sexta-feira, 26 de abril de 2019

EXPECTATIVA EM BAKU

A pista de rua de Baku proporcionou grandes corridas nas duas últimas temporadas, e a torcida é para repetir a dose este ano...

            Depois de uma corrida que ficou devendo em termos de emoção e disputas, a Fórmula 1 chegou a Baku cercada de altas expectativas. Afinal, o retrospecto das duas últimas corridas disputadas neste circuito, aliado às características da pista, que combina longas retas com os perigos inerentes de um circuito de rua, ajudaram a deixar mais agitadas as provas de 2017 e 2018, colocando ambas entre as melhores corridas dos campeonatos dos últimos dois anos.
            E algumas das perguntas que todos fazem aqui no paddock é se a Mercedes continuará deitando, e quem sabe rolando, na atual temporada, ou se a Ferrari irá conseguir reagir, e impedir que o time alemão continue nadando de braçada rumo ao título. De fato, a escuderia rossa chegou ao Zerbaijão mais pressionada do que poderia imaginar, situação bem diferente da vista no ano passado, quando Sebastian Vettel entrou nesta pista como líder da competição, com duas vitórias nas três provas disputadas até então. Curiosamente, foi aqui que a Mercedes começou a reagir na competição em 2018, com Lewis Hamilton conquistando sua primeira vitória no campeonato, sendo que até então o piloto inglês não vinha tendo um desempenho tão exuberante, apesar de estar bem colocado na classificação.
            A corrida viu também o infortúnio de Valtteri Bottas, que tinha tudo para vencer a prova, e ficou pelo meio do caminho devido a um pneu furado nas voltas finais, depois de passar por cima de detritos de carros batidos em momento anterior da corrida. Com o triunfo, Hamilton começaria a deslanchar no campeonato, e a Ferrari passou a sofrer para se manter na dianteira, com Vettel começando a sucumbir à pressão, e cometendo os erros que todos já conhecem. Mesmo assim, foi preciso esperar até a segunda metade da temporada para que o inglês passasse definitivamente à liderança do campeonato, que não a perderia mais.
            Este ano, o panorama é inverso em Baku: se no ano passado a Mercedes era a favorita, e não vinha rendendo o que todos esperavam, sendo surpreendida pela força da Ferrari, que se mostrava mais forte do que muitos esperavam, aproveitando melhor as oportunidades durante as corridas, agora é a Ferrari que precisa reafirmar sua força, após uma pré-temporada onde tudo apontava para, pelo menos, um duelo bem mais homem-a-homem com a arquirrival Mercedes, que todos sabiam que não poderia ser subestimada, mas que nem em sonho se poderia imaginar Bottas e Hamilton ostentando três dobradinhas 1-2 neste início da competição, deixando até mesmo a escuderia de Maranello comendo poeira.
A Ferrari chega pressionada em Baku, com Sebastian Vettel atrás de Max Verstappen na classificação do campeonato (acima), enquanto as Mercedes (abaixo) venceram todas as corridas com dobradinha até aqui.

            A esperança da Ferrari é que se repita o que vimos em 2018, logicamente com eles, Ferrari, invertendo posições com os alemães, e passando a dar as cartas nas corridas. Mas o tempo urge: Hamilton está com 68 pontos, na dianteira, enquanto Vettel é apenas o 4º colocado, com 37 pontos, pouco mais da metade da pontuação do inglês. E LeClerc virou uma sombra permanente nos calcanhares de Sebastian, estando apenas 1 ponto atrás, e dando a todos a certeza de que, não fossem as ordens de equipe estúpidas da escuderia, o monegasco estaria à sua frente na classificação. E é o que todo mundo se pergunta no paddock: a Ferrari vai dar nova ordem durante a corrida? Seria o cúmulo da insensatez, porque até o presente momento, tal artifício não resultou em nenhum benefício, com o agravante do descrédito da imagem do time italiano na competição. Mas dá para perceber, nas entrelinhas, que a Ferrari continua disposta a manter Vettel sob proteção, custe o que custar, mesmo que para isso seja preciso impor a LeClerc alguma perda. A alegação é de que eles sabem o que é melhor para o time, o discurso pronto e acabado de sempre, fora a afirmação de que Vettel é um tetracampeão, e é o nome que deve liderar o time na luta pelo título, devido à sua experiência e talento comprovados.
            Charles, talvez temendo desgastar-se ainda mais, já afirmou que obedecerá às ordens do time, “dependendo da situação”, procurando não se comprometer. O piloto disse que conversou com o chefe Mattia Binotto a respeito da situação, e que entende a posição do time. Ou, nas entrelinhas, a escuderia pode ter começado a pressionar o piloto para que fique quieto e cumpra as ordens emitidas. Isso só vai jogar contra a própria Ferrari, especialmente se Vettel continuar demonstrando um rendimento que até aqui não condiz com sua carreira. Todos concordaram em afirmar que o tetracampeão teve um momento ruim no ano passado, quando sua performance desandou na segunda metade da temporada, mas a situação parece estar persistindo neste ano, e aí, já fica um pouco mais complicado falar em apenas uma “fase ruim” de Vettel. E com LeClerc querendo mostrar serviço, a Ferrari dá outro tiro no próprio pé, ao “podar” as possibilidades do garoto, que poderia render mais se tivesse a devida liberdade para competir. E o time italiano está mais do que pressionado aqui em Baku. Tanto que já trouxe várias atualizações, visando recuperar a performance exibida na pré-temporada, quando dominou os melhores tempos. Levar outro desaire para a Mercedes pode complicar tudo para as próximas corridas, porque a Mercedes tem um histórico bem mais eficiente de desenvolver seu carro, mesmo tendo alguns percalços.
            E nem falo do confronto Hamilton X Vettel, onde o piloto inglês vem se mostrando extremamente focado e determinado, enquanto o alemão parece pisar em ovos nos momentos decisivos. A situação fica pior se lembrarmos que, durante a parte da temporada do ano passado em que não esteve na liderança, em momento algum Lewis se descontrolou, nem mesmo quando a Mercedes sofreu um abandono duplo na Áustria, e vendo Vettel liderar o campeonato até o GP da Bélgica. Vettel, por sua vez, mesmo liderando a classificação, cometeu os erros que tornaram possível a reação do rival e da Mercedes. Se mesmo em uma situação mais cômoda Sebastian acabou sucumbindo, imaginem agora, tendo de correr atrás do prejuízo? Definitivamente, ele precisa entrar na pista e dar o seu melhor, e mostrar que não foi tetracampeão apenas por pilotar o carro da Red Bull, à época superior aos demais em boa parte dos quatro anos em que ele foi campeão. Vettel merece recuperar sua imagem de grande campeão, mas precisará começar logo a inverter a situação, para o seu próprio bem, e da Ferrari.
            E o time italiano também precisa começar a mostrar se o SF-90 tem mesmo todo o potencial visto nos testes da pré-temporada. O carro tem sido bom nas retas, mas nem tanto nas curvas. Mas o pior mesmo é ver a confiabilidade do equipamento ser posta em questão, depois de não apresentar problemas que denotassem tal ponto fraco em Barcelona. Saber que foi preciso reduzir a potência da unidade motriz nas corridas da Austrália e China chega a ser desabonador, ainda mais quando correram com potência livre no Bahrein e foram os mais rápidos, mas o carro de LeClerc apresentou um defeito justamente no motor, fazendo-o perder uma vitória que prometia ser épica e gloriosa, tal sua performance na pista, mais veloz do que todos na corrida. Será que os italianos resolveram esse problema para esta corrida? Potência será fundamental nas retas.
            Quem também chegou aqui com novidades foi a Red Bull e a Toro Rosso, as equipes impulsionadas pelas unidades de potência da Honda, que trouxe uma nova versão de sua unidade motriz V-6 turbo, segundo os japoneses, mais potente, para tentar compensar o déficit para as unidades Mercedes e Ferrari, que devem aproveitar muito bem as longas retas do circuito urbano, o que deve ser um teste de fogo e tanto para os times dos energéticos, cujos carros não tem sido os mais velozes quando o assunto é velocidade máxima, muito pelo contrário. A Red Bull conta com o talento de Max Verstappen para continuar lutando pelos melhores resultados e se intrometendo no duelo Mercedes x Ferrari. Mas, se no ano passado o time contava com uma dupla equilibrada em termos de capacidade e performance, este ano a situação é diferente, com o novo piloto Pierre Gasly ainda tendo de achar o seu ritmo no time principal, tendo ficado muito atrás de Verstappen nas primeiras provas do ano. Tanto que Helmut Marko já começou a dar suas cutucadas no francês, como que lembrando-o de que se não começar a render, pode ser rifado do time rapidinho. E Marko não possui sensibilidade alguma para entender que não é assim que ele vai melhorar a situação.
A Renault não vem tendo o início de temporada que esperava, e quer tentar iniciar uma recuperação o quanto antes.
            Enquanto isso, o fato de a Honda já apresentar uma nova unidade motriz deixa o time austríaco com apenas mais uma unidade sobrando para cada piloto sem sofrerem punições por extrapolar o limite de unidades por temporada. Mas Verstappen afirmou que, se as novas unidades apresentarem evoluções que compensem, as punições não serão problema para ele. E todo mundo espera para ver o que a Red Bull vai de fato conseguir com a nova parceria com os japoneses, que até o presente momento, não tem apresentado resultados inferiores ao de quando corria com as unidades da Renault. E eles não cansam de afirmar que o potencial de evolução da Honda, ao contrário dos franceses, é muito mais amplo.
            Por isso mesmo, a Renault é outro time que chega pressionado a Baku. A evolução de performance das novas unidades francesas ainda não pode ser vista de fato este ano, já que o chassi do time oficial de fábrica ainda carece ser mais desenvolvido, e apresentar maior fiabilidade, enquanto o outro time da montadora francesa, a McLaren, parece exibir um bom potencial, mas a exemplo do time de Nico Hulkenberg e Daniel Ricciardo, também teve seus percalços de confiabilidade e azares nas corridas até aqui. As longas retas de Baku devem oferecer uma avaliação mais condizente para sabermos até que ponto as unidades de potência francesa evoluíram para este ano. Resta saber se eles conseguiram acertar sua confiabilidade...
            Outra escuderia que também prevê problemas em Baku é a Hass. O time começou bem na Austrália em termos de performance, mas decaiu nas corridas seguintes, descobrindo ter um problema relacionado ao adequado aquecimento dos compostos de pneus por parte do novo chassi VF-19, o que pode complicar também a situação de seus pilotos no Azerbaijão. Ghunter Steiner diz que o carro não está aquecendo devidamente os pneus, e isso precisará ser resolvido o quanto antes, uma vez que o problema não foi evidenciado nos testes da pré-temporada. Enquanto isso, a Racing Point espera poder confiar no seu retrospecto na pista de Baku, que sempre proporcionou bons resultados ao time, que aqui conseguiu dois pódios com Sergio Pérez quando o time se chamava Force India. Podem ter sido resultados meio ocasionais, mas se a prova repetir os duelos e confusões de anos anteriores, podemos ver as opções de competição bem embaralhadas, e quem souber aproveitar as oportunidades tem boas chances de conseguir um bom resultado, se conseguir se manter longe de encrencas.
            O difícil é ficar longe de potenciais confusões. Lembrem-se: esta é uma pista de rua, e apesar dos bons e longos trechos de retas, temos as tradicionais curvas em 90º, raios fechados, e um trecho de pista onde só passa praticamente um carro. O perigo maior é logo na primeira volta, com todo mundo perto um do outro, e com chances altas de alguém sofrer um toque, e desencadear uma carambola, com alguns pilotos entrando de gaiato na confusão, sem terem chance de escapar. E mesmo quando se consegue passar ileso por eventual rolo na pista, é preciso rezar para não pegar nenhum rescaldo. Bottas que o diga...
            Ah, eu não havia falado das chances da Williams? Bom, foi aqui que o time de Grove conquistou seu último pódio, há dois anos, com Lance Stroll, e também foi a penúltima vez que o time marcou pontos, também com o canadense, no ano passado. Mas o carro piorou tanto este ano, que vai ser preciso acontecer uma confusão daquelas que proporcione a chance de pontuar... Ou abandonarem pelo menos mais da metade do grid... O time continua perdido com seu chassi FW42, e ainda vai penar muito para conseguir, no mínimo, não ficar ainda mais para trás do que já está.
            Então, vejamos se a prova de Baku vai nos surpreender novamente este ano. A primeira corrida disputada aqui, vale a pena lembrar, foi uma miséria em termos de emoção e disputas, sendo a mais chata da temporada de 2016. Felizmente, a escrita não se manteve em 2017 e 2018, e tomara que continue assim este ano...


A Formula-E acelera novamente em mais uma etapa, agora nas ruas de Paris, a capital da França, na pista montada ao redor do monumento dos Inválidos, onde está o túmulo de Napoleão Bonaparte, com 1,9 Km de extensão, e 14 curvas que são um desafio à habilidade dos pilotos. A pista tem alguns trechos de retas que dão a falsa impressão de serem bons pontos de ultrapassagens, mas a verdade é que as disputas de posição são bem complicadas nesta pista, e torna-se imprescindível mais do que nunca largar na frente para almejar um bom resultado, até porque não há mais a troca de carros durante a corrida, como ocorria até o ano passado, e os novos bólidos, mais velozes, devem tornar os pontos de retas ainda mais curtos para se tentar uma disputa de posição. No ano passado, o francês Jean-Éric Vergne, da Techeetah, venceu esta corrida, com o brasileiro Lucas di Grassi, da Audi, conquistando o segundo lugar. Ambos seriam o campeão e vice-campeão da temporada passada. O pódio foi completado pelo inglês Sam Bird, da Virgin, que terminou a temporada também em 3º lugar. O canal pago Fox Sports 2 transmite o ePrix de Paris ao vivo a partir das 10:45 da manhã deste sábado.


E a competição na pista na F-E continua imprevisível, e sem que possamos apontar um favorito na luta pelo título. Muito pelo contrário, a situação está cada vez mais embolada entre os pilotos. Em sete corridas, foram sete pilotos diferentes, de sete times diferentes, vencendo as provas, de modo que a classificação está mais apertada do que nunca entre os primeiros colocados. Só para se ter uma idéia, a liderança é do belga Jerôme D’Ambrosio, da Mahindra, com 65 pontos, apenas 1 ponto à frente do português António Félix da Costa, da Andretti. Em 3º lugar, com 62 pontos, vem André Lotterer, da Techeetah, que ainda não venceu na temporada. O 4º colocado, com 61 pontos, é Mith Evans, da Jaguar, vencedor da última prova, em Roma. Na 5ª posição temos o brasileiro Lucas Di Grassi, com 58 pontos. O 6º colocado é Robin Frijns, da Virgin, com 55 pontos, apenas 1 à frente do atual campeão Jean-Éric Vergne, da Techeetah. O 8º classificado é Sam Bird, também da Virgin, com 54 pontos. E o 9º colocado é Edoardo Mortara, da Venturi, com 52 pontos. Temos praticamente os 9 primeiros colocados na competição separados por apenas 12 pontos. E tudo pode mudar de uma corrida para outra, dependendo de como os pilotos terminarem as provas, com as posições na classificação se alternando o tempo todo. A competição caminha para um final de temporada completamente imprevisível e sem favoritos, praticamente. Melhor, impossível, para os fãs das corridas. Quem levará o título da temporada este ano? Ninguém sabe...
O circuito da F-E em Paris tem alguns bons trechos de reta, mas com muitas dificuldades para se ultrapassar...

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