhor a sua carga disponível, mas acredito que uma mudança mais positiva seria parar o cronômetro enquanto a pista estivesse nesta condição, retomando a contagem regressiva de tempo quando a bandeira verde fosse novamente acionada, de modo a garantir o maior tempo de disputa possível, mas garantindo que os pilotos tivessem que condicionar seu gasto de energia, uma vez que, mesmo economizando carga andando em baixa velocidade atrás do Safety Car durante o período de bandeira amarela, mesmo assim se consome energia, e dependendo do tempo nesta condição, isso poderia complicar a situação dos pilotos, na retomada da prova, até a bandeirada final.
            Maior clareza e objetividade de aplicação em algumas regras, além de tomadas de decisão mais rápidas, também ajudariam a termos menos confusões com algumas penalizações, com os resultados na pista tendo menos chance de sofrerem mudanças drásticas horas depois de encerrada a corrida. E uma coisa que muitos reclamam é da escolha dos pilotos para participarem da primeira sessão do treino de classificação, quando a pista está muito suja, e tem prejudicado os pilotos que tem de treinar nesta primeira parte. De certa forma, eles até tem razão nesta crítica, e uma solução poderia ser a volta do sorteio como escolha dos pilotos para os treinos, como era na primeira temporada. Isso deixaria todo mundo em situação similar de ter sorte ou não para qual sessão da qualificação teriam de participar, embora tenha também seus reveses.
            Nesta temporada tivemos a estréia oficial da BMW na competição, associada à equipe de Michael Andretti, e para o próximo ano, teremos a estréia da Porsche, e a entrada oficial da Mercedes, esta através da equipe HWA. A Porsche, aliás, já definiu sua dupla de pilotos para sua temporada de estréia, com a contratação de André Lotterer, ex-Techeetah, que terá Neel jani como companheiro de equipe. Ambos já defenderam a marca alemã no Mundial de Endurance, e Lotterer será a voz da experiência da fábrica em sua estréia na competição de carros elétricos, onde mostrará a Jani os macetes da categoria. Coincidentemente, a Audi, outro time alemão, é quem já definiu também sua dupla para a 6ª temporada, tendo anunciado que manterá seus atuais pilotos, Lucas Di Grassi e Daniel Abt, para mais um ano. Nos demais times, ainda há nomes e lugares em disputa.
            Para o Brasil, o ano foi de alguns altos e baixos. Se Lucas Di Grassi venceu corridas e disputou o título até a última corrida, por outro lado, nossa representação na categoria encolheu. Começamos o ano com três pilotos no grid, contando com Nelsinho Piquet, na Jaguar, e vendo a estréia de Felipe Massa pela equipe Venturi. Mas Piquet, que já vinha numa maré de maus resultados desde a segunda metade da temporada passada, não conseguiu inverter a situação, continuando a ser facilmente superado pelo companheiro Mith Evans, e o piloto e a equipe optaram pela separação. Tudo ficou ainda mais complicado quando o substituto de Piquet na Jaguar, Alex Lynn, mostrou conseguir melhores resultados com o carro da escuderia, mesmo entrando a meio do campeonato, o que demonstra quão baixo estava sendo a performance de Nelsinho. Primeiro campeão da categoria, o brasileiro estaria em negociação para voltar ao grid, embora os boatos de negociações tenham esfriado no final de semana da rodada dupla de Nova Iorque. Já Felipe Massa chegou com prestígio à categoria, pelo seu histórico recente como piloto da F-1, mas o brasileiro sofreu para se adaptar à sistemática de corrida da categoria, e em certos momentos, acabou bem ofuscado pelo companheiro Edoardo Mortara, que chegou até a vencer uma corrida. Dali em diante, contudo, Massa começou a tirar a diferença, chegando a subir ao pódio na etapa de Mônaco. Mas Felipe ainda não mostrou efetivamente a que veio na F-E, precisando melhorar sua performance não apenas na pista, mas também nas classificações, além de torcer para uma evolução da Venturi diante das outras equipes. Massa está garantido no time para o próximo ano, mas sua continuidade na F-E dependerá das condições de competição que ele tiver, já tendo dado a entender que, se não lutar pelas primeiras posições, poderá pular fora da categoria.
            Na competição de fábricas, a conquista de Vergne é o primeiro triunfo da Citroen na F-E. Até então, apenas Audi e Renault haviam sido campeões até aqui, com a Techeetah tendo utilizado o trem de força da Renault na temporada passada, mudando para a rival Citroen neste último ano, quando a Renault preferiu se focar exclusivamente na F-1, e seu lugar na F-E foi ocupado pela Nissan. A BMW até que começou bem, mas foi perdendo força durante a temporada, assim como a Mahindra e a Virgin, esta agora utilizando o trem de força da Audi. Dragon e Nio continuaram na rabeira da competição, enquanto Venturi e Jaguar continuaram no meio do pelotão na classificação. A HWA, para um ano de estréia, utilizando o powertrain da Venturi, até que se portou de forma decente, e ganhou experiência para proporcionar à Mercedes algum known-how para sua estréia oficial na nova temporada que se inicia no final deste ano.
            A categoria não é apenas mais uma aventura, já tendo um prestígio considerável entre os fabricantes mundiais, muito devido às novas tendências da indústria de eletrificar a propulsão dos carros, especialmente na Europa. Para muitos, contudo, ainda é vista com desconfiança, e local de refúgio para pilotos “fracassados” da F-1, o que revela o preconceito de muitos torcedores que ainda não aceitam o sucesso e crescimento que a F-E vem obtendo desde sua estréia. É claro que ainda é uma categoria “menor”, se considerada em relação a outros campeonatos, como a F-1, mas sua proposta nunca foi ser igual à F-1, e pelo menos até o presente momento, vem conseguindo seguir o seu objetivo de oferecer uma competição mais “alternativa”, tendo agora até uma etapa de suporte, o I-Pace Jaguar Trophy, competição de carros de turismo totalmente elétricos. Há lugar para todos, e pelo menos, a F-E tem oferecido disputas mais empolgantes que certas categorias concorrentes, e os carros, apesar de lentos, vem ficando mais rápidos e potentes, tudo dentro de uma evolução com custos controlados, e muito mais acessível para os torcedores e fãs. Tem ainda seus defeitos e problemas, que precisa resolver, mas vem conseguindo evoluir e atrair cada vez mais atenção e ganhando mais importância. Até onde pode chegar é difícil saber, mas ao menos, por enquanto, vem cumprindo seu papel.
            Que venha a sexta temporada, então, com mais disputas e corridas...


E Lewis Hamilton venceu o Grande Prêmio da Inglaterra, com a Mercedes mostrando de novo sua velha forma, depois de ficar momentaneamente ofuscada na etapa da Áustria. Valtteri Bottas até que tentou, mas acabou não dando sorte na corrida, efetuando duas paradas no box contra apenas uma de Hamilton, que averbou seu 6º triunfo em Silverstone, levando o público inglês ao delírio. E ainda tivemos bons duelos, com destaque para a briga entre Charles LeClerc e Max Verstappen, com os ânimos do monegasco ainda acirrados por ter perdido a vitória em Zeltweg. Mas acabou sendo com Sebastian Vettel que Verstappen se enrolou, quando foi atingido por trás pelo alemão da Ferrari quando este estava duelando por posição com o holandês da Red Bull. Momento complicado o de Vettel, que arruinou sua corrida ali, terminando apenas em 16º, depois de precisar trocar o bico e ainda tomar uma punição de 10s. Mas o alemão teve brios para admitir seu erro e ir se desculpar com Max, que conseguiu retornar à corrida e terminar em 5º lugar. Não é qualquer piloto que tem este tipo de atitude, e isso só faz aumentar a torcida para que Vettel encerre sua má fase e volte a mostrar porque foi tetracampeão mundial entre 2010 e 2013...

Nenhum comentário: