Abu Dhabi encerra mais um Mundial de F-1, mas o circuito de Yas Marina continua não oferecendo corridas decentes. |
A Fórmula 1 está
prestes a fechar a temporada 2018, e não é surpresa que nesta altura da
competição, todo mundo já está mais do que cansado, e a etapa de encerramento
da competição, no esplendoroso circuito de Yas Marina, em Abu Dhabi, parece
sintetizar o que foi a temporada deste ano. Muito farol e pouca qualidade.
Desde que esta corrida estreou no calendário, a pista sempre foi mais bonita do
que as corridas realizadas, a grande maioria delas, completamente enfadonha, e
sem brilho. Um traçado maravilhoso no papel, e completamente sem sal na
realidade, onde os pilotos não sentem o prazer de uma competição de verdade.
Com as principais
posições definidas, o que temos em disputa em Abu Dhabi não é muito relevante.
Claro, falta saber se Valtteri Bottas terminará em 4º no campeonato, uma vez
que está acossado por Max Verstappen, apenas 3 pontos atrás. E também teremos
as definições das posições finais na classificação de Sérgio Perez, Kevin
Magnussen, Fernando Alonso, Esteban Ocon, e Romain Grossjean, dependendo de
suas posições de chegada na bandeirada final do ano. De resto, é cumprir
tabela, e voltar para casa o quanto antes para descansar depois de um ano
cansativo e corrido, onde a promessa de boas corridas não se concretizou como
se esperava. Mas, devagar aí: não dá para voltar tão cedo para casa, pois na
próxima semana, no mesmo circuito, teremos o teste dos novatos, então, todo
mundo fica mais alguns dias no Oriente Médio, antes que o trabalho realmente
termine.
E todo mundo não vê a
hora de ir embora e voltar para casa. O ano de 2018, com a segunda temporada
sob as novas regras técnicas implantadas no ano passado, até teve alguns
momentos bons, mas estes foram insuficientes para compensar o marasmo que se tornou
a maioria das corridas do ano. Quando todo mundo esperava um pouco mais de
disputa e emoção, aconteceu o contrário.
E olhe que tivemos a
Ferrari mais forte em vários anos, prometendo acabar realmente com o domínio da
Mercedes. O time de Maranello balançou mesmo o favoritismo prateado este ano.
Mas, na hora em que deveriam dar o bote certeiro, acabaram cometendo vários
erros, piloto e equipe, e a Mercedes e Lewis Hamilton não desperdiçaram a
oportunidade, vencendo corridas-chave que tinham tudo para serem de Maranello.
Sebastian Vettel teve um ano de altos e baixos, e infelizmente, os baixos
vieram no pior momento possível, com o piloto alemão dando aos rivais as
chances de ser batido, e ficando mais uma vez na fila de tentar chegar ao seu
5º título. Hamilton agradeceu, e tornou-se o 3º piloto na história da F-1 a
alcançar um pentacampeonato.
Era um ano que
prometia neste quesito, afinal, teríamos dois tetracampeões lutando por um
pentacampeonato. Vettel, o primeiro a chegar a 4 títulos, teve sua melhor
chance de alcançar a 5ª taça. E parecia que a Mercedes finalmente seria
destronada. O modelo W09 era competitivo, mas não exibia aquele domínio
arrasador visto em anos anteriores. Já a Ferrari, depois de assustar em 2017,
conseguia se mostrar tão ou até mais forte ainda. Deixaram a desejar, e o
baque, ainda mais pelo fato de terem uma vantagem em termos de equipamento, não
foi muito bem aceita pelos torcedores, que pela primeira vez, questionaram
fortemente o status de Sebastian Vettel como piloto da escuderia vermelha capaz
de conduzi-los novamente ao título. Para 2019, a tarefa do piloto alemão deverá
ser até mais complicada que a deste ano, pois precisará pilotar mais do que
nunca, e desta vez, terá uma jovem promessa ao seu lado louca pra mostrar o seu
valor, Charles LeClerc, que promete não deixar Sebastian tranquilo como Kimi
Raikkonen permitia.
A Mercedes, sob
pressão, conseguiu se manter firme e coesa, e não perder o foco, a exemplo do
time de Maranello. Manteve a calma quando viu que a Ferrari era superior, e
trabalhou duro para conseguir compensar suas deficiências. E contou com um
Lewis Hamilton afiado como nunca. Apesar de um início de temporada um pouco
apático e nem tão inspirado, Lewis cresceu durante a temporada, cumprindo seu
papel na pista com afinco, e sem cometer erros, mostrando que o piloto, apesar
de tudo, ainda faz a diferença na F-1. O único ponto negativo foi a Mercedes
sucumbir às tentações do jogo de equipe, e acabar alijando Bottas em algumas
corridas, o que denigre a imagem de esportividade que o time havia conseguido
construir entre 2014 e 2016, quando sua dupla de pilotos duelou com liberdade
quase total na maioria das provas. Infelizmente, Bottas também acabou aceitando
com muita passividade seu papel de escudeiro de Hamilton, e não se mostrou
digno do carro que pilota, pois tinha a obrigação de fazer mais do que
realmente fez em várias oportunidades. O fato de estar com sua posição ameaçada
por Verstappen na classificação só mostra o quanto ele ficou devendo, em um ano
onde, um azar ou outro à parte, como em Baku, o finlandês, visto como campeão
em potencial nas temporadas em que defendeu a Williams, caiu muito no conceito
de todos, torcida, e imprensa especializada.
Novamente suplantada por Mercedes e Ferrari, a Red Bull (acima) rompeu com a Renault, que até cresceu este ano, mas não tanto quanto todo mundo esperava para um time oficial de fábrica (abaixo). |
Mas se houve um
aspecto onde a F-1 foi um fiasco completo, foi na diferença de performance
entre Mercedes, Ferrari e Red Bull, e todo o resto do grid, como se houvessem
duas categorias competindo num só campeonato. Por melhores que tenham sido suas
performances no ano, nem Hass, Force India, Renault, ou McLaren, conseguiram
sequer se aproximar dos ponteiros. A McLaren, agora com um motor pelo menos não
tão problemático quanto o Honda, começou até prometendo, mas infelizmente viu o
outro lado da moeda, ao não produzir um carro tão eficiente como se esperava. O
ano não foi o desastre do ano passado, mas também não foi a redenção que muitos
esperavam, e que permitisse ao time de Woking tentar, ao menos alcançar algum
pódio, e desse algum motivo de satisfação a Fernando Alonso, depois de três
temporadas andando no fundo do grid.
O espanhol, aliás,
deixa a F-1 neste final de semana. Por mais que diga estar buscando novos
desafios, é nítido ver que sem um carro competitivo, aquele que é considerado o
piloto mais completo do grid perdeu as esperanças de voltar a ser protagonista.
Estivesse disputando pódios e vitórias, certamente Alonso ainda seguiria na
categoria. Mas Fernando cavou em parte sua própria cova, e nada há para fazer a
respeito. De todo modo, é uma pena que ele não possa mostrar do que é capaz
frente aos demais pilotos com melhores máquinas. De um jeito ou de outro, a F-1
sentirá sua falta. Um retorno até pode ser considerado no futuro, mas sem
nenhuma garantia.
A Sauber começou o ano
como candidata a lanterna do grid, mas com recursos da Alfa Romeo, e novos
profissionais em sua área técnica, o time suíço não apenas escapou das últimas
filas como até andou chegando ao Q3, numa grande evolução ao longo do ano,
afastando os momentos negros presentes recentemente, e mostrando o talento da
promessa monegasca Charles LeClerc. Contando com Kimi Raikkonen no próximo ano,
e com um desenvolvimento maior proporcionado pelos novos recursos financeiros,
humanos e técnicos, a escuderia tem tudo para voltar a ser uma força no bloco
intermediário, e talvez até mais, na melhor das possibilidades.
Em contrapartida, a
Williams teve um ano tenebroso, onde o carro se mostrou completamente falho, e
com uma dupla de pilotos que não conseguiu levar o time a lugar nenhum. Felipe
Massa, agora definitivamente aposentado da F-1, certamente não teve saudades de
ficar de fora ao ver a péssima temporada do time inglês, que tentará
reencontrar o seu rumo em 2019, sob pena de encerrar uma das mais longevas
histórias da categoria prematuramente. Para isso, precisará demonstrar uma
competência e eficiência que estiveram completamente ausentes em 2018, e
curiosamente, justo em um ano onde tentaram renovar as apostas de projeto do
carro, depois de serem extremamente conservadores nos últimos dois anos, e com
isso perderem justamente performance para os rivais, que evoluíram bem mais.
Justo no ano em que apostou em novas diretrizes, uma vez que as linhas do
projeto anterior já se mostravam exauridas, o tiro saiu pela culatra. Na
retaguarda como piloto reserva, Robert Kubica pouco pode fazer para ajudar a
dupla titular durante o ano.
Se há algo para se
envergonhar na F-1, é seu regulamento, com várias regras completamente cretinas
e fora de nexo. A Force India, à beira da falência, acabou salva por um grupo
de investidores capitaneados por Lawrence Stroll, o que permitiu salvar o time
de fechar as portas, e garantir sua presença no grid. Mas, por ter mudado de
dono, teve de assumir um novo nome, e com isso, acabou excluída da competição,
perdendo todos os pontos conquistados até então, e tendo de recomeçar do zero.
Felizmente, sua dupla de pilotos manteve sua pontuação, mas a rasteira
promovida pelas regras esdrúxulas arriou o time do que prometia ser outra boa
temporada, onde certamente estaria com o favoritismo para ser novamente a 4ª
força na classificação do campeonato, em disputa com a Renault.
Mas a escuderia
sediada ao lado da pista de Silverstone continuou mostrando sua grande
capacidade de fazer render seus parcos recursos, e não perdeu o foco com a
transição de propriedade da equipe, conseguindo manter o nível de performance
demonstrado anteriormente, a exemplo do que tem conseguido fazer nos últimos
anos. Só não conseguiram mesmo é chegar mais perto dos times de ponta, mas isso
não foi uma falha capital do time rosa.
A Renault, com seu
time de fábrica, também pecou neste objetivo, ainda mais tendo recursos muito superiores
à Force India. A nova especificação do propulsor pareceu promissora, mas nem
tanto quanto se esperava. Mesmo assim, e contando com uma dupla competente e
talentosa, a diferença de resultados para a Red Bull, que usou a mesma unidade
de potência, é abismal, mostrando que a fábrica francesa ainda tem muito o que
crescer se quiser reocupar seu lugar de destaque na F-1. O time, entretanto,
evoluiu de 2017 para cá, e apenas não avançou tanto quando se poderia esperar.
Novamente, a promessa é de que no próximo ano, com os novos investimentos,
tanto financeiros como técnicos e de novas contratações na fábrica em Enstone,
a Renault consiga chegar mais próxima das equipes principais.
A Hass confirmou sua
grande evolução em 2018, e só não está melhor porque teve alguns desempenhos
inconstantes em algumas corridas, mas também porque sua dupla de pilotos andou
cometendo gafes e asneiras além da conta. Romain Grosjean passou várias
corridas sem conseguir pontuar, perdendo várias oportunidades por erros e azares,
e tendo até seu lugar como titular posto em dúvida, mas mesmo Kevin Magnussem,
que pontuou com muito mais frequência e constância, também andou se estranhando
na pista com os concorrentes, desperdiçando algumas oportunidades. E a própria
Hass também teve seus erros, como nos pit stops de seus pilotos na Austrália,
levando ambos ao abandono, e no erro que causou a desclassificação de Grosjean
na Itália, por irregularidades em seu chassi. Em ambas as ocasiões, seus
pilotos estavam andando muito bem, e acabaram alijados por motivos
completamente alheios a seu controle.
Motivo de piada entre
2015 e 2017, a Honda, agora equipando os carros da Toro Rosso, teve um ano mais
calmo e tranquilo, uma vez que os objetivos do time de Faenza são bem mais
modestos do que o de uma McLaren. As unidades de potência nipônicas parecem ter
feito progressos substanciais, mas ainda assim apresentaram diversas quebras ao
longo da temporada, de modo que, em termos de resultados, a Toro Rosso não foi
muito além do que a McLaren havia conseguido em 2017. O progresso parece ter
sido o suficiente para a Red Bull meter o pé na bunda da Renault, e apostar nos
japoneses para os próximos anos, o que significará também o fim dos dias de
tranquilidade vividos em 2018, pois as cobranças voltarão com tudo em 2019, e
se as unidades japonesas ficarem devendo, melhor se prepararem para uma
possível nova enxurrada de críticas, ao que os franceses da Renault certamente
não sentirão nenhuma saudade.
No que tange aos GPs,
o Liberty Media parece ter planos de se livrar de algumas corridas
“deficitárias” ou não tão atrativas quanto poderiam ser. Poderiam muito bem
começar rifando Yas Marina, mas infelizmente os dólares dos árabes deverão
continuar segurando esta prova no calendário, mesmo que nunca tenha rendido
nenhuma corrida de destaque por boas disputas. E abre possibilidade para provas
como a do Brasil correrem risco em futuro próximo. Ainda é cedo para podermos
avaliar quais provas eles podem achar dispensáveis. Quando se pensava que as
coisas poderiam melhorar neste quesito, dado os métodos de negociação de Bernie
Ecclestone... Espero que não nos arrependamos no futuro próximo.
Bem, chega de recordar
o ano. Vamos direto para a pista, e encerrar a temporada... E que venha 2019,
pois 2018 já deu...
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