Trazendo um novo texto da série
sobre os circuitos utilizados pela F-1, hoje falamos um pouco de um circuito
que despediu-se da categoria máxima do automobilismo há pouco mais de 23 anos
atrás: Adelaide, palco das primeiras 11 edições do Grande Prêmio da Austrália,
prova que até hoje ainda faz parte do calendário, mas correndo atualmente em
outro circuito, em outra cidade. Conheçam então um pouco mais desta pista que deixou
saudades em muitos na época, e boa leitura para todos...
ADELAIDE
Em 1985, a
Austrália entrou para o calendário da Fórmula 1, e o palco foi um circuito
urbano montado nas ruas de Adelaide, capital do Estado da Austrália Meridional,
a cerca de 700 Km de distância de Melbourne. Situado junto ao King Rodney Park,
e ao Rymill Park, a pista contava com 16 curvas, e uma grande reta, a Brabham
Straigh, que oferecia o melhor ponto de ultrapassagem da pista. Por ser
realizada como prova final da temporada de F-1, poucas vezes o título foi
decidido nesta pista, o que ocorreu somente em 1986 e 1994. Por isso, o clima
da corrida era bem mais relaxado e festivo, com equipes e pilotos encarando a
corrida como festa de fim de ano, já que a temporada estava terminando, e
poucas posições importantes estavam em jogo na pista, o que não quer dizer que
os pilotos não duelavam bastante. Mas o clima mais relax deixava todo mundo
sociável, e podendo pilotar com maior prazer, sem tanta pressão como em outras
corridas. Foram ao todo 11 GPs deste circuito, entre 1985 e 1995. A partir de
1996, a corrida australiana passou a ser realizada em Melbourne, em outro
circuito de rua, montado dentro do Albert Park, que possui características mais
próximas a um circuito convencional do que uma pista de rua. Curiosamente, a
Austrália então sediou duas corridas consecutivas da F-1, encerrando a
temporada de 1995, e abrindo a temporada de 1996.
Adelaide
também foi palco do 500º GP da história da F-1, quando sediou a etapa de 1990.
Naquele ano, a categoria máxima do automobilismo chegava à sua quingentésima
corrida desde o início do seu campeonato, em 1950. E a corrida teve dois
momentos distintos: o domínio de Ayrton Senna, recém-coroado bicampeão mundial
na etapa anterior, no Japão, que largou na pole-position, e liderava a prova
com razoável facilidade, até seu abandono por problemas de freios. A partir
dali, a prova passou a ser comandada por outro brasileiro, Nélson Piquet, que
havia largado em 7º, e veio passando todo mundo na pista, à exceção de Senna. O
tricampeão fazia uma corrida impecável com sua Benetton, sem ter parado para
trocar de pneus, mas nas últimas voltas, Nigel Mansell, com a Ferrari, havia
trocado seus compostos, e vinha voando na pista. Velho rival de Piquet nos
tempos em que dividiram a Williams, Mansell encostou no brasileiro nas voltas
finais, mas não conseguiu superar Nélson, que pilotava com maestria um carro
tecnicamente inferior ao seu. Na última volta, Mansell tentou tudo na freada da
reta Brabham, e quando estava para consumar a ultrapassagem, Piquet fechou a
porta in extremis, fazendo a manobra do inglês fracassar, e perder suas chances
de vitória. Piquet venceu a corrida, e sacramentou sua 3ª posição no
campeonato, recuperando sua imagem de piloto vencedor, abalada nas duas
temporadas anteriores, quando foi piloto de uma equipe Lotus que entrou em
decadência acelerada, arrastando o tricampeão junto com ela.
Com relação
ao circuito, Adelaide teve três configurações de seu traçado, contudo, as
mudanças foram tão mínimas, que a pista na verdade não teve alterações. A
configuração “original” foi usada somente em 1985, com a pista tendo uma
extensão total de 3,778 Km, cujo recorde da volta ficou com Keke Rosberg, da
Williams, que foi também o primeiro vencedor da corrida australiana, com
1min23s758, à velocidade média de 162,382 Km/h.
A segunda “configuração”
foi usada nas provas de 1986 e 1987, e a extensão do circuito passou para 3,779
Km, ou seja, apenas um metro a mais. O tempo da volta mais rápida, contudo,
caiu bastante, sendo de 1min20s416, obtida por Gerhard Berger com a Ferrari em 1987,
à velocidade média de 169,175 Km. A terceira e última “configuração” foi
utilizada de 1988 até 1995, e assim como ocorreu entre a primeira e segunda
“configurações”, novamente as mudanças foram igualmente ínfimas, com a pista
passando a ter 3,780 Km, novamente apenas um metro a mais que a anterior, e
dois metros a mais que a extensão original, nada de relevante no design da
pista. Mas a evolução dos carros fez o tempo da volta despencar, e a volta mais
rápida em corrida neste período foi de 1min15s381, obtido por Damon Hill com a
Williams, na etapa de 1993.
Nestas 11
corridas que a F-1 disputou em Adelaide, algumas curiosidades, além da disputa
do 500º GP da F-1, ocorrido em 1990: A McLaren foi a equipe com mais vitórias:
5, com duas de Alain Prost (1986 e 1988), duas de Ayrton Senna (1991 e 1993), e
uma com Gerhard Berger (1992). A Williams vem a seguir, com 4 vitórias: uma de
Keke Rosberg (1985), uma de Thierry Boutsen (1989), uma com Nigel Mansell
(1994), e uma com Damon Hill (1995). Os demais times venceram apenas uma vez a
prova australiana em Adelaide: Ferrari (Gerhard Berger, em 1987), e Benetton
(Nélson Piquet, em 1990). Esta pista viu as últimas vitórias de Keke Rosberg,
Ayrton Senna, e Nigel Mansell, em suas respectivas carreiras na F-1.
Com o fim
das corridas de F-1, o circuito ficou desativado por alguns anos, mas a partir
de 1999, passou a sediar corridas das categorias do automobilismo australiano,
entre elas a V8 Supercars, cujo campeonato deste ano terá início justamente
nessa pista, com a disputa da Superloop Adelaide 500. O traçado, contudo, é
menor do que o utilizado pela F-1, com os carros não utilizando apenas metade
do trecho de reta entre as curvas 6 e 7 no mapa, passando a correr pelo trecho
de reta em cinza, e retornando ao restante do traçado, que segue inalterado.
Nesta configuração, a pista fica com apenas 14 curvas e 3,219 Km de extensão.
Como a F-1
segue firme em Melbourne, apesar de em várias ocasiões grupos ambientalistas
protestarem contra a realização da corrida dentro do Albert Park, as chances de
a categoria um dia voltar a Adelaide são bem remotas, até mesmo porque, em
termos de estrutura, diante das exigências da F-1 atual, as instalações de
Adelaide já não satisfariam as necessidades da categoria máxima do automobilismo,
cuja estrutura de competição, e requisitos de segurança, mudaram bastante desde
a última corrida de F-1 disputada nessa pista, há quase 25 anos atrás.
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