Ayrton Senna exibe a bandeira brasileira após vencer o Grande Prêmio da Austrália de 1993, 25 anos atrás. |
Hoje começam os
treinos oficiais para o Grande Prêmio do Brasil, penúltima etapa da temporada
2018 da Fórmula 1. De relevante, a luta pelo título de construtores da
temporada, entre Mercedes e Ferrari, com o time italiano 55 pontos atrás, com
86 ainda em jogo aqui e em Abu Dhabi. E, claro, quem vai ser o 3º colocado no
campeonato, num duelo com 50 pontos em jogo, e tendo como participantes
Valtteri Bottas, Kimi Raikkonen, e Max Verstappen. Raikkonen é o 3º no momento,
com 236 pontos, contra 227 de Bottas, e 214 de Max. Torcida por torcida, vou de
Kimi, até porque no ano que vem, na Sauber, duvido muito que ele tenha chance
de voltar a andar na frente como tem hoje em Maranello, por melhor que o time
suíço se apresente em 2019. E ele bem que merece, bela boa temporada que fez,
só não indo mais além por causa da política da Ferrari de privilegiar apenas um
piloto, e das baianadas que o time cometeu no ano. Na conta de Kimi, ele é o
menos culpado por não estar mais adiante na pontuação. Sem um carro de ponta, o
finlandês deve aproveitar para se divertir em seus dois últimos anos,
teoricamente até aqui, como piloto titular de um time de F-1. E, quando ele
sair, será o fim de uma era na categoria. Na prática, meio que já está sendo,
com sua saída de um time de ponta.
A F-1, em sua
história, sempre foi marcada por fases, ou “eras”, de acordo com os
acontecimentos e presenças na pista que se fizeram marcantes na categoria
máxima do automobilismo. E esta semana, foi recordado o fim de uma dessas eras:
a das vitórias de Ayrton Senna na F-1. Esta semana, no dia 7, há 25 anos atrás,
a F-1 assistiria, sem saber, ao último triunfo do piloto brasileiro, que
ignorava estar ali aproveitando seus últimos momentos de glória na categoria,
no encerramento da temporada de1993. Ninguém poderia imaginar, em sã
consciência, a mudança que veríamos no ano seguinte, mesmo que alguns já
imaginassem que nem tudo seriam flores como se imaginava. Mas, mesmo entre
entes, ninguém poderia supor quão dramáticas as coisas ficariam.
Em 1993, o panorama da
F-1 era bem distinto do atual. A Williams era a grande força, e não tinha
rivais à altura. Ayrton Senna, derrotado em 1992, chegou a ameaçar até
abandonar a categoria, se não tivesse um carro que lhe desse chance de lutar
pelo título contra o “carro de outro planeta” concebido pela Williams. Para
piorar, seu grande rival, Alain Prost, retornava à F-1 depois de um ano de
ausência pilotando justamente o carro almejado pelo brasileiro, que claro, foi
vetado no time pelo francês. Mas a McLaren conseguiu produzir um carro
razoavelmente competitivo, e Senna acabou ficando, e conseguindo dar um alento
a uma temporada onde se previa um domínio acachapante dos carros de Frank
Williams.
O último pódio de Ayrton, na companhia de Alain Prost, e Damon Hill, 2º e 3º colocados na prova australiana. |
Pilotando como nunca,
e aproveitando as circunstâncias que o beneficiaram na primeira metade do
campeonato, Ayrton Senna conseguiu equilibrar a disputa, e até colocar em risco
o favoritismo de Prost, com vitórias antológicas no Brasil, em Donington Park,
e mais uma vez, em Mônaco. Mas todos sabiam que era questão de tempo até a
Williams e Prost acertarem o passo, e retomarem o domínio, o que ocorreu a meio
do ano, quando a performance da McLaren caiu. O time de Woking só conseguiu
melhorar efetivamente no fim da temporada, mas já era tarde: Prost havia
conquistado o tetracampeonato na corrida de Portugal, e a Senna, só restava a
luta pelo vice-campeonato com Damon Hill, o companheiro de Prost na Williams. E
o brasileiro, de volta a um carro mais competitivo, conseguiu brilhar nas duas
etapas finais daquele ano, conquistando as vitórias no Japão, e na Austrália,
onde a temporada terminou.
A corrida aconteceu no
dia 7 de novembro, e era antológica por alguns motivos. Primeiro, era a
despedida de Senna da equipe McLaren. O brasileiro enfim, iria guiar pela
Williams em 1994, e Prost anunciou o abandono da carreira, obviamente por não
querer dividir os boxes novamente com Ayrton, e sem poder, desta vez, vetar sua
contratação. Tendo estreado em 1988 no time de Woking, a passagem de Ayrton
pela escuderia foi emblemática: em 96 Gps, foram 35 vitórias, 3 títulos
mundiais, e dois vice-campeonatos. Depois do show na pista de Suzuka, voltando
a vencer, o clima de despedida em Adelaide, apesar da luta pelo
vice-campeonato, era muito festivo. E Senna marcaria a pole em sua última prova
na McLaren, aumentando ainda mais o bom momento.
Senna largou na pole em Adelaide, e não deu chances aos rivais, vencendo em sua despedida da equipe McLaren, depois de seis temporadas. |
E, decidido a se
despedir por cima, Senna correu ao seu estilo: largou na frente e lá ficou
praticamente a prova toda, coroando sua passagem pela McLaren com vitória,
pole, e o vice-campeonato de 1993. Nas previsões para 1994, agora guiando
a”suprema” Williams, já se falava que Ayrton bateria todos os recordes da F-1,
inclusive o pentacampeonato de Juan Manuel Fangio. Já era o recordista de
poles. O recorde de vitórias de Prost estava ao alcance, nos dois anos
seguintes que pilotaria a Williams, o mesmo valendo para os títulos de Fangio.
Mas as novas regras que eliminaram o excesso de eletrônica dos carros acabou
mudando tudo, e de carro favorito, a Williams acabou perdendo seu favoritismo,
e sendo superada por um atrevido Michael Schumacher numa Benetton competitiva
como nunca com o alemão ao volante.
O que deveria ser um
sonho virou um pesadelo, e terminou da pior forma possível, com o acidente
sofrido por Senna na curva Tamburello no GP de San Marino. Ali, acabava a era
“Senna” na F-1. Mas, a rigor mesmo, ela terminou no ano anterior, com seu
triunfo na Austrália, na pista urbana de Adelaide, onde vimoso brasileiro na
forma que todos se acostumaram a vê-lo: lutando pela pole, liderando, e
vencendo. E sendo aplaudido por todos. Em 1994, as três corridas disputadas
pelo brasileiro foram praticamente uma negação, tendo de positivo apenas as
três poles marcadas. No Brasil, única prova que disputou praticamente, rodou na
tentativa de alcançar Schumacher na liderança; em Aida, abandonou logo na
largada; e em San Marino...
Senna sendo recebido pelos integrantes da McLaren nos boxes após a vitória. Fim de uma parceria vitoriosa nos anais da F-1. |
Foram 11 anos com
Senna na F-1. Tendo estreado em 1984, Ayrton mostrou suas credenciais desde
logo, mesmo em um carro limitado como o da Toleman. Em 1985, já na Lotus, um
time bem mais competitivo, ele marcou suas primeiras poles e vitórias. O time
fundado por Colin Chapman até tinha chance de vencer, dependendo do momento, e
do piloto certo ao volante. E Senna mostrava ser esse piloto, que continuaria
mostrando sua determinação, sua fibra, e todo o seu talento nos anos seguintes.
Em 1986 e 1987, ele pouco podia fazer contra a dominante Williams, mas em 1988,
ao ir para a McLaren, e ter finalmente um carro capaz de ser campeão, ele
literalmente explodiu na F-1, com um recorde de poles e vitórias numa mesma
temporada, sendo finalmente campeão.
Aliás, é bom que se
diga que, no último dia 30 de outubro, fez-se 30 anos de seu primeiro
campeonato, conquistado na pista de Suzuka, no Japão, com uma vitória. No ano
seguinte, Alain Prost detonaria uma guerra interna na McLaren, derrotando
Ayrton na luta pelo título, que culminou no acidente na mesma pista de Suzuka.
O troco veio no ano seguinte, com ambos em times diferentes, mas mantendo a
rivalidade. E, de novo, outro acidente, mais uma vez em Suzuka, mas desta vez
com o título indo para Senna, que conquistava o bicampeonato. E quis o destino
que, mais uma vez no circuito japonês da cidade vizinha a Nagoya, Ayrton fosse
novamente campeão, chegando ao tricampeonato. Já era uma unanimidade há tempos,
e apesar de algumas escaramuças e defeitos, havia se tornado um piloto também
cerebral, sem deixar de ser arrojado e veloz.
Com um carro menos
competitivo em 1992, Ayrton lutou como pôde, tendo seu pior ano no time de
Woking, sendo superado por uma Williams quase invencível, e até mesmo por
Michael Schumacher, novo talento emergente na F-1, na classificação. Estaria
ameaçando decair na categoria? A abandonaria de fato, como ameaçava, com o
estrelismo de ter um carro melhor? Não. Ele não apenas ficou, como em 1993,
guiava como ninguém. Todos se perguntavam até onde ele iria na categoria máxima
do automobilismo. A “Era Senna” tinha tudo para durar por muito mais tempo.
Mas, quis o destino que as coisas tomassem outro rumo. E, assim, aquele triunfo
no dia 7 de novembro, visto apenas como o fim de uma temporada onde a disputa
pelo título, apesar dos pesares, não foi tão monótona como se previa, era
também o fim da era do piloto brasileiro.
E parece que nem faz
tanto tempo assim. Mas, já são 25 anos. Praticamente um quarto de século. E a
memória de Senna continua viva como nunca, no bom e no mau sentido. Uma legião
de “viúvas” do piloto continua apegado a ele, com muitos argumentos, como “no
tempo do Senna é que a F-1 era boa”, etc. E nisso se inclui a TV Globo, que em
certos momentos, também parece não desgrudar de Senna. O bom sentido é quando
se lembra da memória do piloto sem pachequismos, e respeitando a história da
F-1, e a importância que o brasileiro teve em sua época. Afinal, outros países
perderam pilotos de quilate, e nunca perderam tanto tempo em lamentações com
isso. O fato de já ter se passado 25 anos mostra como o tempo passou. E como
foi tempo. Muitas vezes, não temos noção disso, até pensarmos no fato.
Realmente, é muito
tempo. Comecei a escrever como colunista justamente em 1993, e estou firme até
hoje, escrevendo. Nem eu mesmo pensei que duraria tanto. De lá para cá, já foi
uma infinidade de textos, nem todos publicados, claro, mas continuando a escrever
até hoje, 25 anos depois. Posso dizer que já passei também por uma grande fase
da minha vida, neste período de tempo. Espero ter outros tantos pela frente.
Com muita paz e saúde. E que possamos sempre curtir as memórias do tempo que se
passou.
Assim como a Era Senna
passou, há 25 anos, outras se iniciaram. E também passaram, ou estão prestes a
passar. E o tempo e a história seguem seu rumo. E hoje, aqui em Interlagos, a
história da F-1 continua a acelerar. O show, afinal, não pode parar...
Novo pentacampeão mundial da F-1,
Lewis Hamilton foi um dos pilotos mais requisitados nesta semana de Grande
Prêmio do Brasil. Em entrevista a Reginaldo Leme, Lewis negou perseguir os
recordes de Michael Schumacher, preferindo viver um dia depois do outro. Ele afirmou
que se focar demasiado na perseguição destes recordes pode desviá-lo do foco e
da concentração necessários para manter-se firme na competição, podendo leva-lo
a cometer erros. Não deixa de ser uma resposta coerente, mas que ninguém se
iluda: com a Mercedes mantendo seu atual nível de competitividade, se não
houver surpresas nos próximos dois anos, a chance de Hamilton ao menos igualar
o heptacampeonato do alemão e alcançar, e até superar seu número de vitórias, é
mais do que possível. E ele vai sim em busca destes recordes. Só não precisa
ficar obcecado com isso. Ele sabe melhor do que ninguém que tem os meios para
conseguir isso. Só precisa manter-se concentrado, e corrida a corrida, dar o
seu melhor. Os resultados virão naturalmente. E desse já, todo mundo já fica na
expectativa disso. Afinal, são 20 vitórias ainda para alcançar as 91 de
Michael. E ainda temos duas corridas para fechar este campeonato. E Hamilton
diz que não é porque já fechou a conquista do título que vai deixar de correr
para vencer estas últimas provas. Hamilton venceu aqui em 2016, depois de
perder em 2014 e 2015 para Nico Rosberg, e no ano passado para Sebastian
Vettel. Podemos esperar um Lewis Hamilton determinado a vencer, mais uma vez. E
não podemos esquecer da disputa do título de construtores, que a Mercedes quer
definir o quanto antes, e não deixar nada pendente para Yas Marina, em Abu
Dhabi...
E teremos novamente um piloto
brasileiro na F-1 em 2019, ao menos como piloto de desenvolvimento. Sérgio
Sette Câmara foi anunciado oficialmente pela equipe McLaren para exercer a
função de piloto de desenvolvimento, o que significa que Sérgio atuará
principalmente nos simuladores do time, em Woking, ajudando a desenvolver o
carro da escuderia. Por ainda não possuir a superlicença, Câmara não poderia
participar de um GP como piloto reserva, no caso de um imprevisto com um dos
titulares, e nem mesmo dos treinos oficiais. A meta principal é competir mais
um ano na F-2, e chegar ao título, mas ainda estão sendo feitas negociações
visando ao time para o próximo ano. Câmara é companheiro de equipe de Lando
Norris na F-2 nesta temporada, e embora esteja fora da luta pelo título, e sem
vencer no ano, sua performance na pista em comparação com o britânico, e o fato
de ambos se darem bem ajudou dar a boa visualizada do piloto no time de Woking.
Gil de Ferran, um dos diretores da escuderia, afirma que a McLaren procura
sempre os melhores para trabalhar, e que seu compatriota tem tudo para agregar
recursos positivos à escuderia. Mas, para realmente se tornar um titular, ainda
tem um bom chão pela frente. Pelo menos, Sérgio parece bem consciente do
desafio que ainda tem até poder finalmente alinhar no grid da categoria máxima
do automobilismo. Vamos esperar também que a McLaren também volte a crescer nos
resultados, de modo a dar a Sérgio possibilidades de fazer o seu nome. O perigo
a ser evitado é o que ocorreu com Stoffel Vandoorne, que de grande promessa,
acabou dispensado no time, migrando para a F-E, onde competirá na próxima
temporada do certame de carros elétricos.
Um dos problemas que tira o sono
dos integrantes do circo da F-1 é a violência e falta de segurança aqui no
Brasil. E não é pessimismo não: no ano passado, integrantes da Mercedes,
Sauber, e Pirelli, sofreram assaltos à mão armada nas proximidades do
autódromo, apesar dos esquemas de segurança montados para tentar garantir a
presença de todos. Pelo sim, pelo não, os times procuram se resguardar. A Force
India, por exemplo, combinou de seus integrantes virem vestidos em roupas
comuns, sem chamar nenhuma atenção, para evitar de serem reconhecidos como
pessoal da F-1. Os bandidos, sabendo quem são os estrangeiros, acabam
visando-os, pela falta de intimidade com o local, e as dificuldades de idioma.
E não é bom dar chance para a bandidagem, um problema que, lamentavelmente, só
compromete a imagem de nosso país lá fora, e sem desculpas válidas para
desmentir isso. Não é uma situação nova, mas nos últimos tempos, tudo ficou
mais perigoso, com os bandidos sendo cada vez mais violentos na abordagem ao
pessoal, reagindo estes ou não. Lembro-me que também existia esse problema
quando a corrida era disputada no Rio de Janeiro, e era uma preocupação já
naquela época. Que dirá então de agora?
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