sexta-feira, 2 de novembro de 2018

HAMILTON PENTACAMPEÃO

Lewis Hamilton comemora a conquista do pentacampeonato na frente da torcida mexicana após terminar o GP do México em 4º lugar.

            Tudo poderia ter acabado no Circuito das Américas, em Austin, palco do Grande Prêmio dos Estados Unidos, mas por um triz, a definição acabou sendo estendida para a corrida seguinte, no Grande Prêmio do México, onde Lewis Hamilton só precisaria de um 7º lugar para liquidar de vez a fatura e conquistar o título da temporada. Bico. Só um abandono, ou um azar daqueles, para o inglês da Mercedes ficar abaixo dessa posição na bandeirada de chegada. Para Sebastian Vettel, só a vitória interessaria, e mesmo assim, precisaria praticamente que Lewis ficasse de oitavo para trás. Poderia acontecer, mas seria extremamente difícil. Mais ou menos como ocorreu na mesma pista, no ano passado, onde a decisão do título, também em favor de Hamilton, foi mais complicada do que a esperada, mas não tanto. Este ano, as coisas ocorreram com menos sobressaltos.
            O que não quer dizer que tenha sido também uma corrida fácil. Os pneus estavam esfarelando nos carros prateados, e sem ter compostos suficientes do tipo certo, chegar ao final se tornou um pouco complicado. Mas nem tanto quanto se poderia imaginar. Hamilton até começou bem a corrida, mas depois, com os pneus deteriorando-se, ele teve que reduzir o ritmo para apenas chegar até o fim. Foi o 4º colocado, e venceu o campeonato. Teve o abandono de Daniel Ricciardo, e ele certamente terminaria em 5º, mas mesmo que fosse superado até pelo companheiro Valtteri Bottas, o 6º lugar também serviria para liquidar a disputa. Mas o finlandês da Mercedes teve uma performance até mais comprometida do que a do inglês, pelo mesmo motivo: comprometimento dos pneus. A Mercedes saiu do México contente pela conquista do título, mas preocupada com o desempenho claudicante dos pneus.
            Não fosse a disparidade de performance entre Mercedes, Ferrari e Red Bull, para o restante do grid, a preocupação de Hamilton apenas chegar ao final poderia ser bem mais justificada. Mas Nico Hulkenberg, da Renault, o 7º colocado, recebeu a bandeirada com 2 voltas de atraso em relação a Max Verstappen, o vencedor. Isso mostra o fosso que se abriu entre os 3 principais times e os demais, que viraram praticamente uma F-1 B no campeonato, pouco podendo fazer para dar um alento de competição, a não ser entre eles mesmos. Porque na frente, Mercedes e Ferrari dispararam, e se a Red Bull não tivesse tantos problemas de confiabilidade, também poderia ter dificultado mais para as duas primeiras, pelo menos um pouco mais.
Sebastian Vettel cumprimenta Hamilton pela conquista do título. Venceu o melhor piloto, afinal. O que não tornou a derrota menos dolorosa para o piloto alemão.
            Aliás, o campeonato de 2018 foi bem disputado na sua primeira metade. A Mercedes foi competitiva desde o início, mas a vantagem avassaladora que vinha demonstrando desde 2014 havia se esvaído nesta nova temporada, onde viu a Ferrari estar à altura em performance, se não até melhor. E, por alguns percalços e acontecimentos inusitados, foi o time de Maranello quem se mostrou mais capaz nas primeiras corridas, frente a uma Mercedes que era competitiva, mas que precisava que tudo se encaixasse para conseguir executar suas estratégias. Com três corridas, tínhamos 2 vitórias da Ferrari e uma da Red Bull. Será que finalmente a “Era Mercedes” iria acabar na nova F-1 híbrida? Mesmo quando finalmente o time prateado cravou sua primeira vitória no ano, em Baku, no Azerbaijão, foi mais na sorte propriamente do que na performance objetiva. E o triunfo ainda caiu no colo de Lewis Hamilton, quando Bottas teve um pneu furado nos momentos finais e viu seus sonhos de vitória se esfarelarem junto com o pneu.
            Hamilton venceria em Barcelona, mas em Mônaco e no Canadá, foi a vez da concorrência se dar melhor. No retorno da F-1 à Europa, Lewis venceria no retorno do GP da França ao calendário, mas a disputa estava parelha: Lewis tinha 3 vitórias, e Sebastian Vettel também. Correndo por fora, Daniel Ricciardo tinha 2 triunfos, mas todo mundo sabia que o grosso da disputa era, mais uma vez, Hamilton X Vettel. Lewis tinha 120 pontos, contra 121 de Vettel. Ricciardo tinha 84 pontos, Bottas 86, e Raikkonen 68 pontos apenas. A Mercedes, apesar das vitórias, não estava conseguindo assumir o favoritismo, enquanto a Ferrari, mais forte do que em 2017, prometia mesmo lutar com afinco até o final. Tanto mais que, na Áustria, vimos os dois carros da Mercedes ficarem pelo caminho, enquanto a dupla ferrarista subia ao pódio, e Vettel começava a assumir ares de favorito destacado na luta pelo título. Um favoritismo que cresceu na etapa seguinte, em Silverstone, onde o alemão bateu Hamilton para arrancar uma vitória desafiadora na casa do rival, que acabou em 2º lugar. Problemas de Hamilton à parte, o desempenho dos carros vermelhos era motivo de preocupação real para o time da Mercedes, que poderia mesmo ser batido na luta tanto do título de pilotos quanto de construtores.
            O desempenho do SF71-H era de fato superior ao W09. E essa performance pode ser comprovada nas etapas da Alemanha, Hungria, Bélgica, e Itália. Só que, ao mesmo tempo, as coisas começaram a dar errado para Vettel e a Ferrari. Sebastian já tinha cometido dois erros cruciais no ano até ali: a investida contra Bottas em Baku, que deu errado, e fez o piloto da Ferrari perder as chances de vitória para ser apenas 4º colocado; e em Paul Ricard, onde uma colisão com o mesmo Bottas logo na largada arruinou as chances de Vettel vencer a corrida, jogando-o para o fim do grid, de onde fez uma prova de recuperação para terminar em 5º. Duas corridas que tiveram vitória de Hamilton. Mas, a partir da Alemanha, os erros se avolumaram de forma contundente, tanto por parte do próprio Vettel, quanto pelo lado da Ferrari.
            O piloto alemão, que vangloriou sua conquista em Silverstone, na “casa” de Hamilton, levou o troco em sua “casa”, na Alemanha, de forma muito pior: acabou abandonando por culpa própria, no piso molhado pela chuva, e ainda viu Lewis, que largara em 14º, vencer a corrida. Ninguém podia acreditar, muito menos os torcedores alemães. Vettel sentiu o golpe, e na Hungria, numa classificação sob chuva, acabou deixando-se superar por Hamilton, que abocanhou a pole, e sairia na frente em uma pista de difícil ultrapassagem. E não deu outra: o inglês venceu, e Vettel foi o 2º, em nova derrota. O alemão foi à forra em Spa-Francorchamps, mas foi seu último momento de glória na luta pelo título. Tudo desabaria dali em diante.
            Na Itália, a dividida com Hamilton logo na primeira volta, em uma manobra desnecessária, o fez rodar e perder qualquer chance de vencer. Em Singapura, Hamilton não só conseguiu largar na frente e vencer, mostrando uma Mercedes que havia conseguido se tornar mais competitiva, como Vettel não conseguiu fazer oposição ao rival, e ainda sendo superado por Max Verstappen na prova. Nova decepção na Rússia, com a Mercedes a mostrar força novamente, e deixar a Ferrari e Vettel novamente batidos, tanto em classificação quanto em corrida. E a vantagem de Hamilton na pontuação crescendo a olhos vistos. O que havia sido até algumas corridas uma disputa acirrada pelo título, descambou violentamente para o lado de Lewis, que nadava de braçada numa arrancada fulminante rumo ao título.
            No Japão, novo triunfo do inglês, enquanto Vettel mais uma vez viu sua corrida prejudicada por si próprio, ao tentar ultrapassar Max Verstappen em posição discutível na curva Spon, com o holandês não dando mole, e fazendo o ferrarista rodar e cair lá para trás na prova, numa repetição do que acontecera em Monza. E, nos Estados Unidos, Vettel ainda repetiu a dose, desta vez numa dividida de pista com Daniel Riciardo, entregando uma vitória que poderia ser certa, já que Kimi Raikkonen venceu. Era praticamente o canto do cisne de Sebastian na luta pelo título, que acabou encerrada matematicamente domingo passado no autódromo Hermanos Rodriguez, onde não apenas o 4º lugar de Hamilton fechou a conta, mas também o fato de Vettel não vencer a corrida, para tentar ainda manter-se na luta.
            Lewis Hamilton agora é o terceiro piloto na história da Fórmula 1 a conquistar cinco títulos. O primeiro foi Juan Manuel Fangio, que até a conquista de Michael Schumacher de seu quinto título, em 2002, foi o maior piloto da história da categoria máxima do automobilismo. Schumacher iria além, conquistando mais dois títulos, em 2003 e 2004, tornando-se heptacampeão, e passando a ser o piloto mais vitorioso e campeão de todos os tempos. E agora, Hamilton escreve seus anais na história do esporte a motor, deixando Sebastian Vettel, com quem estava empatado em número de títulos, assim como Alain Prost, para ser assumidamente o 2º colocado no ranking, já que o inglês ainda está em atividade, e com dois anos de contrato com a Mercedes, que tem tudo para se manter competitiva e dominante na categoria até o fim de2020, pode até mesmo alcançar, e quem sabe, ultrapassar as marcas de Michael Schumacher.
            Hamilton chega ao seu 5º título em sua 12º temporada completa na categoria, e 11 anos após o primeiro título, obtido em 2008. Tendo o privilégio de estrear em um time de ponta, o então novato de 22 anos não se notabilizava apenas pelo talento demonstrado em categorias de acesso, mas também por ser o primeiro piloto negro da história da F-1, uma categoria que, desde seus primórdios, sempre foi elitista em sua maioria de competidores participantes. E ele chegou chegando, batendo de frente com ninguém menos que Fernando Alonso, bicampeão mundial, e que tinha “aposentado” Michael Schumacher derrotando o alemão nos dois anos anteriores. Hamilton conseguiu desestabilizar Alonso, e foi o grande favorito para vencer o mundial já em sua primeira temporada, mas acabou sucumbindo nas duas corridas finais, terminando o ano como vice-campeão, feito nada desprezível. Ele mostrava que não seria apenas mais um piloto na F-1.
            No ano seguinte, numa disputa acirradíssima com Felipe Massa, Lewis faturou o seu primeiro título. E, com a ascenção da Red Bull, e uma certa estagnação da McLaren, ainda continuou a vencer corridas e a mostrar do que era capaz, embora tenha ficado sem conseguir disputar novos títulos até 2013, quando mudou-se para a Mercedes, numa atitude surpreendente para muitos. Até ali, Hamilton era um piloto que parecia não ter o devido foco na F-1, perdendo tempo com muitos outros assuntos quando não estava competindo nos GPs. E isso de fato atrapalhou sua performance em muitos momentos, fora os acidentes que acabou colecionando em várias disputas, com vários pilotos. Arrumou algumas confusões desnecessárias, e precisou até ser chamado à atenção na McLaren, por algumas estripulias e erros banais cometidos. Ao trocar Woking por Brackley, Hamilton queria ser independente, deixando até mesmo de ser empresariado por seu pai. Ele queria ser dono de si mesmo. E provar que poderia crescer ainda mais como piloto.
Hamilton vencia, mas também cometia várias barbeiragens, causando abandonos que poderia evitar. Mudança para a Mercedes (abaixo), marcou uma nova fase na carreira do piloto, que passou a se aprimorar mais, especialmente após perder o duelo com Nico Rosberg em 2016.
            E ele conseguiu. A duras penas, mas conseguiu. Em 2014 e 2015, após duelos ferrenhos com Nico Rosberg, ele faturou os títulos de ambas as temporadas, chegando ao tricampeonato, e igualando-se a seu ídolo, o brasileiro Ayrton Senna, de quem nunca escondeu ser um grande fã. E a cada temporada, foi aprimorando-se, em que pese ainda ter um ou outro estrelismo na disputa com Rosberg. E a perda do título para o parceiro de time em 2016, em um ano onde Nico conseguiu ser mais eficiente do que o inglês, foi o momento decisivo para Lewis crescer definitivamente como piloto, passando a aprender mais com seus erros, e a manter-se bem mais focado como piloto.
            E vimos isso no ano passado, com Hamilton tendo uma disputa dura, agora com Sebastian Vettel, mas sabendo enxergar as corridas como parte de algo maior, o campeonato, e saber combinar seu arrojo e agressividade com estratégia e paciência. Características que ele demonstrou com ainda mais maestria neste ano, onde a competição ficou ainda mais parelha, mas ele, depois de um início de temporada até um pouco apagado, não deixou de aproveitar quaisquer oportunidades que surgiram, e atacou no momento certo para desestabilizar os rivais. Não perdeu a calma, nem a cabeça em nenhum momento, mesmo quando os resultados obtidos não foram os esperados, e junto com seu time, cumpriu com o que dele se esperava na pista. Soube manter a constância, e a paciência para evitar se envolver em confusões, algo que ocorria até com frequência anos antes, e que certamente o fizeram desperdiçar muitos resultados bons em potencial.
            O único ponto negativo da temporada vai para a Mercedes, que acabou rebaixando Valtteri Bottas à condição de segundo piloto quase escancarado, revelando fraqueza na sua luta contra a Ferrari. Em várias corridas Bottas teve que ser deixado de lado, ou obrigado a dar passagem para maximizar os resultados a favor de Lewis, algo que ele certamente não precisava, e uma mácula na carreira que não precisaria carregar, como o jogo de equipe escancarado em Socchi.
            Hamilton largou 9 vezes na pole este ano, e venceu outras 9 provas. Pilotou praticamente sem cometer erros, ao contrário de Vettel, que acabou se enrolando sozinho nos momentos cruciais. Pior, a Ferrari perdeu o melhor momento na temporada onde seu carro possuía o melhor desempenho, pelos erros de seu piloto, e de estratégia, não conseguindo driblar as adversidades surgidas pelos acontecimentos que surgiram. Confiou que a Mercedes, pressionada como nunca havia sido até então na era híbrida, sucumbiria e passaria a errar, mas foi ela, a própria Ferrari, quem acabou sentindo a pressão e errando, quando não conseguiu transformar o seu favoritismo nos resultados que esperava. E nesse meio tempo, viu a Mercedes recuperar a competitividade de seu carro, enquanto apostou em algumas melhorias que não deram certo, em meio à pressão para reagir na competição. Curiosamente, bastou o time retirar as atualizações promovidas desde Singapura para melhorar seu desempenho, mostrando que acabou errando nas atualizações das últimas corridas. Tarde demais para conquistar o título de pilotos, que fica mais um ano na fila. Mas que ainda mantém a esperança no título de construtores, mesmo que ainda seja difícil.
            Lewis teve um grande ano. Se seu principal rival não conseguiu se mostrar à altura, não foi culpa dele. E pelo menos, Vettel mostrou grandeza ao cumprimenta-lo pela conquista do título domingo passado. Mostra esportividade, e reconhecimento de que não fez o suficiente para ser campeão. Teremos um novo round no ano que vem. Hamilton está no seu auge, e Vettel, uma nova e talvez derradeira chance de mostrar que pode superar o inglês. Vai conseguir? Falta combinar com Lewis, obviamente, que certamente não vai dar mole, como aliás, nunca deu, na maior parte de sua carreira. Seu pentacampeonato é mais do que justo. Parabéns, Lewis Hamilton! E que venha o sexto título agora em 2019...


Lewis Carl Davidson Hamilton nasceu em 7 de janeiro de 1985, em Stevenage, Hertfordshire, Inglaterra. Estreou na F-1 em 2007, pela equipe McLaren, e de lá para cá disputou, até o domingo passado, no GP do México, 227 corridas, onde marcou 81 pole-positions, e 71 vitórias. Já subiu 132 vezes ao pódio. Marcou 41 vezes a melhor volta em corrida. Liderou 3.904 voltas até hoje. Recordista absoluto de pole-positions, atualmente com 81, Hamilton também detém o recorde de maior número de corridas vencidas largando em primeiro: 45. Michael Schumacher vem em 2º, com 40 provas. O piloto alemão também é o 2º no ranking de poles, com 68. Em número de vitórias, Schumacher ainda é o líder, com 91 triunfos, 20 a mais do que Hamilton, com 71. Lewis ainda tem o recorde de GPs consecutivos terminados na zona de pontuação: 33 provas, do GP do Japão de 2016, até o GP da França de 2018. O recorde anterior era de 27 corridas, de Kimi Raikkonen, da prova do Bahrein de 2012 até a etapa da Hungria de 2013.
Hamilton chegou chegando naF-1, a ponto de tirar seu parceiro de time, Fernando Alonso, do sério em várias corridas, onde ambos passaram a disputar freadas e vitórias (abaixo).

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