sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

ADEUS, SAUBER

O nome Sauber deixou a F-1, e seu time agora será somente denominado Alfa Romeo.

            A Fórmula 1 prepara-se para iniciar em breve seus parcos testes para a pré-temporada deste ano, e pelo menos uma despedida já ocorreu neste ano envolvendo a categoria máxima do automobilismo. A equipe Sauber, que desde o ano passado firmou parceria técnica com a clássica marca Alfa Romeo, que voltava à categoria depois de sua saída, em meados dos anos 1980, deixará de ter o nome Sauber em sua denominação. A partir de agora, o time sediado em Hinwil, na Suíça, atende pelo nome apenas de Alfa Romeo Racing. Inclusive, o nome do novo chassi para a temporada 2019 passa a ser Alfa Romeo, retirando também a menção à Sauber. Com isso, mais um nome se despede da história da F-1, e embora Peter Sauber já não dirigisse mais o time desde 2016, quando a escuderia foi vendida para garantir sua sobrevivência, a categoria agora conta com um único garagista remanescente, Frank Williams, embora seu time venha sendo gerido por sua filha Claire nos últimos anos, devido ao estado de saúde precário de Frank, que desde 1986 encontra-se em uma cadeira de rodas, vítima de um acidente de carro na França.
            Encerra-se assim a jornada da Sauber na F-1. Uma história que começou em 1993, como parte de um projeto para o retorno da Mercedes-Benz à categoria máxima do automobilismo, depois da marca alemã abandonar a competição em meados dos anos 1950. Peter Sauber já era parceiro da fábrica alemã nas competições de esporte-protótipos, antecessora do Mundial de Endurance, com vitórias nas 24 Horas de Le Mans, e do título da categoria, em parceria com a marca Mercedes. Em 1993, Peter Sauber levou seu time para disputar a F-1, com apoio por trás da Mercedes-Benz, que na época financiava os motores Ilmor utilizados pela equipe. No ano seguinte, a escuderia trouxe o nome Mercedes de volta efetiva à F-1, passando a se chamar Sauber Mercedes.
            As primeiras temporadas foram razoáveis. O carro mostrava potencial, mas o time não conseguia desenvolver sua competitividade. Em sua temporada de estréia, marcou apenas 12 pontos, terminando o ano em 7º lugar. Em 1994, o time marcou os mesmos 12 pontos, mas ficou em 8º lugar. E aí o time sofreu o seu primeiro baque na categoria: a Mercedes, sua parceira de longa data, mudou-se para a McLaren, e ao time de Peter Sauber restou tornar-se o time oficial da Ford na F-1, depois da marca americana perder a Benetton para a Renault. Os resultados mantiveram-se estáveis, com o time marcando 18 pontos, e terminando novamente em 7º lugar, e obtendo seu primeiro pódio, com Heinz-Harald Frentzen. A posição que seria repetida em 1996, mas marcando apenas 11 pontos. E então a escuderia veria sua parceria com a Ford acabar, uma vez que a nova equipe de Jackie Stewart seria o novo time oficial da Ford em 1997. Neste ano, contudo, começaria a mais longeva e estável parceria que o time firmou em sua história na F-1: uma aliança com a Ferrari para utilização de seus propulsores. Com um forte patrocínio da petrolífera malaia Petronas, que inclusive rebatizava os motores italianos, a Sauber tinha tudo para evoluir, mas a verdade é que o time não conseguia deixar o pelotão intermediário, e quando muito, tinha de lutar para não cair para trás.
A estréia da Sauber na F-1 foi em 1993 (acima), mas o time já existia há muito tempo, desde os anos 1970, tendo competido na categoria Esporte-protótipos, já como parceira oficial da Mercedes (abaixo).
            Se o ano de 1997 eles ainda conseguiram manter o nível habitual de resultados, com um novo 7º lugar no Mundial de Construtores, e 16 pontos conquistados, em 1998 a coisa começou a desandar, marcando apenas 10 pontos, e classificando-se em 6º. Em 1999 e 2000, ficaram em 8º lugar, marcando 5 e 6 pontos, respectivamente. A partir de 2001, os resultados melhoraram, e o time firmou-se bem no pelotão intermediário, com um desempenho mais constante, inclusive conquistando um pódio por temporada, em média. Não era muito, mas também não era pouco. A sorte da escuderia mudaria em 2006, quando a BMW, insatisfeita por não poder interferir nas decisões de comando de sua parceira Williams, comprou o time suíço, mas mantendo o nome Sauber, e o próprio Peter Sauber como um dos diretores. A escuderia passava a se chamar BMW Sauber F-1 Team.
            Com o apoio firme da BMW, que desejava fazer frente na categoria à sua arquirrival Mercedes, a escuderia subiu de produção: se em 2005 havia obtido apenas 20 pontos, e terminado em 8º lugar, no seu primeiro ano sob propriedade dos bávaros, a escuderia marcou 36 pontos, finalizando o ano em 5º lugar. Marcou 2 pódios, e dava claros sinais de que iria escalar as posições rumo ao topo. A temporada seguinte mostrou que os alemães não estavam mesmo para brincadeira: ficaram em 3º lugar no cômputo geral, perdendo apenas para Ferrari e McLaren. Mas com a desclassificação do time de Woking por causa do escândalo das cópias de projetos da Ferrari, o time suíço-alemão foi classificado como vice-campeão, com 101 pontos marcados. Aos poucos, a BMW ia chegando, e prometia incomodar os ponteiros. Em 2008, a escuderia teve sua melhor temporada da história: terminou em 3º lugar, com 135 pontos, perdendo apenas para McLaren (151 pontos), e Ferrari (172 pontos). Obteve sua primeira pole e primeira vitória, com 11 pódios. O sucesso almejado ia se tornando realidade, e a meta de enfim disputar o título da F-1 se aproximava cada vez mais.
            Não faltavam recursos financeiros, e o motor BMW era extremamente forte. E o time contava com uma dupla de pilotos afinada, e eficiente, com o alemão Nick Heidfeld, e o talento do polonês Robert Kubica, considerado nova revelação da categoria, ao lado de Lewis Hamilton, e como o inglês, tido como um campeão em potencial. Faltava apenas o passo final, para que o time fundado por Peter Sauber se tornasse de fato uma equipe de ponta. Mas aí veio o passo em falso, quando a F-1 mudou as regras técnicas para 2009, especialmente na parte aerodinâmica dos carros, e o novo projeto da escuderia regrediu, ao invés de evoluir. Foram conquistados apenas 2 pontos, 36 pontos, e a 6ª posição no campeonato. Mas o pior ocorreu do lado de fora: uma crise econômica deflagrada nos Estados Unidos em 2008 contaminou a economia global, e várias indústrias retraíram seus investimentos, com reflexos na F-1. Em 2008, por causa disso, e da falta de resultados, a Honda resolveu sair da categoria, e em 2009, foi a vez da BMW, que no primeiro momento ruim, foi-se embora, sendo muito criticada por isso.
De 2006 a 2009, pertencendo à BMW, o melhor momento do time, quase se tornando uma equipe de ponta. chegando a marcar pole e vencer uma corrida.
            Para evitar pendências contratuais, os alemães revenderam o time de volta para Peter Sauber, mantendo o nome para a temporada de 2010, e voltando a usar propulsores da Ferrari, reatando a velha parceria existente entre 1997 e 2005. Foi um ano pouco satisfatório, com o time terminando em 8º lugar, com 44 pontos marcados, mas, se levarmos em conta que a pontuação mudou entre 2009 e 2010, o resultado não é otimista como alguns poderiam imaginar. Afinal, a Red Bull foi campeã com 498 pontos, e a “renascida” Sauber ficou à frente apenas das nanicas Lotus, Hispania e Virgin, recém chegadas à F-1, além da Toro Rosso. Para 2011, o nome voltaria a ser apenas Sauber F-1 Team.
            Dali em diante, com exceção da temporada de 2012, a Sauber esteve sempre mais para trás do que para frente no pelotão intermediário. Em 2011, foi 7ª colocada, novamente com 44 pontos, mas em 2012, foram conquistados 126 pontos, e a 6ª posição na classificação. Foi o último melhor ano do time, que passou a depender quase unicamente dos patrocínios trazidos por seus pilotos, sem conseguir firmar parcerias com novos patrocinadores. E sem maiores recursos, os resultados também passaram a escassear, a ponto de em 2014, o time não conseguir marcar um único ponto sequer, o primeiro em toda a história da Sauber na F-1. Foi o fundo do poço da escuderia. Com um carro ruim, e pilotos de medianos para baixo, não havia milagre que desse jeito. Houve uma melhora inicial em 2015, mas o time perdeu fôlego durante a temporada, por não conseguir desenvolver o carro, que ia ficando para trás em relação à concorrência. Em 2016, novo ponto negativo, com o time marcando apenas 2 pontos em toda a temporada.
            Para salvar a equipe da falência, Peter Sauber vendeu a escuderia, e embora seu nome ainda denominasse o time, sua participação foi desaparecendo gradualmente, até não ter mais nada ali. E mesmo sob nova direção, a situação do time continuou periclitante, até que no ano passado, a salvação surgiu através de parceria técnica e de marketing com a Alfa Romeo, trazida de volta à F-1, depois de mais de três décadas, pela Ferrari, com o intuito de fazer da Sauber um time satélite da escuderia de Maranello, resgatando uma das marcas do grupo. Com algum dinheiro em caixa, dívidas foram saldadas, e o que parecia um ano a princípio sombrio, com poucas perspectivas, começou a tomar novas formas. Contando com a nova revelação Charles LeClerc, o time marcou 48 pontos, terminando em 8º lugar. Pode não parecer muito, mas quando todos apostavam que o time suíço ficaria na rabeira do grid no início da temporada, e chegou a largar entre os 10 primeiros em várias provas, foi um ano considerado muito bom, para um projeto cuja parceria estava apenas dando seus primeiros passos. Uma parceria que já seria bem mais profunda nesta temporada, com muito mais recursos técnicos, financeiros, e humanos.
            Charles LeClerc foi para a Ferrari, mas o time italiano transferiu Kimi Raikkonen para o time, que contará também com Antonio Giovinazzi, que se não é um talento considerado tão promissor como LeClerc, também não é uma negação como Marcus Ericsson, que se manteve na firme na escuderia nos últimos anos graças aos patrocinadores trazidos por ele, e pela sintonia com os novos donos desde 2016. Mas, com a Alfa Romeo assumindo cada vez mais o time, por intermédio da Ferrari, que ainda fornece o propulsor da escuderia, os dias de Ericsson findaram, com o sueco tendo de procurar outro lugar para correr. Com novos profissionais na área técnica, incorporados no ano passado, e com Frederic Vasseur no comando do time, a escuderia, agora unicamente como Alfa Romeo, assume o legado deixado pelo time fundado por Peter Sauber, tendo plenas condições de fazer um bom trabalho.
Em 1994, a Mercedes assumiu oficialmente seu retorno à F-1, com a Sauber.
            Fica para a história da F-1 um currículo de 462 GPs disputados, com 1 vitória, 1 pole-position, 27 pódios, e um total de 865 pontos, e 5 melhores voltas anotadas. O time foi a porta de entrada na F-1 de vários pilotos, entre eles, Kimi Raikkonen, e Sebastian Vettel, que posteriormente seriam campeões na categoria. E tivemos três pilotos brasileiros defendendo o time, começando por Pedro Paulo Diniz, entre 1999 e 2000; Felipe Massa em 2002, 2004 e 2005, e por último Felipe Nasr, em 2015 e 2016. E grandes feras, ou pelo menos, bons pilotos que fizeram valer suas chances no time, como Sérgio Perez, Kamui Kobayashi, Nick Heidfeld, Heinz-Harald Frentzen, e Robert Kubica. E é preciso lembrar que, quando competia na Esporte-protótipos, Peter Sauber contava com os serviços de um jovem talento chamado Michael Schumacher, que não teve oportunidade de manter com ele quando foi para a F-1, com o jovem alemão tendo estreado na F-1 em 1991, e sendo logo cooptado por Flavio Briatore para a Benetton.
            Foram 26 temporadas completas, disputadas em sua grande parte com dignidade e respeito pelo esporte, honrando uma história que Peter Sauber iniciara em 1970, quando enveredou pelo mundo do automobilismo, e prosseguiu pelos anos 1980 com os carros de esporte-protótipos, antes de decidir ingressar na F-1. Uma história de paixão pelas corridas que Peter Sauber conseguiu tornar realidade. Campeão nos Esporte-protótipos e em Le Mans, faltou-lhe conseguir o mesmo sucesso na F-1. Não foi tudo aquilo que ele esperava, mas também não foi tão ruim como diversas outras passagens de outros times pela categoria máxima do automobilismo. Seu nome sai de cena, para marcar presença nos anais da categoria, ao lado de outros nomes icônicos que tiveram seus bons e maus momentos na F-1, como garagistas entusiasmados com o esporte a motor, que dele fizeram suas vidas, como Ken Tyrrel, Jack Brabham, Enzo Ferrari, entre outros.


Desde a estréia, em 1993, até o ano passado, todos os carros produzidos pela Sauber traziam a letra “C” à frente do número do chassi. Essa letra era uma homenagem de Peter Sauber à sua esposa, Christine, por isso essa denominação. A exceção foram os anos em que a BMW foi dona do time, entre 2006 e 2009, quando os carros foram nomeados F1.06 a F1.09. Isso, entretanto, acabou contando como numeração dos chassis, já que o projeto de 2005 foi chamado de C24, e o de 2010, de C29. O primeiro projeto, de 1993, foi o C12, e o do ano passado, o último a ter este tipo de nomenclatura, foi o C37. Essa maneira de batizar os carros já era usada pela Sauber quando competia nos Esporte-protótipos, e foi mantida quando mudou para a F-1.


Com a pré-temporada da F-1 se aproximando, as escuderias começam a programar as datas de lançamento de seus novos carros 2019. Ontem, a Hass mostrou a nova pintura que identificará seus bólidos neste ano, mas o novo carro só será visto mesmo em Barcelona, no primeiro dia de testes, 18 de fevereiro. Antes disso, teremos a apresentação dos carros da Toro Rosso e Williams, ambas na próxima segunda-feira, dia 11; Renault, dia 12; Mercedes, Racing Point (ex-Force India), e Red Bull, todas no dia 13; McLaren no dia 14; Ferrari no dia 15, e por último, Alfa Romeo, no dia 18, indo logo em seguida para a pista. Hora de ficar na expectativa em relação ao visual dos novos bólidos. Só é uma pena que a F-1 insista em manter uma pré-temporada de apenas 8 dias de testes coletivos de pista, e ainda assim, com uma regra imbecil de ter apenas um carro na pista de cada vez. Saudade dos velhos tempos, quando o pessoal ia para a pista testar, sem ter essa frescura toda dos dias de hoje...


No que depender do governo da Holanda, a F-1 não volta ao país tão já. O governo do país anunciou estes dias que não irá ajudar a financiar a realização de uma prova da categoria máxima do automobilismo, alegando que não há justificativa para uso do dinheiro público em um evento desta natureza, havendo outras prioridades a serem atendidas. Zandvoort é um dos palcos candidatos a receber uma possível volta da F-1 ao país, tendo sediado já corridas da categoria, a última delas em 1985. Mas outra pista que está no páreo é Assen, utilizada atualmente pela MotoGP. Os dois autódromos precisariam passar por algumas reformas para atender aos requisitos da F-1, mas a principal dificuldade mesmo é arrumar dinheiro para bancar a corrida. E o governo está mais do que certo em não se meter neste assunto...

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