O nome Sauber deixou a F-1, e seu time agora será somente denominado Alfa Romeo. |
A Fórmula 1 prepara-se
para iniciar em breve seus parcos testes para a pré-temporada deste ano, e pelo
menos uma despedida já ocorreu neste ano envolvendo a categoria máxima do
automobilismo. A equipe Sauber, que desde o ano passado firmou parceria técnica
com a clássica marca Alfa Romeo, que voltava à categoria depois de sua saída,
em meados dos anos 1980, deixará de ter o nome Sauber em sua denominação. A
partir de agora, o time sediado em Hinwil, na Suíça, atende pelo nome apenas de
Alfa Romeo Racing. Inclusive, o nome do novo chassi para a temporada 2019 passa
a ser Alfa Romeo, retirando também a menção à Sauber. Com isso, mais um nome se
despede da história da F-1, e embora Peter Sauber já não dirigisse mais o time desde
2016, quando a escuderia foi vendida para garantir sua sobrevivência, a
categoria agora conta com um único garagista remanescente, Frank Williams,
embora seu time venha sendo gerido por sua filha Claire nos últimos anos,
devido ao estado de saúde precário de Frank, que desde 1986 encontra-se em uma
cadeira de rodas, vítima de um acidente de carro na França.
Encerra-se assim a
jornada da Sauber na F-1. Uma história que começou em 1993, como parte de um
projeto para o retorno da Mercedes-Benz à categoria máxima do automobilismo,
depois da marca alemã abandonar a competição em meados dos anos 1950. Peter
Sauber já era parceiro da fábrica alemã nas competições de esporte-protótipos,
antecessora do Mundial de Endurance, com vitórias nas 24 Horas de Le Mans, e do
título da categoria, em parceria com a marca Mercedes. Em 1993, Peter Sauber
levou seu time para disputar a F-1, com apoio por trás da Mercedes-Benz, que na
época financiava os motores Ilmor utilizados pela equipe. No ano seguinte, a
escuderia trouxe o nome Mercedes de volta efetiva à F-1, passando a se chamar
Sauber Mercedes.
As primeiras
temporadas foram razoáveis. O carro mostrava potencial, mas o time não
conseguia desenvolver sua competitividade. Em sua temporada de estréia, marcou
apenas 12 pontos, terminando o ano em 7º lugar. Em 1994, o time marcou os
mesmos 12 pontos, mas ficou em 8º lugar. E aí o time sofreu o seu primeiro
baque na categoria: a Mercedes, sua parceira de longa data, mudou-se para a
McLaren, e ao time de Peter Sauber restou tornar-se o time oficial da Ford na
F-1, depois da marca americana perder a Benetton para a Renault. Os resultados
mantiveram-se estáveis, com o time marcando 18 pontos, e terminando novamente
em 7º lugar, e obtendo seu primeiro pódio, com Heinz-Harald Frentzen. A posição
que seria repetida em 1996, mas marcando apenas 11 pontos. E então a escuderia
veria sua parceria com a Ford acabar, uma vez que a nova equipe de Jackie
Stewart seria o novo time oficial da Ford em 1997. Neste ano, contudo,
começaria a mais longeva e estável parceria que o time firmou em sua história
na F-1: uma aliança com a Ferrari para utilização de seus propulsores. Com um
forte patrocínio da petrolífera malaia Petronas, que inclusive rebatizava os
motores italianos, a Sauber tinha tudo para evoluir, mas a verdade é que o time
não conseguia deixar o pelotão intermediário, e quando muito, tinha de lutar
para não cair para trás.
Se o ano de 1997 eles
ainda conseguiram manter o nível habitual de resultados, com um novo 7º lugar
no Mundial de Construtores, e 16 pontos conquistados, em 1998 a coisa começou a
desandar, marcando apenas 10 pontos, e classificando-se em 6º. Em 1999 e 2000,
ficaram em 8º lugar, marcando 5 e 6 pontos, respectivamente. A partir de 2001,
os resultados melhoraram, e o time firmou-se bem no pelotão intermediário, com
um desempenho mais constante, inclusive conquistando um pódio por temporada, em
média. Não era muito, mas também não era pouco. A sorte da escuderia mudaria em
2006, quando a BMW, insatisfeita por não poder interferir nas decisões de
comando de sua parceira Williams, comprou o time suíço, mas mantendo o nome
Sauber, e o próprio Peter Sauber como um dos diretores. A escuderia passava a
se chamar BMW Sauber F-1 Team.
Com o apoio firme da
BMW, que desejava fazer frente na categoria à sua arquirrival Mercedes, a
escuderia subiu de produção: se em 2005 havia obtido apenas 20 pontos, e
terminado em 8º lugar, no seu primeiro ano sob propriedade dos bávaros, a
escuderia marcou 36 pontos, finalizando o ano em 5º lugar. Marcou 2 pódios, e
dava claros sinais de que iria escalar as posições rumo ao topo. A temporada
seguinte mostrou que os alemães não estavam mesmo para brincadeira: ficaram em
3º lugar no cômputo geral, perdendo apenas para Ferrari e McLaren. Mas com a
desclassificação do time de Woking por causa do escândalo das cópias de
projetos da Ferrari, o time suíço-alemão foi classificado como vice-campeão,
com 101 pontos marcados. Aos poucos, a BMW ia chegando, e prometia incomodar os
ponteiros. Em 2008, a escuderia teve sua melhor temporada da história: terminou
em 3º lugar, com 135 pontos, perdendo apenas para McLaren (151 pontos), e
Ferrari (172 pontos). Obteve sua primeira pole e primeira vitória, com 11
pódios. O sucesso almejado ia se tornando realidade, e a meta de enfim disputar
o título da F-1 se aproximava cada vez mais.
Não faltavam recursos
financeiros, e o motor BMW era extremamente forte. E o time contava com uma
dupla de pilotos afinada, e eficiente, com o alemão Nick Heidfeld, e o talento
do polonês Robert Kubica, considerado nova revelação da categoria, ao lado de
Lewis Hamilton, e como o inglês, tido como um campeão em potencial. Faltava
apenas o passo final, para que o time fundado por Peter Sauber se tornasse de
fato uma equipe de ponta. Mas aí veio o passo em falso, quando a F-1 mudou as
regras técnicas para 2009, especialmente na parte aerodinâmica dos carros, e o
novo projeto da escuderia regrediu, ao invés de evoluir. Foram conquistados
apenas 2 pontos, 36 pontos, e a 6ª posição no campeonato. Mas o pior ocorreu do
lado de fora: uma crise econômica deflagrada nos Estados Unidos em 2008 contaminou
a economia global, e várias indústrias retraíram seus investimentos, com
reflexos na F-1. Em 2008, por causa disso, e da falta de resultados, a Honda
resolveu sair da categoria, e em 2009, foi a vez da BMW, que no primeiro
momento ruim, foi-se embora, sendo muito criticada por isso.
De 2006 a 2009, pertencendo à BMW, o melhor momento do time, quase se tornando uma equipe de ponta. chegando a marcar pole e vencer uma corrida. |
Para evitar pendências
contratuais, os alemães revenderam o time de volta para Peter Sauber, mantendo
o nome para a temporada de 2010, e voltando a usar propulsores da Ferrari,
reatando a velha parceria existente entre 1997 e 2005. Foi um ano pouco
satisfatório, com o time terminando em 8º lugar, com 44 pontos marcados, mas,
se levarmos em conta que a pontuação mudou entre 2009 e 2010, o resultado não é
otimista como alguns poderiam imaginar. Afinal, a Red Bull foi campeã com 498
pontos, e a “renascida” Sauber ficou à frente apenas das nanicas Lotus,
Hispania e Virgin, recém chegadas à F-1, além da Toro Rosso. Para 2011, o nome
voltaria a ser apenas Sauber F-1 Team.
Dali em diante, com
exceção da temporada de 2012, a Sauber esteve sempre mais para trás do que para
frente no pelotão intermediário. Em 2011, foi 7ª colocada, novamente com 44
pontos, mas em 2012, foram conquistados 126 pontos, e a 6ª posição na
classificação. Foi o último melhor ano do time, que passou a depender quase
unicamente dos patrocínios trazidos por seus pilotos, sem conseguir firmar
parcerias com novos patrocinadores. E sem maiores recursos, os resultados
também passaram a escassear, a ponto de em 2014, o time não conseguir marcar um
único ponto sequer, o primeiro em toda a história da Sauber na F-1. Foi o fundo
do poço da escuderia. Com um carro ruim, e pilotos de medianos para baixo, não
havia milagre que desse jeito. Houve uma melhora inicial em 2015, mas o time
perdeu fôlego durante a temporada, por não conseguir desenvolver o carro, que
ia ficando para trás em relação à concorrência. Em 2016, novo ponto negativo,
com o time marcando apenas 2 pontos em toda a temporada.
Para salvar a equipe
da falência, Peter Sauber vendeu a escuderia, e embora seu nome ainda
denominasse o time, sua participação foi desaparecendo gradualmente, até não
ter mais nada ali. E mesmo sob nova direção, a situação do time continuou
periclitante, até que no ano passado, a salvação surgiu através de parceria
técnica e de marketing com a Alfa Romeo, trazida de volta à F-1, depois de mais
de três décadas, pela Ferrari, com o intuito de fazer da Sauber um time
satélite da escuderia de Maranello, resgatando uma das marcas do grupo. Com
algum dinheiro em caixa, dívidas foram saldadas, e o que parecia um ano a
princípio sombrio, com poucas perspectivas, começou a tomar novas formas.
Contando com a nova revelação Charles LeClerc, o time marcou 48 pontos,
terminando em 8º lugar. Pode não parecer muito, mas quando todos apostavam que
o time suíço ficaria na rabeira do grid no início da temporada, e chegou a
largar entre os 10 primeiros em várias provas, foi um ano considerado muito bom,
para um projeto cuja parceria estava apenas dando seus primeiros passos. Uma
parceria que já seria bem mais profunda nesta temporada, com muito mais
recursos técnicos, financeiros, e humanos.
Charles LeClerc foi
para a Ferrari, mas o time italiano transferiu Kimi Raikkonen para o time, que
contará também com Antonio Giovinazzi, que se não é um talento considerado tão
promissor como LeClerc, também não é uma negação como Marcus Ericsson, que se
manteve na firme na escuderia nos últimos anos graças aos patrocinadores
trazidos por ele, e pela sintonia com os novos donos desde 2016. Mas, com a
Alfa Romeo assumindo cada vez mais o time, por intermédio da Ferrari, que ainda
fornece o propulsor da escuderia, os dias de Ericsson findaram, com o sueco
tendo de procurar outro lugar para correr. Com novos profissionais na área
técnica, incorporados no ano passado, e com Frederic Vasseur no comando do
time, a escuderia, agora unicamente como Alfa Romeo, assume o legado deixado
pelo time fundado por Peter Sauber, tendo plenas condições de fazer um bom
trabalho.
Em 1994, a Mercedes assumiu oficialmente seu retorno à F-1, com a Sauber. |
Fica para a história
da F-1 um currículo de 462 GPs disputados, com 1 vitória, 1 pole-position, 27
pódios, e um total de 865 pontos, e 5 melhores voltas anotadas. O time foi a
porta de entrada na F-1 de vários pilotos, entre eles, Kimi Raikkonen, e
Sebastian Vettel, que posteriormente seriam campeões na categoria. E tivemos
três pilotos brasileiros defendendo o time, começando por Pedro Paulo Diniz,
entre 1999 e 2000; Felipe Massa em 2002, 2004 e 2005, e por último Felipe Nasr,
em 2015 e 2016. E grandes feras, ou pelo menos, bons pilotos que fizeram valer
suas chances no time, como Sérgio Perez, Kamui Kobayashi, Nick Heidfeld,
Heinz-Harald Frentzen, e Robert Kubica. E é preciso lembrar que, quando
competia na Esporte-protótipos, Peter Sauber contava com os serviços de um
jovem talento chamado Michael Schumacher, que não teve oportunidade de manter
com ele quando foi para a F-1, com o jovem alemão tendo estreado na F-1 em
1991, e sendo logo cooptado por Flavio Briatore para a Benetton.
Foram 26 temporadas
completas, disputadas em sua grande parte com dignidade e respeito pelo
esporte, honrando uma história que Peter Sauber iniciara em 1970, quando
enveredou pelo mundo do automobilismo, e prosseguiu pelos anos 1980 com os
carros de esporte-protótipos, antes de decidir ingressar na F-1. Uma história
de paixão pelas corridas que Peter Sauber conseguiu tornar realidade. Campeão
nos Esporte-protótipos e em Le Mans, faltou-lhe conseguir o mesmo sucesso na
F-1. Não foi tudo aquilo que ele esperava, mas também não foi tão ruim como
diversas outras passagens de outros times pela categoria máxima do
automobilismo. Seu nome sai de cena, para marcar presença nos anais da
categoria, ao lado de outros nomes icônicos que tiveram seus bons e maus
momentos na F-1, como garagistas entusiasmados com o esporte a motor, que dele
fizeram suas vidas, como Ken Tyrrel, Jack Brabham, Enzo Ferrari, entre outros.
Desde a estréia, em 1993, até o
ano passado, todos os carros produzidos pela Sauber traziam a letra “C” à
frente do número do chassi. Essa letra era uma homenagem de Peter Sauber à sua
esposa, Christine, por isso essa denominação. A exceção foram os anos em que a
BMW foi dona do time, entre 2006 e 2009, quando os carros foram nomeados F1.06
a F1.09. Isso, entretanto, acabou contando como numeração dos chassis, já que o
projeto de 2005 foi chamado de C24, e o de 2010, de C29. O primeiro projeto, de
1993, foi o C12, e o do ano passado, o último a ter este tipo de nomenclatura,
foi o C37. Essa maneira de batizar os carros já era usada pela Sauber quando
competia nos Esporte-protótipos, e foi mantida quando mudou para a F-1.
Com a pré-temporada da F-1 se
aproximando, as escuderias começam a programar as datas de lançamento de seus
novos carros 2019. Ontem, a Hass mostrou a nova pintura que identificará seus
bólidos neste ano, mas o novo carro só será visto mesmo em Barcelona, no
primeiro dia de testes, 18 de fevereiro. Antes disso, teremos a apresentação
dos carros da Toro Rosso e Williams, ambas na próxima segunda-feira, dia 11; Renault,
dia 12; Mercedes, Racing Point (ex-Force India), e Red Bull, todas no dia 13;
McLaren no dia 14; Ferrari no dia 15, e por último, Alfa Romeo, no dia 18, indo
logo em seguida para a pista. Hora de ficar na expectativa em relação ao visual
dos novos bólidos. Só é uma pena que a F-1 insista em manter uma pré-temporada
de apenas 8 dias de testes coletivos de pista, e ainda assim, com uma regra
imbecil de ter apenas um carro na pista de cada vez. Saudade dos velhos tempos,
quando o pessoal ia para a pista testar, sem ter essa frescura toda dos dias de
hoje...
No que depender do governo da
Holanda, a F-1 não volta ao país tão já. O governo do país anunciou estes dias
que não irá ajudar a financiar a realização de uma prova da categoria máxima do
automobilismo, alegando que não há justificativa para uso do dinheiro público
em um evento desta natureza, havendo outras prioridades a serem atendidas.
Zandvoort é um dos palcos candidatos a receber uma possível volta da F-1 ao
país, tendo sediado já corridas da categoria, a última delas em 1985. Mas outra
pista que está no páreo é Assen, utilizada atualmente pela MotoGP. Os dois
autódromos precisariam passar por algumas reformas para atender aos requisitos
da F-1, mas a principal dificuldade mesmo é arrumar dinheiro para bancar a
corrida. E o governo está mais do que certo em não se meter neste assunto...
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