De vencedora da etapa
inicial, a Andretti, agora o time oficial da BMW na categoria, perdeu o impulso
inicial visto em Riad e Marrakesh, para ficar no meio do pelotão no Chile, o
que torna o incidente entre sua dupla de pilotos ainda mais contundente no
Marrocos, onde a escuderia caminhava para uma dobradinha, e viu seus pilotos se
enrolarem numa disputa de posição que entregou a vitória para a rival Mahindra.
O time de Michael Andretti viu Antonio Félix da Costa ter um segundo abandono e
Alexander Sims finalizar apenas em 7º. Mas é cedo para dizer que o time não
pode voltar a vencer nas próximas etapas. Tudo pode mudar novamente.
A Mahindra, por sua
vez, tem conseguido se manter um pouco mais constante. Ganhou a vitória de
presente no Marrocos, é verdade, mas Jerôme D’Ambrosio estava no lugar certo
para colher os frutos do enrosco protagonizado pela dupla da Andretti, e no
Chile, o novato Pascal Wehrlein mostrou categoria para discutir a vitória,
obtendo seu 1º pódio em sua 2ª corrida na categoria. Mas D’Ambrosio ficou no
meio do pelotão, apenas, e por uma punição, perdeu a chance de ser o líder do
campeonato.
Enquanto isso, a
Virgin, agora impulsionada pelo trem de força da Audi, havia saído da etapa
inicial da Arábia Saudita zerada, mas simplesmente arrumou a casa, e Sam Bird obteve
uma vitória firme em Santiago, após largar em 4º e andar sempre no ataque,
induzindo Sébastien Buemi, que largou na pole e liderava a prova, ao erro,
quando o piloto da e.dams acertou o muro, ao que ele alegou ter sido causado
por um problema no software de seu carro. Bird já havia sido 3º em Marrakesh, e
o triunfo em Santiago o catapultaram para a liderança do campeonato, com 43
pontos. Mas não é só isso: graças a Robin Frijns, que também foi ao pódio no
Marrocos, e foi o 5º colocado no Chile, a Virgin lidera o campeonato de
equipes, com 71 pontos, 12 de vantagem para a Mahindra, a vice-líder, com 59
pontos até aqui.
Quem também se apagou
no Chile foi a Techeetah, que depois de mostrar ter o carro mais veloz da
competição nas duas primeiras provas, não se acertou no Chile, com Jean-Éric
Vergne a abandonar a corrida, e André Lotterer terminar apenas em 13º, sem
nunca estar em luta por lugares pontuáveis. Mesmo assim, a escuderia é a 3ª
colocada no campeonato, com 47 pontos. Mas tanto Vergne quanto Lotterer
perderam chance de se posicionarem mais à frente na pontuação. E por pouco o
time chinês não foi superado pela Andretti, que vem logo a seguir, com 46
pontos, tendo um pouco menos de azar em Santiago, indicando que teremos um bom
pega entre os times.
E, nesse ponto, a
disputa na 3ª colocação de pilotos ficou embolada: Antonio Félix da Costa,
Robin Frijns, e Jean-Éric Vergne estão empatados com 28 pontos na
classificação. Logo a seguir, temos Mitch Evans, que vem se mostrando constante
ao carro da Jaguar, ocupando a 6ª colocação.
Um pouco mais atrás, a
e.dams, agora como time oficial da Nissan, mostra potencial, mas deu azar com o
erro e o acidente de Buemi em Santiago, onde tinha chances de vencer. Depois de
passar a última temporada sem vencer ou disputar o título, Buemi quer voltar às
primeiras colocações. E ele não é o único com essa meta em vista.
Lucas Di Grassi: show na pole foi jogado no lixo por regra imbecil inventada pela direção da F-E na última semana. |
Lucas Di Grassi não
vem tendo o melhor início de campeonato, mas a Audi mostra competitividade em
seu trem de força, tanto que ele é o equipamento da Virgin, líder da
competição. Di Grassi marcou uma pole arrasadora no Chile, mas uma nova e
estúpida regra inventada pela direção da categoria fez o brasileiro largar em
último, e como desgraça pouca é bobagem, ele ainda acabou punido por um toque
durante a corrida, perdendo posições e ficando fora da zona de pontuação. Menos
azar vem tendo Daniel Abt, que pelo segundo ano consecutivo, inicia a temporada
à frente de Lucas, ganhando de presente o pódio do 3º lugar no Chile, após
Alexander Sims tomar uma punição por um toque em Edoardo Mortara, e perder
algumas posições. Mas no ano passado, Di Grassi ficou praticamente zerado nas
corridas iniciais, devido a problemas técnicos, que uma vez superados, mostrou
o brasileiro iniciando uma grande recuperação que o levou a ser vice-campeão.
Apesar das dinâmicas de corrida agora serem diferentes com os novos carros, a
duração de cada corrida, e o recurso do moto de ataque, Lucas tem plenas
condições de reverter sua desvantagem para Abt, assim como a Audi também tem
recursos para voltar a lutar pelo título, assim que acertar os novos detalhes
das provas, e refinar o acerto do carro. O time da marca alemã não está tendo
um início de temporada tão complicado como no certame anterior, quando conseguiu reagir para ser a campeã da
disputa de times, então, tem chances de ir para a frente. No momento, ocupa a
5ª posição, com 30 pontos na classificação.
Já Nelsinho Piquet
precisa começar a mostrar serviço. Problemas à parte enfrentados pelo primeiro
campeão da F-E, Nelsinho vem sendo superado constantemente por seu companheiro
de equipe Mitch Evans. Piquet só marcou um ponto até agora, não conseguindo se
impor sobre Evans. Nelsinho passou boa parte do campeonato passado sendo
superado pelo inglês, e é hora de mostrar serviço, tendo o título de primeiro
campeão da categoria no currículo. Em Santiago, Piquet terminou a corrida 25s
atrás de Evans, uma diferença considerável. É preciso encerrar essa fase, e
deixar os azares para trás, se quiser voltar a ser protagonista da competição.
A Jaguar anda rondando o pódio, dependendo da situação, mostrando que devagar
está se aproximando um pouco mais dos primeiros lugares, mas Piquet, que
deveria capitanear essa evolução, não está conseguindo tirar proveito dela como
esperava.
A Techeetah tinha o carro mais rápido na Arábia Saudita e no Marroco, mas também decaiu de produção no Chile, onde não conseguiu disputar a vitória. |
Felipe Massa tem tido
dias mais complicados do que esperava. Apesar de sua longa experiência na F-1,
Felipe vê que a F-E tem uma dinâmica de competição bem diferente em alguns
aspectos, e ainda está se ajustando a ela. Falta, entretanto, um pouco de
sorte: acabou punido por usar incorretamente o fanboost na Arábia Saudita;
acabou em último no Marrocos por problemas no carro; e no Chile, um toque de
Maximilian Gunther, da Dragon, mandou o brasileiro no muro, danificando a
suspensão, e motivando seu abandono. A Venturi também tem seus problemas para
resolver, mas o carro mostra algum potencial, como visto com o 4º lugar de
Mortara em Santiago.
Dragon, Nio e HWA,
depois de três provas, mostram que terão muitos desafios pela frente, ocupando
as últimas posições na tabela de equipes. A Nio, aliás, nunca mais se acertou
depois da primeira temporada, quando foi campeã com Nelsinho Piquet. A Dragon
até aqui não vem correspondendo ao DNA do grupo da Penske em competições
esportivas. Dá-se um desconto por enquanto à HWA por ser o mais novo time da
categoria, mas a equipe até que tem mostrado alguma força nos treinos. Assim
que resolver seus problemas em corrida, pode começar a mostrar resultados.
Afinal, o time será a porta de entrada da Mercedes na próxima temporada, e não
se pode dizer que terá um ano apenas de experimentação na categoria.
Mas se tem algo que a
F-E precisa corrigir é sua tendência a arrumar algumas confusões
desnecessárias. A começar pela nova e imbecil regra sobre não poder mudar o uso
do freio na classificação. Lucas Di Grassi havia feito uma volta demolidora,
mas no retorno ao box, só por passar a frear de modo diferente, acabou
desclassificado, e tendo de largar em último. Uma regra inventada dias antes, e
ainda por cima, sem efeito prático, quando eles sugerem que a proibição é para
evitar que os pilotos circulem com os pneus com calibração inferior à
recomendada, para ganhar aderência, e quando mudam a regulagem de freio, forçam
o pneu a esquentar, ficando então na calibração recomendada. Di Grassi mudou a
regulagem na volta ao box, de modo que não teria como ele aferir vantagem
alguma. O piloto ficou compreensivelmente irritado, classificando a regra de a
“mais estúpida” que ele já viu, e concordo plenamente.
A categoria também
precisa parar com certas punições que andam ocorrendo a rodo. Em Santiago,
vários pilotos acabaram punidos por toques em outro competidor, mas não foram
encostos tão acintosos assim, me parecendo mais incidentes de corrida. Some-se
a isso o fato do piso do traçado do ePrix de Santiago ter começado a esfarelar
durante a prova, e temos vários pilotos que acabaram sem conseguir frear
direito em alguns momentos, com os pneus passando sobre os detritos que se
soltavam do piso, ajudando nas colisões. José-Maria Lopez criticou a quantidade
de punições, e o modo como são aplicadas e concebidas certas regras, chegando a
classificar a competição como “amadora”. Alexander Sims não viu quando teria
tocado em Mortara durante a corrida; e Di Grassi, que também tomou punição por
tocar no carro de José Maria Lopez, também achou um toque de corrida,
discordando da perda de posições que tomou. A situação ficou de um jeito que
não dá para confiar no resultado dos treinos, e da corrida, tão logo se
encerram. Há sempre a possibilidade de vir uma canetada horas depois, e isso
não ajuda na imagem da categoria.
Aliás, desde o seu
surgimento, a F-E tem diversos críticos a sua proposta como competição, e ao
objetivo de desenvolvimento dos carros de propulsão elétrica. Quando qualquer
detalhe vira assunto para críticas, especialmente em sua maioria sem o devido
fundamento, a própria direção da F-E acaba dando uma tremenda ajuda a esta
legião de críticos e detratores oferecendo motivos justo e plausíveis paras se
descer a lenha no certame. Se a direção da F-E e a FIA continuarem nessa toada,
corre-se o perigo de as fábricas perderem a paciência em algum momento, e
resolverem se impor para botar ordem na casa, ou até pular fora, na pior das
hipóteses. Um dos diferenciais que tornam, ou pelo menos, tornavam a F-E mais
atrativa do que a F-1, eram regras e ambiente mais simples, maior proximidade
do público, e menos frescura política e esportiva. Infelizmente, parece que a
competição está pegando um vício crônico por punições, em especial por motivos
ridículos, enquanto em outros casos referem-se a situações que já deveriam
estar resolvidas. A categoria precisa ser mais profissional neste quesito. Não
precisa virar uma chatice regrada como a F-1, mas também não precisa
esculhambar em algumas situações como vem fazendo, a ponto de jogarem os
esforços de times e pilotos no lixo por algo que nem tem relevância ou faz tanta
diferença.
Deixando as palhaçadas
e imbecilidades das punições de lado, a F-E passou por um batismo de fogo em Santiago...
Quase literalmente! Com 37° na temperatura ambiente, e no asfalto chegando a
quase 50°, os novos carros foram levados a seus limites, com alguns deles
literalmente tendo uma pane eletrônica momentânea devido ao forte calor, que
acabou afetando os sistemas dos trens de força, reduzindo sua performance e
eficiência. Alguns carros que pararam no meio da pista conseguiram “pegar” de
novo, mas foi complicado para os pilotos. E o consumo de energia, que havia
sido até folgado nas duas primeiras provas, com todos os pilotos cruzando a
bandeirada com razoável reserva de força, desta vez chegou perto de obrigar
todo mundo a quase tirar o pé para conseguir chegar até o final, e olhe que
ainda tivemos bandeira amarela em toda a pista durante a corrida. No ano
passado, os carros não tinham condições de correr toda a prova pela autonomia
menor de sua baterias, ao contrário deste ano. Os novos carros Gen2, assim como
as novas baterias, em uma corrida sob condições mais extremas, aguentaram o
tranco.
E é importante frisar
também o aumento de performance dos novos carros. Se levarmos em conta que os
novos carros são apenas 2 kg mais pesado que os da primeira geração, o que sugere
uma comparação de peso praticamente igual, os novos bólidos, agora capazes de
atingir até 280 Km/h, estão pouco a pouco deixando para trás a imagem de uma categoria
de carros lentos. Se na Arábia Saudita e no Chile, onde as provas foram
disputadas em pistas novas, impedindo uma comparação, em Marrakesh a situação
era diferente, sendo uma pista onde eles já haviam corrido nos dois últimos anos.
E as diferenças são significativas: com o carro novo Gen2, Sam Bird, da Virgin,
marcou a pole este ano com 1min17s489, contra 1min20s355 de Sébastien Buemi, da
e.dams, no ano passado. Uma diferença de quase 3s na pole-position. No ano
passado, a volta mais rápida da corrida foi de Nelsinho Piquet, da Jaguar, com
o tempo de 1min22s832; neste ano, Lucas Di Grassi, da Audi ABT, marcou
1min20s296, sendo 2s536 mais veloz.
Como as corridas agora
terminam pelo tempo, e não mais pelo número de voltas, a comparação não é muito
válida, mas a corrida do Marrocos em 2018 teve 33 voltas, com o tempo de
48min04s751, enquanto a deste ano foi encerrada com 31 voltas, em 46min45s884.
O ritmo de corrida pode parecer o mesmo, mas é preciso lembrar que a duração
das provas agora diminui sobremaneira com a entrada do Safety Car, já que o
tempo continua contando, mas isso reduz o número de voltas da corrida. Mas, em
performance de melhor volta em Marrakesh, com exceção de Gary Paffet, Stoffel
Vandoorne e Pascal Wehrlein, todos os demais pilotos marcaram suas melhores
voltas com tempos mais velozes do que a melhor volta de Buemi em 2018.
Decididamente, os novos carros são um grande passo à frente, não apenas com uma
aerodinâmica muito mais moderna, mas com o novo sistema de baterias, com muito
mais autonomia, e novos trens de força mais eficientes e desenvolvidos.
Fica agora a
preocupação em manter as corridas disputadas, sem apelar para punições
desembestadas. Com mais velocidade, os trechos de reta ficam potencialmente
mais “curtos”, diminuindo as chances de ultrapassagem, pela maior rapidez com
que são engolidas pelos novos bólidos. Futuramente, será necessário redesenhar
os circuitos, para aproveitar essa nova velocidade, de forma a proporcionar um
nível de disputas mais propício. E também repensar essa nova regra de terminar
as corridas pelo tempo, uma vez que elas acabam sendo prejudicadas pelo Safety
Car, diminuindo por vezes sobremaneira o tempo de disputa na corrida.
Um ponto positivo é que,
até o presente momento, não se pode fazer uma idéia de quem serão os favoritos
na luta pelo título deste ano. Lógico que quem está nas primeiras posições na
classificação pode ser visto como favorito, mas no ano passado, Felix
Rosenqvist despontava como um grande favorito no início, mas estancou e despencou
conforme a temporada avançava. Podemos ver reviravoltas na situação conforme as
corridas forem acontecendo. E que sejam boas disputas, para que a F-E continue
a mostrar porque merece sua chance de crescer ainda mais...
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