quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

ARQUIVO PISTA & BOX – SETEMBRO DE 1998 – 11.09.1998


            E aqui estou trazendo novamente um de meus antigos textos, e esta coluna foi publicada no dia 11 de setembro de 1998, às vésperas do Grande Prêmio da Itália de F-1 daquele ano, mas o assunto do texto principal era a conquista do bicampeonato da F-CART por Alessandro Zanardi, que em apenas 3 temporadas completas competindo na categoria norte-americana, tomou-a de assalto e se tornou o seu principal destaque. Tendo um dos carros mais competitivos do certame, contou também o talento do italiano, que despachou os rivais com maestria poucas vezes vista na competição, e carimbou o seu passaporte de volta à F-1 para o ano seguinte, na equipe Williams, que ainda mantinha-se como uma escuderia muito respeitável na época. Se na teoria a decisão fazia sentido, na prática acabou sendo um verdadeiro desastre, pois Zanardi foi uma negação durante todo o ano de 1999. E, ironia das ironias: Juan Pablo Montoya, que ocupou o seu lugar na equipe Ganassi, acabou sendo o campeão no ano de sua estréia na competição norte-americana. Muitos apostavam que, tivesse permanecido nos Estados Unidos, o currículo de feitos de Alessandro seria até maior do que já era.
            De quebra, nos tópicos rápidos, alguns comentários sobre os acontecimentos da semana, como a contratação de Ralf Schumacher pela Williams, passando Rubens Barrichello, até então o mais cotado para a vaga, para trás, com uma ajudinha de seu irmão mais velho, Michael Schumacher, que dois anos depois, viraria um calvário para o brasileiro, quando este aceitou correr pela Ferrari. A Ford comprava a Cosworth, visando incrementar o seu programa na F-1, e os planos da Volkswagen de entrar na categoria máxima do automobilismo na época ainda caminhavam nesta direção, mas a fábrica mudou de idéia, e nunca mais tencionou entrar na competição. Curtam o texto, e em breve trago mais colunas antigas por aqui...


ZANARDI BICAMPEÃO

            Alessandro Zanardi encerrou a disputa pelo título da F-CART deste ano faltando 4 etapas para o fim do campeonato, um novo recorde na história da categoria, e parte para a Fórmula 1 em 1999, quando defenderá a equipe Williams. O anúncio oficial deve ser neste final de semana aqui em Monza. Zanardi retorna à F-1 pela porta da frente, depois de amargar algumas temporadas em equipes medíocres da F-1 no início da década, como a Lótus (então uma sombra do time que já foi o grande mito da F-1, ao lado da Ferrari) e a Minardi. Zanardi agora irá correr pela Williams, um dos times de ponta da categoria.
            O italiano deixa a F-CART com a condição de maior estrela da categoria americana. Quando chegou à CART em 1996, Alessandro estava desempregado e só conseguiu a vaga na Chip Ganassi por indicação de Adrian Reynard. Depois de meia temporada de aprendizado, o italiano venceu sua primeira corrida em Portland, e disparou na frente dos concorrentes. Devido ao mau começo naquele ano, Jimmy Vasser ficou com o título, mas Zanardi acabou em 3º lugar na classificação final do campeonato. No ano passado, o italiano não deu chances a ninguém: faturou o título da categoria. E este ano, depois de um início um pouco complicado, voltou a despachar os adversários e disparar na liderança da competição.
            Um feito também para a Chip Ganassi, que conquistou seu 3º título consecutivo na categoria, um feito inédito até então. A Ganassi foi o time que melhor preparou seus carros nos últimos anos, e mesmo com um orçamento limitado, mostrou que dinheiro é importante, mas não é tudo. Equipes com orçamentos maiores, como a Penske e a Newmann-Hass, mostraram novamente muito potencial teórico e poucos resultados. No caso da Penske, o revolucionário chassi PC27 ainda dá mostras de ter bom potencial, mas até agora o carro quebrou demais. Na Newmann-Hass, tanto Christian Fittipaldi como Michael Andretti enfrentaram inúmeros contratempos em diversas corridas, perdendo as possibilidades de lutar pelo título.
            Além de administrar o time com maestria, Chip Ganassi também deve muito de seu sucesso ao engenheiro Morris Num, um dos maiores gênios da categoria, que encontrou em Zanardi o piloto e parceiro ideal de competições. Uma parceria tão perfeita como a de Ayrton Senna com a Honda na F-1. Ambos trabalhavam em perfeita sintonia e com o carro magnificamente ajustado com base nos conhecimentos de Num, Alessandro ia para a pista e mandava ver. E, com muita sorte em algumas ocasiões, Zanardi conseguiu vencer mesmo quando parecia ser carta fora do baralho. As excelentes estratégias da equipe também o ajudaram a sobrepujar inúmeras dificuldades em outras ocasiões. Mas nem tudo é mérito da equipe: Zanardi soube usar o equipamento que teve em mãos e fez brilhar todo o seu talento. É verdade que a bela estrutura da Ganassi ajudou bastante. Basta ver o exemplo de Christian Fittipaldi, que mesmo em uma equipe de ponta da categoria, raras vezes teve a sorte necessária para brilhar nas corridas. Este ano, por exemplo, enfrenta uma má fase em que tudo parece dar errado, sendo que a grande maioria dos incidentes que o afligiram vieram de situações totalmente alheias a seu controle. E digo isso porque Christian Fittipaldi já derrotou Zanardi numa luta pelo título, na F-3000 em 1991, e o piloto brasileiro chegou a deixar o italiano desnorteado na ocasião.
            Mas isso não diminui os méritos e o cartaz de Zanardi. Mas diminui um pouco o da F-CART e da própria Chip Ganassi. A CART não fez grandes esforços para segurar sua maior estrela do momento, e certamente perderá um pouco do interesse internacional. Já a Ganassi pode decair no próximo ano, pois além de perder o piloto italiano, Morris Num, seu engenheiro de ouro, está inclinado a se aposentar. Na verdade ele já tinha saído do time, mas Chip Ganassi conseguiu trazê-lo de volta. Agora, sem seu principal parceiro, é bem provável que Num se aposente em definitivo, o que sem dúvida vai ser um tremendo revés para a Ganassi.
            Quanto a Alessandro Zanardi, seja bem-vindo de volta à F-1. E que dê à categoria os mesmos shows que encantaram os fãs do automobilismo na F-CART.


Rubens Barrichello ficou sem conseguir lugar na Williams mesmo. E, desta vez, Michael Schumacher, de novo, se intrometeu no caminho do piloto brasileiro. O bicampeão da Ferrari teria usado seu prestígio e influência para conseguir um patrocinador que teria pago a multa rescisória de seu irmão Ralf Schumacher com a Jordan, que então liberou seu piloto para correr pela Williams em 1999. Com a multa, imposta por Eddie Jordan após o resultado da corrida na Bélgica, Ralf ficava em posição igual à de Rubens Barrichello, que também tinha uma multa rescisória para sair da equipe Stewart, mas que no seu caso era mais fácil de ser liberado pela falta de competitividade demonstrada pelo time de Jackie Stewart. Sendo assim, a dupla oficial da equipe Williams no próximo ano será mesmo Ralf Schumacher e Alessandro Zanardi.


A Ford comprou a divisão da Cosworth para dar continuidade a seu programa de F-1. Com isso, está garantida a qualidade e desenvolvimento dos propulsores. A Volkswagen, que tinha adquirido a Cosworth na compra do grupo Vickers, continua com o seu trabalho de desenvolvimento do projeto para estrear seu próprio motor de F-1 em 2000 com a equipe Benetton.


Michael Schumacher começou a se retratar no início desta semana, ao admitir que se excedeu na corrida da Bélgica. O bicampeão se viu forçado a isso depois que até Eddie Irvinne absolveu Coulthard pelo acidente, e Gianni Agnelli, o presidente da Fiat, e dona da Ferrari, ter criticado o gênio “difícil” de Schumacher. Isso ajudou a pôr panos quentes no conflito, mas não de todo. O tom destoante foi Michael Schumacher afirmar que não tinha intenções de agredir o piloto escocês dentro dos boxes na corrida belga, mas pelo que vi naquele dia, fica muito difícil alguém acreditar nesta história...


Cristiano da Matta conquistou domingo passado o título da categoria Indy Lights com uma excelente vitória em Vancouver. Pelo segundo ano consecutivo, um piloto brasileiro conquista o título da categoria. Agora, Steve Horne, dono da Tasman, busca patrocinadores para conseguir colocar o piloto mineiro como colega de Tony Kanaan na categoria principal, a F-CART...


O novo circuito de Vancouver mostrou-se praticamente uma troca do seis pelo meia dúzia: tal como o traçado antigo, o novo circuito não ofereceu nenhum ponto ideal de ultrapassagens, o que facilitou a maioria dos acidentes ocorridos durante a prova deste ano. Greg Moore, que ajudou a desenhar o novo traçado, por exemplo, foi um dos que sucumbiram à nova pista durante a corrida...

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