sexta-feira, 23 de novembro de 2018

FIM DE FEIRA...


Abu Dhabi encerra mais um Mundial de F-1, mas o circuito de Yas Marina continua não oferecendo corridas decentes.

            A Fórmula 1 está prestes a fechar a temporada 2018, e não é surpresa que nesta altura da competição, todo mundo já está mais do que cansado, e a etapa de encerramento da competição, no esplendoroso circuito de Yas Marina, em Abu Dhabi, parece sintetizar o que foi a temporada deste ano. Muito farol e pouca qualidade. Desde que esta corrida estreou no calendário, a pista sempre foi mais bonita do que as corridas realizadas, a grande maioria delas, completamente enfadonha, e sem brilho. Um traçado maravilhoso no papel, e completamente sem sal na realidade, onde os pilotos não sentem o prazer de uma competição de verdade.
            Com as principais posições definidas, o que temos em disputa em Abu Dhabi não é muito relevante. Claro, falta saber se Valtteri Bottas terminará em 4º no campeonato, uma vez que está acossado por Max Verstappen, apenas 3 pontos atrás. E também teremos as definições das posições finais na classificação de Sérgio Perez, Kevin Magnussen, Fernando Alonso, Esteban Ocon, e Romain Grossjean, dependendo de suas posições de chegada na bandeirada final do ano. De resto, é cumprir tabela, e voltar para casa o quanto antes para descansar depois de um ano cansativo e corrido, onde a promessa de boas corridas não se concretizou como se esperava. Mas, devagar aí: não dá para voltar tão cedo para casa, pois na próxima semana, no mesmo circuito, teremos o teste dos novatos, então, todo mundo fica mais alguns dias no Oriente Médio, antes que o trabalho realmente termine.
            E todo mundo não vê a hora de ir embora e voltar para casa. O ano de 2018, com a segunda temporada sob as novas regras técnicas implantadas no ano passado, até teve alguns momentos bons, mas estes foram insuficientes para compensar o marasmo que se tornou a maioria das corridas do ano. Quando todo mundo esperava um pouco mais de disputa e emoção, aconteceu o contrário.
            E olhe que tivemos a Ferrari mais forte em vários anos, prometendo acabar realmente com o domínio da Mercedes. O time de Maranello balançou mesmo o favoritismo prateado este ano. Mas, na hora em que deveriam dar o bote certeiro, acabaram cometendo vários erros, piloto e equipe, e a Mercedes e Lewis Hamilton não desperdiçaram a oportunidade, vencendo corridas-chave que tinham tudo para serem de Maranello. Sebastian Vettel teve um ano de altos e baixos, e infelizmente, os baixos vieram no pior momento possível, com o piloto alemão dando aos rivais as chances de ser batido, e ficando mais uma vez na fila de tentar chegar ao seu 5º título. Hamilton agradeceu, e tornou-se o 3º piloto na história da F-1 a alcançar um pentacampeonato.
No duelo dos tetracampeões, Sebastian Vettel até que começou na frente, mas capitulou a meio da temporada, e Lewis Hamilton não perdoou as falhas do rival, e rumou firme para conquistar o pentacampeonato.
            Era um ano que prometia neste quesito, afinal, teríamos dois tetracampeões lutando por um pentacampeonato. Vettel, o primeiro a chegar a 4 títulos, teve sua melhor chance de alcançar a 5ª taça. E parecia que a Mercedes finalmente seria destronada. O modelo W09 era competitivo, mas não exibia aquele domínio arrasador visto em anos anteriores. Já a Ferrari, depois de assustar em 2017, conseguia se mostrar tão ou até mais forte ainda. Deixaram a desejar, e o baque, ainda mais pelo fato de terem uma vantagem em termos de equipamento, não foi muito bem aceita pelos torcedores, que pela primeira vez, questionaram fortemente o status de Sebastian Vettel como piloto da escuderia vermelha capaz de conduzi-los novamente ao título. Para 2019, a tarefa do piloto alemão deverá ser até mais complicada que a deste ano, pois precisará pilotar mais do que nunca, e desta vez, terá uma jovem promessa ao seu lado louca pra mostrar o seu valor, Charles LeClerc, que promete não deixar Sebastian tranquilo como Kimi Raikkonen permitia.
            A Mercedes, sob pressão, conseguiu se manter firme e coesa, e não perder o foco, a exemplo do time de Maranello. Manteve a calma quando viu que a Ferrari era superior, e trabalhou duro para conseguir compensar suas deficiências. E contou com um Lewis Hamilton afiado como nunca. Apesar de um início de temporada um pouco apático e nem tão inspirado, Lewis cresceu durante a temporada, cumprindo seu papel na pista com afinco, e sem cometer erros, mostrando que o piloto, apesar de tudo, ainda faz a diferença na F-1. O único ponto negativo foi a Mercedes sucumbir às tentações do jogo de equipe, e acabar alijando Bottas em algumas corridas, o que denigre a imagem de esportividade que o time havia conseguido construir entre 2014 e 2016, quando sua dupla de pilotos duelou com liberdade quase total na maioria das provas. Infelizmente, Bottas também acabou aceitando com muita passividade seu papel de escudeiro de Hamilton, e não se mostrou digno do carro que pilota, pois tinha a obrigação de fazer mais do que realmente fez em várias oportunidades. O fato de estar com sua posição ameaçada por Verstappen na classificação só mostra o quanto ele ficou devendo, em um ano onde, um azar ou outro à parte, como em Baku, o finlandês, visto como campeão em potencial nas temporadas em que defendeu a Williams, caiu muito no conceito de todos, torcida, e imprensa especializada.
Novamente suplantada por Mercedes e Ferrari, a Red Bull (acima) rompeu com a Renault, que até cresceu este ano, mas não tanto quanto todo mundo esperava para um time oficial de fábrica (abaixo).
 
        A Red Bull mais uma vez ficou à sombra de Mercedes e Ferrari. Apesar de possuir o melhor chassi da categoria máxima do automobilismo, mostrando novamente a invulgar competência de Adrian Newey nas pranchetas, o time dos energéticos não conseguiu superar o déficit de potência ainda visível nos propulsores da Renault, optando por cortar laços com os franceses e assumir os riscos de uso das unidades da Honda a partir do próximo ano. Contribuiu para isso várias quebras do equipamento, ao que tanto Helmut Marko quanto Christian Horner, e com aval de Max Verstappen, não pouparam críticas aos franceses, retomando o clima belicista com a marca francesa de algum tempo atrás. Mas Daniel Ricciardo resolveu não se fiar nas promessas da Honda, e cansado do apaniguamento do time a Verstappen, preferiu buscar novos caminhos, indo defender o time oficial da Renault em 2019. Curioso que foi no seu carro que surgiram a maioria das quebras no ano, e desaponta-me ver como a direção do time pareceu tremendamente contrariada quando soube que o simpático e eficiente australiano iria defender outras cores no próximo ano. Mas, o que esperar de um time que, desde que passou a vencer, adquiriu também os piores hábitos de soberba e prepotência da F-1? E, ávidos por uma nova promessa, eles apostam mundos e fundos em Verstappen, que quando está com a cabeça no lugar, mostra-se um piloto tremendamente rápido, e capaz de obter bons resultados e até de vencer corridas. Mas que ainda precisa aprender a ser um pouco mais paciente e cuidadoso em certos momentos, como demonstrou nas primeiras provas do ano, e em Interlagos. Para Ricciardo, é uma pena que seus esforços tenham sido comprometidos de forma contundente especialmente na segunda metade do ano, onde acabou ficando pelo caminho na maioria das corridas, por quebras alheias a seu controle. O australiano é um dos pilotos mais relax e simpáticos do grid, e merecia melhor sorte. Já Verstappen, apesar de ter tido um bom momento de calmaria durante o ano, perdeu boa parte da compostura com o incidente com Esteban Ocón em Interlagos, mostrando que dificilmente mudará seus hábitos, e que se precisar ser arrogante e mal educado para ser bem sucedido na F-1, que se danem os outros...
            Mas se houve um aspecto onde a F-1 foi um fiasco completo, foi na diferença de performance entre Mercedes, Ferrari e Red Bull, e todo o resto do grid, como se houvessem duas categorias competindo num só campeonato. Por melhores que tenham sido suas performances no ano, nem Hass, Force India, Renault, ou McLaren, conseguiram sequer se aproximar dos ponteiros. A McLaren, agora com um motor pelo menos não tão problemático quanto o Honda, começou até prometendo, mas infelizmente viu o outro lado da moeda, ao não produzir um carro tão eficiente como se esperava. O ano não foi o desastre do ano passado, mas também não foi a redenção que muitos esperavam, e que permitisse ao time de Woking tentar, ao menos alcançar algum pódio, e desse algum motivo de satisfação a Fernando Alonso, depois de três temporadas andando no fundo do grid.
A Williams (acima) não terá saudades da temporada de 2018, onde produziu um carro fraco, e não conseguiu encontrar um rumo para desenvolvê-lo. Já a McLaren (abaixo) foi outra decepção, por não conseguir renascer como esperava, depois de todo o trabalho para se livrar dos motores da Honda.
            O espanhol, aliás, deixa a F-1 neste final de semana. Por mais que diga estar buscando novos desafios, é nítido ver que sem um carro competitivo, aquele que é considerado o piloto mais completo do grid perdeu as esperanças de voltar a ser protagonista. Estivesse disputando pódios e vitórias, certamente Alonso ainda seguiria na categoria. Mas Fernando cavou em parte sua própria cova, e nada há para fazer a respeito. De todo modo, é uma pena que ele não possa mostrar do que é capaz frente aos demais pilotos com melhores máquinas. De um jeito ou de outro, a F-1 sentirá sua falta. Um retorno até pode ser considerado no futuro, mas sem nenhuma garantia.
            A Sauber começou o ano como candidata a lanterna do grid, mas com recursos da Alfa Romeo, e novos profissionais em sua área técnica, o time suíço não apenas escapou das últimas filas como até andou chegando ao Q3, numa grande evolução ao longo do ano, afastando os momentos negros presentes recentemente, e mostrando o talento da promessa monegasca Charles LeClerc. Contando com Kimi Raikkonen no próximo ano, e com um desenvolvimento maior proporcionado pelos novos recursos financeiros, humanos e técnicos, a escuderia tem tudo para voltar a ser uma força no bloco intermediário, e talvez até mais, na melhor das possibilidades.
            Em contrapartida, a Williams teve um ano tenebroso, onde o carro se mostrou completamente falho, e com uma dupla de pilotos que não conseguiu levar o time a lugar nenhum. Felipe Massa, agora definitivamente aposentado da F-1, certamente não teve saudades de ficar de fora ao ver a péssima temporada do time inglês, que tentará reencontrar o seu rumo em 2019, sob pena de encerrar uma das mais longevas histórias da categoria prematuramente. Para isso, precisará demonstrar uma competência e eficiência que estiveram completamente ausentes em 2018, e curiosamente, justo em um ano onde tentaram renovar as apostas de projeto do carro, depois de serem extremamente conservadores nos últimos dois anos, e com isso perderem justamente performance para os rivais, que evoluíram bem mais. Justo no ano em que apostou em novas diretrizes, uma vez que as linhas do projeto anterior já se mostravam exauridas, o tiro saiu pela culatra. Na retaguarda como piloto reserva, Robert Kubica pouco pode fazer para ajudar a dupla titular durante o ano.
            Se há algo para se envergonhar na F-1, é seu regulamento, com várias regras completamente cretinas e fora de nexo. A Force India, à beira da falência, acabou salva por um grupo de investidores capitaneados por Lawrence Stroll, o que permitiu salvar o time de fechar as portas, e garantir sua presença no grid. Mas, por ter mudado de dono, teve de assumir um novo nome, e com isso, acabou excluída da competição, perdendo todos os pontos conquistados até então, e tendo de recomeçar do zero. Felizmente, sua dupla de pilotos manteve sua pontuação, mas a rasteira promovida pelas regras esdrúxulas arriou o time do que prometia ser outra boa temporada, onde certamente estaria com o favoritismo para ser novamente a 4ª força na classificação do campeonato, em disputa com a Renault.
            Mas a escuderia sediada ao lado da pista de Silverstone continuou mostrando sua grande capacidade de fazer render seus parcos recursos, e não perdeu o foco com a transição de propriedade da equipe, conseguindo manter o nível de performance demonstrado anteriormente, a exemplo do que tem conseguido fazer nos últimos anos. Só não conseguiram mesmo é chegar mais perto dos times de ponta, mas isso não foi uma falha capital do time rosa.
            A Renault, com seu time de fábrica, também pecou neste objetivo, ainda mais tendo recursos muito superiores à Force India. A nova especificação do propulsor pareceu promissora, mas nem tanto quanto se esperava. Mesmo assim, e contando com uma dupla competente e talentosa, a diferença de resultados para a Red Bull, que usou a mesma unidade de potência, é abismal, mostrando que a fábrica francesa ainda tem muito o que crescer se quiser reocupar seu lugar de destaque na F-1. O time, entretanto, evoluiu de 2017 para cá, e apenas não avançou tanto quando se poderia esperar. Novamente, a promessa é de que no próximo ano, com os novos investimentos, tanto financeiros como técnicos e de novas contratações na fábrica em Enstone, a Renault consiga chegar mais próxima das equipes principais.
            A Hass confirmou sua grande evolução em 2018, e só não está melhor porque teve alguns desempenhos inconstantes em algumas corridas, mas também porque sua dupla de pilotos andou cometendo gafes e asneiras além da conta. Romain Grosjean passou várias corridas sem conseguir pontuar, perdendo várias oportunidades por erros e azares, e tendo até seu lugar como titular posto em dúvida, mas mesmo Kevin Magnussem, que pontuou com muito mais frequência e constância, também andou se estranhando na pista com os concorrentes, desperdiçando algumas oportunidades. E a própria Hass também teve seus erros, como nos pit stops de seus pilotos na Austrália, levando ambos ao abandono, e no erro que causou a desclassificação de Grosjean na Itália, por irregularidades em seu chassi. Em ambas as ocasiões, seus pilotos estavam andando muito bem, e acabaram alijados por motivos completamente alheios a seu controle.
            Motivo de piada entre 2015 e 2017, a Honda, agora equipando os carros da Toro Rosso, teve um ano mais calmo e tranquilo, uma vez que os objetivos do time de Faenza são bem mais modestos do que o de uma McLaren. As unidades de potência nipônicas parecem ter feito progressos substanciais, mas ainda assim apresentaram diversas quebras ao longo da temporada, de modo que, em termos de resultados, a Toro Rosso não foi muito além do que a McLaren havia conseguido em 2017. O progresso parece ter sido o suficiente para a Red Bull meter o pé na bunda da Renault, e apostar nos japoneses para os próximos anos, o que significará também o fim dos dias de tranquilidade vividos em 2018, pois as cobranças voltarão com tudo em 2019, e se as unidades japonesas ficarem devendo, melhor se prepararem para uma possível nova enxurrada de críticas, ao que os franceses da Renault certamente não sentirão nenhuma saudade.
            No que tange aos GPs, o Liberty Media parece ter planos de se livrar de algumas corridas “deficitárias” ou não tão atrativas quanto poderiam ser. Poderiam muito bem começar rifando Yas Marina, mas infelizmente os dólares dos árabes deverão continuar segurando esta prova no calendário, mesmo que nunca tenha rendido nenhuma corrida de destaque por boas disputas. E abre possibilidade para provas como a do Brasil correrem risco em futuro próximo. Ainda é cedo para podermos avaliar quais provas eles podem achar dispensáveis. Quando se pensava que as coisas poderiam melhorar neste quesito, dado os métodos de negociação de Bernie Ecclestone... Espero que não nos arrependamos no futuro próximo.
            Bem, chega de recordar o ano. Vamos direto para a pista, e encerrar a temporada... E que venha 2019, pois 2018 já deu...

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