A Formula-E encerrou
sua quinta temporada com a rodada dupla de Nova Iorque, disputada no fim de
semana passado, e conheceu o seu primeiro bicampeão em sua curta existência:
Jean-Éric Vergne, da equipe Techeetah, conquistou seu segundo título,
consecutivo, e escreveu seu nome nos anais da categoria dos carros de
competição monopostos totalmente elétricos. O piloto francês, aliás, não teve
um final de semana muito auspicioso na pista montada no bairro do Brooklyn, mas
fez valer a grande vantagem na pontuação que acumulou nas etapas anteriores
para se sagrar campeão, e com uma certa dose de sorte em ver seus adversários
mais perigosos darem um tremendo azar nas duas corridas disputadas na metrópole
da costa leste dos Estados Unidos.
Principalmente Lucas
Di Grassi, que além de não conseguir ameaçar o bicampeonato de Vergne nas duas
corridas de Nova Iorque, ainda perdeu até o vice-campeonato para seu velho
rival Sébastien Buemi, que no apagar das luzes deste quinto campeonato, recuperou
um pouco do respeito, evitando de passar um segundo ano sem conseguir vencer na
competição. O piloto suíço, desde a derrota para o brasileiro no encerramento da
temporada 2016-2017, tinha caído de rendimento, ele e seu time, a e.dams, e
neste ano, parecia que a maré de azar estava difícil de passar, apesar de
demonstrar potencial para obter melhores resultados. Foi também um fechamento
de ano mais do que digno para o suíço, que no início da temporada, estava
tomando resultado até do novo companheiro de equipe, o britânico Oliver Rowland.
Mas Rownland perdeu fôlego conforme a temporada avançava, e Buemi foi retomando
o ritmo, até conquistando pole-positions, mostrando que continuava veloz.
Faltava, porém, desencantar de vez, o que conseguiu na primeira corrida de Nova
Iorque, onde largou na pole, e não deu chances para o azar. E o suíço voltou a
fazer uma boa corrida no domingo, subindo novamente ao pódio, e roubando de
Lucas Di Grassi o vice-campeonato. Com a e.dams voltando a se mostrar
competitiva, agora competindo com o trem de força da Nissan, o time, que até
algum tempo atrás era o mais bem-sucedido na F-E, demonstra que deve voltar à
luta pelo título, na qual esteve ausente nas últimas duas temporadas.
Lucas, por outro lado,
não se esquivou de admitir que tanto ele quanto seu time, a Audi, não fizeram o
trabalho direito para serem novamente campeões na categoria. O brasileiro se
credenciou como grande adversário na luta pela taça da temporada com sua
exuberante vitória em Berlim, mas tanto ele quanto a Audi negaram fogo no
momento decisivo, tanto em Berna quanto em Nova Iorque, onde classificações
ruins condicionaram as chances do brasileiro, que não conseguiu recuperar na
pista as posições necessárias para dificultar a conquista do título por parte
de Vergne. Di Grassi até que foi razoável na primeira corrida de Nova Iorque,
mas mesmo assim, em nível inferior ao necessário para não precisar tanto de um
bom resultado na prova do domingo. E na prova derradeira, outra posição ruim no
grid já prenunciava que só um milagre daria o título ao brasileiro, o que
obviamente não ocorreu. Dificuldades de ultrapassagens nas pistas suíça e nova-iorquina,
Lucas e a Audi não conseguiram se mostrar à altura do que o momento pedia.
Agora, é trabalhar ainda mais para a próxima temporada, onde a concorrência
deve ficar ainda mais acirrada na categoria dos carros elétricos. De positivo,
apenas Di Grassi conseguir manter-se entre o TOP-3 em todas as temporadas
disputadas no certame até hoje.
Lucas Di Grassi não conseguiu chegar ao título, e admitiu que não teve o desempenho necessário para ser campeão, mas terminou mais um ano no TOP-3 da F-E. |
No ano em que estreou
novos carros, capazes de efetuar uma corrida inteira sem necessidade de troca,
a F-E até que se saiu bem, e com um dado muito interessante: teve 9 pilotos
diferentes no topo do pódio, nas 13 corridas disputadas na temporada. Apenas
Jean-Éric Vergne, Lucas Di Grassi, e Robin Frijns conseguiram vencer mais de
uma vez. O brasileiro e Frijns conseguiram dois triunfos cada um, enquanto
Vergne venceu 3 vezes. O nível de equilíbrio se mostra na pontuação, onde
Vergne se tornou bicampeão com o menor número de pontos nestas 5 temporadas de
disputas, com “apenas” 136 pontos. No ano passado, o francês fora campeão com a
pontuação até agora recorde para uma conquista de título: 198 pontos. A menor
diferença entre um campeão e o vice-campeão, contudo, foi na primeira
temporada, onde Nelsinho Piquet faturou a taça com apenas 1 ponto a mais que o
vice-campeão, Buemi. O ponto positivo deste 5º ano foi que, nas 8 primeiras
corridas, com 8 pilotos diferentes vencendo, era impossível apontar um
favorito, pois vários pilotos vinham embolados na pontuação, sem termos um
favorito destacado. E com os pilotos alternando resultados, só a partir da
etapa de Mônaco, onde Vergne ganhou pela segunda vez, é que o número de
candidatos começou realmente a se afunilar de forma mais clara. E apesar de,
matematicamente, 8 pilotos ainda terem chegado a Nova Iorque com chances
matemáticas, na prática apenas dois, Vergne e Di Grassi, poderiam ser
considerados postulantes de fato, com os demais correndo como verdadeiros
azarões. Mesmo com sua vitória na primeira corrida nova-iorquina, Buemi ficou
fora de combate já na classificação da segunda corrida, por não conseguir a
pole-position, e tudo ficar ainda mais reduzido no número de pilotos com
chances reais. Tendo chegado a Nova Iorque com 32 pontos à frente do rival mais
próximo, essa vantagem foi crucial para Vergne administrar os resultados, mas
podendo também se dar ao luxo de arriscar um mau resultado, até certo ponto,
desde que os rivais não conseguissem aproveitar a oportunidade. E foi o que
aconteceu, com o francês sendo campeão ainda com 17 pontos de vantagem para
Buemi, o vice-campeão.
A falta da troca de
carros durante as corridas, devido à autonomia dos novos sistemas de baterias,
tirou um pouco da emoção que as paradas nos boxes proporcionavam até então. Os
pilotos que costumavam planejar suas estratégias para ganhar posições na hora
das trocas tiveram que partir para duelos diretos na pista. Para tentar dar
mais emoção, foi instituído o “Modo Ataque”, com os pilotos ganhando o direito
de usar mais potência por um período determinado após cruzar um ponto
específico na pista. Isso ajudou a dar um tempero extra em alguns momentos, com
resultados variados, dependendo das circunstâncias da prova. Mas os novos
carros, um pouco maiores que os anteriores, e muito mais rápidos, mostraram que
a categoria precisa repensar seus circuitos. Em algumas etapas, tivemos toques
e incidentes acima do que deveria ser aceitável, com os pilotos tendo de abusar
da agressividade para superar os adversários na pista, em manobras nem sempre
bem-sucedidas.
Algumas curvas em
vários circuitos “estrangularam” demasiado a passagem dos carros, sendo
necessário uma revisão destes trechos, a fim de proporcionar melhores condições
de competição, além de ajudar a evitar “engavetamentos” potenciais quando alguns
carros se enroscam juntos nestes pontos, como vimos em alguns momentos. E o
novo formato das corridas, por tempo, até pode ter sido interessante neste
primeiro ano de implementação, mas as provas acabaram sendo muito prejudicadas
por momentos de bandeira amarela em toda a pista, que às vezes demorava muito
para ser encerrado, o que diminuía sobremaneira o tempo de corrida efetivamente
realizado. Para a próxima temporada, estão introduzindo uma regra de decréscimo
da carga das baterias durante o período de bandeira amarela, de forma a obrigar
os pilotos a gerenciar melhor a sua carga disponível, mas acredito que uma
mudança mais positiva seria parar o cronômetro enquanto a pista estivesse nesta
condição, retomando a contagem regressiva de tempo quando a bandeira verde
fosse novamente acionada, de modo a garantir o maior tempo de disputa possível,
mas garantindo que os pilotos tivessem que condicionar seu gasto de energia,
uma vez que, mesmo economizando carga andando em baixa velocidade atrás do
Safety Car durante o período de bandeira amarela, mesmo assim se consome
energia, e dependendo do tempo nesta condição, isso poderia complicar a
situação dos pilotos, na retomada da prova, até a bandeirada final.
Maior clareza e
objetividade de aplicação em algumas regras, além de tomadas de decisão mais
rápidas, também ajudariam a termos menos confusões com algumas penalizações,
com os resultados na pista tendo menos chance de sofrerem mudanças drásticas
horas depois de encerrada a corrida. E uma coisa que muitos reclamam é da
escolha dos pilotos para participarem da primeira sessão do treino de
classificação, quando a pista está muito suja, e tem prejudicado os pilotos que
tem de treinar nesta primeira parte. De certa forma, eles até tem razão nesta
crítica, e uma solução poderia ser a volta do sorteio como escolha dos pilotos
para os treinos, como era na primeira temporada. Isso deixaria todo mundo em
situação similar de ter sorte ou não para qual sessão da qualificação teriam de
participar, embora tenha também seus reveses.
Nesta temporada
tivemos a estréia oficial da BMW na competição, associada à equipe de Michael
Andretti, e para o próximo ano, teremos a estréia da Porsche, e a entrada
oficial da Mercedes, esta através da equipe HWA. A Porsche, aliás, já definiu
sua dupla de pilotos para sua temporada de estréia, com a contratação de André
Lotterer, ex-Techeetah, que terá Neel jani como companheiro de equipe. Ambos já
defenderam a marca alemã no Mundial de Endurance, e Lotterer será a voz da
experiência da fábrica em sua estréia na competição de carros elétricos, onde
mostrará a Jani os macetes da categoria. Coincidentemente, a Audi, outro time
alemão, é quem já definiu também sua dupla para a 6ª temporada, tendo anunciado
que manterá seus atuais pilotos, Lucas Di Grassi e Daniel Abt, para mais um
ano. Nos demais times, ainda há nomes e lugares em disputa.
Para o Brasil, o ano
foi de alguns altos e baixos. Se Lucas Di Grassi venceu corridas e disputou o
título até a última corrida, por outro lado, nossa representação na categoria
encolheu. Começamos o ano com três pilotos no grid, contando com Nelsinho
Piquet, na Jaguar, e vendo a estréia de Felipe Massa pela equipe Venturi. Mas
Piquet, que já vinha numa maré de maus resultados desde a segunda metade da
temporada passada, não conseguiu inverter a situação, continuando a ser
facilmente superado pelo companheiro Mith Evans, e o piloto e a equipe optaram
pela separação. Tudo ficou ainda mais complicado quando o substituto de Piquet
na Jaguar, Alex Lynn, mostrou conseguir melhores resultados com o carro da
escuderia, mesmo entrando a meio do campeonato, o que demonstra quão baixo
estava sendo a performance de Nelsinho. Primeiro campeão da categoria, o
brasileiro estaria em negociação para voltar ao grid, embora os boatos de
negociações tenham esfriado no final de semana da rodada dupla de Nova Iorque.
Já Felipe Massa chegou com prestígio à categoria, pelo seu histórico recente
como piloto da F-1, mas o brasileiro sofreu para se adaptar à sistemática de
corrida da categoria, e em certos momentos, acabou bem ofuscado pelo
companheiro Edoardo Mortara, que chegou até a vencer uma corrida. Dali em
diante, contudo, Massa começou a tirar a diferença, chegando a subir ao pódio
na etapa de Mônaco. Mas Felipe ainda não mostrou efetivamente a que veio na
F-E, precisando melhorar sua performance não apenas na pista, mas também nas
classificações, além de torcer para uma evolução da Venturi diante das outras
equipes. Massa está garantido no time para o próximo ano, mas sua continuidade
na F-E dependerá das condições de competição que ele tiver, já tendo dado a
entender que, se não lutar pelas primeiras posições, poderá pular fora da
categoria.
Na competição de
fábricas, a conquista de Vergne é o primeiro triunfo da Citroen na F-E. Até
então, apenas Audi e Renault haviam sido campeões até aqui, com a Techeetah
tendo utilizado o trem de força da Renault na temporada passada, mudando para a
rival Citroen neste último ano, quando a Renault preferiu se focar
exclusivamente na F-1, e seu lugar na F-E foi ocupado pela Nissan. A BMW até
que começou bem, mas foi perdendo força durante a temporada, assim como a
Mahindra e a Virgin, esta agora utilizando o trem de força da Audi. Dragon e
Nio continuaram na rabeira da competição, enquanto Venturi e Jaguar continuaram
no meio do pelotão na classificação. A HWA, para um ano de estréia, utilizando
o powertrain da Venturi, até que se portou de forma decente, e ganhou
experiência para proporcionar à Mercedes algum known-how para sua estréia
oficial na nova temporada que se inicia no final deste ano.
A categoria não é
apenas mais uma aventura, já tendo um prestígio considerável entre os
fabricantes mundiais, muito devido às novas tendências da indústria de
eletrificar a propulsão dos carros, especialmente na Europa. Para muitos,
contudo, ainda é vista com desconfiança, e local de refúgio para pilotos “fracassados”
da F-1, o que revela o preconceito de muitos torcedores que ainda não aceitam o
sucesso e crescimento que a F-E vem obtendo desde sua estréia. É claro que
ainda é uma categoria “menor”, se considerada em relação a outros campeonatos,
como a F-1, mas sua proposta nunca foi ser igual à F-1, e pelo menos até o
presente momento, vem conseguindo seguir o seu objetivo de oferecer uma
competição mais “alternativa”, tendo agora até uma etapa de suporte, o I-Pace Jaguar
Trophy, competição de carros de turismo totalmente elétricos. Há lugar para
todos, e pelo menos, a F-E tem oferecido disputas mais empolgantes que certas
categorias concorrentes, e os carros, apesar de lentos, vem ficando mais
rápidos e potentes, tudo dentro de uma evolução com custos controlados, e muito
mais acessível para os torcedores e fãs. Tem ainda seus defeitos e problemas,
que precisa resolver, mas vem conseguindo evoluir e atrair cada vez mais
atenção e ganhando mais importância. Até onde pode chegar é difícil saber, mas
ao menos, por enquanto, vem cumprindo seu papel.
Que venha a sexta
temporada, então, com mais disputas e corridas...
E Lewis Hamilton venceu o Grande
Prêmio da Inglaterra, com a Mercedes mostrando de novo sua velha forma, depois
de ficar momentaneamente ofuscada na etapa da Áustria. Valtteri Bottas até que
tentou, mas acabou não dando sorte na corrida, efetuando duas paradas no box
contra apenas uma de Hamilton, que averbou seu 6º triunfo em Silverstone,
levando o público inglês ao delírio. E ainda tivemos bons duelos, com destaque
para a briga entre Charles LeClerc e Max Verstappen, com os ânimos do monegasco
ainda acirrados por ter perdido a vitória em Zeltweg. Mas acabou sendo com
Sebastian Vettel que Verstappen se enrolou, quando foi atingido por trás pelo
alemão da Ferrari quando este estava duelando por posição com o holandês da Red
Bull. Momento complicado o de Vettel, que arruinou sua corrida ali, terminando
apenas em 16º, depois de precisar trocar o bico e ainda tomar uma punição de
10s. Mas o alemão teve brios para admitir seu erro e ir se desculpar com Max,
que conseguiu retornar à corrida e terminar em 5º lugar. Não é qualquer piloto
que tem este tipo de atitude, e isso só faz aumentar a torcida para que Vettel
encerre sua má fase e volte a mostrar porque foi tetracampeão mundial entre
2010 e 2013...
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