Lewis Hamilton comemora a conquista do pentacampeonato na frente da torcida mexicana após terminar o GP do México em 4º lugar. |
Tudo poderia ter
acabado no Circuito das Américas, em Austin, palco do Grande Prêmio dos Estados
Unidos, mas por um triz, a definição acabou sendo estendida para a corrida
seguinte, no Grande Prêmio do México, onde Lewis Hamilton só precisaria de um
7º lugar para liquidar de vez a fatura e conquistar o título da temporada.
Bico. Só um abandono, ou um azar daqueles, para o inglês da Mercedes ficar
abaixo dessa posição na bandeirada de chegada. Para Sebastian Vettel, só a
vitória interessaria, e mesmo assim, precisaria praticamente que Lewis ficasse
de oitavo para trás. Poderia acontecer, mas seria extremamente difícil. Mais ou
menos como ocorreu na mesma pista, no ano passado, onde a decisão do título, também
em favor de Hamilton, foi mais complicada do que a esperada, mas não tanto.
Este ano, as coisas ocorreram com menos sobressaltos.
O que não quer dizer
que tenha sido também uma corrida fácil. Os pneus estavam esfarelando nos
carros prateados, e sem ter compostos suficientes do tipo certo, chegar ao
final se tornou um pouco complicado. Mas nem tanto quanto se poderia imaginar.
Hamilton até começou bem a corrida, mas depois, com os pneus deteriorando-se,
ele teve que reduzir o ritmo para apenas chegar até o fim. Foi o 4º colocado, e
venceu o campeonato. Teve o abandono de Daniel Ricciardo, e ele certamente
terminaria em 5º, mas mesmo que fosse superado até pelo companheiro Valtteri
Bottas, o 6º lugar também serviria para liquidar a disputa. Mas o finlandês da
Mercedes teve uma performance até mais comprometida do que a do inglês, pelo
mesmo motivo: comprometimento dos pneus. A Mercedes saiu do México contente
pela conquista do título, mas preocupada com o desempenho claudicante dos
pneus.
Não fosse a disparidade
de performance entre Mercedes, Ferrari e Red Bull, para o restante do grid, a
preocupação de Hamilton apenas chegar ao final poderia ser bem mais
justificada. Mas Nico Hulkenberg, da Renault, o 7º colocado, recebeu a
bandeirada com 2 voltas de atraso em relação a Max Verstappen, o vencedor. Isso
mostra o fosso que se abriu entre os 3 principais times e os demais, que
viraram praticamente uma F-1 B no campeonato, pouco podendo fazer para dar um
alento de competição, a não ser entre eles mesmos. Porque na frente, Mercedes e
Ferrari dispararam, e se a Red Bull não tivesse tantos problemas de
confiabilidade, também poderia ter dificultado mais para as duas primeiras,
pelo menos um pouco mais.
Sebastian Vettel cumprimenta Hamilton pela conquista do título. Venceu o melhor piloto, afinal. O que não tornou a derrota menos dolorosa para o piloto alemão. |
Aliás, o campeonato de
2018 foi bem disputado na sua primeira metade. A Mercedes foi competitiva desde
o início, mas a vantagem avassaladora que vinha demonstrando desde 2014 havia
se esvaído nesta nova temporada, onde viu a Ferrari estar à altura em
performance, se não até melhor. E, por alguns percalços e acontecimentos
inusitados, foi o time de Maranello quem se mostrou mais capaz nas primeiras
corridas, frente a uma Mercedes que era competitiva, mas que precisava que tudo
se encaixasse para conseguir executar suas estratégias. Com três corridas,
tínhamos 2 vitórias da Ferrari e uma da Red Bull. Será que finalmente a “Era
Mercedes” iria acabar na nova F-1 híbrida? Mesmo quando finalmente o time
prateado cravou sua primeira vitória no ano, em Baku, no Azerbaijão, foi mais
na sorte propriamente do que na performance objetiva. E o triunfo ainda caiu no
colo de Lewis Hamilton, quando Bottas teve um pneu furado nos momentos finais e
viu seus sonhos de vitória se esfarelarem junto com o pneu.
Hamilton venceria em
Barcelona, mas em Mônaco e no Canadá, foi a vez da concorrência se dar melhor.
No retorno da F-1 à Europa, Lewis venceria no retorno do GP da França ao
calendário, mas a disputa estava parelha: Lewis tinha 3 vitórias, e Sebastian
Vettel também. Correndo por fora, Daniel Ricciardo tinha 2 triunfos, mas todo
mundo sabia que o grosso da disputa era, mais uma vez, Hamilton X Vettel. Lewis
tinha 120 pontos, contra 121 de Vettel. Ricciardo tinha 84 pontos, Bottas 86, e
Raikkonen 68 pontos apenas. A Mercedes, apesar das vitórias, não estava
conseguindo assumir o favoritismo, enquanto a Ferrari, mais forte do que em
2017, prometia mesmo lutar com afinco até o final. Tanto mais que, na Áustria,
vimos os dois carros da Mercedes ficarem pelo caminho, enquanto a dupla
ferrarista subia ao pódio, e Vettel começava a assumir ares de favorito
destacado na luta pelo título. Um favoritismo que cresceu na etapa seguinte, em
Silverstone, onde o alemão bateu Hamilton para arrancar uma vitória desafiadora
na casa do rival, que acabou em 2º lugar. Problemas de Hamilton à parte, o
desempenho dos carros vermelhos era motivo de preocupação real para o time da
Mercedes, que poderia mesmo ser batido na luta tanto do título de pilotos
quanto de construtores.
O desempenho do SF71-H
era de fato superior ao W09. E essa performance pode ser comprovada nas etapas
da Alemanha, Hungria, Bélgica, e Itália. Só que, ao mesmo tempo, as coisas
começaram a dar errado para Vettel e a Ferrari. Sebastian já tinha cometido
dois erros cruciais no ano até ali: a investida contra Bottas em Baku, que deu
errado, e fez o piloto da Ferrari perder as chances de vitória para ser apenas
4º colocado; e em Paul Ricard, onde uma colisão com o mesmo Bottas logo na
largada arruinou as chances de Vettel vencer a corrida, jogando-o para o fim do
grid, de onde fez uma prova de recuperação para terminar em 5º. Duas corridas
que tiveram vitória de Hamilton. Mas, a partir da Alemanha, os erros se
avolumaram de forma contundente, tanto por parte do próprio Vettel, quanto pelo
lado da Ferrari.
O piloto alemão, que
vangloriou sua conquista em Silverstone, na “casa” de Hamilton, levou o troco
em sua “casa”, na Alemanha, de forma muito pior: acabou abandonando por culpa
própria, no piso molhado pela chuva, e ainda viu Lewis, que largara em 14º,
vencer a corrida. Ninguém podia acreditar, muito menos os torcedores alemães.
Vettel sentiu o golpe, e na Hungria, numa classificação sob chuva, acabou
deixando-se superar por Hamilton, que abocanhou a pole, e sairia na frente em
uma pista de difícil ultrapassagem. E não deu outra: o inglês venceu, e Vettel
foi o 2º, em nova derrota. O alemão foi à forra em Spa-Francorchamps, mas foi
seu último momento de glória na luta pelo título. Tudo desabaria dali em
diante.
Na Itália, a dividida
com Hamilton logo na primeira volta, em uma manobra desnecessária, o fez rodar
e perder qualquer chance de vencer. Em Singapura, Hamilton não só conseguiu
largar na frente e vencer, mostrando uma Mercedes que havia conseguido se
tornar mais competitiva, como Vettel não conseguiu fazer oposição ao rival, e
ainda sendo superado por Max Verstappen na prova. Nova decepção na Rússia, com
a Mercedes a mostrar força novamente, e deixar a Ferrari e Vettel novamente
batidos, tanto em classificação quanto em corrida. E a vantagem de Hamilton na
pontuação crescendo a olhos vistos. O que havia sido até algumas corridas uma
disputa acirrada pelo título, descambou violentamente para o lado de Lewis, que
nadava de braçada numa arrancada fulminante rumo ao título.
No Japão, novo triunfo
do inglês, enquanto Vettel mais uma vez viu sua corrida prejudicada por si
próprio, ao tentar ultrapassar Max Verstappen em posição discutível na curva
Spon, com o holandês não dando mole, e fazendo o ferrarista rodar e cair lá
para trás na prova, numa repetição do que acontecera em Monza. E, nos Estados Unidos,
Vettel ainda repetiu a dose, desta vez numa dividida de pista com Daniel
Riciardo, entregando uma vitória que poderia ser certa, já que Kimi Raikkonen
venceu. Era praticamente o canto do cisne de Sebastian na luta pelo título, que
acabou encerrada matematicamente domingo passado no autódromo Hermanos
Rodriguez, onde não apenas o 4º lugar de Hamilton fechou a conta, mas também o
fato de Vettel não vencer a corrida, para tentar ainda manter-se na luta.
Lewis Hamilton agora é
o terceiro piloto na história da Fórmula 1 a conquistar cinco títulos. O
primeiro foi Juan Manuel Fangio, que até a conquista de Michael Schumacher de
seu quinto título, em 2002, foi o maior piloto da história da categoria máxima
do automobilismo. Schumacher iria além, conquistando mais dois títulos, em 2003
e 2004, tornando-se heptacampeão, e passando a ser o piloto mais vitorioso e
campeão de todos os tempos. E agora, Hamilton escreve seus anais na história do
esporte a motor, deixando Sebastian Vettel, com quem estava empatado em número
de títulos, assim como Alain Prost, para ser assumidamente o 2º colocado no
ranking, já que o inglês ainda está em atividade, e com dois anos de contrato
com a Mercedes, que tem tudo para se manter competitiva e dominante na
categoria até o fim de2020, pode até mesmo alcançar, e quem sabe, ultrapassar
as marcas de Michael Schumacher.
Hamilton chega ao seu
5º título em sua 12º temporada completa na categoria, e 11 anos após o primeiro
título, obtido em 2008. Tendo o privilégio de estrear em um time de ponta, o
então novato de 22 anos não se notabilizava apenas pelo talento demonstrado em
categorias de acesso, mas também por ser o primeiro piloto negro da história da
F-1, uma categoria que, desde seus primórdios, sempre foi elitista em sua
maioria de competidores participantes. E ele chegou chegando, batendo de frente
com ninguém menos que Fernando Alonso, bicampeão mundial, e que tinha
“aposentado” Michael Schumacher derrotando o alemão nos dois anos anteriores.
Hamilton conseguiu desestabilizar Alonso, e foi o grande favorito para vencer o
mundial já em sua primeira temporada, mas acabou sucumbindo nas duas corridas
finais, terminando o ano como vice-campeão, feito nada desprezível. Ele
mostrava que não seria apenas mais um piloto na F-1.
No ano seguinte, numa
disputa acirradíssima com Felipe Massa, Lewis faturou o seu primeiro título. E,
com a ascenção da Red Bull, e uma certa estagnação da McLaren, ainda continuou
a vencer corridas e a mostrar do que era capaz, embora tenha ficado sem
conseguir disputar novos títulos até 2013, quando mudou-se para a Mercedes,
numa atitude surpreendente para muitos. Até ali, Hamilton era um piloto que
parecia não ter o devido foco na F-1, perdendo tempo com muitos outros assuntos
quando não estava competindo nos GPs. E isso de fato atrapalhou sua performance
em muitos momentos, fora os acidentes que acabou colecionando em várias
disputas, com vários pilotos. Arrumou algumas confusões desnecessárias, e
precisou até ser chamado à atenção na McLaren, por algumas estripulias e erros
banais cometidos. Ao trocar Woking por Brackley, Hamilton queria ser
independente, deixando até mesmo de ser empresariado por seu pai. Ele queria
ser dono de si mesmo. E provar que poderia crescer ainda mais como piloto.
E ele conseguiu. A
duras penas, mas conseguiu. Em 2014 e 2015, após duelos ferrenhos com Nico
Rosberg, ele faturou os títulos de ambas as temporadas, chegando ao
tricampeonato, e igualando-se a seu ídolo, o brasileiro Ayrton Senna, de quem
nunca escondeu ser um grande fã. E a cada temporada, foi aprimorando-se, em que
pese ainda ter um ou outro estrelismo na disputa com Rosberg. E a perda do
título para o parceiro de time em 2016, em um ano onde Nico conseguiu ser mais
eficiente do que o inglês, foi o momento decisivo para Lewis crescer
definitivamente como piloto, passando a aprender mais com seus erros, e a
manter-se bem mais focado como piloto.
E vimos isso no ano
passado, com Hamilton tendo uma disputa dura, agora com Sebastian Vettel, mas
sabendo enxergar as corridas como parte de algo maior, o campeonato, e saber
combinar seu arrojo e agressividade com estratégia e paciência. Características
que ele demonstrou com ainda mais maestria neste ano, onde a competição ficou
ainda mais parelha, mas ele, depois de um início de temporada até um pouco
apagado, não deixou de aproveitar quaisquer oportunidades que surgiram, e
atacou no momento certo para desestabilizar os rivais. Não perdeu a calma, nem
a cabeça em nenhum momento, mesmo quando os resultados obtidos não foram os
esperados, e junto com seu time, cumpriu com o que dele se esperava na pista.
Soube manter a constância, e a paciência para evitar se envolver em confusões,
algo que ocorria até com frequência anos antes, e que certamente o fizeram
desperdiçar muitos resultados bons em potencial.
O único ponto negativo
da temporada vai para a Mercedes, que acabou rebaixando Valtteri Bottas à
condição de segundo piloto quase escancarado, revelando fraqueza na sua luta
contra a Ferrari. Em várias corridas Bottas teve que ser deixado de lado, ou
obrigado a dar passagem para maximizar os resultados a favor de Lewis, algo que
ele certamente não precisava, e uma mácula na carreira que não precisaria
carregar, como o jogo de equipe escancarado em Socchi.
Hamilton largou 9
vezes na pole este ano, e venceu outras 9 provas. Pilotou praticamente sem
cometer erros, ao contrário de Vettel, que acabou se enrolando sozinho nos
momentos cruciais. Pior, a Ferrari perdeu o melhor momento na temporada onde
seu carro possuía o melhor desempenho, pelos erros de seu piloto, e de
estratégia, não conseguindo driblar as adversidades surgidas pelos
acontecimentos que surgiram. Confiou que a Mercedes, pressionada como nunca
havia sido até então na era híbrida, sucumbiria e passaria a errar, mas foi
ela, a própria Ferrari, quem acabou sentindo a pressão e errando, quando não
conseguiu transformar o seu favoritismo nos resultados que esperava. E nesse
meio tempo, viu a Mercedes recuperar a competitividade de seu carro, enquanto
apostou em algumas melhorias que não deram certo, em meio à pressão para reagir
na competição. Curiosamente, bastou o time retirar as atualizações promovidas
desde Singapura para melhorar seu desempenho, mostrando que acabou errando nas
atualizações das últimas corridas. Tarde demais para conquistar o título de
pilotos, que fica mais um ano na fila. Mas que ainda mantém a esperança no
título de construtores, mesmo que ainda seja difícil.
Lewis teve um grande
ano. Se seu principal rival não conseguiu se mostrar à altura, não foi culpa
dele. E pelo menos, Vettel mostrou grandeza ao cumprimenta-lo pela conquista do
título domingo passado. Mostra esportividade, e reconhecimento de que não fez o
suficiente para ser campeão. Teremos um novo round no ano que vem. Hamilton
está no seu auge, e Vettel, uma nova e talvez derradeira chance de mostrar que
pode superar o inglês. Vai conseguir? Falta combinar com Lewis, obviamente, que
certamente não vai dar mole, como aliás, nunca deu, na maior parte de sua
carreira. Seu pentacampeonato é mais do que justo. Parabéns, Lewis Hamilton! E
que venha o sexto título agora em 2019...
Lewis Carl Davidson Hamilton
nasceu em 7 de janeiro de 1985, em Stevenage, Hertfordshire, Inglaterra. Estreou
na F-1 em 2007, pela equipe McLaren, e de lá para cá disputou, até o domingo
passado, no GP do México, 227 corridas, onde marcou 81 pole-positions, e 71
vitórias. Já subiu 132 vezes ao pódio. Marcou 41 vezes a melhor volta em
corrida. Liderou 3.904 voltas até hoje. Recordista absoluto de pole-positions,
atualmente com 81, Hamilton também detém o recorde de maior número de corridas
vencidas largando em primeiro: 45. Michael Schumacher vem em 2º, com 40 provas.
O piloto alemão também é o 2º no ranking de poles, com 68. Em número de
vitórias, Schumacher ainda é o líder, com 91 triunfos, 20 a mais do que
Hamilton, com 71. Lewis ainda tem o recorde de GPs consecutivos terminados na
zona de pontuação: 33 provas, do GP do Japão de 2016, até o GP da França de
2018. O recorde anterior era de 27 corridas, de Kimi Raikkonen, da prova do Bahrein
de 2012 até a etapa da Hungria de 2013.
Hamilton chegou chegando naF-1, a ponto de tirar seu parceiro de time, Fernando Alonso, do sério em várias corridas, onde ambos passaram a disputar freadas e vitórias (abaixo). |
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