Na primeira semana de pré-temporada da F-1 2019, a Ferrari sai na frente (acima), enquanto a Mercedes terá de reverter rapidamente as expectativas se não estiver à altura (abaixo). |
A Fórmula 1 encerrou a
primeira de suas duas semanas de treinos da pré-temporada 2019 com algumas
indicações interessantes, e algumas constatações. A mais comentada é a
excelente forma exibida pela Ferrari, que mostrou que seu novo chassi SF-90
conjuga eficiência e velocidade. Ainda não dá para saber exatamente todo o
potencial do carro, mas as belas linhas do projeto desenvolvido pelo corpo
técnico de Maranello vem surpreendendo desde meados de 2017, e até prova em
contrário, este pode ser o ano em que o time italiano poderá abalar e encerrar
a supremacia da Mercedes. O humor dos integrantes da escuderia era tão bom que
podemos apostar que o SF-90 será provavelmente o carro a ser batido, salvo surpresas
de última hora.
Claro, terminar os
dois primeiros dias de testes coletivos com os melhores tempos, primeiro com
Sebastian Vettel, e depois com Charles LeClerc, é um bom indicativo, e a
felicidade estampada no rosto de Vettel diz que ele está feliz com o carro, e
especialmente com sua performance. Quando o carro corresponde, Sebastian
costuma ser um furacão ao volante. Depois de um ano de mais baixos que altos em
2018, Vettel quer dar a volta por cima e calar muitos críticos e detratores. E
parece que terá boas oportunidades de fazê-lo este ano. Ainda mais porque
nenhum dos pilotos da dupla rossa sequer chegou a usar os pneus mais macios, de
maior aderência e velocidade. Em outras palavras, o carro pode ser ainda mais
rápido do que demonstrou nestes primeiros quatro dias de testes. Será que
veremos o seu real potencial na próxima semana?
Embora o clima no box
da campeoníssima Mercedes tenha estado tranquilo durante a semana, dá para
notar que a performance da rival Ferrari está deixando os prateados atentos.
Hamilton não se furtou a afirmar que a Ferrari neste momento está mais veloz, assim
como Valtteri Bottas, e Toto Wolf também mostrou que a situação precisa ser
analisada, confidenciando que o carro italiano poderia ser 0s5 mais veloz, em
classificação. Se o time alemão acostumou-se a “esconder” o jogo para não
assustar a concorrência, e exibir todas as suas armas, fica sempre aquela
pontinha de dúvida se Wolf e Hamilton não estão jogando para a torcida, de modo
a colocar a pressão do favoritismo para os lados de Maranello. Mas não parece
ser o caso: a preocupação com a forma do novo carro da Ferrari é legítima, e
tudo indica que a Mercedes pode mesmo não ser mais veloz que os italianos. Este
vai ser um final de semana corrido na fábrica de Brackley, para se tentar reverter
as expectativas. E, dependendo do trabalho a ser desenvolvido, podemos ter
mudanças já na próxima semana, e obviamente, para Melbourne. Por enquanto, a
Ferrari parece estar à frente, com a Pirelli estimando uma vantagem de 0s5
realmente.
Muito se falou a
respeito das linhas aerodinâmicas dos dois bólidos, em especial para a harmonia
do design de ambos os projetos, mesmo com abordagens diferentes: enquanto o
carro alemão tem várias aletas e componentes aerodinâmicos, o modelo italiano é
mais “limpo”, sem tantos penduricalhos. O fato de não precisar de tantas abas
na aerodinâmica indica que a estabilidade e desenvolvimento são mais simples, e
principalmente, eficientes, a ponto de dispensar apoios extras na carenagem
externa. Já o carro da Mercedes, por demonstrar vários apêndices aerodinâmicos,
indica precisar da sustentação destas peças. E ao que parece, a Ferrari tem
muito do que se orgulhar, pela performance exibida durante esta semana, e sem
mencionar também outro detalhe muito importante: confiabilidade. O time
italiano não enfrentou praticamente nenhum problema durante os quatro dias,
acumulando nada menos do que 598 voltas, ou o equivalente a 9,1 corridas. Um
sinal de alerta para a Mercedes, embora esta também tenha andado até um pouco
mais, 610 voltas, ou o equivalente a 9,3 corridas, sem enfrentar problemas
aparentes. Hamilton foi o piloto que mais rodou, com 307 voltas na pista.
Valtteri Bottas deu 303 giros, e dividiu a segunda posição com Vettel, que
também cumpriu 303 voltas. E LeClerc ficou pouca coisa atrás, com 295 voltas
completadas. Ambos os carros mostraram confiabilidade extrema. Será interessante
ver se a Mercedes conseguirá reagir, e vermos quanto potencial a Ferrari ainda
pode extrair de seu carro neste início da competição.
Correndo por fora, em
tese, vem a Red Bull, que se ainda não fez tempos de encher os olhos, função
que acabou sendo da Toro Rosso na quarta e na quinta-feira, por outro lado,
mostrou durabilidade: as unidades de potência da Honda não apresentaram nenhum
problema tanto no time principal quanto no time B, um feito para os japoneses,
que desde sua estréia na era híbrida, em 2015, nunca conseguiram enfrentar a
pré-temporada sem passar por um calvário que colocava em xeque as expectativas
mais otimistas. No ano passado, eles melhoraram, mas ainda tiveram problemas, o
que não se verificou até agora. Claro que podem estar usando menos potência
para garantir quilometragem, mas mesmo assim, não vermos nenhum problema, mesmo
que mínimo, ter surgido, é altamente animador, e coloca expectativas cada vez
mais otimistas de que aposta da equipe austríaca na Honda se mostrou mais do que
acertada, sendo finalmente um time oficial de fábrica. E a cúpula da equipe não
perde chance de alfinetar a antiga parceria Renault, ainda que indiretamente,
ao rasgar elogios sobre a performance das unidades de potência nipônicas, que
eles afirmam serem excelentes, e que nunca tiveram uma pré-temporada tão boa
quanto a atual. Foram 475 voltas nesta semana, o equivalente a 7,2 corridas,
sem enfrentarem nenhum problema no carro. E Max Verstappen fez coro também pelo
bom momento vivido até aqui na pré-temporada, dando a entender que tudo está
encaixado no lugar certo. Para o bem da competição, claro que todos querem ver
a Red Bull novamente disputando vitórias a cada prova, e não vencendo apenas
ocasionalmente. O carro mostrou equilíbrio e estabilidade quando foi à pista,
mostrando que, mais uma vez, a escuderia produziu um carro muito bom sob o
comando de Adrian Newey. Resta comprovar se o mago das pranchetas conseguirá
equilibrar a competição na aerodinâmica se o propulsor da Honda ainda negar
fogo no embate direto contra as unidades Mercedes e Ferrari. Até porque eles já
consideram implicitamente a Renault fora de combate nesta disputa. Outra
indireta nas entrelinhas contra os franceses. Essa briga ainda vai dar o que
falar...
Red Bull: por enquanto, só sorrisos na nova associação com a Honda. |
E, ajudando a melhorar
o clima para a turma dos energéticos, a Toro Rosso até terminou os testes de
quarta-feira na frente, com o regressado Daniil Kvyat, e ontem, o novato
Alexander Albon baixou ainda mais a marca obtida pelo russo. Mas claro, não
esquecendo que a escuderia sediada em Faenza usou os compostos mais macios, o
que relativiza o resultado. Mas também indicando que o novo STR14 tem tudo para
engrossar a briga no pelotão intermediário.
Enquanto isso, os
times da Renault, a começar pela escuderia de fábrica, tiveram uma semana
produtiva, mas sem que possamos avaliar o real potencial. O time oficial
começou a semana de forma tímida, e até enfrentando alguns percalços aqui e
ali, mas mostrando evolução nos tempos sempre, para terminar a primeira semana
com o tempo mais rápido de todos, com 1min17s393, obtido ontem por Nico Hulkenberg
mas, tal como feito pela Toro Rosso, utilizando os pneus mais macios. O novo
modelo RS19 parece ter muito mais potencial do que o carro da última temporada,
mas é preciso ver qual é seu verdadeiro nível de performance, para ver se a
escuderia realmente poderá lutar mais à frente, e tentar se aproximar mais da
dupla favorita Ferrari e Mercedes, e se mostrar capaz de superar a desafeta Red
Bull. E outro ponto a deixar todo mundo tranquilo também foi no quesito
confiabilidade, com nada menos do que 433 voltas completadas. A escuderia teve
alguns problemas com o seu DRS, provocando a quebra da asa traseira, e
limitando o seu uso na maior parte do tempo de teste, mas nada que seja um
problema comprometedor. Em aspectos gerais, o carro não compromete.
Pelos lados do outro
time equipado com a unidade de potência francesa, a McLaren, ainda não é
possível mensurar o real potencial do novo MCL34, que Lando Norris assumiu ser
completamente diferente do MCL33. O time conseguiu até ficar entre os primeiros
nos dois primeiros dias, mas usando pneus mais macios. Norris conseguiu uma
marca de 1s1 de diferença para o carro da Renault, mas utilizando um composto
mais duro. Mas o grande diferencial no time de Woking é que é a primeira
pré-temporada desde 2015 que o time consegue andar a contento, sem enfrentar
problemas técnicos que não apenas colocavam à mostra os problemas do projeto,
de 2015 a 2017 com a Honda, e no ano passado em sua adaptação ao propulsor da
Renault, como podiam até comprometer toda a expectativa para a temporada. Com
mais tranquilidade para rodar na pista e adquirir dados do novo bólido, parece
que a escuderia inglesa começará sua recuperação visando voltar a ser um time
de ponta. Mas falta comparar as performances com os demais concorrentes para
ver a real posição da McLaren frente aos demais, e confirmar se eles de fato
estão recuperando o terreno perdido. Norris e Carlos Sainz Jr. rodaram juntos
445 voltas, um número expressivo, se compararmos com os números das últimas
pré-temporadas. Um problema a menos, portanto. Fica a dúvida do que sua nova
dupla de pilotos poderá render com o bólido, agora que Fernando Alonso saiu, um
revés a ser considerado.
Quem também tem o
potencial real a ser desvendado é a Alfa Romeo, que conseguiu também mostrar
confiabilidade com Kimi Raikkonen e Antonio Giovinazzi, com 546 voltas, com o
finlandês a terminar os testes da semana com a 4ª melhor marca, mas também
equipado com os pneus mais macios, de modo que ainda precisaremos conhecer o
real patamar da escuderia. Agora praticamente um time “B” da Ferrari, a Alfa
Romeo, ex-Sauber, traz de forma oficial a marca italiana de volta ao grid como
um time próprio, ainda que a tecnologia seja ferrarista, e não exatamente Alfa
Romeo. Com uma nova dupla, e parte do projeto do carro inspirado no eficiente
SF-90, e contando com a experiência de Kimi Raikkonen, o time sediando em
Hinwill tem tudo para evoluir em relação às marcas obtidas no ano passado,
quando tinha tudo para ser a lanterna, mas conseguiu alguns bons resultados e
performances com Charles LeClerc. O time enfrentou alguns problemas durante a
semana, mas conseguiu impressionar um pouco de forma relativa, com Raikkonen ficando
entre os primeiros no último dia, mas também fazendo uso dos pneus mais macios.
Mas o importante foi ter conseguido rodar bastante, mesmo com os problemas que
tiveram. Antonio Giovinazzi cumpriu 255 voltas, enquanto Raikkonen deu 252. O
finlandês está motivado como poucas vezes se viu nos últimos anos, e tem tudo
para liderar o crescimento do time, e servir de mentor para Giovinazzi, uma vez
que Kimi raramente se indispõe com outros pilotos
Mas quem está de olho
em ser a principal força depois das grandes é a Hass. A escuderia de Gene Hass
foi a melhor do resto do grid em 2018, e só não faturou o 4º posto pelas
barbeiragens de sua dupla de pilotos, que perdeu vários bons resultados durante
o ano se complicando sozinha, descontado obviamente a furada do time na prova
da Austrália, esta sem culpa de Romain Grosjean ou de Kevin Magnussem, que
ganharam mais uma temporada para provarem do que são capazes. O time teve
vários percalços no início, mas conseguiu botar alguma ordem na casa, e mostrar
que pode dar trabalho: foram 323 voltas na pista, com ótimas perspectivas de
manterem o status alcançado na última temporada, e até tentar chegar mais nos
carros da frente. E quem também não deu vexame foi Pietro Fittipaldi, que teve
chance de andar com o modelo VF-19, e não comprometeu, evoluindo suas passagens
a cada volta, e pegando a mão firme do carro, o qual irá ajudar a desenvolver
no simulador da equipe. Se Magnussem e Grosjean não se envolverem em confusões,
a Hass tem boas chances de atingir seus objetivos.
E temos a equipe com o
nome mais ridículo do grid: a Racing Point, ex-Force India, que salva da
falência pelo grupo coordenado por Lawrence Stroll, terá enfim uma temporada
sem percalços financeiros, tanto que a fábrica da escuderia, ao lado de
Silverstone, será ampliada, para contar com os melhores recursos técnicos
disponíveis. Mantida a competência da escuderia, que nos últimos anos mostrou
como gerir bem seus recursos e obter os melhores resultados possíveis,
poderíamos esperar um ano extremamente positivo para o time, não? Bom, não
começou tão bem como o esperado. O novo chassi RP19 teve vários problemas, com
Lance Stroll e Sergio Perez completando apenas 248 voltas, ocupando a penúltima
posição em quilometragem nos testes, e com tempos não muito entusiasmantes,
quando conseguiram imprimir ritmo aos trabalhos. O que dá esperanças de que o
time cresça é que não é a primeira pré-temporada onde eles apresentam
dificuldades, tendo sempre conseguido apresentar um bom trabalho de
desenvolvimento do projeto, e recuperar parte do tempo perdido. Com maiores
recursos, espera-se pelo menos que consigam tirar o atraso e sanar eventuais
problemas com mais rapidez que nos últimos anos, quando o orçamento apertado
não permitia um desenvolvimento com mais afinco da performance, limitando a
evolução do carro. Mas a equipe técnica comandada por Andrew Green tem tudo
para dar a volta por cima, e vermos um time com potencial para brigar pela
liderança do segundo pelotão. E é bom que estejam preparados, pois tudo indica
que esta briga será renhida entre vários times do meio do grid para ver quem
será o melhor depois dos grandes.
Faltou mencionar
alguém? Sim, faltou... Depois do ano tenebroso que tiveram no ano passado, era
de se esperar que a Williams se sentasse, e discutisse os motivos que a levou a
ser a última colocada. A escuderia conseguiu manter um orçamento decente para
2019, com novos patrocinadores substituindo a Martini, e o investimento da
família Stroll, e com um novo corpo técnico coordenado por Paddy Lowe
projetando o novo FW42 em bases completamente novas, a esperança é de que a
escuderia de Frank Williams acertasse melhor seus parâmetros. E não é que
conseguiram não evoluir, como parecem ter até piorado? O novo carro
praticamente não ficou pronto a tempo, e a escuderia chegou a Barcelona com o
carro, mesclado com partes do modelo 2018, para só ontem, no último dia, andar
de fato, tendo perdido o tempo da quarta para fazer o necessário shakedown dos
sistemas. O resultado não poderia ser outro: últimas colocações para sua dupla
de pilotos, com um carro que não é o FW42 por completo, o qual provavelmente só
veremos semana que vem. Mas, além da falta de performance, são mais
preocupantes os sinais internos vindos da escuderia, com seu corpo de
funcionários a ter sua paciência esgotada com as decisões de comando tanto de
Claire Williams como de Paddy Lowe, cujas diretrizes podem ter levado o projeto
do novo carro a alguns erros crassos que dificilmente serão corrigidos. Para
alguns, a cabeça tanto de Claire como de Paddy deveria rolar, pois se ruim com
eles, pior não pode ficar.
Uma lástima para um
dos times mais tradicionais da história da F-1, e que parece não conseguir
corrigir os erros cometidos nos últimos tempos. A menos que tudo mude na última
sessão de testes, a escuderia inglesa tem tudo para ter outro ano para
esquecer. Mas é difícil acertar o rumo, quando a própria equipe parece não ter
coesão e um rumo definido.
Na próxima
terça-feira, todo mundo de volta na pista. E depois, hora de embarcar para a
Austrália. O começo do campeonato de aproxima. E as expectativas crescem cada
vez mais por um bom ano, com mais disputas e duelos. A esperança é a última que
morre, afinal...
Renault: prometendo chegar mais à frente este ano, com o novo RS19, e sua nova unidade de potência, e um enfoque exclusivo na F-1. |
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