Trazendo um novo texto da série
sobre os circuitos utilizados pela F-1 em sua história, hoje falo um pouco de
um circuito que despediu-se da categoria máxima do automobilismo há mais de 30
anos atrás, mas que fará um retorno à competição na temporada do ano que vem,
em data ainda a ser confirmada: Zandvoort, na Holanda, palco de todas as 30
edições do Grande Prêmio da Holanda realizadas na história da F-1. Conheçam
então um pouco mais desta pista que deixou saudades em muitos na época, e cujo
traçado original, infelizmente, não existe mais. Uma boa leitura para todos...
ZANDVOORT
Recentemente,
a F-1 anunciou o retorno de um dos mais antigos Grandes Prêmios ao calendário
da competição, para a temporada de 2020. A prova em questão é a da Holanda, que
já teve 30 edições realizadas na história da categoria máxima do automobilismo,
entre as temporadas de 1952 e 1985, estando ausente nas temporadas de 1954,
1956, 1957, e 1972. Todas as corridas tiveram como sede o Circuito de
Zandvoort, palco único do GP da Holanda, e que voltará ao calendário como sede
da corrida, após uma disputa com outra pista clássica do esporte a motor em
terras dos Países Baixos, Assen, muito conhecida por sediar o GP de
Motovelocidade da Holanda, que acabou perdendo a disputa para a antiga sede da
prova holandesa de F-1. Situada na cidade de mesmo nome, próxima ao litoral do
Oceano Atlântico, Zandvoort foi projetado pelo holandês John Hugenholtz, que
projetou também outra pista icônica do campeonato de F-1, o circuito de Suzuka,
no Japão, sede do Grande Prêmio do Japão no calendário da categoria. A pista
holandesa foi inaugurada em 1948, sendo que no mesmo ano sediou as primeiras
corridas em seu traçado.
Com um
traçado de 4,193 km, o circuito holandês sediou seu primeiro GP válido para o
campeonato de F-1 em 1952, tendo Alberto Ascari, com a Ferrari, como o primeiro
vencedor deste GP, dentre os 18 participantes que largaram nesta primeira prova
em terras holandesas. Ascari largou na pole-position, e a prova teve duração de
90 voltas. A pista de Zandvoort possuía uma grande reta, e curvas suaves na
maior parte de sua extensão. Um dos destaques do traçado era a primeira curva
da pista, chamada de Tarzanbocht, ou “Curva Tarzan”, onde sempre tínhamos uma
boa disputa de posição, com os pilotos disputando as freadas cada vez mais no
extremo da curva. Este traçado original do circuito foi usado até o GP de 1971,
sendo que neste ano, o percurso do GP já havia sido reduzido para 70 voltas.
Com 4 triunfos, o escocês Jim Clark já havia se tornado o maior vencedor da
corrida holandesa, marca que perdura até os dias atuais. Apenas dois pilotos
conseguiram vencer 3 trezes na pista de Zandvoort: Jackie Stewart, e Niki
Lauda, sendo que o piloto austríaco foi o último vencedor da corrida, no já
distante ano de 1985, naquela que foi a última vitória do tricampeão em sua
carreira na F-1.
Em 1972, a
corrida holandesa esteve fora do calendário, mas a prova retornaria em 1973,
com o circuito levemente modificado, em virtude do novo traçado da
Panoramabocht, ou “Curva Panorâmica”, que ficou bem mais fechada, obrigando os
pilotos a uma freada mais forte, quebrando a média de velocidade da pista, que
passou a ter a extensão de 4,226 Km. A pole-position de 1971, com a
configuração original do traçado, havia sido de 1min17s42, obtida por Jackie
Ickx, com a Ferrari. Já em 1973, com o novo traçado da Curva Panorâmica, a pole
foi de 1min19s47, de Ronnie Petterson, com Lotus-Ford, praticamente 2s mais
lenta que a marca da configuração anterior da pista. Esta configuração foi
utilizada até 1979, quando Zandvoort passaria por uma nova mudança em seu
traçado.
Adotada a partir de 1980, esta foi a última configuração
utilizada pela F-1 na pista de Zandvoort, cujo traçado aumentou ligeiramente, a
exemplo da primeira modificação. Desta vez, foi a curva Hondenvlak a ser
modificada, ficando bem mais fechada, de forma a exigir dos pilotos uma redução
maior da velocidade para contorna-la. A extensão do circuito passou a ser de
4,252 Km. Graças à evolução dos carros, em especial ao desenvolvimento dos carros-asa,
com os quais os F-1 aumentaram sua performance abruptamente, o tempo da
pole-position caiu, mesmo com a adição de uma curva mais fechada, e de alguns
metros a mais na extensão total da pista, aliada à introdução dos propulsores
turbo. Em 1980, a pole foi de 1min17s44, obtida por René Arnoux, com um Renault
turbo. Em 1985, último ano que a prova foi realizada, o tempo da pole já havia
caído ainda mais, com Nélson Piquet, com Brabham-BMW turbo, ter marcado o tempo
de 1min11s074, com o qual o brasileiro largou na frente na prova.
Com o fim
do GP de F-1, a própria pista de Zandvoort correu perigo de desaparecer. Há
muito o circuito já sofria com a reclamação de moradores das vizinhanças sobre
o barulho das corridas que eram sediadas no circuito. A solução foi recuar a
pista mais para o interior do terreno do circuito, projeto que recebeu sinal
verde para ser realizado em 1987, que acabou com o traçado original do
autódromo. No mesmo ano, contudo, problemas operacionais por pouco não
resultaram no fechamento definitivo da pista, que foi salva com a criação de
uma nova empresa que gerenciaria o autódromo, sendo que em 1989 Zandvoort
renasceu como um circuito completamente remodelado, agora com um traçado bem
mais compacto, e menor do que a extensão anterior, passando a ser de 4,307 Km
de extensão. O novo traçado passou a contar com a opção de uma pista compacta
para categorias menores de automobilismo. O novo traçado, contudo, fez o
circuito perder suas características de alta velocidade, passando a ser um
traçado travado e estreito para muitos, com poucos pontos de ultrapassagens, o
que não ajudou a dar mais emoção nas provas de certames que passaram a competir
no circuito holandês, como o DTM ou a F-3. Com a confirmação da volta da F-1 a
Zandvoort, o circuito passará por várias obras para se readequar a receber a
categoria máxima do automobilismo, especialmente em sua infraestrutura. Mas o
traçado também deverá receber algumas modificações para tornar-se menos
estreito e travado, e poder oferecer pontos de ultrapassagens mais viáveis de
forma a ajudar a corrida a apresentar mais disputas de posições, e não
apresentar uma corrida estilo “procissão”, como tem ocorrido com alguns GPs
recentes do calendário. Com a fama atual de Max Verstappen, a previsão é de que
a corrida tenha casa cheia em seu retorno ao calendário da F-1, uma vez que os
torcedores tem comparecido em peso às corridas europeias próximas ao país, como
as etapas da Alemanha, Áustria, e mais recentemente, França.
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